Luiz Loureiro/Agência Primaz
No dia 05 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão, pertencente à empresa Samarco, despejou mais de 39 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos de minério de ferro no córrego Santarém, atingindo em seguida os Gualaxo do Norte, Carmo e Doce, até chegar ao mar, no litoral do Espírito Santo. Nesse percurso foram arrasados os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (Mariana), de Gesteira e parte da própria cidade de Barra Longa, provocando 19 mortes e uma devastação ambiental sem precedentes.
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Para marcar a data, desde o dia 31 de outubro foram realizadas diversos eventos, em protesto contra o acontecimento e, principalmente, pra dar visibilidade aos atrasos nas reparações às vítimas. Construção de casa em Barra Longa (MG), fechamento de rodovia, seminários, encontros e missas foram algumas das atividades/manifestações programadas, com a previsão de Marcha dos Atingidos por Barragem, em janeiro de 2020, no trajeto entre Pompéu e Brumadinho.
Todos os dias o crime socioambiental da Samarco, Vale e BHP Billiton
repercutem no cotidiano das pessoas atingidas, violando seus direitos à vida
digna, à moradia, à memória, à saúde e outros. Ao se completar 4 anos do crime,
os atingidos de Mariana seguem organizados e firmes na luta, apontando caminhos
de resiliência e plantando resistências no território para um projeto
de vida atual e futuro (Divulgação/Cáritas Brasileira – Regional Minas Gerais)
Na tarde desta terça-feira (05), em Mariana, ocorreu a Marcha dos Atingidos e Atingidas por Barragem, com concentração em frente ao Centro de Convenções, percorrendo ruas da cidade até a Praça Minas Gerais, sendo celebrada missa na Igreja do Carmo, pelo Arcebispo Metropolitano Dom Aírton José dos Santos.
Portando faixas, cartazes e bandeiras, durante a marcha os manifestantes usaram slogans e palavras de ordem como “A Vale mata, o povo constrói”, “A Samarco mata, a Renova enrola”, “A Vale é o quê? Assassina!”, “Águas para a vida, não para a morte”, “Água e energia não são mercadoria”, além de músicas e paródias alusivas às empresas Vale, Samarco e BHP Billiton. Confira abaixo algumas imagens:
4 anos
Passados 4 anos, a despeito dos altos valores que a Renova afirma ter gasto, o reassentamentos continuam como promessas. O de Bento Rodrigues teve uma cerimônia de início de construção da primeira casa no final de julho mas, até o momento, poucas residências encontram-se em construção, verificando-se atrasos também na obtenção das licenças para a execução das obras.
Em reportagem publicada nesta quarta-feira, o jornal Estado de Minas (clique aqui para ver a matéria completa) informa que a estimativa de custo do reassentamento já chega a R$ 400 milhões, aproximadamente “2,5 vezes o preço inicial estimado”, segundo dados que a consultoria Ramboll encaminhou ao Ministério Público Federal (MPF). Esses números podem estar associados a superfaturamento, desperdício ou imperícia na execução das obras. Além disso, a reportagem aponta para a ocorrência de desvios de insumos e ferramentas no canteiro de obras. Outro ponto destacado é a questão do prazo para a entrega do reassentamento e das instalações para alojar 256 núcleos familiares. A audiência realizada no dia 29 de outubro, com a participação da Renova, dos atingidos e do Ministério Público Estadual, terminou sem que se chegasse a um acordo a respeito de alguns pontos ainda em aberto, existindo a possibilidade de tentativa de prorrogação dos prazos e de isenção da multa por atraso, estabelecida em R$ 1 milhão por dia.
Para não esquecer
Outra questão ainda pendente é a destinação da área devastada. Pretende-se construir em Bento Rodrigues um “museu de território”. Entretanto, a grande indagação é como fazer isso. Uma proposta que envolvia a desapropriação dos terrenos foi duramente criticada e, em setembro, ficou acertado que nenhuma iniciativa nesse sentido será tomada sem a anuência dos atingidos e atingidas, ouvidas ainda outras instâncias, como o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAT).
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Confira na galeria abaixo uma seleção de fotos do arquivo da Agência Primaz, retratando a situação do distrito de Bento Rodrigues em 05/11/2017, quando o rompimento da barragem de Fundão completou dois anos: