A história de um farmacêutico marianense
Memória e presença de Saulo José de Oliveira Camêllo
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Ouça o áudio de "A história de um farmacêutico marianense", do colunista Saulo Tete de Oliveira Camêllo
mãos
preparam
cura
nasce
sabedoria
ancestral
(Aldravia do autor)
Há alguns anos, publiquei no Facebook um texto em homenagem ao meu avô, Saulo José de Oliveira Camêllo. Desde então, a cada vez que essa lembrança ressurge na linha do tempo de alguém, pessoas que conviveram com ele compartilham comigo relatos de gratidão e carinho. São histórias de respeito e reconhecimento, que fazem ecoar a vida de um homem que, com simplicidade e generosidade, deixou marcas profundas nas vidas daqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo.
É como diz Guimarães Rosa: “Aqueles que amamos não morrem, ficam encantados”.
É exatamente assim que percebo a trajetória do meu avô. Sua memória permanece viva, não como um eco distante, mas como uma presença calorosa e constante, encantando cada história que é contada, cada lembrança que é partilhada.
Meu avô gostaria de viver em cada gesto de empatia, em cada atendimento dedicado, em cada ato de cuidado que deixou como legado de sua vida. Compartilho então essa singela homenagem na esperança de mostrar a grandeza de alguém que, mesmo sem buscar destaque, permanece vivo na memória do povo de Mariana.
(1938-2021) Saulo José de Oliveira Camêllo, natural de Mariana/MG, filho de Catinho e Zizinha Camêllo, foi professor e farmacêutico, formado pela Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto, no ano de 1964. Tinha o sonho de se tornar um médico, mas encarou dificuldades de acesso ao ensino em sua época, pois, ao finalizar o primário, não havia escolas no município de Mariana que acolhesse meninos. Existia apenas o Colégio Providência (onde só mulheres podiam estudar) e o Seminário, onde se estudava para se tornar padre, o que o impedia de completar sua formação acadêmica. Somente com a criação do Ginásio Dom Frei Manuel da Cruz, Saulo pôde terminar seus estudos e, logo após, ingressou na gloriosa Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto.
Quando se formou, levou seus conhecimentos e habilidades para a cidade de Ubá/MG, onde lecionou como professor de Ciências Químicas e atuou em uma farmácia. No ano de 1966, deixou a cidade de Ubá e assumiu a responsabilidade de cuidar de uma farmácia em Diogo de Vasconcelos. O município carecia de recursos médicos, pois não havia pronto atendimento, e o acesso à saúde era dificultoso para os mais humildes. Saulo passou a prestar todo tipo de assistência que estivesse ao seu alcance. Mais tarde, retornou à sua terra natal, Mariana. Em sua cidade, cuidou de várias gerações de crianças, adultos e idosos, num período em que não havia médicos na região e, para muitas pessoas, ele também era o profissional da saúde de confiança. Há inúmeros relatos da população acerca da confiança depositada em seu trabalho, do cuidado e zelo com quem o procurava. Seu amor e dedicação ao ofício o consolidaram como um farmacêutico renomado e reconhecido por onde andava.
Saulo é um ícone marianense, orgulhava-se de sua terra, a Primaz de Minas. Sempre zelou pela saúde dos marianenses que o procuravam. Foi um homem generoso, um esposo amoroso, pai e avô excepcional até seus últimos dias. Nunca abandonou seu cargo de farmacêutico. Sua missão neste mundo foi cumprida com louvor.
Alcançou o que Aristóteles disse ser a última fase da sabedoria humana: a simplicidade.
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