Apaixona-se pelo pai e mata a mãe: O mito de Electra e as relações familiares
“Em toda família, existe inconscientemente um desejo incestuoso da filha, enquanto criança, pelo pai e a mãe é uma figura “odiada” por atrapalhar essa relação”. (Carl Gustave Jung)
Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Ouça o áudio de "Apaixona-se pelo pai e mata a mãe: O mito de Electra e as relações familiares", do colunista Júlio Vasconcelos:
O mito de Electra é uma das tragédias mais marcantes da mitologia grega, descrito por Sófocles (496 a.C. – 406 a.C.), um dos maiores dramaturgos da Grécia Antiga. A expressão “Complexo de Electra” foi criada pelo psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1861), tendo como base essa figura mitológica e é amplamente estudado e utilizado pela psicanálise moderna.
Conta a história que Electra era filha de Agamenon, rei de Micenas e de Clitemnestra, sua esposa. Agamenon, em uma disputa de poder com a deusa Ártemis, Deusa da Caça, mata um cervo sagrado da deusa e se vangloria, afirmando que era superior a ela como caçador. Ártemis se enfurece com a ousadia do rei e promete vingança, lançando sobre ele o castigo com a promessa de derrota da Guerra de Tróia, da qual ele era um protagonista. Para aplacar sua ira e eliminar o castigo, Ártemis exigiu o sacrifício de Ifigênia, a filha mais velha de Agamenon. Ele, temeroso por perder a batalha de extrema importância estratégica para seu reinado, atende a sua exigência, sacrificando a própria filha.
Clitemnestra, a mãe de Electra, nunca perdoou Agamenon por sacrificar a filha Ifigênia em nome do poder. Quando ele retorna da Guerra de Troia, ela, com a ajuda de seu amante, assassina o marido como forma de vingança.
Electra era uma filha que idolatrava o pai e o enxergava como a personificação da honra e do dever e, diante deste contexto, junta-se ao seu irmão Orestes e assassina a própria mãe. Após os eventos de vingança, Electra encontra um desfecho menos trágico do que sua irmã. Ela se casa com Pílades, um fiel amigo de Orestes e vive uma vida mais tranquila.
O mito de Electra continua a ser uma narrativa poderosa, explorando os dilemas morais, emocionais e sociais associados à fidelidade, à lealdade, à justiça e à vingança. Sua figura simboliza tanto a força da devoção familiar quanto os perigos do ódio e da busca cega por vingança.
Então, o que podemos aprender com essa terrível tragédia grega?
Para responder a essa pergunta, em um primeiro momento, é necessário recorrer aos estudos de Carl Gustave Jung. Da mesma forma que Freud que se apropriou do Mito de Édipo para formular sua Teoria do Complexo de Édipo, onde pregava que, em toda família, existe inconscientemente um desejo incestuoso do filho, enquanto criança, pela mãe e o pai é uma figura odiada por atrapalhar essa relação, ele se apropriou do Mito de Electra para afirmar que, de forma similar, em toda família, existe inconscientemente um desejo incestuoso da filha, enquanto criança, pelo pai e a mãe é uma figura odiada por atrapalhar essa relação. Sendo assim, toda menina normalmente enxerga, entre os três e os seis anos de idade, a mãe como uma rival e deseja, de forma inconsciente, a sua morte. Com o passar do tempo e o amadurecimento, esse complexo é normalmente superado, no entanto, existem alguns casos clínicos patológicos que precisam de terapia e aí surge a psicanálise. Mas deixemos de lado Jung e Freud e suas teorias e vamos dar uma olhada em alguns fatos concretos do nosso mundo atual.
Infelizmente, a história do mito, vivida de forma inconsciente pelos atores, se repete, talvez de forma não tão trágica, nos dias atuais. Não é tão difícil encontrar filhas adultas e imaturas que “matam” a mãe, ou seja, excluem a mãe da relação e “apaixonam-se” pelo pai. Vale também lembrar que existe o que poderíamos chamar de “Complexo de Electra Invertido”, onde, inversamente, a filha também imatura “apaixona-se” pela mãe e “mata” o pai, ou seja, exclui o pai da relação.
Sigmund Freud (1856-1939), considerado o Pai da Psicanálise, concluiu em seus estudos que estes tipos de complexo ocorrem normalmente com as crianças na faixa entre 3 e 6 anos idade. Afirmava que o complexo geralmente terminava quando a criança se identificava com o parente do mesmo sexo e direcionava de forma produtiva seus instintos sexuais. Afirmava ainda que se o relacionamento prévio com os pais fosse suficientemente amável e não traumático e se a atitude parental não fosse excessivamente proibitiva e nem excessivamente estimulante, esse complexo seria ultrapassado harmoniosamente de forma evolutiva e madura. No entanto, quando isso não ocorre, pode surgir uma neurose infantil, com comportamentos similares na vida adulta. Algumas pessoas não conseguem superar e vivem eternamente de forma infantilizada e inconsciente apegadas às figuras parentais, quer seja ligada à figura do pai ou da mãe.
Você, meu caríssimo leitor, se quiser enxergar isso na prática, basta dar uma olhada com uma visão acurada ao seu redor que possivelmente poderá encontrar sintomas similares aos relatados acima, talvez dentro da sua própria família ou em algumas outras perto de você.
Quem tem ouvidos, que ouça!

Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.


Condomínio Brasil

O sentido da vida
