Moradores convivem com animais silvestres, peçonhentos e pragas urbanas após remoções em Antônio Pereira e Vila Samarco

Imóveis interditados por ameaça da Barragem Doutor, atraem cobras, ratos e gambás.

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Casas em situação de abandono atraem animais silvestres e peçonhentos - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Um efeito colateral grave do abandono das casas nas Zonas de Autossalvamento (ZAS) de Antônio Pereira e Vila Samarco começa a preocupar a vizinhança. Com o esvaziamento das casas e a falta de manutenção ou limpeza dos imóveis e lotes, pragas urbanas e animais silvestres começaram a tirar o sossego dos moradores de Antônio Pereira e Vila Samarco.

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Na última terça(16), uma cobra com cerca de 2,5m foi encontrada na cozinha de Rita, uma moradora da Rua Alexandrita, na Vila Samarco. “Foi por volta das 8h mais ou menos. Eu estava trabalhando quando minha filha me comunicou. Ela tirou uma foto e um pequeno vídeo. A cobra estava em cima do armário da minha cozinha. Foi um susto muito grande. Meus filhos ligaram para o corpo de bombeiros, enquanto isso eu pedi ajuda para amigos e meus filhos pediram ajuda para vizinhos, neste meio tempo cheguei em casa e vi com desespero que de fato a cobra estava no meu armário e era enorme. Graças a Deus e a amigos e vizinhos conseguimos tirá-la de dentro de minha casa”, relata a moradora.

Porém o fato está longe de ser um caso isolado, de acordo com o relato de moradores, apenas nos arredores da Rua Fluorita, essa era a oitava cobra a aparecer no intervalo de um mês. Para Zé Carlos, outro morador da Vila, as cobras aparecem em consequência dos ratos que encontram nas casas abandonadas um local propício para a reprodução, uma vez que não há limpeza ou capina das propriedades.

O morador vê um aumento significativo no aparecimento de animais, principalmente das serpentes no local e é enfático: “Tá uma vergonha pra Vale esse descaso com nossa vila e nossos amigos viu, é uma insegurança pra quem fica como é o meu caso”. Ainda de acordo com Zé Carlos, durante a última limpeza realizada em lotes da Cohesa (Cooperativa Habitacional dos Empregados da Samarco) e das áreas verdes da vila, 32 cobras foram encontradas.

Moradores encaminharam diversas fotos de cobras encontradas na Vila Samarco nosúltimos meses.

Dentre as cobras encontradas, foram identificadas jararacas, cascavéis e até mesmo a temida urutu cruzeiro, além de outras não venenosas, como foi o caso da que apareceu na cozinha de Rita.

Na rua Água Marinha, um gambá saruê foi flagrado dentro de uma das casas e além disso, há relatos de aparecimento de escorpiões e outras pragas na vizinhança. Outros animais como jacus e tatus também aparecem de vez em quando.

Nos arredores da Rua Projetada 10, em Antônio Pereira, “os ratos estão fazendo a festa”, é o que diz Lucilene, uma das moradoras da Rua. Ela mora sobre a ZAS, mas ainda não foi retirada pela mineradora. Lucilene explica que na última semana precisou descartar diversos pacotes de mantimentos que tiveram suas embalagens roídas.

A moradora reclama também do excesso de mato nas casas já interditadas, o que segundo ela estaria servindo como berçário para os animais. “a nossa realidade é o abandono das casas, destruição e muito rato viu, é isso que sobrou pra gente”, desabafa Lucilene.

Após a remoção de alguns moradores, outros animais também ficaram em situação de abandono, em um dos casos mais emblemáticos, vários cães foram flagrados se alimentando da carcaça de um outro que havia morrido dias antes.

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Responsabilidades

Em decisão liminar em março de 2019, um dos ítens que foram cobrados da mineradora tinham a ver com animais e especialmente com os animais silvestres, como diz o trecho: “f.8) elabore e execute plano emergencial que contemple ações de localização, resgate e cuidado dos animais domésticos,notadamente cães, gatos, suínos, aves, equídeos e gado; bem como afugentamento, monitoramento e resgate de fauna silvestre, para o caso de evacuação das áreas. Sem prejuízo, deverá, ainda, se houver evacuação:

f.8.1) a) promover o resgate e cuidado imediato dos animais isolados; b) promover a provisão de alimento, água e cuidados veterinários àqueles animais cujo resgate não for tecnicamente recomendável, assim caracterizado em relatório técnico, firmado pelo profissional responsável pela execução do plano emergencial. Essas medidas deverão ser adotadas até o resgate dos animais e sua entrega aos seus tutores. Caso o animal não possa ser entregue ao seu tutor, deverá ser mantido em abrigo que assegure condições de bem-estar inerentes a cada espécie.”

Além disso, na sentença da Ação Civil Pública N° 5000435-60.2019.8.13.0461, datada de 28/09/2020, está explícito que: “1o – Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.”.

Sobre os fato acima narrados, a mineradora Vale esclarece que: “adota medidas de segurança territorial e patrimonial, com a instalação de câmeras de segurança e monitoramento por rondas presenciais, para a conservação dos imóveis e segurança da Zona de Autossalvamento (ZAS) de Antônio Pereira.” Ainda de acordo com a assessoria da empresa, “as atividades de roçada realizadas pela empresa tanto nas áreas públicas quanto no interior dos imóveis evacuados da ZAS, mediante autorização do proprietário, foram avaliadas e consideradas essenciais durante a Onda Roxa e, portanto, serão retomadas nesta semana, observando as recomendações das autoridades sanitárias.” Por fim, “A Vale acrescenta que está realizando, com equipe especializada, uma avaliação do fato e está, ainda, estudando medidas adicionais para garantir mais segurança aos moradores dessa região”.

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