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Hoje é segunda-feira, 31 de março de 2025

Espetáculo Mbaé’Tatá chega a Região dos Inconfidentes

O espetáculo artístico Mbaé’Tatá, da Trupe de Truões, conta com oito dias de apresentação e três dias de oficinas gratuitas na Região, com início nesta sexta-feira (28) no distrito de Antônio Pereira.

Foto para a matéria "Espetáculo Mbaé’Tatá chega a Região dos Inconfidentes".
Os três velhos benzedeiros contadores de causos. Foto: Zé Barretta

As várias facetas do misterioso Boitatá, um dos representantes culturais e folclóricos do fenômeno natural fogo-fátuo (combustão espontânea de gases inflamáveis), vão ser apresentadas pela Trupe de Truões no espetáculo Mbaé’Tatá. Entre os dias 28 de março e 6 de abril, o espetáculo, que tem entrada franca e interpretação em Libras, vai passar pelas cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Jeceaba, Congonhas e Itabirito. 

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Mbaé’Tatá

O nome do espetáculo vem da junção de duas palavras do tupi-guarani, mbaé, que significa coisa e tatá, que significa fogo. Por isso Mbaé’Tatá: coisa de fogo, do tupi-guarani para Boitatá. 

A ideia de criar esse espetáculo surgiu a partir do desejo de levar para cena uma história que refletisse a brasilidade. “Além disso, (a intenção também era) criar um espetáculo que fosse esteticamente popular, que pudesse ser apresentado na rua e em outros espaços públicos, e que fosse acessível para todas as pessoas, de todas as idades”, esclarece Ronan Vaz, não só gestor e diretor artístico-pedagógico da Trupe de Truões como também ator, iluminador, cenógrafo e figurinista.

Assim, a Trupe de Truões conta sua versão sobre o mito da cobra grande, cobra de fogo e fogo que anda, alguns dos vários jeitos possíveis de nomear o popularmente conhecido boitatá. Eles encenam causos e histórias desses espíritos guardiões da floresta brasileira, com personagens conversadores e benzedeiros que tentam esclarecer o fenômeno do fogo-fátuo.  

A partir da pesquisa dramatúrgica, a Trupe encontrou diferentes versões que explicam sobre o surgimento deste mito, presente no imaginário popular e registrado em livros e vídeos. Com a intenção de aguçar esse imaginário do espectador, optaram por um texto em forma de poemas, conversas, rituais e músicas para apresentar as várias facetas desse ser misterioso.   

Os figurinos e adereços, o toque dos tambores e sinos, bem como a trilha sonora, instauram uma atmosfera que promete misturar medo, curiosidade e encantamento. Em cena, elementos de mineiridade com inspiração na Folia de Reis, nos contadores de causos (comuns nas cidades do interior) e nas figuras dos benzedores vão ajudar a atribuir a origem do dom dos protetores da floresta ao sagrado e à ancestralidade dos conhecimentos indígenas.

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O espetáculo

Durante os dias do espetáculo, o público será recebido por personagens mascarados usando pernas de pau, que representam o poder da natureza e do feminino. Eles serão responsáveis por convocar a Cobra dos Olhos de Fogo para proteger os bichos e a mata. 

Foto para a matéria "Espetáculo Mbaé’Tatá chega a Região dos Inconfidentes".
Personagens em fuga, que se reúnem diante da plateia para convocar a Cobra. Foto: Rangel Retratos

Em seguida, o Boitatá será saudado com canções, adivinhas e prosas dos conversadores e cantadores. A partir da saudação, com arranjos de acordeon e percussão, será possível evocar a participação dos espectadores com jogos de conversas e brincadeiras. Aliado às trilhas instrumentais criadas para compor as atmosferas de cada cena, as músicas serão cantadas ao vivo. 

Como último ato do espetáculo, três velhos benzedeiros vão aparecer para contar os causos de quando encontraram o Boitatá nas matas. Eles ainda vão ensinar como espantar, se proteger e se curar do encontro com esse ser místico, se despedindo com preces de proteção aos seres da floresta. 

Os figurinos desses personagens chamam a atenção pelas cores e incrementam o significado do espetáculo, já que estão relacionados às diferentes nuances que nossos olhos podem perceber em uma labareda de fogo. Além disso, cada figurino foi confeccionado artesanalmente e inclui trajes e adereços criados com inspiração na Folia de Reis.

Foto para a matéria "Espetáculo Mbaé’Tatá chega a Região dos Inconfidentes".
Durante o dia, as luzes que iluminam a cena tem presença sutil, mas o espetáculo ganha mais intensidade e alternância de cores à medida que a noite cai. Foto: Bruna Freitas

Ronan Vaz acredita que um espetáculo como Mbaé’Tatá é construído juntamente entre atores e público. Os atores colocam seus corpos em cena e o público atribui significados à obra à medida que a apresentação acontece. “Então, com esses diferentes estímulos visuais, sonoros e verbais, o espectador entra em contato com as temáticas de consciência ecológica e do respeito às tradições populares com alguns elementos da mineiridade”, explica o diretor.

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Confira a programação completa

O espetáculo Mbaé’Tatá conta com apresentações nos dias:

28 de março (sexta-feira), às 14h

Na E.E. Professora Daura de Carvalho Neto de Antônio Pereira

29 de março (sábado), às 18h

Na Praça Gomes Freire (Jardim), em Mariana

30 de março (domingo), às 18h

Na Praça da Ufop (estacionamento do Centro de Artes e Convenções da Ufop), Pilar, em Ouro Preto

02 de abril (quarta-feira), às 14h

No Ginásio Lindolfo do Carmo, em Catas Altas

03 de abril (quinta-feira), às 18h

Na Praça da Prefeitura, em Belo Vale

04 de abril (sexta-feira), às 14h

Na quadra da Escola Zuleika, em Jeceaba

05 de abril (sábado), às 18h

Na Praça JK, em Congonhas

06 de abril (domingo), às 16h

Na Praça do Centenário, em Itabirito

 

Na programação, também serão oferecidas oficinas gratuitas sobre técnicas e práticas teatrais com a equipe do espetáculo. Serão compartilhados exercícios de preparação corporal e vocal, técnicas de percepção e composição espacial, improvisação com máscara e ferramentas de oralidade e narração. 

As oficinas estarão abertas ao público e, para participar, basta comparecer ao dia e local para se inscrever. Confira os locais e as datas: 

Casa de Cultura Negra – Ouro Preto

31 de março (segunda-feira) das 14h às 16h

Anexo II da Biblioteca Municipal – Belo Vale

3 de abril (quarta-feira) das 13h às 15h

Atelier de Artes Integradas – Itabirito

6 de abril (domingo) das 9h às 11h

Acesse a Agenda Cultural e fique por dentro desse e de outros eventos.

Trupe de Truões

A Trupe de Truões é um grupo de teatro profissional fundado em 2002, em Uberlândia, Minas Gerais. Faz parte do núcleo regional do Centro Brasileiro Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ) e Ponto de Cultura. Além disso, mantém, desde sua criação, o Espaço Cultural Ponto dos Truões, dedicado a apresentações teatrais próprias e de outros artistas, às aulas da Escola de Teatro da Trupe de Truões e a eventos culturais.

Foto para a matéria "Espetáculo Mbaé’Tatá chega a Região dos Inconfidentes".
Em cena, os atores tocam instrumentos e cantam músicas que exploram o fogo-fátuo e sua interpretação como fenômeno sobrenatural. Foto: Zé Barretta

Desde dezembro de 2022, já realizaram 48 espetáculos em cidades, distritos e comunidades de Minas Gerais. Em 2024, o espetáculo Mbaé’Tatá integrou o XVII Festival Internacional Paideia de Teatro para a Infância e Juventude em São Paulo. 

Ao longo desses 23 anos de trajetória, a Trupe tem investigado e proposto diversas possibilidades de criação cênica a partir de estudos de procedimentos dramatúrgicos e de narração, além do aprofundamento no universo da comicidade, do teatro de animação, sombras e objetos. 

Além disso, a Trupe defende que o teatro é para todos. Dessa forma, por Mbaé’Tatá ser um espetáculo de rua, os cidadãos que estão transitando pelo espaço urbano e se deparam com uma apresentação podem parar para assistir a obra. “Nós temos um compromisso artístico, cultural e social de democratizar o acesso ao teatro e às artes de um modo geral. Por isso a formação de público começa pelo acesso”, salienta o diretor artístico-pedagógico do grupo.

Nesse sentido, o fato de apresentar uma história da cultura popular brasileira, misturando poesia, literatura e música, também atrai o espectador. Ronan acredita que, com isso, “na medida que o espectador se forma enquanto público, o desejo dele de voltar ao teatro e reconhecer essa experiência como direito o transforma. Ele sai dali transformado, então ele vai querer viver isso mais vezes”.  

Foto de Maria Eduarda Marques
Maria Eduarda Marques, nascida em João Monlevade (MG) é aluna do 6º período de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto