Mariana: 1 ano de pandemia e 1 ano sem plano econômico

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Apesar de discordar da visão econômica de Peter Drucker, um dos autores mais badalados do marketing, administração e gestão de empresas, tem uma frase dele que eu acho bem interessante. Ela diz que “o trabalho mais importante e mais difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa”.

Hoje, eu quero mostrar a importância deste pensamento de Drucker para o dia a dia da população, para a administração pública e para o jornalismo marianense. Quero mostrar o poder que as boas perguntas podem ter ao nortear o nosso município.

Então, para começar, que tal pensar em algumas perguntas que podemos fazer sobre trabalho, emprego e renda na cidade? Vamos pensar em perguntas sobre os impactos da pandemia em nossas vidas e como tudo poderia ser diferente se tivéssemos um plano econômico.

Por que ainda não temos um plano econômico para a recuperação da pandemia?

No final de fevereiro, a prefeitura de Ouro Preto anunciou seu Plano de retomada da economia, um conjunto com mais de 10 ações que vão de consultoria gratuita para pequenos empresários, planejamento de inserção de R$ 26 milhões na economia e investimento em obras públicas, com, aproximadamente, R$ 12 milhões que serão aplicados no município. Tudo isso pensado por uma equipe recém-chegada à prefeitura.

Este exemplo de Ouro Preto, uma cidade vizinha de Mariana, com tamanho e PIB bem próximos dos nossos, mostra que neste ano já poderíamos ter um bom plano econômico, mesmo com um governo interino. Por que algo parecido ainda não foi apresentado para a cidade?

Vamos ver outros exemplos, para não parecer que só um lugar conseguiu pensar em uma saída? Então podemos ir para Maricá, uma cidade carioca que foi muito comentada em Mariana durante o período eleitoral do ano passado.

Em Maricá, a arrecadação municipal durante a pandemia cresceu 15% e pequenas empresas se mantiveram com o dinheiro circulando, em contraste com o quadro nacional. Como eles fizeram isso? Simples: por lá, foi criada uma moeda local e virtual, a mumbuca, responsável por fazer a economia girar nos negócios da cidade.

Por que algo parecido não apareceu em nossa cidade ainda em 2020?

Qual solução foi pensada para combater a especulação imobiliária em Mariana?

No final de 2020, a Samarco voltou a operar na cidade depois de 5 anos do rompimento da Barragem de Fundão. Com a volta dessas operações, Mariana volta também a encarar um antigo problema chamado especulação imobiliária, que resumidamente é uma ação de especuladores que mantêm um imóvel fechado, esperando que ocorra uma alta no valor de mercado daquele bem ou na demanda local por moradia para vendê-lo ou alugá-lo por um preço bem acima da média. Portanto, já era esperado que com a mineradora retornando às atividades e trazendo toda uma população de fora para a cidade, o valor do aluguel e do custo de vida por aqui iriam parar nas alturas.

Qual foi a solução pensada para combater este problema antigo da especulação imobiliária em Mariana? Eu realmente gostaria de saber a resposta para essa pergunta, afinal, há pelo menos 4 anos sabemos que Mariana é a cidade com custo de vida mais caro de Minas Gerais.

Mas não para por aí. Com a falta de controle que temos visto da pandemia, é plausível imaginar que o enfrentamento da alta dos preços de moradia e da alimentação em Mariana deveria ser uma das ações mais importantes do governo municipal — principalmente pelo fato de que esse problema do custo da alimentação acompanha ao mesmo tempo o crescimento populacional, o aumento do custo de produção e de distribuição no mercado, além do desejo de alguns empresários por um lucro maior, tendo em mente que os moradores de fora tem um salário acima da média da população, assim como funcionários da prefeitura, que representam cerca de ¼ da mão de obra da cidade.

Outras perguntas que podemos fazer sobre o tema dizem respeito à Associação Comunitária Vila Serrinha, uma organização montada por moradores da região da Serrinha que lutam por seu direito à moradia em uma área ocupada. Qual tem sido o trabalho da prefeitura para diferenciar estes moradores de possíveis grileiros, e, com isso, entregar um lugar para morar a quem não tem condições de conseguir financiamento nos bancos?

Mais um questionamento válido: você sabe qual outro veículo de comunicação, além da Agência Primaz, foi até um destes locais de ocupação para conversar com seus moradores, perguntar como eles foram parar ali e conhecer quais suas histórias?

Quais são os planos integrados entre as secretarias para manter nossas empresas e empregos?

Desde o começo da pandemia, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mariana teve 5 pessoas diferentes à frente da pasta. Com tanta troca de comissionados, acredito que seja bastante complicado ter uma interação entre esta secretaria e outras em busca de um movimento conjunto em prol da saúde econômica da cidade.

Mas, agora, com 3 meses de governo e uma carta de nomes que se manteve bem fixa nos cargos, quais são os planos para a retomada econômica de Mariana que estão sendo feitos de forma conjunta entre as secretarias?

Através da comunicação oficial, consigo ver avanços da pasta de turismo — a qual considero com os melhores movimentos até o momento, principalmente se comparado à última gestão —, mas como as outras frentes têm se conectado a ela?

Como a Secretaria de desenvolvimento econômico tem investido na agricultura familiar para a diversificação econômica de Mariana?

Diversas pesquisas realizadas pela UFOP já mostraram que o setor da agropecuária, principalmente pela agricultura familiar, é o que melhor se manteve de pé durante todas as crises econômicas que atingiram Mariana.

Dito isso, quais foram os movimentos que a secretaria de desenvolvimento econômico fez para segurar a economia com base na agroecologia? Existe algum plano (além de tentar vender pela internet) junto à Secretaria de desenvolvimento rural?

Acredito que saber fazer as perguntas certas pode ser o melhor caminho para entender a realidade. E é por isso que a população e os veículos de comunicação devem se perguntar um pouco mais sobre os planos, e não só ações, do governo municipal.

Temos feito as perguntas certas, que importam para o nosso dia a dia, ou estamos, ao ler, curtir e compartilhar qualquer notícia da política local, trabalhando como porta-vozes digitais para o governo?

(*) Kelson Douglas é Diretor criativo da I Love Pixel, fundador do Valin, o vale de inovação de Mariana e Ouro Preto, embaixador do Montreal International e líder local do Startup Weekend e da IxDA, a associação mundial de design de interação

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