Região dos Inconfidentes-Eventos Culturais e Turismo

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Em reunião do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) de Ouro Preto realizada em 6 de agosto de 2018 apresentei uma análise dos eventos culturais do município e suas potencialidades com relação ao turismo. Na ocasião apresentei ainda algumas ideias e sugestões de outros eventos culturais que poderiam se tornar em novos atrativos turísticos. Como tenho defendido a união dos três municípios da região, listo alguns eventos de Mariana e Itabirito que têm também potencial de atração de visitantes. Entretanto, com relação a Ouro Preto, a análise é mais detalhada e tomou por base as pesquisas sobre o fluxo turístico; o último relatório sobre o Índice de Competitividade do Turismo Nacional, realizado em 2015 pelo Fundação Getúlio Vargas (FGV); o Plano Municipal de Turismo (PMT) de Ouro Preto e, principalmente, de observações próprias ao longo de quase 4 anos de participação no COMTUR, representando a Força Associativa dos Moradores de Ouro Preto (FAMOP).

O trabalho citado da FGV apresenta uma análise da competitividade do turismo no Brasil com base na avaliação dos principais 65 destinos indutores do país, dentre os quais encontra-se Ouro Preto. Infelizmente esse trabalho, iniciado em 2008, foi interrompido a partir de 2016 pelo Ministério do Turismo por motivo de contenção de despesas, inviabilizando uma análise mais atual sobre o assunto.

O relatório de 2015 aponta, numa escala de 0,0 a 100,0 os conceitos atribuídos a 13 indicadores do turismo, dentre eles: Serviços e Equipamentos Turísticos; Acesso; Atrativos Turísticos; Marketing e Promoção do Destino; Monitoramento; Aspecto Sociais; Aspectos Culturais e outros. Para Ouro Preto, os indicadores Acesso (nota 56,5) e Serviços e Equipamentos Turísticos (nota 61,2) foram os que tiveram as piores avaliações. Porém, o indicador Aspectos Culturais (nota 85,4) obteve uma pontuação bem superior aos demais, destacando-se, inclusive, a nível nacional, com a 7ª colocação dentre os 65 destinos avaliados. 

A despeito dos inúmeros problemas que Ouro Preto enfrenta no desenvolvimento turístico e que foram tratados no PMT, o turismo relacionado aos Aspectos Culturais é um dos fortes indutores da visitação no município.

É importante frisar que a cultura não se resume a eventos culturais, mas estes podem traduzir as várias manifestações do fazer de um povo e virem a se constituir em atrativos turísticos, desde que, respeitados em sua essência, não sejam explorados como espetáculo para o lazer do turista.

Ouro Preto possui uma série de manifestações culturais que se consolidaram como atrativos turísticos, com destaque para o Carnaval, a Semana Santa e o Festival de Inverno. Entretanto, outras manifestações culturais, também já bem consolidadas, podem se tornar importantes produtos turísticos. Tratam-se principalmente de eventos religiosos que ocorrem nos distritos e  na sede do município, como a Festa de Santa Cruz do Antônio Dias, a Novena de Nossa Senhora da Conceição, O Setenário das Dores da Paróquia do Pilar, a festa de nossa Senhora da Lapa de Antônio Pereira, a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e outros eventos como: a Semana do Aleijadinho, a Semana dos Museus, as Festas Juninas, a Festa da Jabuticaba de Cachoeira do Campo, a Cavalhada de Amarantina e até mesmo a Festa do Doze de Outubro da Escola de Minas. São todos, eventos bem consolidados, porém ainda pouco divulgados e comercializados como atrações turísticas. Necessitam de maior apoio e divulgação para que possam representar emprego e renda para os moradores locais por meio do turismo.

Além dessas manifestações típicas da nossa cultura, Ouro Preto tem sido palco de Eventos Culturais promovidos por entidades locais ou produtoras de outras localidades, aproveitando-se da importância histórica, cultural e turística da cidade. Dois deles têm ocorrido com frequência e pode-se dizer que estão bem consolidados no nosso calendário cultural e turístico: O Fórum das Letras, realizado pela UFOP e o CineOp, promovido pela Universo Produção. Outros dois eventos importantes para o calendário turístico de Ouro Preto são o Festival Tudo é Jazz e o MIMO. O primeiro, realizado exclusivamente em Ouro Preto pela produtora Multcult, teve início em 2002 e até o ano de 2009 foi um evento de altíssima qualidade. Com atrações musicais de grande expressão nacional e internacional, movimentou fortemente o turismo na cidade. Destaca-se que era realizado em espaço fechado (Centro de Convenções da UFOP), com ingressos a preços altíssimos. A partir de 2004 passou a ter atrações também no espaço aberto do Largo do Rosário. Com a saída da Gerdau, grande patrocinadora dos oito primeiros festivais, o Tudo é Jazz perdeu força até deixar de ser realizado em Ouro Preto nos anos de 2013 a 2017.  No ano de 2018 o Festival Tudo é Jazz voltou à cidade com boas atrações e realizado totalmente em espaço aberto, no Largo do Rosário. Ainda longe das grandes atrações e do movimento turístico dos primeiros festivais, o Tudo é Jazz pode vir a se firmar novamente e ser um evento cultural de grande apelo turístico, mesmo após o falecimento de sua idealizadora, Alice Martins. O formato em espaço aberto, no modelo utilizado em 2018, parece ser o mais adequado e é preciso que as instituições e a iniciativa privada apostem nessa retomada para que o festival possa se consolidar definitivamente no calendário cultural e turístico de Ouro Preto.

Já o MIMO, um evento de música instrumental e cinema, teve início em 2004 em Olinda e se expandiu para outras cidades, como Ouro Preto, Paraty, Tiradentes, Rio de Janeiro e até a cidade de Amarante em Portugal. Realizado pela produtora LUME, aconteceu em Ouro Preto de 2012 a 2016. Tem passado por altos e baixos em Ouro Preto e ainda está longe de se consolidar como um evento cultural de forte apelo turístico. Porém é um produto cultural importante no país e deve ser incentivado.

Outro evento cultural que vem sendo realizado na cidade é o Fotógrafos em Ouro Preto. Com produção local, o evento, apesar de importante e de qualidade, não tem o devido destaque e apoio nem o patrocínio que merece. Por isso não tem sido um evento cultural de impacto na visitação turística de Ouro Preto. Entretanto, por sua natureza, qualidade e ser de produção local, ou seja, não fica na dependência da vontade de uma produtora externa, é um evento que pode se consolidar e exercer um papel significativo no fluxo turístico de Ouro Preto. Há que se apostar.

Outro evento que pode vir a se consolidar é o Festival de Turismo, realizado em duas edições (2017 e 2019). 

O aumento esperado do fluxo turístico com os eventos citados e as propostas que serão apresentadas precisam se pautar por algumas premissas básicas que devem ser consideradas, a saber:

a) a preocupação com a descaracterização das manifestações culturais;

b) a educação como ferramenta importante na preservação do nosso patrimônio material e imaterial e na valorização do turismo de qualidade como fonte de emprego e renda;

c) a justa distribuição dos recursos auferidos para todos os envolvidos com o aumento do fluxo turístico;

d) o incentivo ao fortalecimento das produções locais;

e) a realização dos eventos, sempre que possível, em espaços abertos diversos da cidade e com entrada franca;

f) a produção de um bom Plano de Marketing para divulgação dos atrativos e eventos culturais de Ouro Preto.

Neste aspecto sugere-se:

1) o fortalecimento da marca “Ouro Preto – onde todo dia é histórico” associada ao compromisso de no mínimo um evento cultural na cidade de Ouro Preto em todos os finais de semana do ano.

2) a adoção de uma campanha publicitária nos principais municípios situados até 200km de Ouro Preto, aproveitando-se do chamado “turismo de proximidade” discutido no último texto publicado pela Agência Primaz de Comunicação

A seguir apresento algumas ideias de eventos culturais para a cidade de Ouro Preto, respeitando-se as seguintes diretrizes: 

  • Fomentar eventos nos períodos de baixa temporada
  • Evitar eventos em feriados prolongados
  • Avaliar a pertinência de eventos na Praça Tiradentes pelos transtornos que têm ocorrido
  • Priorizar eventos em locais abertos na cidade, especialmente nos meses secos (abril a setembro)
  • Descentralizar os espaços de realização dos eventos, ampliando a visitação do turista em outras áreas da cidade e permitindo a valorização do comércio no entorno
  • Divulgar, Planejar, Orientar a População e os Turistas e organizar melhor os eventos, principalmente com relação a trânsito e estacionamento
  1. Projeto Largos – Músicas Temáticas nos principais Largos da cidade, como:
  • Choro no Largo da Alegria
  • Música de Cinema no Largo do Cinema
  • Jazz e Blues no Largo do Rosário
  • Raízes da MPB no Largo de Marília
  1. Projeto Domingo no Parque
  • Concertos com orquestras nos Parques do Itacolomy e da Cachoeira das Andorinhas 
  1. Projeto Serenata na Lua Cheia
  • Apresentação de Grupos de Serestas em toda lua cheia
  1. Projeto Canta Ouro Preto – Mostra da Nova Música Brasileira
  • Mostra Nacional de MPB
  1. Projeto Cantando na Igreja – Festival de Corais de Ouro Preto
  • Festival de Corais nas principais igrejas de Ouro Preto
  1. Projeto Quatro Estações
  • Mostra de Dança no Outono
  • Mostra de Teatro no Inverno
  • Música Erudita na Primavera
  • Mostra de Rock no Verão

Acrescento ainda a possibilidade de se trabalhar em eventos relacionados ao Natal e ao Réveillon, ambos pouquíssimos explorados em Ouro Preto.

Em Mariana cito alguns eventos culturais já consolidados e que têm um apelo turístico como: o Carnaval, a Semana Santa, o Encontro Internacional de Palhaços, os Concertos do Órgão da Igreja da Sé e mais recentemente os eventos relacionados ao Natal que têm atraído visitantes da região. Como evento de potencial turístico a ser trabalhado destaco o Festival da Vida e os Encontros de Bandas de Música e de Corais e o Festival da Canção Canta Mariana. Já nos distritos cito a Festa da Panela de Cachoeira do Brumado, o Festival de Cuscuz de Padre Viegas e os Concertos na Mina da Passagem. Vejo ainda como possibilidade eventos relacionados ao acervo do Museu da Música, ao Trem Turístico da Vale, além das Serestas.

Em Itabirito destaco como eventos consolidados, o Carnaval, o Julifest, a Festa do Pastel de Angu e os eventos de Natal, aproveitando-se da forte tradição do canto coral na cidade, em especial o excelente trabalho musical do Coral Canarinhos de Itabirito.

Como eventos a serem trabalhados, cito: o Viação Gastronômica, o Festival de Inverno de São Gonçalo do Bação e o Samba de Boteco.

Muitos dos eventos culturais aqui mencionados, mesmo os já tradicionais e consolidados não possuem um apelo turístico nacional ou até regional. Mesmo porque muitos acontecem nos distritos dos nossos municípios que não comportam um fluxo turístico intenso. Ademais, corre-se o risco da sua descaracterização, como tem ocorrido com alguns, transformados em festas de venda e consumo exagerado de bebidas alcoólicas e shows não condizentes com as tradições das festas. Porém, representam um momento de congraçamento entre pessoas do município, dos municípios vizinhos, podendo se transformarem em divulgadores dos atrativos turísticos destas localidades por meio das mídias sociais. Por esse motivo, defendo que estes eventos devam ser preservados e apoiados.

                                                         Jorge Adílio Penna

(*) Jorge Adílio Penna é Professor Titular aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e músico.

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