300 mil mortes!

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

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Vai passar, eu sei que vai passar. 300 mil mortes vão passar?! Não conseguimos respirar, o oxigênio acabou, faltam insumos, respiradores, UTIS, camas, cilindros e vacinas…. Não consigo respirar! Tenho crises de pânico, medo, frio, calor, suor, choro, risos ensandecidos; ando sem dormir, nervoso, revoltado, deprimido, desesperançoso…. Não encontrei leito para salvar mãe, pai, avôs, filhos, irmãos. São 300 mil mortes! Ambulâncias voam pelas rodovias e ruas num vai e vem contínuo. Ando com o coração na mão; temeroso e em constante vigília, mas há pessoas que andam tranquilamente pelas vielas, sem máscaras, como se nada estivesse acontecendo. Eu não ando mais sem máscara nem desrespeito às recomendações dos profissionais da saúde. Não participo de encontros, festas e reuniões familiares. São 300 mil mortes! Que dor, meu Deus! Mãe, avó, irmão, tio, primo, marido, sogro, vizinho, famoso ou ilustre desconhecido foram levados ou acometidos por esse vírus maldito. É letal, real, potente, aterrorizador. São 300 mil enterrados! Ninguém teve velório nem missa de corpo presente, música, flores e homenagens. Não achei que a morte rondaria minha família. Enterraram parte de mim com velocidade descomunal. Não acreditei que o vírus seria grave e mortal. Não acreditei que faltariam leitos nos hospitais ou que profissionais de saúde atuariam no limite de suas energias. Não achei que o sistema colapsaria. Não resisti às aglomerações, às festas, aos passeios pelas ruas, às visitas de parentes em finais de semana. Achei que fosse uma gripe, uma gripezinha. Meus pais eram atletas, mas não resistiram! Entes queridos e vizinhos foram derrotados e devastados por essa doença que não me atrevo a mencionar. São 300 mil vidas extirpadas; trajetórias interrompidas, gerações destruídas! Pairam sobre mim, olhares preconceituosos, tortos e desaprovadores. Eu sei o tamanho da dor do auto preconceito e da autopunição. Elas me bastam, dilaceram as fraturas expostas de minha alma. O texto é tétrico e sombrio, mas são 300 mil mortes! Vidas decepadas, arrancadas bruscamente do convívio familiar, que poderiam ser salvas. Vai passar, creio que o real-pesadelo será minimizado pela ciência, no entanto, as 300 mil mortes não vão passar! Nenhum pesadelo ganha infinitude no tempo latu. O mal será derrotado pelos estudos e pesquisas. A ciência vence incautos, ignorantes e arrogantes. Valei-nos cientistas e profissionais da saúde! Suas vozes se perpetuarão nas ações humanitárias, derivadas das leis do homem e de Deus pelo direito à vida. O caminho tem sido árduo e penoso, vivemos de alegrias sepultadas diariamente, num país governado pelas sombras da incompetência e morosidade. Mas somos um povo heroico, bravo, altaneiro e corajoso que lutará de sol a sol para a manutenção da vida, felicidade e liberdade de expressão.

Eu sei, são 300 mil mortes. Seguiremos caminhos tortuosos, difíceis e tristes, mas não perderemos esperança e crença; os profissionais da saúde nos mantêm vivos, salvos e protegidos do maior vírus letal da humanidade. Vai passar, eu sei que vai passar. Não é um pesadelo que se interrompe num simples despertar, é realidade sem filtros e sem maquiagens cinematográficas. Aqui, no país da bandeira manchada pelo luto, retumba: e daí, e daí? E daí para os profissionais que emendam plantões para salvar vidas? E daí para a falta de respiradores, oxigênio, insumos e vacinas? Eu rezo e me protejo todos os dias desse vírus maldito. Daí, imputem sobre os ombros das autoridades negacionistas a responsabilidade das 300 mil mortes!

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros.

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