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Hoje é domingo, 9 de março de 2025

Instituto Pedra faz lançamento de livros no Museu de Mariana

Obras relatam restauro da Igreja de São Francisco e Casa do conde de Assumar; técnicas construtivas tradicionais e métodos de produção de tintas a partir de pigmentos de solos

Jurema Machado (esquerda) e Adelaide Dias fizeram a apresentação e autografaram os livros lançados pelo instituto Pedra no Museu de Mariana
Jurema Machado (esquerda) e Adelaide Dias fizeram a apresentação e autografaram os livros lançados no Museu de Mariana – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Na noite dessa terça-feira (25), o Museu de Mariana sediou o evento de lançamento de três livros publicados pelo Instituto Pedra, responsável pelo restauro da Igreja de São Francisco de Assis e da Casa do Conde de Assumar, e idealizador da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana. O evento teve mediação de Luiz Fernando Almeida, presidente do Instituto Pedra, com participação de Adelaide Dias e Jurema Machado, integrantes da equipe de autoria/coordenação das publicações, sendo finalizado com sessão de autógrafos e doação de exemplares das obras ao público presente.

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Lançamento coincide com aniversário do Instituto Pedra

Luiz Fernando Almeida, presidente do Instituto Pedra, ressaltou que o lançamento dos livros reforça o trabalho de preservação do patrimônio imaterial de Mariana
Luiz Fernando Almeida ressaltou que o lançamento dos livros reforça o trabalho de preservação do patrimônio imaterial de Mariana – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Hoje é um dia que eu estou muito feliz, porque é uma coincidência a gente estar fazendo o lançamento desses três livros aqui, no exato dia que a gente está comemorando 12 anos de fundação do Instituto Pedra, criado com uma perspectiva de ser um instituto independente da sociedade civil, que pudesse participar desse grande desafio que é a conservação do património cultural brasileiro”, afirmou Luiz Fernando Almeida, presidente do Instituto Pedra, na abertura do evento realizado no Museu de Mariana, na noite dessa terça-feira (25).

Referindo-se aos temas abordados nas obras lançadas, Luiz Fernando destacou que o patrimônio material e o imaterial são indissociáveis, uma vez que “se a gente não tem a permanência dos ofícios, a gente não tem, na verdade, quem faça, quem mantenha esse imenso patrimônio material”, nesse caso específico representado pela Igreja de São Francisco de Assis e pela Casa do Conde de Assumar, transformada em Museu de Mariana, ultrapassando a simples restauração de um imóvel de elevado valor histórico em um instrumento cultural de preservação da memória e conscientização de pertencimento.

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Secretário destaca a importância da arte e da cultura

Eduardo Batista (à esquerda), Sônia Azzi e Marcelo Costa prestigiaram o evento promovido pelo Instituto Pedra
Eduardo Batista (à esquerda), Sônia Azzi e Marcelo Costa prestigiaram o evento promovido pelo Instituto Pedra – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Representando o prefeito Juliano Duarte, juntamente com a vice-prefeita Sônia Azzi, Eduardo Batista, secretário municipal de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo e Lazer, chamou a atenção dos presentes para a importância da arte e da cultura. “Eu quero começar a minha fala trazendo uma pergunta para todos:

Qual foi a primeira vez que vocês se sentiram tocados pela arte?”, questionou Eduardo Batista, esclarecendo que o conceito de arte pode envolver desde o cheiro do café quentinho, coado da maneira tradicional, até obras de grandes artistas e o patrimônio material que remonta às nossas origens.

Segundo o secretário, a Administração Municipal enaltece eventos como o lançamento dos livros pelo Instituto Pedra, “reforçando o compromisso em salvaguardar, em publicizar, em cuidar e trazer essa perspectiva do patrimônio cultural, do patrimônio material e imaterial do nosso povo, da nossa gente, como motriz principal para um processo de gestão de política pública pautada na democratização do acesso aos nossos valores”.

Livros lançados pelo Instituto Pedra

A apresentação das obras “Técnicas Construtivas Tradicionais: Um olhar para a diversidade no território de Mariana” e “Manual Cores da Terra: produção de tintas com pigmentos de solos” foram apresentados por Adelaide Dias, que expressou sua gratidão ao Instituto Pedra pela oportunidade, ressaltando a preocupação que ela e Fernando Cardoso tiveram em abarcar todo o território do município de Mariana, mas também seus distritos e subdistritos.

Nossa ideia era expandir um pouco o nosso olhar para o que Mariana tem além da sede. Então vocês vão observar aqui, tanto na nossa escrita quanto nas fotografias, que a gente tenta trazer muitos dos distritos e subdistritos de Mariana para esse registro de diversidade de técnicas construtivas. A gente fez questão de ir aos moinhos de milho, que são de pau a pique que ainda resistem e estão no nosso território, entendendo que tudo isso faz parte do que a sede virou, mas que só existiu por ser esse grande território do qual fazem parte de todos os distritos”, afirmou Adelaide, que também destacou a importância do livro sobre tintas, escrito por Fernando Cardoso, a partir de sua tese de doutoramento.

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Por sua vez, Jurema Machado, organizadora da obra “Igreja, Casa, Museu: restauro e reapropriação do Conjunto Franciscano de Mariana”, destacou a importância do registro de todo o processo de restauro da igreja e da Casa do Conde de Assumar, contribuindo para “preservar esse conhecimento que está aqui, que está em poucos lugares”, e que também é um trabalho eu celebra o resultado da interação de esforços do né, a gente saibam que há um, vamos dizer, uma particularidade, um privilégio poder público, do setor privado e do terceiro setor, representado pelo Instituto Pedra, devolvendo esses bens para a comunidade como patrimônio efetivo e desfrutável, não só no sentido religioso mas também cultural.

O público presente no evento foi brindado com um exemplar de cada uma das obras lançadas pelo Instituto Pedra
O público presente no evento foi brindado com um exemplar de cada uma das obras lançadas pelo Instituto Pedra – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Os livros foram idealizados e produzidos pelo Instituto Pedra, como parte das ações educativas dos respectivos projetos culturais, com apoio do BNDES e patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, além de parceria do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, da Escola de Ofícios Tradicionais de Mariana, da Arquidiocese de Mariana e do Instituto Aurum.

Igreja, Casa, Museu: restauro e reapropriação do Conjunto Franciscano de Mariana

O livro apresenta as diferentes fases da história do conjunto arquitetônico, partindo do resgate de elementos historiográficos sobre a vida do Conde de Assumar, que governou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro entre 1717 e 1721 e teria residido onde hoje se encontra o Museu de Mariana – tese que causa debates entre historiadores.

Ainda que em caráter inconclusivo, registros históricos apontam que a edificação teria sido construída entre 1714 e 1717. Trata-se de um exemplar de um palácio setecentista que, por si só, é digno de relevante valor histórico.

Cerca de meio século mais tarde começa a ser erguida a Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais monumentos de Mariana e da arquitetura colonial no Brasil. Projetada em 1762 pelo mestre de obras português José Pereira dos Santos e construída por seu conterrâneo José Pereira Arouca, pertence à chamada “segunda fase” da arquitetura religiosa mineira, ao substituir as construções em taipa de pilão por aquelas de técnica mais perene, como a alvenaria de pedra e cal.

Ambas as edificações foram tombadas em 1938, no início das atividades do IPHAN, inseridas no Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Mariana.

Os trabalhos de restauro empreendidos entre 2019 e 2023 suscitaram questões técnicas e metodológicas instigantes, pela realização de intervenções simultâneas em um mesmo canteiro de obras, em duas edificações que apresentavam tanto informações históricas quanto estados de conservação muito díspares, experiência que pode trazer contribuições para importantes dilemas do campo do restauro no Brasil.

Em 26 de setembro de 2023, os espaços foram entregues restaurados e foi inaugurado o Museu de Mariana, uma conquista para os marianenses.

Coordenação editorial: Jurema Machado

Autores: Álvaro de Araujo Antunes, Benjamim Saviane, Jurema Machado, Natalia Casagrande Salvador, Tércio Voltani Veloso e Viviane Longo

Ensaio fotográfico: Nelson Kon

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Manual Cores da Terra: produção de tintas com pigmentos de solos

O manual tem a missão de divulgar os conhecimentos acumulados pelo projeto de pesquisa e extensão universitária Cores da Terra.

Ao longo dos anos, foram produzidos alguns materiais impressos de divulgação e capacitação reunindo conhecimentos empíricos. Depois de contribuir com pesquisas acadêmicas e sistematizar lições acumuladas por meio da interação com inúmeros atores, surgiu a necessidade de reunir os conhecimentos em uma publicação que abordasse tanto informações básicas sobre solos, quanto a descrição detalhada da técnica de produção de tintas para divulgação e capacitação profissional.

Considerando a importância de comunicar conceitos e procedimentos de forma clara, foram incluídas ilustrações em sintonia com o texto, além de alguns exemplos práticos, para auxiliar a compreensão dos cálculos e recomendações para a produção das tintas de acordo com as características de diferentes tipos de solos.

Autores: Anôr Fiorini de Carvalho e Fernando de Paula Cardoso

Técnicas construtivas tradicionais: um olhar para a diversidade no território de Mariana

Desde a invasão portuguesa, quando as únicas formas de abrigo conhecidas por aqui eram aquelas desenvolvidas pelos povos indígenas, os modos de construir se transformaram, recebendo influências das mais diversas e sempre se adaptando às condições impostas pelo meio para, enfim, produzir novas culturas construtivas.

As técnicas construtivas tradicionais são aquelas ligadas aos materiais de construção locais e ao saber fazer tradicional, tais como as desenvolvidas no território de Mariana neste primeiro momento e, mais adiante, transformadas pela introdução de novos materiais e influências estéticas modernizadoras trazidas para o interior do país.

A bibliografia sobre os sistemas construtivos tradicionais carece de publicações. O estabelecimento desta linha editorial é uma contribuição inaugural que se inspira no trabalho pioneiro de Sylvio de Vasconcellos em Arquitetura no Brasil: Sistemas Construtivos.

Para tanto, os arquitetos Adelaide Dias e Fernando Cardoso se debruçaram sobre o acervo vivo de Mariana e região para listar alguns dos modos de produção tradicionais que remanesceram nas edificações locais e demonstrar seus conceitos.

Autores: Adelaide L. N. Dias e Fernando P. Cardoso

Foto de Luiz Loureiro
Luiz Loureiro é jornalista graduado pela UFOP, fundador, sócio proprietário e editor chefe da Agência Primaz de Comunicação.