A não torcida em Eu Me Importo

Filme da Netflix traz personagens antipáticos que fazem o espectador torcer pela briga.

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cartaz de divulgação de Eu me importo

Ouça o áudio de "A não torcida em Eu Me Importo", de Kael Ladislau:

Assistir a um filme, muitas vezes, é ter que fazer uma escolha para quem torcer. As alternativas geralmente são fáceis graças ao claro papel de um mocinho, de um vilão, de seus coadjuvantes, enfim. Em “Eu me Importo”, lançado em meados de fevereiro na Netflix, essa escolha não é fácil.

A história acompanha a trajetória de Marla – vivida por Rosamund Pike, de “Garota Exemplar” – uma espécie de assistente social que lucra como cuidadora de idosos. Na verdade, Marla aplica golpes encontrando brechas na justiça e com apoio de médicos corruptos para se apossar dos bens de suas vítimas e para desespero de seus herdeiros.

Mas, tudo começa a sair dos trilhos quando ela aplica o golpe em Jennifer, uma pacata senhora que, para a sua médica – cúmplice de Marla –, possui indícios de debilidade mental. Porém, de pacata Jeniffer não tem nada.

É nesse momento em que vemos entrar em cena a figura antagonista e um chefão da máfia russa, Roman Lunyov – que é Peter Dinklage, de Game Of Thrones. E com ele, essa dúvida: para quem torcer? Nem Marla, nem Roman são pessoas merecedoras de torcida do espectador. Jeniffer, que não tem lá muito espaço para criar torcida, tampouco.

Isso pode ser encarado como um grande triunfo para “Eu Me Importo”, afinal, ter esse ingrediente de repulsa a todos os personagens diz muito sobre o roteiro do filme até mesmo as atuações – a de Rosamund Pike foi premiada no último Globo de Ouro como melhor atriz de comédia ou musical.

Mas, alguns problemas existem a começar pelo gênero. Quem pega para ver um filme classificado como “comédia” cria uma expectativa de rir. E esqueça definitivamente que você achará graça de algo em “Eu Me Importo”. Não se trata de humor, mas o que temos aqui é uma obra que se agarra a caracterizações exageradas – como a de Peter Dinklage – e situações meio bizarras para se justificar no gênero.

Nesse último caso, encontram-se os caminhos para definir determinados conflitos, ora convenientes demais, chegando à previsibilidade, ora fora da realidade. Nesse sentido, o filme tem dividido opiniões. Uns acreditam que a obra é instigante, a ponto de, ainda que seja uma pessoa detestável, Marla ser uma mulher dura que não se impõe às forças de seus inimigos homens.

Por outro lado, a menção à máfia russa e a sua incrível incapacidade de definir seus planos, sem falar do modo que Marla e outros personagens conseguem escapar deles, deixa a impressão de uma forçação de barra que os espectadores mais exigentes não suportam.

Não há como negar, porém, que até o final, fazendo algumas boas vontades, o entretenimento é válido. Mesmo que, por fim, você acabe se frustrando por não torcer por qualquer um no filme e achar que nem tudo poderia ser tão ruim assim. Isso se você se importa. “Eu me Importo”, o filme, está na Netflix e você pode se importar, ou não, com ele.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

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