Missão quase impossível

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Que jamais falte água na face da terra! Que nossos filtros e caixas d’água não fiquem secos. Que os departamentos de água e esgoto forneçam serviço de qualidade à população. Que não nos faltem ânimo, resiliência e obstinação na cobrança das autoridades por serviços de qualidade, para atender as necessidades da sociedade, através de ações eficazes e pontuais de seus departamentos ou secretarias. É sonho, mas quem não sonha morre de resignação! Torci o pé no amontoado de terra e entulho que deixaram na rua e na calçada em frente à minha casa. Machuquei. E daí? Coluna e pé que doem são meus, não das autoridades! Já arrumaram o segmento de esgoto que estava danificado. Custou choro, informações distorcidas e reclamações. Que escritora chata! Fica em cima! Não dá trégua. Cobra serviço de alta qualidade no setor público. Restauração do calçamento? Cimento não combina com chuva. E eu não sei? Isso é para depois da chuva. E o amontoado de entulho e barro deixado na calçada pública? Não dá para fazer “meia-boca” para os moradores poderem sair de casa sem riscos de queda? E os transeuntes? Problema de João não é problema de Pedro. Não tenho varinha de condão para pedir a São Pedro, para dar uma pausa nas chuvas. Não faço parte da equipe de meteorologia, nem posso planejar o dia e a hora exata, para o departamento de água e esgoto tirar o entulho da calçada. Não sou encarregada nem faço parte da cúpula. Não sou engenheira, arquiteta, administradora, pedreira ou coordenadora da obra… Lavamos a rua com auxílio de vizinhos. Rapamos centímetros de barro colados nas calçadas, portas de garagem e passeios. Dois idosos, um casal jovem e uma mulher diabética, hipertensa, com hipotireoidismo e arritmia limparam a lama. E daí? A turma do departamento veio, fez parte do serviço e deixou toda a sujeira, terra solta e pedaços de blocos de cimento, de herança para os moradores. Eles que limpem as ruas! Mas se não falta água, qual é o choro? O esgoto entupido? A manilha quebrada? O cano estourado? A equipe é pequena, o serviço é muito, dona. Temos que atender a cidade inteira. Funcionários afastados por COVID-19; a coisa está feia, braba. Catei quatro filhotes de passarinho no asfalto. Mortos! Acho que fizeram ninho no interior de um perfil metálico inclinado sob o telhado, e o ninho escorregou com filhotes e tudo. Bum, sete metros de queda! É preciso fechar essa ponta de perfil. Que os pássaros façam ninho em locais seguros, onde seus filhotes possam ganhar penas e força para bater asas. Que os moradores daqui possam ter segurança ao saírem de suas casas ou andarem nos passeios. Que eu e meu companheiro possamos sair de casa sem precisar arrumar os entulhos e ajeitar as pedras, para poder entrar ou sair de carro. Que tenhamos sossego, paz e segurança para continuar nossa lida diária. Que tenhamos direito de reclamar por um serviço público de qualidade, sem sofrer represálias ou perseguições. O caminho é do diálogo franco, aberto, sem subterfúgios ou volteamentos. O caminho para uma administração pública é ouvir críticas com serenidade e profissionalismo. Bajuladores não ajudam no desenvolvimento da cidade. Que não me falte resiliência, paciência e saúde para conseguir atravessar e pular o entulho largado na porta da rua. O mundo clama por atenção a acessibilidade. Que minha coluna e meu pé parem de doer, porque encontrar um ortopedista nessas bandas de cá é missão quase impossível!

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros.

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