Ricardo Oliveira: “Vou continuar sendo a 3ª via na política de Itabirito”
Segundo colocado na eleição para prefeito revela seus planos para 2022 e 2024.
- Luiz Loureiro
- 30/12/2020
- 12:26
Ricardo Oliveira recebeu a reportagem da Agência Primaz em seu gabinete parlamentar, já em clima de final de mandato, com móveis empilhados à espera do novo vereador. Na entrevista ele falou de sua trajetória política, da experiência na eleição para o Executivo do município e, principalmente, de seus planos e metas para os próximos quatro anos, entre os quais a candidatura a deputado em 2022, e nova tentativa de se tornar Prefeito de Itabirito em 2024.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva, concedida à Agência Primaz no dia 14 de dezembro.
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Primeiros passos na política
Eu venho de uma base do meu pai. Ele tentou a eleição duas vezes e não foi vitorioso pra vereador, e tinha esse sonho de carreira. E eu tive a oportunidade, em 2010, de trabalhar na prefeitura, como diretor de limpeza urbana. E após isso uma experiência, nova também, na formação em meio ambiente. E a partir daí surgiu essa possibilidade, que você vai convivendo com pessoas… Enfim, você começa a abarcar públicos diferentes. Eu me lancei candidato em 2012 pelo PHS, e houve uma disputa na guerra política de Itabirito que é tradicional, entre o grupo de [Alex] Salvador e o grupo de Manoel Mota, onde o partido tava no grupo do Mota, que eu fazia parte do grupo, e o partido foi levado ao grupo do Salvador naquele momento. Eu tentei sair candidato, tentei viabilizar na época conversando com o ex-prefeito de Itabirito e não foi possível. A partir daí eu saí do cenário, fui trabalhar por minha conta, eu tenho uma prestadora de serviço de limpeza, calçamento e paisagismo em geral, que é o que eu faço, mesmo durante o mandato.
Candidaturas a vereador e deputado estadual
Surgiu essa oportunidade em 2016, quando eu achava muito difícil viabilizar essa eleição. Tive apoio de muitos amigos, família. E tive o apoio do ex-vereador Francisco, que me deu essa oportunidade. Ele foi vereador de 4 mandatos e me ligou um dia, de surpresa e me falou desse apoio. Quando ele me fala desse apoio, a gente começou a fazer o trabalho mais focado. Além das bases que eu tinha de trabalhos anteriores, a gente começou a trabalhar dentro da experiência política dele, e fomos vitoriosos em 2016. Quando foi em 2018, eu arrisquei uma disputa pra deputado estadual e tive 5.063 votos na Região dos Inconfidentes. E tive 3.609, se eu não me engano, no município de Itabirito.
Eleição 2020
E já tinha esse sonho de vir como candidato a prefeito. Na eleição extemporânea [2019, em virtude da cassação de Alex Salvador] meu nome aparecia em pesquisas até a frente do atual prefeito. Mas, infelizmente, a gente estava no mesmo partido, o Cidadania, tivemos uma dificuldade partidária e eu não consegui me colocar na disputa, nem na composição. Eu me coloquei à disposição como vice, mas também não foi possível. Então a gente caminhou, e em 2020 eu concretizei o sonho de fazer a disputa a Prefeito, mesmo com o primeiro mandato só. Eu poderia tentar a reeleição, reeleição nunca é fácil, mas talvez pela condição, ela seria mais viável, seria mais simples né, eu conseguir essa reeleição nesse momento. Mas a gente foi pra a disputa e acho que foi positivo, foi um crescimento, uma experiência política, nós atingimos quase 7 mil votos no município, lutando contra uma máquina que trabalhou muito. Infelizmente você vai pra uma disputa contra a máquina pública, a gente vê as adversidades. Mas infelizmente acontece. Nós fomos o segundo do pleito.
Aprendizado na eleição
Na verdade, eu acho que a gente esteve muito próximo do povo, né? Conseguimos ouvir muita gente, conseguimos rodar 56 bairros de Itabirito. Parece que são 58 e a gente foi praticamente em 99% dos bairros. Batia de porta em porta, ouvia os anseios da comunidade. Eu acho que isso dá uma base de sustentação pra avaliar cenários futuros, porque política muda igual nuvem. Hoje está de uma forma, amanhã está de outra, e a gente tem que analisar.
Posicionamento no quadro político de Itabirito
Eu não sei o futuro, mas é possível que a gente vá se organizando desde agora. Eu, como presidente do Avante em Itabirito, a gente fez um vereador, o Fabinho, a gente vai se organizar a partir de agora, tentando montar um grupo, já que não temos reeleição do atual Prefeito [em 2024]. E nós temos um grupo que foi o segundo, e tem um outro grupo que foi o terceiro. Então esse é um cenário que mostra, talvez, uma diversidade política. A polarização de A e B talvez possa ser quebrada nesse intervalo. Nós saímos com um grupo de pessoas que acreditou e foi fazendo a transmissão da mensagem. As propostas eram muito boas, eram positivas para o município, só que a gente não tinha o grupo dos polarizados, a marca do grupo Mota, a marca do grupo Salvador. A gente veio realmente como uma terceira via. Conseguimos viabilizar essa segunda colocação e, mesmo a uma distância de votos grande, eu vejo que a gente se posiciona no cenário político itabiritense. Eu vejo que alguma decisão possa passar por nós, pelo nosso grupo que está sendo criado. Nós estamos nos organizando aí pra periodicamente marcar reuniões, a gente está reunindo esse grupo e está fazendo essa disseminação da informação que a gente continua, que a gente não para.
Resultado da eleição de novembro
[O resultado] me surpreendeu também. No cenário das ruas, no cenário de campo, nos últimos 15 dias estava bem positivo. Mas parece que a máquina trabalhou forte, trabalhou algumas bases aí, até não vem ao caso, porque eu não posso afirmar algumas situações. Mas foi lutar contra a máquina mesmo, uma luta totalmente desigual. A gente foi com o pé no chão, com pouco recurso, com muita dificuldade, e encarou a máquina muito bem potencializada, com licitações exageradas aí no final, com asfaltamento pra todos os lados, início de obra aqui, início de obra ali. E agora a gente e tá vendo que não estão sendo concluídas, parando, as obras não estão funcionando, estão se perdendo… Enfim, acho que foram muitas movimentações da máquina pública. Eu acho que esse aperto final da máquina aí foi preponderante.
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Renovação na Câmara Municipal de Itabirito
Na verdade, eu vejo esse cenário como o resultado do anseio de mudança, principalmente na Câmara Municipal. A gente via isso em pesquisas, principalmente em enquetes nas redes sociais. A Câmara não tinha aquela aprovação que se esperava. Trabalhava, mas infelizmente existiu esse anseio por uma mudança. E quanto à questão de fazer um vereador, realmente eu esperava fazer um número maior de vereadores, apesar de estarmos somente com dois partidos, o Avante e o Solidariedade. E o Solidariedade nem saiu com chapa completa. Tivemos boas votações no Solidariedade, até maiores que as do Avante, mas infelizmente nós conseguimos fazer só um vereador pelo Avante. Isso me surpreendeu também, eu esperava conseguir fazer de 2 a 3 vereadores na nossa coligação.
Relacionamento com o vereador eleito pelo Avante
A gente tá conversando, né? A gente tem um alinhamento. Nós trabalhamos na disputa como oposição ao governo atual, e foi uma colocação que eu fiz a ele, pra gente manter essa posição. Não oposição arbitrária, mas oposição positiva e propositiva. Eu acho que nós temos a necessidade de oposição para que a máquina funcione. Senão, ficam todos no mesmo alinhamento ali, e o prefeito domina da forma que quiser. Então, o posicionamento do partido foi passado ele, que é um posicionamento de oposição.
Alinhamento com vereadores de outros partidos de oposição
O meu contato direto é com o vereador do Avante. Quando ele precisa ele entra em contato. Eu acho que eu não devo estar inserido nesse cenário. Acho que é um cenário dos vereadores. Eles têm que ter maturidade pra isso, mas ele [Fabinho] já tem o posicionamento do Avante. E o posicionamento do Avante hoje é de oposição ao atual governo.
Defesa das propostas do plano de governo
Eu acho que cabe a ele [Fabinho] a maturidade no momento, ele acompanhou de perto a nossa campanha e viu a nossa dificuldade. Mas ele viu que foi uma campanha diferente, uma campanha interessante, que trabalhou pontualmente. Quando você fala no servidor, eu acho que o trabalho deve continuar sim, e eu acho que ele pode empunhar essa bandeira. Acho que é uma bandeira que pode ser dele porque é um segmento de trabalho, são 3.200 servidores. Nós tivemos as batalhas vencidas no passado. O cartão alimentação era R$100, eu empunhei essa bandeira em 2017, desde quando eu entrei na Câmara, e o cartão alimentação hoje em Itabirito é R$500 e todos os servidores recebem. Eu tive uma dificuldade grande com Alex [Salvador], e uma dificuldade maior ainda com o atual prefeito. Ele deu uma entrevista, até desconexa naquele momento, onde ele falou que não tinha prometido. Mas, enfim, aconteceu. A gente teve uma reunião no gabinete e, logo após, ele fez essa revisão e aplicou. Foi uma causa muito positiva e tivemos outras, como a isonomia salarial. Enfim, tem muitas situações do grupo de servidores que podem ser trabalhadas. Acho que a inserção da mulher, do jovem, esse retorno do núcleo da juventude, são ideias pontuais, mas eu acho que elas podem continuar sendo cobradas. Eu vou passar pra ele o bastão, vou mostrar pra ele o nosso plano de governo mais uma vez, que ele entende de cor e salteado, mas espero que ele continue. Espero que ele siga esse alinhamento aí e faça jus ao programa do nosso partido na Câmara Municipal.
Planos políticos de Ricardo Oliveira
Na verdade, assim que terminou a eleição, no dia seguinte, eu fui questionado sobre as dificuldades com o prefeito e falei: Olha, até ontem à tarde, às 17h, nós éramos adversários, hoje ele é o meu prefeito, é o prefeito de minha cidade, e eu torço pra dar certo. Eu tenho que torcer pra minha cidade funcionar. Mas isso não impede que eu continue a sonhar em ocupar a cadeira do Executivo. Então, esse trabalho vai ser a curto, médio e longo prazo. No curto prazo é organizar o meu partido e fazer as reuniões periódicas. Esse médio prazo pode ser sim essa disputa novamente. Acredito que é possível, não temos nada concretizado ainda, é muito difícil falar pra 2022, mas existe uma possibilidade. E a tendência é grande de disputar em 2024. Estarmos cada vez mais fortes, tentar consolidações partidárias. É um cenário diferente, eu acredito que surjam novos atores. E acredito que surja alguém da Câmara Municipal para a disputa, porque é uma disputa diferente. É um cenário onde o prefeito vem pra construir alguém nesse momento. É como aconteceu em Mariana, com Duarte e Newton, e veio um ex-prefeito e ganhou a eleição. Eu acho que quando você cria aquela base, aquela estrutura, mesmo com a diferença de votos e você se posiciona como segundo colocado e consegue vencer um grupo, são situações parecidas que já aconteceram no passado em Itabirito. A diferença foi a maior, sim, mas eu não baixei a cabeça com isso. Pra mim foi um crescimento político a gente sair de 460 votos [para vereador, em 2016] pra quase 7 mil votos. Então, acredito que foi um passo importante. “Ah, mas talvez se você fica na Câmara…” Não era esse o intuito. O intuito era disputar e ganhar a eleição. Nós não ganhamos a eleição, mas ficamos em segundo lugar. Nós temos que trabalhar mais. Isso mostra que o nosso trabalho ficou, a sementinha foi plantada, e nós temos que continuar essa construção. Cenários políticos mudam, a gente entende. Eu estava analisando ontem, peguei Ouro Preto em 2012, 2016 e 2020. A gente viu em 2016 uma disputa bem polarizada entre Caio Bueno com Júlio Pimenta. E hoje o Caio Bueno tira o time de campo e apoia Angelo Oswaldo. São cenários distintos, e aqui em Itabirito eu acho que correu foi essa dificuldade, essa demora da polarização. Nós ficamos em três candidatos, em três situações: Orlando com a máquina, o Wagner ocupando espaço de [Alex] Salvador, e a gente vem como essa terceira via, disputando com a Sara [Boratti] também. Mas eu acho que demorou pra polarizar, eu acho que se esse cenário polariza aí 10, 12 dias antes, eu acho que o resultado era diferente. Não falo que a gente ganharia a eleição, mas o resultado seria diferente.
Interlocução com as três cidades da Região dos Inconfidentes
Isso é interessante. Na eleição de 2018, eu fiz uma parceria com Gleizer Boroni em Itabirito e Ouro Preto, e ele consolidou a parceria com Thiago Cota de Ouro Preto pra frente. Então, o Gleizer teve 20.819 votos e perdeu a eleição por 6 mil votos. Ele seria o deputado federal da Região dos Inconfidentes. Hoje, no Avante, se a gente vai pra uma disputa federal, já que pra estadual há uma dificuldade maior no partido que eu estou, mas numa disputa federal hoje eu tenho o André Janones, que é um cara que polariza muitos votos. André teve 215 mil votos e hoje eu acredito que ele tenha o dobro dessa votação. Então, automaticamente, vai fazer deputados com um número de votos bem menor muito menor. Então talvez seja esse o nosso viés, talvez a disputa não seja estadual, talvez seja federal, trabalhando esse caminho na Região dos Inconfidentes.
A gente vai buscar essa interlocução. O partido conduz muito bem essa situação. Ele se fortaleceu muito, nossa sede nacional hoje é em Belo Horizonte, e facilita muito esse acesso. Mas a minha intenção é vir candidato a deputado estadual ou federal e trabalhar a Região de Inconfidentes. Hoje a rede social diminui espaços, mas eu vi que, em Itabirito ela ainda não é a potência que a gente imaginava. Eu vejo que ela é necessária e importante, como em todo lugar, mas hoje em Itabirito, com as polarizações de votos, os partidos ainda são muito importantes. Nós saímos só com dois partidos e tivemos grandes dificuldades, lutando contra 10, contra 8 partidos. Isso dificulta muito, porque automaticamente, o partido vem com um número de vereadores aí que são multiplicadores.