Em Mariana, a única certeza que temos é a da incerteza política

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Enquanto escrevo, o município segue por uma onda vermelha na pandemia, com um prefeito interino, enquanto aguarda a análise final do TRE sobre o indeferimento do registro da candidatura de Celso Cota Neto, candidato que obteve mais votos na eleição de 2020 para o principal cargo do executivo.

Pode ser que no momento em que você esteja lendo esse texto, a história tenha mudado um pouco, ou que mais detalhes tenham sido colocados no enredo, e, por isso, acho interessante falar não sobre o futuro próximo, e sim sobre um futuro um pouco mais distante.

Vamos falar sobre 2022 e 2024, que é o que de fato interessa (ou deveria interessar) para os grandes nomes políticos de Mariana.

Celso Cota colherá bons frutos com o efeito nostalgia

Existem dois pontos que eu considero como sendo os principais para justificar os 14.764 votos que Celso Cota obteve em 2020, mesmo com seu histórico de mais de 100 processos: a péssima avaliação do governo de Duarte Jr (prefeito que esteve à frente do governo municipal entre 2015 e 2020) e o efeito nostalgia. Porém, apenas este último ponto ainda trará créditos para Cota em uma eventual (e esperada) candidatura como deputado estadual em 2022.

Celso Cota está aguardando uma resposta sobre a sua candidatura para prefeito de Mariana? Sim, mas, existe quase que um consenso jurídico que aponta as baixíssimas possibilidades de Cota reverter a decisão, tanto no TRE quanto no TSE (próxima etapa para caso resolva esticar um pouco mais a corda do processo).

Além do mais, já houve uma vontade do político, ainda em 2010, de disputar o cargo de deputado estadual, na época pelo PSDB de Aécio Neves — que, inclusive, apoiou Celso Cota mais tarde. Logo, não seria surpresa imaginar que o foco de Cota está, na verdade, na corrida de 2022 e não na de 2020, principalmente porque em 2022 ele talvez não precise enfrentar todos os imbróglios legais de hoje.

É aí que entra o peso da nostalgia em sua corrida eleitoral para o próximo ano.

Enquanto Celso Cota aguarda o resultado final do processo, o nome de Duarte Jr vai sumindo do imaginário da população de Mariana. Duarte Jr deixa de ser um problema a ser combatido e o que resta para Cota é a nostalgia que muitos ainda têm de quando ele era prefeito e atraia eventos e realizava grandes obras na cidade.

O poder da nostalgia é tão grande, que eu deixo até parte de um artigo da Nature — uma das principais publicações científicas do planeta — sobre o tema onde diz que “relembrar tempos felizes é gratificante para o cérebro, e as pessoas até abrirão mão do dinheiro pela chance de desfrutar um pouco de nostalgia”.

Duarte Jr dependerá do funcionamento da engrenagem pública

Ainda que em uma entrevista realizada pela Primaz, Duarte Jr tenha dito que por agora pretende exercer a profissão como advogado e pegar a carteira da OAB, o fato é que na política o caminho habitual dos prefeitos costuma ser o de pensar em outra posição política quando estão fora do executivo municipal.

Pois este é o exercício de futurologia que proponho agora: imaginar uma corrida de Duarte Jr na campanha para deputado estadual em 2022.

Mesmo que sua avaliação como prefeito não seja das melhores, Duarte Jr conta com alguns pontos a seu favor:

  • Ele foi o nome que ficou à frente da cidade durante o rompimento da Barragem de Fundão, em 2015;
  • Sua imagem, não como político, mas como um cara do povo, é razoavelmente bem aceita em Mariana;
  • Ele é um dos grandes nomes à frente do partido Cidadania em Minas;
  • A oposição de 2020 não ganhou espaço no poder em 2021 aqui em

Na minha opinião, estes detalhes somam pontos para Duarte, mas não são o suficiente para que ele seja um nome forte em 2022… tirando a última parte.

Apesar do grupo político formado por Juliano Duarte (irmão de Duarte Jr e prefeito interino de Mariana) não ser exatamente o mesmo que existia antes, o fato é que ele é bem parecido. Isso poderia facilitar o recall, a lembrança positiva, do ex-prefeito em uma nova investida no ano que vem. Porém, para que esta estratégia funcione, é preciso entender que, sim, provavelmente teremos uma nova eleição em 2021 e alguns nomes podem — ou deveriam? — mirar não na briga de agora, e sim na briga de 2024.

O terreno para 2021 e 2024

Agora vamos falar de possibilidades mais próximas, ainda para 2021, e ao mesmo tempo, para outras, de 2024.

Newton Godoy x Juliano Duarte

Na eleição de 2020, Newton Godoy, vice-prefeito de Duarte Jr, obteve 11.168 votos, pouco menos de 4000 do que Celso Cota. Definitivamente não foi uma derrota de lavada e, não sendo mais o vice de Duarte Jr, Newton Godoy teria muito menos problemas em uma nova corrida eleitoral.

Mas será que o grande nome do Cidadania na região daria preferência para o ex-vice em detrimento do irmão? Como bem salientou André Lana em sua última coluna aqui na Agência Primaz, caso uma nova eleição ocorra no segundo semestre de 2021, Juliano Duarte poderia concorrer no lugar de Newton Godoy.

Pessoalmente, eu penso que manter o nome de Newton este ano seria a melhor escolha, uma vez que ele se mantém longe de polêmicas e ataques, ao contrário de Juliano, que em poucos meses já soma ofensivas do Ministério Público, inclusive algumas relacionadas à comunicação, semelhantes àquelas que tiraram Celso Cota do poder.

Talvez, para Juliano, o melhor caminho seja manter o plano de antes: segurar a onda para 2024.

Bolsonarismo como repelente

Agora vamos sair um pouco dos grandes grupos.

Para 2021 e 2024, nomes que remetem ao bolsonarismo, como o do ex-candidato Bruno Mol, ainda não mudariam muito o ponteiro na corrida eleitoral para o executivo de Mariana.

Com um péssimo trabalho realizado para enfrentar a pandemia, o nome de Bolsonaro (e o de quem o apoia publicamente) serve como repelente político em Mariana, uma cidade que historicamente elege nomes mais pro lado da centro-esquerda.

A nova esquerda de Mariana

Talvez possamos dizer que o grande nome da última eleição tenha sido, na verdade, o de

Patrícia Ramos, do PSTU.

Ao contrário da maioria dos candidatos, Patrícia não tinha histórico à frente da prefeitura e nem mesmo na Câmara de Mariana, mesmo assim, obteve quase o mesmo total de votos que Roberto Rodrigues, ex-prefeito da cidade.

Acredito que, além de fisgar os votos de um grupo mais progressista, Patrícia lucrou com a decisão de Cristiano Vilas Boas (do PT) de seguir como vice de Celso Cota, o que não agradou a boa parte do Partido dos Trabalhadores de Mariana, que ficou órfã de um nome mais seguro com a ideologia-base do partido.

Não acredito que Patrícia e o PSTU (assim como o PSOL) tenha chances de lutar de igual para igual ao executivo marianense, nem em 2021, nem em 2024, mas o que ocorreu em 2020 pode apontar um bom caminho para essa “nova” esquerda marianense no legislativo. O que também indica que o PT precisa de novas caras por estas bandas.

Como conclusão, eu acredito que, sim, já estamos em uma corrida para 2022. Na verdade, não seria exagero dizer que esta corrida começou antes mesmo da eleição de 2020, uma vez que o cenário que vemos hoje já era apontado desde então. Resta agora cobrarmos por nomes que não tenham chance de nos jogarmos em mais uma troca de prefeitos antes mesmo da eleição presidencial.

Precisamos parar de ficar correndo às urnas todo ano.

(*) Kelson Douglas é Diretor criativo da I Love Pixel, fundador do Valin, o vale de inovação de Mariana e Ouro Preto, embaixador do Montreal International e líder local do Startup Weekend e da IxDA, a associação mundial de design de interação

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