- Mariana
Em suspense, Mariana aguarda decisão sobre quem vai ocupar a cadeira de Prefeito Municipal
Definição depende de manifestação do TRE-MG, mas o caso pode chegar a ser analisado pelo TSE, em Brasília
- Luiz Loureiro
- 21/11/2020
- 12:03
O suspense criado pela vitória de Celso Cota (MDB) na votação do dia 15 de novembro, concorrendo em situação de registro de candidatura indeferido com recurso, poderá ter um final (ou pelo menos uma sinalização de desfecho) na próxima semana. Analisando o processo que será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), o Procurador Regional Eleitoral, Ângelo Giardini de Oliveira, manifestou-se favorável à tese de inelegibilidade de Celso Cota. Espera-se que, em alguns dias, seja conhecida a decisão do TRE (2ª instância), embora isso não signifique, necessariamente, encerramento do processo e definição de quem vai assumir a chefia do executivo marianense a partir de 1º de janeiro de 2021.
A Agência Primaz fez consultas a juristas, ouviu pessoas envolvidas e apresenta, a seguir, os diferentes cenários a partir das possibilidades de decisão do TRE-MG.
O processo, ainda sem data confirmada para análise pelo TRE-MG, será julgado pelos sete membros do colegiado (dois desembargadores; dois juízes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais; um juiz federal indicado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, e dois advogados nomeados pelo Presidente da República. Embora haja a manifestação desfavorável a Celso Cota, emitida pelo Procurador Regional Eleitoral (que atua como se fosse um Promotor de Justiça), não há consenso entre as fontes consultadas pela Agência Primaz sobre qual será o resultado do julgamento. Portanto, os cenários analisados são hipotéticos, a partir das diferentes possibilidades decorrentes da decisão final do da Justiça Eleitoral no âmbito estadual.
Newton Godoy assume
Essa hipótese será viabilizada se o TRE-MG reconhecer a inelegibilidade de Celso Cota, anulando os votos atribuídos a ele, mas considerando válido o processo eleitoral do último dia 15. Para isso, no decorrer do processo, é necessário que o tribunal considere válida a tese de “registro inexistente” apresentada pela equipe de advogados da coligação “Participação e Confiança”, representada pela chapa Newton Godoy/Tenente Freitas (Cidadania/Patriota), segunda colocada nas eleições municipais.
Em contato com o advogado Wederson Advíncula Siqueira, nossa reportagem apurou que a coligação compara a situação do registro da candidatura de Celso Cota à hipótese de um cachorro participar de uma eleição como candidato. “Um cachorro não tem título eleitoral e não possui filiação partidária. Portanto, não pode votar nem ser votado. A situação do candidato [Celso Cota] é a mesma de um cachorro”, argumenta Advíncula.
A tese de “registro inexistente” é contestada pela advogada Nisiana Lizete da Silva Salgado, pós-graduanda em Direito Eleitoral, e com escritório de advocacia em Mariana. “Se ele não existisse em registro eleitoral, como seu nome estava nas urnas?”, questiona Nisiana. Reforçando seu entendimento, Nisiana afirma “que a questão é processual. Quando o candidato eleito entrou com recurso, automaticamente houve o efeito suspensivo da sentença que indeferiu seu registro em primeira instância”, o que afastaria a hipótese de “registro inexistente”.
Outra fonte consultada pela Agência Primaz foi Jéssica Holl, professora do curso de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto, especializada em legislação eleitoral. “Toda decisão que convocava o segundo lugar é anterior a 2015, que mudou isso. Não vou falar que é impossível uma decisão favorável ao que ele [Newton Godoy] está pedindo, mas desde 2015 a previsão é não chamar [declarar vencedor da eleição] o segundo colocado”. Jéssica se refere à Minirreforma Eleitoral de 2015 (Lei 13.165/15), que eliminou a possibilidade de diplomação e posse do segundo colocado, em eleição para prefeito ou governador, sem a realização de novas eleições. “Fui pesquisar e encontrei esse Projeto de Lei”, informa Jéssica Holl, fazendo menção ao PL 10100/2018, de autoria do deputado federal José Airton Cirilo (PT-CE), propondo que “os votos dados à chapa vencedora serão invalidados se a Justiça Eleitoral, em decisão definitiva, declarar a extinção do mandato por motivos eleitorais. Se a anulação dos votos da chapa vencedora atingir menos de metade dos votos da eleição, não haverá novo pleito, e o segundo mais votado será diplomado e assumirá o cargo”. Entretanto, em consulta ao site da Câmara dos Deputados neste sábado (21), a informação obtida é que o referido projeto de lei está em análise na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) desde o dia 07 de novembro de 2019, sendo relatora a deputada Margarete Coelho (Progressistas-PI).
Novo(a) Presidente da Câmara é prefeito(a) interino(a)
A hipótese de confirmação da inelegibilidade de Celso Cota pelo TRE-MG, abre a possibilidade de determinação de novas eleições, a menos que o impugnado consiga efeito suspensivo (Veja tópico “Celso Cota toma posse”) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assim, a eleição para a Mesa Diretora da Câmara Municipal de Mariana determinaria quem vai exercer, interinamente, o cargo de prefeito do município até que a eleição suplementar seja realizada (Veja tópico “Bastidores da Câmara de Mariana”).
Celso Cota toma posse
O candidato vitorioso nas urnas será diplomado – e empossado no dia 1º de janeiro de 2021 –, caso consiga reverter o indeferimento de sua candidatura no TRE-MG, ou consiga o mencionado efeito suspensivo de uma decisão desfavorável, entrando com Ação Cautelar no TSE, fundamentada no §2° do artigo 257 do Código Eleitoral. Em qualquer dessas hipóteses o mandato ainda continuaria “sub judice”, até decisão definitiva e irrecorrível do TSE, existindo inclusive a hipótese de cassação do mandato de Celso Cota, de interinidade do(a) Presidente da Câmara e de realização de eleição suplementar, caso a extinção do mandato de Celso Cota venha a ocorrer até 30 de junho de 2024 (seis meses do fim do mandato). Se essa decisão for tomada a partir de 1º de julho de 2024, a eleição do(a) prefeito(a) será feita em sessão extraordinária da Câmara Municipal de forma indireta, ou seja, apenas os vereadores votariam nas chapas inscritas.
*** Continua depois da publicidade ***
***
Bastidores da Câmara de Mariana
Uma vez que existe a possibilidade de, mais uma vez, haver um(a) prefeito(a) interino(a) em Mariana, a Agência Primaz buscou informações sobre a movimentação dos bastidores do legislativo marianense junto a pessoas com experiência e influência na política local. Com oito vereadores eleitos pelos partidos integrantes da coligação “Participação e Confiança”, nossa reportagem apurou que já existe uma intensa movimentação da bancada, com vistas a garantir a presidência da Câmara. Sob condição de anonimato, duas dessas fontes confirmaram a realização de uma reunião, nesta quarta-feira (18), com a participação dos oito vereadores, do atual prefeito, Duarte Jr., e de Newton Godoy, segundo colocado na votação do dia 15 de novembro.
Nossas fontes confirmaram que todos os vereadores eleitos colocaram seus nomes à disposição do grupo para assumir a presidência do legislativo e, consequentemente, o cargo de prefeito interino. Para garantir isso, já foram iniciadas conversas para a formação de um bloco parlamentar integrado pelos quatro vereadores eleitos pelo PDT e PSB (dois de cada), utilizando o conceito de fidelidade partidária para garantir a maioria na Câmara juntamente com os eleitos pelo Cidadania.
Uma das fontes, inclusive, informou que também foram iniciados contatos com os presidentes do DEM e Republicanos (eleitos Sônia Azzi e Ricardo Miranda, respectivamente), de forma a constituir maioria mais sólida.
Em contato com Zezinho Salete, vereador eleito pelo MDB, nossa reportagem foi informada que, devido à incerteza da situação, ainda não havia um posicionamento ou tomada de atitude prática em termos da eleição da Mesa Diretora da Câmara.
Nova eleição
Em relação à possibilidade de realização da eleição suplementar, a Agência Primaz não obteve retorno dos contatos feitos com Roberto Rodrigues (PTB) e Deyvson Ribeiro (DEM), mas Patrícia Ramos (PSTU), Bruno Mol (Republicanos) e Newton Godoy (Cidadania) confirmaram disposição em reapresentar suas candidaturas. A confirmação de Patrícia Ramos foi feita sob a ressalva que o assunto ainda não havia sido discutido oficialmente pelo partido, e nem mesmo com o PSOL, partido aliado em 15 de novembro. Já Newton Godoy declarou que renovaria seu registro de candidatura, mas ainda tem esperança que a eleição não seja anulada e que a Justiça Eleitoral o reconheça como eleito.
LEIA OUTRAS NOTÍCIAS DA REGIÃO DOS INCONFIDENTES