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Hoje é quarta-feira, 2 de abril de 2025

Estudantes da UFOP protestam após terceiro caso de racismo

Estudantes e coletivos reivindicam a instauração de ouvidoria racial na universidade

Na entrada do ICHS, sobre a placa do campus, foi pregada a expressão "Fogo nos racistas", em forma de protesto. – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz
Na entrada do ICHS, sobre a placa do campus, foi pregada a expressão "Fogo nos racistas", em forma de protesto. – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz

Diversos coletivos reivindicam a abertura de uma Ouvidoria Racial dentro da UFOP, pedidos surgiram junto com protesto acontecido após a notícia de três casos de racismo nos campi da UFOP em Mariana revelados em pouco mais de uma semana. No ICSA (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas), o caderno de registros da II Exposição do Projeto Resistências e (Re)Existências foi vandalizado com frase racista, já no ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais), uma estudante teria sofrido racismo da própria professora durante aula. Os casos acontecem após repercussão do relato de uma estudante de jornalismo da UFOP, que teria sofrido discriminação racial dentro do espaço da república onde morava e as denúncias levantam o debate sobre o racismo dentro do ambiente universitário.

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Racismo durante aula de história

Estudantes de história relatam um suposto caso de racismo que teria ocorrido dentro do ICHS, na última segunda-feira (24). Segundo os relatos, uma estudante de história teria sofrido a violência por parte de sua professora durante uma aula. Na ocasião, é relatado que a docente teria usado a aluna para exemplificar situações de discriminação racial. Nesse exemplo, o termo “macaco” foi usado de forma recorrente, se referindo a aluna e a constrangendo em frente a toda a turma.

Ao saberem da situação, estudantes da UFOP resolveram protestar no ICHS contra esses casos de discriminação racial dentro do ambiente universitário. A República Terra de Godah promoveu uma oficina de cartazes anti racistas. O ato reuniu discentes de diversos cursos que se juntaram para produzirem frases de protesto, pregadas pelo campus. Dentre as reclamações, um cartaz destaca “Ouvidoria racial já!”.

Uma oficina de cartazes antirracistas foi realizada, reunindo discentes de diversos cursos e os protestos produzidos foram pregadas pelo campus. – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz
Uma oficina de cartazes antirracistas foi realizada, reunindo discentes de diversos cursos e os protestos produzidos foram pregadas pelo campus. – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz

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Monara Rocha, estudante de licenciatura em história, expressou indignação com o ocorrido e destacou a importância da união ao lidar com esses relatos, “a gente tem que ser um coletivo, a gente tem que ser um grupo, nenhuma luta aqui tem que ser individual”, afirmou. Ela também reivindica um posicionamento mais firme por parte da instituição. “Eu acho que falta muito um posicionamento mais efetivo, sabe? A gente tem que agir de forma feroz, de forma mais efetiva, porque é tão grave e é tão recorrente”, descreveu.

Mileyde Gomes, estudante de jornalismo que compareceu à oficina, também relatou sentir falta de um pulso mais firme da instituição. Ela afirma que “o racismo não acontece somente dentro das salas de aulas, ele acontece nos corredores, nas repúblicas.” e rememora outros casos. Ela destaca que “dentro de um universo onde cultua diversas culturas, diversas pessoas estão ali, falta um pulso firme da universidade contra essas ações de pegar e realmente não passar a mão.”

Racismo em Exposição

No Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA), o ataque aconteceu na exposição Resistência e (Re) Existências, realizada pela Associação dos Docentes da UFOP (ADUFOP). Na ocasião, o livro de registro de presença do evento, foi vandalizado com a seguinte expressão: “Um monte de lixo pendurado”, dizia o insulto, referindo-se às peças expostas. A exposição, coordenada pelos docentes Deborah Pessoa e Marcelo Donizete, traz como tema a preservação das ancestralidades negras e indígenas e a persistência na busca por justiça e reparação social dentro da UFOP.

A exposição permanece até o dia 16 de maio.

ADUFOP optou por não suprimir o escrito das páginas e cobriu a frase com corretivo, que ainda está visível no livro de registro. – Foto: Reprodução Redes Sociais/ADUFOP
ADUFOP optou por não suprimir o escrito das páginas, a frase teria sido coberta previamente com corretivo, mas ainda permaneceu visível no livro de registro. – Foto: Reprodução Redes Sociais/ADUFOP

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A ADUFOP, responsável pela exposição, recebeu “consternada” a notícia sobre o ataque. O sindicato afirma que a “valorização da cultura, da arte e da luta de pessoas negras e dos povos originários são estratégias fundamentais na disseminação de conhecimento para que toda a forma de racismo possa ser definitivamente superada”. A entidade ainda esclareceu que como não há câmeras no local, dificilmente será possível determinar a autoria do ataque e optou por não suprimir o escrito das páginas (nota completa no final).

Posicionamento da Universidade

Através de seus canais de comunicação, a UFOP declarou já ter conhecimento dos recentes relatos ligados a essas práticas dentro da universidade e afirma já estar em diálogo com as estudantes envolvidas, buscando acolhimento e a apuração das circunstâncias e situações. Ainda segundo a nota, no caso “mais recente” (não especificado pelo comunicado) os setores relacionados já foram acionados e estão dando os encaminhamentos possíveis.

A universidade reafirma o compromisso com a construção de uma estrutura eficiente para acolher, acompanhar e desenvolver políticas e ações de prevenção para o combate ao racismo. “Expressamos nosso repúdio a qualquer ato discriminatório e nosso comprometimento com a formação cidadã, pautada pelo respeito em todas as perspectivas de existência”, declara.

Entidades repudiam os ataques racistas

Diversas entidades ligadas a instituição se pronunciaram sobre a situação, repudiando os atos e se manifestado contrárias a essas situações dentro da UFOP:

Através de seu instagram, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) publicou uma nota de repúdio, destacando a indignação e questionando quais procedências a universidade vem tomando com esses relatos. “A UFOP está preparada para acolher e orientar as vítimas?”, questionou o núcleo em nota. Ao final, eles se colocam à disposição para colaborar na construção de uma Ouvidoria Racial dentro da UFOP, que atenda a essas demandas.

O Coletivo Negro Braima Mané publicou uma nota de solidariedade a vitíma discente do curso de História e reiterou a urgência de combater práticas racistas em todos os espaçõs, especialmente no ambiente acadêmico, para que seja um espaço mais acolhedor.

Cartaz destaca: "Ouvidoria Racial já!" – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz
Cartaz destaca: "Ouvidoria Racial já!" – Foto: Gustavo Batista/Agência Primaz

Quanto ao caso da exposição, o ICSA publicou uma nota de repúdio ao ocorrido, lamentando o episódio e reafirmando que dentro do campus, não há espaço para a intolerância racial. “Enquanto estivermos à frente desta diretoria, seguiremos incansáveis na luta contra o racismo, promovendo respeito, igualdade e justiça.”, afirmou em nota. A nota destaca ainda que combate ao racismo é uma responsabilidade coletiva e declara que a instituição não se calará diante de qualquer forma de discriminação.

Três denúncias em um mês

As duas denúncias completam uma linha de três casos de racismo reportados pela Agência Primaz nos últimos dias com ligação à Universidade Federal de Ouro Preto nos campi de Mariana. As denúncias preocupam a comunidade acadêmica e levantam a proposta de uma ouvidoria racial. Hoje (31), o NEABI publicou em seu instagram a seguinte frase: ”Por uma ouvidoria antirracista já!”

Atualmente, as denúncias ligadas a esses casos devem ser encaminhadas para Ouvidoria, que recebe as manifestações dos cidadãos pela plataforma Fala.BR e através disso analisa e encaminha às áreas responsáveis pelo tratamento. A pauta pela ouvidoria racial se baseia na já existente ouvidoria feminina, responsável por acolher e encaminhar demandas relacionadas principalmente à violência contra a mulher dentro da universidade, prestando um acolhimento especializado a lidar com esses casos. A ouvidoria racial seria responsável por acolher casos relacionados a esse tipo de violência, o que poderia trazer respostas mais efetivas sobre esses casos.

Confira abaixo as notas publicadas sobre o assunto

UFOP

Nos últimos dias, tomamos conhecimento de relatos de práticas discriminatórias envolvendo membros da comunidade acadêmica da UFOP. A Reitoria informa que já está em diálogo com as estudantes envolvidas para propiciar o acolhimento e a apuração das circunstâncias. No caso mais recente, os setores relacionados já foram acionados e estão dando os encaminhamentos possíveis.

Reafirmamos o compromisso da UFOP com a construção de uma estrutura eficiente que possa acolher, encaminhar e acompanhar os processos de ofensa racial, bem como induzir políticas e ações de prevenção, orientação e combate ao racismo. Expressamos nosso repúdio a qualquer ato discriminatório e nosso comprometimento com a formação cidadã, pautada pelo respeito em todas as perspectivas de existência.

Luciano Campos
Reitor

Roberta Fróes
Vice-Reitora

Foto de Gustavo Batista
Natural de Contagem (MG), Gustavo Batista é aluno do 6º período de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto