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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

As rotas do amor

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Mãos entrelaçadas como símbolo do amor

Ouça o áudio de "As rotas do amor", da colunista Giseli Barros:

Resolveu ficar, por longo tempo, à espera do retorno dele. Bem sabia das dificuldades. A distância era uma linha contínua que não permitia ultrapassagens. Enquanto mirava o curso da vida, ia calma, vendo de bom grado os alvoreceres. No entanto, no íntimo, a mente permanecia no mesmo ponto do caminho. Considerou, por um instante, o entrelugar. Era uma espécie de abrigo. Depois, teve raiva. Ficou certa de que tudo havia terminado. Dissolveu seus sentimentos com o que julgou ser mais urgente. Acelerou bruscamente. Fez a ultrapassagem, desrespeitando as regras. Duas linhas a separavam de onde queria estar, de onde esperava chegar. De repente, encolheu-se toda para caber no vão que só fazia estreitar-se mais. Parou. O erro estava do outro lado. Acreditou ter a certeza das duas faces da moeda. O horizonte passou à amarga ilusão.

Nunca mais.

Forjou o controle das coisas. Saiu do vão que lhe apertava os passos. Suspirou. E nesse descuido, escapou para o outro lado da linha. Puxou o seu fio, andando aparentemente livre. Achava que livres eram os seus pensamentos. Adivinhou. Um outro concordou com um sorriso. “Seria isso?”, pensou. Porém, no cruzamento entre caminhos, precisou parar mais uma vez. Poderia retornar se quisesse. Contudo, vacilou para onde ir. Ele se aproximou. Ela perguntou sobre a demora. Ele quis apontar para onde estava o começo. Dentro deles, tudo parecia ter acontecido na véspera. E reparando bem, daquele ponto onde estavam, seria possível partir para qualquer lugar. Concordaram. Então, entrelaçaram o lado direito com o esquerdo, duas mãos firmes, enquanto as outras duas apontavam para pontos divergentes. No fim de uma estrada, um campo verdejante. Do outro lado, também. Um deles seria melhor, talvez. No ponto em que estavam, logo perceberam que era iminente a decisão. Assim, no entendimento que se revela sem especulação, se desenlaçaram. Sentiram, inicialmente, a ausência do calor um do outro, mas havia um frescor que lhes envolvia e era bom. Aspiraram, lentamente, o aroma do campo que se abria, enquanto se despediam.

De algum modo, ao passo em que se distanciavam, parecia a eles que o campo era o mesmo. Ela disse sobre o tempo da espera. Ele falou da saudade que sentiu. Ela viu as mágoas se dissolverem, enquanto ele acenava com um adeus. Timidamente, miravam indicações de outros caminhos. Notaram os passos mais firmes ao mesmo tempo que os percebiam leves. A cada passo, o mistério se revelando no entendimento de que ambos os caminhos eram bons. Encontrariam, cada um a seu tempo, o ritmo que os levariam a outros encontros. Vez ou outra, vacilariam. Teriam de aceitar as instabilidades da vida, mesmo não sendo condescendentes com elas. Ela corresponderia a outro sorriso, talvez àquele a quem ainda não conseguia enxergar pelo tempo dispensado à espera do que só existia até esse momento na memória. Ele também poderia compreender que o amor se renovaria, quando perdoasse a própria partida. E descobririam a beleza de abraçar as histórias vividas para experimentar as surpresas ainda não nascidas. Não poderiam omitir a presença do medo, por saber da impossibilidade de controlar todas as coisas. Teriam, irremediavelmente, de permitir a si mesmos viver.

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Giseli Barros é professora, mestra em Literatura Brasileira pela UFMG, membro efetivo da ALACIB-Mariana
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