Hidrometração em Ouro Preto será concluída até outubro
Confira a entrevista da Agência Primaz com novo superintendente Saneouro
- Ana Paula Martins
- 22/03/2021 às 18:09
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Para marcar o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, a Agência Primaz conversou com o superintendente da Saneouro, Clever Salvi, que assumiu a gestão da empresa, no início de fevereiro. O abastecimento e a qualidade da água representam um dos problemas mais relevantes enfrentados pela população da sede e dos distritos.
A Saneouro é resultado do consórcio entre as empresas GS Inima Brasil, MiP engenharia e EPC – Engenharia Projeto Consultoria, que venceu o processo licitatório para exploração e prestação dos serviços de água e esgoto em Ouro Preto. O antigo Serviço Municipal de Água e Esgoto de Ouro Preto (Semae-OP) foi extinto no governo do ex-prefeito Júlio Pimenta, e a Saneouro assumiu os trabalhos em janeiro de 2020, com o prazo da concessão de 35 anos.
Cleber Salvi [foto] tem 47 anos, é de Mogi Guaçu, interior de São Paulo, e se mudou para Ouro Preto para chefiar a Saneouro, em um momento de encerramento da Agência Reguladora de Serviços Públicos de Ouro Preto (Arseop) por parte do atual governo Angelo Oswaldo e com a polêmica sobre a hidrometração das residências e a cobrança da água no município. Ele é formado em tecnologia de saneamento, com uma especialização em gerência ambiental e possui 25 anos de experiência em saneamento.
Primaz: Você está completando um pouco mais de mês à frente da Saneouro. Deu tempo de conhecer a realidade do serviço daqui? Ouro Preto tem uma extensão territorial grande, com 12 distritos, além de ter um relevo muito característico. Cada localidade tem as suas particularidades. Já deu para entender esse cenário?
Cleber Salvi: Já sim, eu tive acesso a toda a documentação do contrato, sistema de referência. Aqui, foi feito uma coisa muito interessante, que foi o cadastro do sistema de água, um cadastro técnico, para saber de onde vem a água, onde estão os sistemas, as tubulações. Então, com esse material, juntando todo o conhecimento da equipe também, foi possível saber da dificuldade. Já existe um plano, um planejamento de um pouco antes da minha vinda, e estamos dando continuidade a esse planejamento. Mas sabemos das dificuldades, esses distritos do município, essa extensão territorial imensa, né? Isso que faz ser um desafio mesmo.
Primaz: Você já conseguiu visitar esses locais?
Cleber Salvi: Já consegui, eu tive o prazer de visitar todas as unidades de captação, conhecer as dificuldades, os sistemas, as penalidades de cada um. Aqui [em Ouro Preto], tem os sistemas de captação alternativos, que fazem com que o sistema tenha um controle muito rigoroso para evitar qualquer problema na qualidade da água. Eu nunca tinha trabalhado com sistema de captação tipo surgência, como tem diretamente nas minas. Tem esse cuidado com esses locais até a sua desativação, esse é o nosso objetivo. Então, a gente tem que ter um controle muito apurado nisso e sempre privilegiar pela qualidade da água e não pela quantidade, em certos momentos. Desde o começo, a gente está zelando por isso. Mesmo que possa faltar água em alguns momentos por questões de variação da qualidade, é melhor parar o abastecimento do que fornecer uma água que não esteja adequada pro consumo.
Primaz: A Saneouro está ativa desde o início de 2020, e a população ainda desconhece esse contrato, como é que foi feita essa cessão, a população ainda tem medo da cobrança de água. Como que você vê todo esse cenário?
Cleber Salvi: É uma quebra de paradigma, uma mudança muito grande de cultura em relação à questão da água. A forma do abastecimento, a forma da cobrança a partir de uma taxa, e não uma cobrança do que realmente é consumido. Hoje, existe o uso exagerado de água em função dessa cultura de pensar que a água é um bem infinito. Ouro Preto, com certeza, onde a gente olha, tem várias nascentes; só que não é qualquer água que nós podemos usar para abastecimento público. O abastecimento público precisa que a água tenha tratamento, não é simplesmente canalizar uma água de uma nascente e distribuir. Existe todo um cuidado, uma tratativa em relação a isso, para atendimento legal. Nós, como empresa concessionária, ou mesmo, se fosse o Semae, deveríamos ter o controle de qualidade. Toda a água captada tem que ter, no mínimo, uma filtração. Isso é uma obrigação legal, tem que ter cloro. Não é simplesmente canalizar uma água. É esse o desafio: mostrar para população que tem todo um trabalho por trás do abrir a torneira e beber um copo de água. Tem todo o trabalho, um controle, que tem que ser feito para garantir a qualidade, para que essa água não faça mal à saúde. Entendemos que é um processo gradativo.
Primaz: Em Ouro Preto, talvez devido a não haver a cobrança do consumo, mas uma tarifa operacional básica, percebe-se um gasto exacerbado de água. Como conscientizar a população sobre a economia de água?
Cleber Salvi: O hidrômetro é uma ferramenta usada, principalmente, no controle de perdas. Por quê? Nós vamos ter condição de saber o volume de água que vai ser medido nas casas e o que sai da estação de tratamento de água. É uma informação importante. As pessoas vão saber, com a hidrometração, exatamente o que está sendo consumido. Nós vamos divulgar na fatura, que hoje é só uma taxa, esse volume transformado em valores, vai ter a informação do volume que ela tá consumindo e o quanto ela pagaria.
“Mesmo que possa faltar água em alguns momentos por questões de variação da qualidade, é melhor parar o abastecimento do que fornecer uma água que não esteja adequada pro consumo”
Primaz: Isso já vai começar agora com a hidrometração das casas?
Cleber Salvi: A hidrometração já está sendo feita. Para que apareça isso na conta, nós estamos tendo alterações do sistema comercial de software que gera as faturas. A partir de abril, as residências que estiverem hidrometradas vão receber essa informação. Tem que ter quatro meses para as pessoas verificarem o consumo da residência e quanto seria a fatura. E, também, a gente vai informar qual seria o consumo médio de uma família de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Com essas ações, com a regulamentação, com essa informação que vai ser divulgada para a população, os nossos clientes terão condições de se adaptar. É diferente, por exemplo, em locais onde já existe hidrometração, só que os hidrômetros não funcionam. Aí chega uma empresa concessionária lá, instala o hidrômetro, e o consumo vai lá pra cima. E aí não tem choro, vai ter que pagar. Aqui, estamos dando esse tempo para as pessoas se adaptarem.
Primaz: Quando deve terminar o processo de instalação dos hidrômetros nas residências?
Cleber Salvi: O nosso cronograma de instalação, até hoje, nós falamos em 7.500 e 8.000km. Isso com equipes menores; agora, nós conseguimos chegar num quadro de colaboradores específicos para fazer a instalação um pouco maior e adequada à nossa necessidade. O nosso planejamento prevê que, até outubro, a gente finalize as instalações. Em torno de 28 a 30 mil ligações, que é a hidrometração.
Primaz: É possível fazer a separação ou individualização dos hidrômetros em prédios ou moradias compartilhadas?
Cleber Salvi: Nós estamos hidrometrando onde tem ligação, onde tem a pena [d’água]. A gente tem se deparado com várias situações onde uma única pena atende três casas. O que nós estamos fazendo? Nós estamos hidrometrando, primeiramente. As três casas, se elas tiverem matrícula, elas podem nos solicitar a individualização, ou seja, nós vamos criar mais duas ligações de água para que aquelas duas outras casas tragam sua tubulação interna até a ligação no alvo. A parte interna nós não fazemos.
Primaz: Há uma previsão de data para a cobrança efetiva da água acontecer? Será após uma porcentagem da hidrometração das residências?
Cleber Salvi: A meta contratual para iniciar a cobrança é quando atingirmos 90% das ligações com hidrometração. Para começar a cobrar, nós temos que avisar com quatro meses de antecedência. Por isso que nós já estamos informando os clientes com hidrômetro, a partir de abril, postando na fatura como e qual vai ser o valor da tarifa. Quando atingir os 90%, a gente comece a fazer o faturamento dessas ligações hidrometradas que já receberam a informação por quatro meses.
“A meta contratual para iniciar a cobrança é quando atingirmos 90% das ligações com hidrometração”, explica Cleber Salvi.
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Primaz: Então, uma parte da cidade vai começar a ter cobrança de água diferente da outra, não vai ser totalmente equilibrada?
Cleber Salvi: Todo mundo não, vai ser gradativo, de acordo com o que a gente tá instalando os hidrômetros.
Primaz: Campanhas eleitorais da região foram muito focadas na questão da água e do esgoto. Muito se falou sobre o assunto, um lema que parte da população também está levantando, que é o #forasaneouro. Como você analisa isso e como está a relação da empresa com o poder público (Legislativo e Executivo)?
Cleber Salvi: Nós temos o nosso contrato com a prefeitura para prestação de serviço de água, de 35 anos. E é o contrato que nós vamos cumprir, estamos cumprindo. A gente tem metas contratuais previstas para atendimento em relação à água e ao esgoto. O nosso objetivo é manter, continuar a nossa prestação de serviço, melhorando com os investimentos, com a nossa gestão. Nós temos um planejamento, no total, de quase R$170 milhões que vamos investir no município, não é um valor pequeno, valor bastante representativo. Nós temos, nos sete primeiros anos, a previsão de cem milhões de investimento. Então, com esses investimentos associados à gestão do sistema feito por nós, nós vamos melhorar a prestação do serviço, com certeza. Tanto de abastecimento de água como esgotamento sanitário. Então, temos esse contrato e o nosso objetivo é continuar com a prestação de serviço no município, mesmo tendo a prefeitura cogitado a possível a saída da empresa.
Primaz: Existe alguma brecha no contrato?
Cleber Salvi: Nós somos uma empresa bastante transparente, estamos abertos a qualquer questionamento, a qualquer esclarecimento. Quando a empresa faz uma proposta, ela analisa toda a documentação prevista nesse processo [licitatório]. Lá se faz a previsão de quanto vai gastar, na operação, no dia a dia, energia, pessoal, tudo que for necessário e os investimentos, assim como a receita. A tarifa também não foi definida pela Saneouro; tem uma estrutura tarifária já definida. Nós somos contratados pela prefeitura. Tendo nesse meio, como se fosse uma balança, a agência reguladora. Ela que vai avaliar se o contrato está sendo cumprido, as metas estão sendo atingidas. A concessão é diferente da privatização. Tudo que nós investimos, depois de 35 anos, é do poder público, é da população de Ouro Preto. O objetivo é manter o contrato. Tivemos semana retrasada [início de março] uma reunião com alguns secretários para pensar sobre o próprio contrato e sobre a agência reguladora. A tendência é evoluir com as conversas e voltar uma situação normal de relacionamento.
Primaz: Sobre o fim da Arseop, o município precisa ter uma agência reguladora. Essa alteração impacta de alguma forma a rotina de vocês?
Cleber Salvi: Por lei, é indispensável a existência de uma agência reguladora. Isso é inevitável, tem que existir, só assim é mantido o equilíbrio econômico financeiro do contrato ou concessão. Nós estamos só aguardando a definição da prefeitura sobre qual vai ser a próxima agência. A agência [Arseop] foi extinta, porém, ainda existem os técnicos da própria agência trabalhando. Tem uma indicação de que a Secretaria de Obras vai conduzir esse processo, mas nós não fomos informados, em nenhum momento, formalmente pela prefeitura sobre a extinção e como funcionaria esse processo todo até a nomeação da próxima agência. A gente está aguardando as definições da prefeitura. Para nós, o importante é que tenha a agência e que ela cumpra o seu papel.
Primaz: Nesta segunda, 22 de março, é o dia mundial da água. A gente já falou sobre como Ouro Preto tem um cenário muito vasto de nascentes e de água, mas o ouro-pretano pode comemorar? Porque o ouro-pretano sente uma descrença na qualidade e também na continuidade do abastecimento. Nesse dia 22 de março, o que o ouro-pretano pode celebrar?
Cleber Salvi: Ele pode celebrar sim, porque tem a esperança de que pode confiar na empresa, que ela veio para melhorar a qualidade de vida, trazendo água, tanto em quantidade, como em qualidade. Assim como no esgoto tratado, uma ação que é muito importante, não só para Ouro Preto, mas para as cidades ao redor daqui, onde há o lançamento de esgoto nos ribeirões. É uma fase inicial de um projeto 35 anos, que tende a trazer qualidade de vida para população, qualidade, continuidade no abastecimento, mudando a realidade que hoje acontece – ainda acontece, mas por pouco tempo – de rodízio de abastecimento de água, isso é uma coisa que Ouro Preto convive há muitos anos. O nosso objetivo é, como eu falei, regularidade, 100% de regularidade e 100% de qualidade na água e tratamento esgoto pra todo o esgoto que for gerado no município.
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