Centralização, delegação e sobrecarga de trabalho: As lições do Livro do Êxodo

“A centralização excessiva dentro das organizações é a grande vilã que sobrecarrega os gestores, desperdiça talentos internos, provocando baixa produtividade e ineficácia dos resultados organizacionais” (Vasconcelos, 2021)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Depois de mais de 40 anos trabalhando em grandes organizações e atuando como Professor Universitário e Consultor Organizacional, pude observar que um dos maiores problemas que atinge os profissionais ocupantes de cargos de liderança está relacionado à sobrecarga de trabalho e consequente falta de tempo, resultado da centralização excessiva e falta de delegação de tarefas. Na maioria das vezes, apesar de existirem pessoas competentes ao seu redor, eles não conseguem delegar e acabam trabalhando desnecessariamente em um círculo vicioso de pressão e estresse.

De forma interessante e inusitada, existe uma passagem bíblica no Capítulo 18 do Livro do Êxodo com excelentes dicas sobre gestão que podem nos ajudar a refletir bastante sobre esse aspecto,

Conta a passagem que Jetro, Sacerdote de Madiã e sogro de Moisés, foi visitá-lo no deserto, próximo ao Monte Sinai, onde tinha acampado com o povo hebreu, no caminho de volta à Terra Prometida.

Durante a sua estadia, Jetro observou que Moisés passava de manhã à noite ouvindo as mais variadas petições do seu povo e praticamente não tinha tempo para mais nada. O sogro, vendo o tempo excessivo que Moisés utilizava para aquelas atividades, questionou-o, perguntando o motivo pelo qual ele agia daquela maneira.

Moisés respondeu-lhe que ele era o juiz daquele povo e responsável por decidir quem tinha razão ou não e indicar-lhes as ordens de Deus para solução dos seus problemas particulares.

Jetro respondeu-lhe que aquilo não estava certo e que Moisés estava se desgastando desnecessariamente. A responsabilidade era demasiadamente pesada para que ele suportasse sozinho e o povo não iria aguentar aquilo para sempre. Sabiamente, então, aconselhou a Moisés para que ele continuasse sendo o representante do povo diante de Deus, mas que procurasse homens dignos, honestos, competentes e tementes a Deus, nomeando-os juízes, um para cada mil pessoas. Cada um destes juízes teriam sob sua responsabilidade dez outros juízes, ocupando-se de cem pessoas. Por sua vez, também a cada um destes estariam subordinados dois juízes, um para cada cinquenta pessoas. Por último, estes igualmente chefiariam mais cinco que teriam a seu cargo as questões de dez pessoas. Estes indivíduos seriam responsáveis por servir o povo com justiça e qualquer assunto de maior importância ou mais complicado seriam levados ao conhecimento de Moisés. Jetro disse a Moisés que dessa forma seria mais fácil para ele exercer o seu cargo, levando até o fim a sua missão, havendo mais paz e harmonia entre o povo.

Moisés, aceitou o conselho do sogro e pôs em execução a sugestão, conforme tinha sido orientado.

Infelizmente, os fatos nos demonstram que existe um grande número de “Moiseses” por aí dentro das organizações atuando de forma desordenada, sem colocar em prática os sábios conselhos de Jetro. Com isso, são frequentes as queixas de falta de tempo, filas enormes de pessoas aguardando para serem atendidas pelo “chefe”, correria desnecessária, atrasos excessivos para início de reuniões, estresse e, pior ainda, como consequência a incidência de doenças ocupacionais, relacionadas à Síndrome de Burnout.

A centralização tentando resolver problemas sem maiores relevâncias e relegando a segundo, terceiro ou quarto plano os de caráter estratégico, que realmente trariam melhorias para os seus liderados e para a organização como um todo é um mal que precisa ser eliminado do dia a dia de todos os ocupantes de cargos de liderança, quer seja nas instituições públicas, quer seja nas instituições privadas, começando pelos gestores de alto escalão, passando por diretores, gerentes, supervisores e chegando até ao nível mais baixo de gestão.

Que os sábios conselhos de Jetro cheguem aos ouvidos de todos e que eles realmente sejam colocados em prática!

Quem tem ouvidos que ouça!

(*) Júlio César Vasconcelos é Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas

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