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Hoje é quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Barrados na Praça

Governo de Minas impede participação dos atingidos em cerimônia relacionada à repactuação

Grades e seguranças impediram que cerca de 50 manifestantes se aproximassem da Praça Minas Gerais, local do evento promovido pelo Governo de Minas
Grades e seguranças impediram que cerca de 50 manifestantes se aproximassem da Praça Minas Gerais, local do evento promovido pelo Governo de Minas – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Nessa segunda-feira (25), na Praça Minas Gerais, em Mariana, o Governo de Minas realizou uma cerimônia para assinatura de despacho do governador e anúncio do lançamento de consulta pública para duplicação da BR-356, de Mariana até o entroncamento da BR-040, em AlphaVille, Lagoa dos Ingleses, utilizando recursos inseridos na repactuação referente ao rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em 2015. Realizado sob ostensivo aparato de segurança, o evento não teve a participação de representação dos atingidos, cujo acesso à praça foi impedido por grades e seguranças.

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Acesso à praça permitido apenas a autoridades, convidados e imprensa

Celebrado como o primeiro passo efetivo de resultado da repactuação dos termos de compensação reparação dos danos produzidos pelo rompimento da barragem de Fundão, chamado de Novo Acordo de Mariana, assinado em Brasília, no final de outubro, o evento teve a participação do governador de Minas, Romeu Zema, secretários de Estado, prefeitos, deputados, vereadores, jornalistas e convidados, que assistiram à assinatura de despacho governamental que determina à Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias a adoção das medidas necessárias para a abertura de consulta pública do novo projeto de concessão rodoviária que prevê a duplicação da BR-356 e intervenção em trechos da MG-262 e da MG-329, entre Mariana e Rio Casca.

Com barreira física e seguranças dispostos em três acessos à Praça Minas Gerais, a cerimônia não teve a participação de atingidos de boa parte da Bacia do Rio Roce, reunidos pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e do Revida Mariana, que se posicionaram na esquina da Praça Gomes Freire (Jardim) com a Travessa João Pinheiro, a aproximadamente 100m da Praça Minas Gerais, munidos de microfone e de uma caixa de som.

Manifestantes protestaram, a 100 metros da Praça Minas Gerais, contra os termos da repactuação, considerada insatisfatória pela não participação dos atingidos na negociação
Manifestantes protestaram contra os termos da repactuação, considerada insatisfatória pela não participação dos atingidos na negociação – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

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Nós tentamos e fomos impedidos de entrar no ato com os governadores. Então nós decidimos ficar aqui, onde nos foi permitido, dizendo que a gente quer participar (…) da discussão de como todos os recursos da repactuação vão ser utilizados. Isso tudo é muito angustiante ‘pros’ atingidos”, afirmou Letícia Oliveira, integrante da coordenação nacional do MAB.

Segundo Letícia, a reivindicação é “que haja uma reunião com as autoridades, na qual os atingidos possam dizer se eles concordam com o que está sendo anunciado ali [na Praça Minas Gerais]”.

Integrante da Coordenação do MAB, Letícia Oliveira (centro da foto) protesta contra a falta de participação dos atingidos nas negociações
Integrante da Coordenação do MAB, Letícia Oliveira (centro da foto) protesta contra a falta de participação dos atingidos nas negociações – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Um ponto enfatizado por Letícia é que os valores de indenização individual são muito baixos, além de exigirem que os atingidos deem quitação final, “sem conseguir a justa reparação dos danos sofridos”. Ela também destaca que existe, na repactuação, diversos recursos cuja aplicação vão ficar a cargo dos governos, sem qualquer possibilidade de participação dos atingidos na definição da destinação e da fiscalização. “Há diversos valores que ficam com os governos, né? Com o governo estadual e com o federal, como o fundo de enchentes e outros fundos para questões ambientais. Tudo isso os atingidos querem garantir que chegue aonde precisa chegar. A grande angústia é que não chega”, complementou a integrante da coordenação do MAB.

Manifestação longe da praça

Mônica Santos, uma das mais atuantes ex-moradoras de Bento Rodrigues, questionou o impedimento à participação dos atingidos, posicionados a uma distância que nem permitiu que o protesto fosse ouvido na Praça Minas Gerais. “A gente está aqui com uma caixinha de som que vocês, que estavam lá, nem sequer conseguiram ouvir o que a gente estava dizendo. Isso é a participação que foi que teve em toda a repactuação em todos esses nove anos. Então, esse governo, ele não me representa”, declarou.

Na via contrária, os discursos das autoridades participantes da cerimônia eram ouvidos no ponto de concentração dos manifestantes, aumentando a revolta de Mônica. “Que evento é esse, que governo é esse? Que participação é essa? Mais uma vez estão decidindo a nossa vida sem a nossa participação e sem nos ouvir. E, nas falas do secretário de governo, do governador, foi dito que as populações atingidas foram ouvidas. Mas ouvidas dessa forma que aconteceu aqui hoje? É isso que eles chamam de participação dos atingidos”, reclamou Mônica.

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Ausência dos atingidos nas negociações e na praça

Governador Zema respondeu a algumas perguntas dos jornalistas depois do evento realizado na Praça Minas Gerais
Governador Zema respondeu a algumas perguntas dos jornalistas depois do evento realizado na Praça Minas Gerais – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Durante o evento de anúncio da duplicação da BR-356, a mídia presente na Praça Minas Gerais foi informada que o governador Romeu Zema (Novo) concederia entrevista coletiva, sendo enfatizado que as perguntas deveriam se restringir estritamente ao tema da cerimônia.

Depois do evento, Zema fez um breve pronunciamento a respeito do início efetivo dos efeitos da repactuação, enfatizando a importância do acordo, que, segundo ele, corrige o erro cometido com a criação da Fundação Renova. “Esse acordo só foi possível porque nós mostramos que aquilo que nós fizemos, relativo à tragédia de Brumadinho, funcionou muito melhor do que a Fundação Renova. A tragédia de Brumadinho já deu e já está dando frutos. E a tragédia de Mariana, mesmo que com atraso de nove anos, começa a dar os primeiros frutos a partir de agora. E, um ponto muito importante, com escuta dos atingidos”, ressaltou.

Questionado por um repórter sobre porque os atingidos ainda estavam insatisfeitos, realizando manifestação que foi impedida de acontecer na praça do local do evento, o governador foi sucinto: “Bom, por um motivo muito simples. Se nós tivermos 2 milhões de atingidos, nós vamos ter 2 milhões de propostas. Cada ser humano pensa de um jeito”.

Picture of Luiz Loureiro
Luiz Loureiro é jornalista graduado pela UFOP, fundador, sócio proprietário e editor chefe da Agência Primaz de Comunicação.
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