Que venham outros carnavais

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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E o carnaval de 2021? Não vai ter? E conto-lhe histórias, da forma mais clara e objetiva, para o menino compreender a situação em que vivemos. “É tempo de pandemia, mortes, contágios, doença braba da peste! Você acompanha as notícias nos jornais ou nas redes sociais? Converse com seus pais, parentes ou professores sobre o assunto. Milhares de pessoas perderam a vida, depois que o contagioso e perigosíssimo vírus quitou vidas, sonhos e planejamentos. Independentemente da idade, ninguém é imune ao vírus! Carnaval, desde que me conheço por gente, é festa da tradição, aglomeração e liberdade de expressão, mas esse tempo pede mudanças comportamentais e conscientização: recolhimento, comedimento, isolamento, cuidado extremo com a nossa saúde, de parentes e do próximo. Usar máscaras (oportuno lembrar das máscaras como símbolo dos grandes carnavais), lavar as mãos com sabão ou álcool em gel. Não me canso de falar no assunto, pois é necessário. Tem sempre os sem-juízo, noção e amor ao próximo, desrespeitando às normas de segurança da OMS ou do município. Teimam em aglomerar, sair às ruas sem máscaras ou conversar próximo ao outro. O menino disse que não vê a hora de a pandemia acabar. ‘Acho que vou abraçar você, primeiro! Quero conversar com os colegas, jogar bola no campo, viajar de avião. Vou tomar vacina ou vai demorar? Por que o presidente não conseguiu vacina pra todo mundo? Mãe falou que não tem vacina pra ela e pai! Chorei. Tenho medo de vó, vô, pai, mãe, irmãos e de quem eu gosto, morrer sem ar. O presidente pode acabar com o vírus? E os cientistas? Tem que estudar “tipo demais da conta; este tantão, não é, para salvar vidas? Vou estudar MUITO mesmo, para ser médico, igual cientista. Será que consigo encontrar a fórmula para ninguém morrer”? Explico-lhe: esta fórmula nenhum cientista vai achar, em momento algum da história. É porque ninguém morre, guri, a vida continua em outro corpo, espaço, numa sintonia de reciprocidade com os astros solares. O Cientista lá de cima é quem sabe a hora de nos convocar para a casa Dele. Enquanto isso, leia, cresça, envelheça, ame, trabalhe, seja bom, porque ser BOM é dever de todos nós; cuide de sua saúde e das pessoas que rodeiam você, para ajudar a construir um mundo melhor. Nossa missão é esta: ajudar a quem nos rodeia a evoluir, ir para frente. Escuto os queixumes e medos do menino. Ainda bem que ele aprendeu que ‘remédio amargo é que nos leva à cura’. Saio à rua para ir ao banco. Quanta gente nos passeios e portas de bares, sem máscaras? Uns impedem a passagem dos outros, aglomerando aqui e acolá. Quantos mascarados que não usam máscaras e permanecem bebendo, invadindo as barras de ferro que isolam o acesso ao jardim? Tento me afastar, andando no meio da rua. Desisto, não dá para respirar num ambiente com quem não está nem aí para a pandemia, para os riscos de contágio e especialmente para a saúde dos outros. Coitados dos pais e parentes que fazem o isolamento! Falemos da hipocrisia dos mascarados: quem não se cuida, não é capaz de cuidar do próximo. Ainda bem que o menino saiu da sala de reuniões da plataforma digital…. Não escutou esta lamentação. E o sol brilha intensamente lá fora. Brisa ao invés de vento. Que calor danado. Queria sair para tomar sorvete, açaí, ir à cachoeira…. Vou experimentar fazer um chup-chup. Lembro-me da época em que aprendi a encher, com sucos de uva, laranja e limão, saquinhos de plásticos com minha avó. Saudade boa, daquela que você sente dos que já se foram. Saudade, com o transcurso do tempo, vira boas lembranças. Acho que vou aconselhar o guri a fazer chup-chup; brincar no terreiro de casa, molhar e olhar as plantas, brincar, pintar, colorir, ajudar nas tarefas diárias e conversar com pais e irmãos. O tempo passa num piscar de olhos. Depois do isolamento, do cumprimento das normas para ficar vivo, vem a recompensa, a bonança, a festa, o carnaval do ano que vem ou do final deste ano. Afinal, depois de passar pelo caminho pontiagudo das pedras, encontraremos água fresca, brisa e bálsamo para todos. Que venham outros carnavais!

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura pela UFV e autora de 16 livros; Membro efetivo da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e Presidente da ALACIB-Mariana

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