Editorial: Uma campanha diferente, mas nem tanto

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Arte: Lui Pereira/Agência Primaz

Desde o final de 2019, as modificações introduzidas na Lei Eleitoral já prenunciavam que as eleições municipais deste ano teriam algo de diferente. Com o crescimento da influência das campanhas digitais, com a manutenção de restrições às doações de empresas, com o limite menor de gastos e com restrições do teto do autofinanciamento das campanhas, além das tentativas de fechamento do cerco para fake news e impulsionamento, já era de se esperar campanhas diferentes, mas a realidade ainda colocou um ingrediente a mais nessa salada. Com a pandemia e as recomendações sanitárias, o quadro meio que se agravou.

Bom, mas será que as campanhas efetivamente ficaram assim tão diferentes das anteriores? A resposta é sim, mas também é não.

Com a pandemia diminuíram o tamanho e a magnitude dos comícios, mas permaneceram as carreatas com veículos lotados de apoiadores, alguns inclusive sem máscara. E mesmo nas reuniões, como agora passaram a ser chamados os comícios, as tais recomendações de evitar aglomerações e de respeitar o distanciamento não têm sido rigorosamente obedecidas.

Só podemos falar com propriedade da campanha eleitoral de Mariana, uma vez que mesmo em Itabirito e Ouro Preto, locais onde a Agência Primaz se fez presente, não foram tantos assim os eventos aos quais nossas representantes puderam comparecer.

Aqui, na Primaz de Minas, pudemos acompanhar mais de perto e perceber essas transgressões. Sempre que questionados, os coordenadores das campanhas argumentavam que havia providenciado álcool em gel, feito marcações no chão e recomendado insistentemente o uso de máscaras. Mas o povo, ah o povo, nem sempre seguia essas instruções!

Mas vamos ressalvar aqui que não foram em todas as candidaturas que isso ocorreu. Naquelas rotuladas como candidaturas “nanicas”, o cuidado foi maior. Será somente porquê o contingente de apoiadores era menor? Temos nossas dúvidas e entendemos que o maior foco passou a ser o mundo das redes sociais.

Até porque, nos vídeos e “lives” das redes sociais, o que mais se viu foram candidatos sem máscara falando “ao pé-do-ouvido” de eleitores e eleitoras, trocando abraços e apertos de mão nem sempre precedidos ou seguidos pela necessária higienização. Mas não dá para negar que foi diferente, com uso maciço das redes sociais e, portanto, tentando atingir o maior número possível de pessoas de modo virtual.

Mas, e no resto? Será que foi mesmo diferente? Novamente vamos ter que dizer sim e não.

As fake news continuaram pipocando em nossos “feeds” e “timelines”, perfis falsos continuaram sendo criados e, mais triste ainda, houve quem se preocupasse bastante em difamar as chapas adversárias. Outro aspecto que se repetiu foi a guerra de informações e contrainformações a respeito da legalidade ou não de candidaturas em Mariana e Ouro Preto, com a possibilidade de a eleição ser determinada mais pelos juízes e juízas, do que por eleitores e eleitoras.

Querem mais um aspecto que não se modificou desde que existem eleições? Então pensem na morosidade da, nesse caso, Justiça Eleitoral, e também no emaranhado de leis, instâncias recursais e interpretações possíveis daquilo que devia ser simples: é ou não é!

Mas ainda temos a questão do poder econômico. Surpreendentemente, até o início da noite desta sexta-feira 13, os registros de prestação de contas no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostravam que nenhuma das candidaturas nas cidades da Região dos Inconfidentes havia arrecadado mais que 38% do limite permitido.

Boas novas, estão gastando menos com as eleições! Mas, como diz o ditado popular, “a água continua correndo para o mar”!

As 16 candidaturas originalmente registradas para concorrerem às prefeituras de Mariana, Ouro Preto e Itabirito informaram, de acordo com os dados disponíveis entre 18 e 19h desta sexta-feira 13, terem arrecadado quase 1,5 milhão de reais. R$ 1.484.041,85 para sermos exatos. Embora Mariana e Ouro Preto contem, cada uma, com 6 candidaturas que arrecadaram recursos, financeiros ou estimáveis, Itabirito teve a maior média de arrecadação por candidatura, mesmo com 2 postulantes a menos.

Observando mais detalhadamente os valores declarados ao TSE, notamos que 6 candidaturas (uma em Itabirito, duas em Mariana e três em Ouro Preto) conseguiram isoladamente menos que 4% do total arrecadado em sua respectiva cidade. São as tais que antes identificamos como “nanicas”, sem que isso seja menosprezo a elas. Em outras palavras, trata-se das candidaturas aparentemente com menos apelo, com menor representatividade política nos respectivos municípios e, seguramente, com menos recursos.

Assim, a média das arrecadações conseguidas pelas demais candidaturas chega a R$ 147 mil em Ouro Preto, R$ 153 mil em Itabirito e R$ 170 mil em Mariana, embora distribuídos de maneira desigual, considerando-se ainda que não são os números finais.

Mas o ponto a ser destacado aqui é que não há espaço para renovação e, como já dito, “a água continua correndo para o mar”.

Um outro aspecto curioso é que, dessas 10 candidaturas com maior poder econômico, pelo menos a metade (uma em Itabirito, duas em Mariana e outras duas em Ouro Preto) já apresentam despesas contratadas em volume maior que os recursos até agora arrecadados. Ou seja, mais água deverá rolar para o mar até o dia da eleição, não é mesmo?

E, finalmente, embora não menos importante, “tudo continua como antes no quartel de Abrantes” quando nos detemos no quesito das armas usadas para influenciar o eleitor. E dá-lhe pesquisas realizadas às custas dos próprios institutos, num gesto enorme de desprendimento e despreocupação com o dinheiro, toma-lhe resultados discrepantes, pega aí uma acusação de pesquisa mentirosa, de desconfiança de manipulação de dados. E isso não terminou nesta sexta-feira 13. De acordo com a parte do site do TSE reservada para o registro de pesquisas, o resultado de mais uma sondagem eleitoral em Mariana tem previsão de divulgação para este sábado. Véspera da data em que, pelo menos em princípio, eleitores e eleitoras teriam o poder de escolher livremente seus dirigentes para os próximos quatro anos.

(*) Luiz Loureiro é jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto e editor-chefe da Agência Primaz de Comunicação

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