- Mariana
Psicóloga é atacada em Mariana; três agressores estão presos
Crime ocorreu após festa; vítima foi agredida por grupo e teve celular roubado.
- Gustavo Batista
- Supervisão: Lui Pereira
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Na madrugada da última sexta-feira(14), a jovem de 30 anos, Inaiê Vilhena, psicóloga e travesti, foi vítima de agressão física em um caso de transfobia na cidade de Mariana, MG. As agressões aconteceram após a vítima sair de uma festa no Sagarana. Ela voltava para casa sozinha quando decidiu comprar uma última cerveja em um bar próximo ao Posto Raul, na Rodovia dos Inconfidentes. Na saída, ela foi abordada por um homem com insultos e xingamentos transfóbicos. Após pedir por respeito e sair em retirada, a vítima foi puxada pelo cabelo e jogada no chão, onde começou a ser violentada por um grupo composto por uma mulher e três homens. O grupo estaria na mesma festa que Inaiê, no Sagarana. No entanto, a jovem não percebeu qualquer perseguição no caminho até o bar.
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Inaiê foi socorrida por um casal que passava pelo local, mas os agressores retornaram, continuaram as agressões e roubaram seu celular. A violência só cessou quando uma viatura da polícia chegou ao local. Uma mulher e dois homens foram presos na hora, enquanto o outro ainda segue foragido. Inaiê ainda está em busca do casal que a socorreu para testemunhar em seu favor.
Investigações
As agressões aconteceram durante três momentos distintos. No primeiro, Inaiê foi agredida quando saiu do bar até ser socorrida por um casal que a ajudou a atravessar a rua. No entanto, os agressores voltaram e a atacaram novamente, dessa vez levando seu celular e exigindo a senha do aparelho. Ao tentar retornar para casa, o grupo a perseguiu mais uma vez. Inaiê tropeçou, foi alcançada pelo grupo e agredida novamente com insultos transfóbicos. Dentre as ofensas, palavras como “viado” e “traveco” destacavam o caráter discriminatório do crime. A violência só terminou quando uma viatura da Guarda Civil chegou ao local. De acordo com nota divulgada pela Prefeitura de Mariana, a Guarda identificou a agressão por meio de câmeras do sistema “Olho Vivo”.
Segundo Marcelo Bangoim, Delegado da Polícia Civil de Mariana, “os conduzidos estão presos preventivamente e a transfobia é de entendimento do STF que é equiparado ao racismo, ou injúria racial, dependendo do caso, fora as agressões que se relacionam ao crime de lesão corporal”, explica.
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Posicionamento da Prefeitura e Câmara Municipal
Após a agressão, o caso repercutiu na cidade e ganhou as redes, ainda na segunda-feira, a Prefeitura de Mariana, por meio da Secretaria de Assistência Social e do Setor de Promoção à Diversidade, emitiu uma nota de repúdio:
“A Prefeitura se colocou e permanece à disposição para garantir que todos os responsáveis sejam identificados e severamente punidos. Mariana não tolera violência contra a população LGBTQIA+ e reafirma seu compromisso no combate à discriminação. Exigimos e buscaremos justiça, dando total suporte à vítima. A transfobia é crime e não será aceita em nosso município.”, destacou.
Na 3ª Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Mariana, realizada na segunda-feira (17), o vereador Ronaldo Bento parabenizou a Prefeitura pela rápida ação da Guarda Civil e destacou a importância de combater esses tipos de crimes. “Esta casa não deve se curvar diante de tamanha irresponsabilidade contra o direito do cidadão. Não podemos deixar que este ato se perpetue e que outras pessoas venham a ter seu direito violado por pessoas que não sabem viver em sociedade.”, afirmou.
O vereador Ítalo de Majelinha reforçou o repúdio ao ato e destacou a necessidade de conscientização e ações efetivas contra crimes de transfobia. “Infelizmente, vivemos no país que mais mata pessoas trans, e Minas Gerais é o segundo estado nesse ranking, perdendo só para São Paulo. Acho que é importante se solidarizar e mais importante que isso, temos ações concretas”, pontuou.
Já o vereador Ediraldo Ramos, presidente da Câmara, anunciou que já solicitou uma nota de repúdio e que a Câmara irá se solidarizar com o caso, mas, até o momento, não tivemos acesso ao posicionamento da Câmara Municipal.
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Quem é Inaiê?
Inaiê Vilhena dos Santos, nascida no Pará e amapaense de coração é graduada em Psicologia pela Faculdade de Macapá e Especialista em Psicologia Social pela Faculdade Metropolitana. Ela reside em Mariana desde agosto de 2024 e é psicóloga social no Instituto Guaicuy, onde integra a equipe de Direitos e Participação Social da Assessoria Técnica Independente de Antônio Pereira, que atua junto às pessoas atingidas pelo risco de rompimento e obras de descomissionamento da Barragem Doutor, da Vale.
Em conversa com a psicóloga, ela pontuou o papel do discurso inflamado contra a população trans como possível de provocar reações violentas que colocam as travestis em risco: “Eu quero enfatizar que o que aconteceu comigo é o resultado de um discurso de ódio que vem sido propagado pela extrema-direita nesse país, para que vejam as pessoas trans como inimigas para mobilizar a base deles. O que aconteceu comigo é resultado de algo muito maior que vem acontecendo na nossa sociedade.”, desabafa.
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Transfobia no Brasil
Segundo dados do último dossiê divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em janeiro de 2024, Minas Gerais ocupa o 5º lugar em um ranking de estados com mais registros de violência contra pessoas transsexuais no Brasil. Ainda em 2024, o “Relatório de Pesquisa: Violência contra a população trans e travesti em MG”, realizado pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais, apurou que cerca de 60% de pessoas trans e travestis são vítimas de mortes violentas em Minas Gerais.
No mês de janeiro, a Prefeitura de Mariana anunciou uma parceria com o Centro de Referência e Atendimento LGBT+ (CRA LGBT+) de Ouro Preto. A iniciativa, promovida por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e do Setor de Promoção à Diversidade, amplia o acesso da população marianense a serviços especializados.
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