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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Duarte Júnior desmente ameaça de morte e expõe trama para tentar impedir fuga de Jorge Egito

De acordo com ex-prefeito, intenção de um encontro com Jorge seria para levá-lo à delegacia e tentar reaver os investimentos de outras vítimas do operador financeiro

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Duarte Jr. se defende das acusações, reconhece a autenticidade de conversas e áudios vazados, mas alega ter agido com a intenção de capturar Jorge - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Duarte Jr. se defende das acusações, reconhece a autenticidade de conversas e áudios vazados, mas alega ter agido com a intenção de capturar Jorge - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Após a denúncia protocolada por Jorge Egito no MPMG, o ex-prefeito de Mariana, Duarte Júnior, concedeu, no final da manhã de hoje (9), entrevista à Agência Primaz e ao jornal O Espeto, para explicar a sua versão dos acontecimentos e se defender das acusações do operador de investimentos. O ex-prefeito admitiu ter feito negócios com Jorge Egito, mas negou qualquer intenção em assassiná-lo. Duarte Júnior também apresentou um plano, no qual teria inventado a existência de recursos ilícitos em espécie e os oferecido ao investidor, com a intenção de atraí-lo para um encontro presencial com outros supostos credores e, posteriormente, levá-lo à delegacia.

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O Plano

O ex-prefeito Duarte Júnior admitiu que fez investimentos com Jorge Egito em fevereiro de 2021, tendo recuperado a maior parte dos recursos, R$580 mil, em 02 de março. Entre os dias 18 e 20 de fevereiro, Duarte diz ter repassado cerca de R$600 mil, provenientes de um empréstimo no Sicoob, mas teria desconfiado do investidor dias depois. De acordo com o ex-prefeito, após perceber que havia caído em um golpe de um falso investimento, ele teria pensado em um plano em duas fases para tentar reaver os valores investidos e, em seguida, impedir a fuga de Jorge Egito. “Assim que eu apliquei meu dinheiro em fevereiro, dois dias depois eu comecei a suspeitar que tinha alguma coisa errada e eu consegui pegar meu investimento de volta, 15 dias depois. Aí comecei a conversar com as pessoas e muitas vieram me pedir para que eu as ajudasse a pegar esse dinheiro de volta. Então, eu comecei a conversar com ele”.

Para conseguir reaver o investimento, o ex-prefeito afirma que simulou a compra de um imóvel e prometeu lucros exorbitantes a Jorge. Para isso, seria necessário recuperar o investimento inicial, com a promessa de que uma quantia ainda maior seria reinvestida, posteriormente, com o próprio Jorge Egito. “Eu já estava preparado, porque eu estava vendo que ele estava tendo muita dificuldade de devolver o meu dinheiro. E ele só devolveu porque acreditou que iria entrar muito dinheiro para ele. Não tinha terreno nenhum, o que eu criava nele era uma expectativa de que seria um bom negócio, que o investimento seria bom, lucrativo, mas ele não estava preocupado com o terreno, o que ele estava querendo é que entrasse mais dinheiro pra ele”.

Como segunda parte do plano, o ex-prefeito diz que inventou a existência de recursos ilícitos, em espécie, e a intenção de aplicá-los, para gerar interesse em Jorge Egito e, com isso, conseguir realizar um encontro presencial. “Ele não mentiu quando abriu a denúncia contra mim no Ministério Público, porque eu induzi a ele que o dinheiro não poderia aparecer. Eu fiz isso. Eu falei com ele: ‘Esse dinheiro não pode aparecer, eu preciso te entregar esse dinheiro em mãos. Encontra comigo’. Eu fui insistindo com ele. Ele falou: ‘entrega para minha secretária’. Eu falei: ‘Você é doido? Como eu vou entregar para a sua secretária? Eu sou um cara público, ela pode me prejudicar. Eu preciso entregar para você’”, declara.

Áudios e mensagens

Duarte Júnior confirmou a existência de conversas em áudios e mensagens entre ele e Jorge Egito e disse que a última mensagem foi enviada ao investidor na última quarta-feira (7), questionando Jorge sobre a autoria da denúncia. A Agência Primaz teve acesso a oito arquivos de áudio que teriam sido anexados à notícia-crime protocolada por Jorge Egito na 2ª Promotoria de Justiça de Mariana. Desses áudios, cinco são referentes a supostas conversas entre Jorge Egito e Anderson Guimarães e três são mensagens de voz, supostamente encaminhadas a Jorge pelo ex-prefeito.

Nossa redação, não tendo condições de atestar a autenticidade e nem conseguindo estabelecer a cronologia das conversas de modo a construir o contexto, optou por preservar o conteúdo dos mesmos. Entretanto, durante a entrevista, Duarte Jr. mencionou também ter gravado as conversas e mensagens de áudio, assim como Egito supostamente também teria feito. Nossa reportagem reproduziu um desses áudios, com duração de 21 segundos, com o seguinte conteúdo:

“Garanto pra você que eu resolvo isso hoje. Pode ficar tranquilo, 100% tranquilo. De forma alguma que você vai ficar nessa situação. Pode ficar sossegado que eu vou resolver. Pode chegar aqui que nós vamos resolver isso juntos. Agora, tem a possibilidade de passar o dinheiro vivo, né? Se você achar que é o caminho também, pelo menos a metade tá garantida, né?” (Ouça o áudio aqui)

Após ouvir a gravação, Duarte reconhece que trata-se, realmente, de um trecho de uma conversa com Jorge Egito. “Essa é a parte que eu falo com ele que eu vou voltar o meu dinheiro pra ele. Porque ele tava desesperado”, declara o ex-prefeito, referindo-se à história que teria sido inventada para convencer Jorge a devolver os recursos de Duarte Jr.

O ex-prefeito diz que os diálogos compõem o plano para recuperar o próprio dinheiro e também de outros investidores de Mariana. Ele também afirma que Jorge Egito entrou com a notícia-crime no Ministério Público depois que o suposto novo negócio entre eles foi frustrado. “Eu falei com ele: ‘Jorge, a única forma de você ver esse dinheiro agora é se eu encontrar com você e entregar na sua mão. Eu só confio se for em você’. Ele não apareceu de jeito nenhum para pegar o dinheiro. Aí ele entrou com a denúncia de que o meu dinheiro era ilícito”.

A estratégia, segundo Duarte Júnior, foi comunicada à Polícia Civil por meio de Boletim de Ocorrência em 11 de março de 2021, ou seja, 9 dias depois de ter recebido os R$580 mil. Mesmo tendo conseguido reaver a maior parte dos investimentos feitos com Jorge Egito, Duarte Júnior disse que manteve o plano para tentar ajudar as supostas outras vítimas do investidor. “Na ocorrência do dia 11/03, eu deixei muito claro que eu estava fazendo isso. A Polícia Civil tem informações de tudo o que eu estou fazendo. Porque eu não acho justo que eu resolva o meu problema e não informe às demais pessoas. Eu ia resolver e depois virar as costas para todo mundo? Não vou fazer isso e acho que eu agi da forma correta.”

Duarte Júnior nega que tenha feito qualquer investimento em dinheiro vivo com Jorge Egito e também que tenha alguma ligação com a empresa Indaiá Turismo. “Todo o dinheiro investido com o Jorge sai do Sicoob e vai pra conta dele. Se [o que eu recebi] era do Anderson [Guimarães, proprietário da Indaiá], eu não sei. O meu negócio era com o Jorge e saiu da conta dele para a minha”. O ex-prefeito atribui a notícia-crime de Jorge Egito a uma mágoa pessoal diante dos prejuízos recentes percebidos em Mariana. “Ele acha que eu, uma pessoa, o prejudiquei, mas que ele não prejudicou as 90, 100, sei lá quantas pessoas. Eu não o prejudiquei. Eu disse a eles o seguinte: ‘olha, para eu recuperar o meu dinheiro, tive que contar uma história, fazer uma situação para eu conseguir’. Vivenciando todo esse problema, eu não saí fora depois que recebi o recurso. Eu fiquei ao lado dos meninos que me apresentaram a ele, para tentar salvá-los também”.

Na entrevista, o ex-prefeito apresentou uma cópia do contrato de empréstimo junto ao banco Sicoob, no valor de R$601.500,00, emitido em 23/12/2020, com vencimento previsto para 15/02/2023 e taxa de juros de 0,8%, ao mês. Duarte Júnior negou ainda qualquer intenção de assassinar Jorge Egito e garantiu que todos os seus investimentos são feitos de forma lícita. “Pra que que eu ia querer matar alguém que me pagou? Eu consegui fazer com que ele me pagasse, ele me pagou, então não faz cabimento eu querer matar ou mandar matar ninguém, não. Até porque o meu dinheiro tem lastro, meu dinheiro é honesto e não tem nada de errado em como eu invisto”.

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Confiança

Duarte Júnior foi questionado sobre como ele e outras pessoas acreditaram nas promessas de Jorge Egito, a ponto de investir altas quantias de dinheiro. “A confiança foi total, como quem me indicou era de extrema confiança, confiei de olhos fechados, nem contrato com ele eu fiz, a gente não tem nem um contrato, tamanha a confiança que tive nele”, acrescentando que Jorge não prometia rendimentos, mas sim um limite máximo de perda. “O que ele disse foi assim: se cair mais do que 5%, você perde no máximo isso, essa é a única promessa dele. E isso acontece mesmo, até onde eu procurei saber, tem como você fazer esse tipo de trava mesmo. Mas como ele passava os ganhos pra gente através do aplicativo Real Valor, que nada mais é do que uma planilha que ele mesmo preenchia, todo mundo achava que estava ganhando”. Segundo Duarte, “os aplicativos das pessoas que me indicaram a ele, mostravam rendimentos muito altos, então eu acreditei em um primeiro momento que era um negócio bom e eu acabei acreditando”, confessa, revelando que Jorge repassava pequena quantias mensais para seus clientes, o que “dava uma impressão de que era um negócio muito bom”.

Essa confiança, segundo o ex-prefeito, só teria sido quebrada quando foi descoberto que, desde dezembro do ano passado, Jorge Egito estava impedido de operar como investidor. “Ele só me pagou porque acreditou que eu fosse dar um valor 10x, 20x que eu já tinha investido trazendo mais pessoas pra aplicar com ele. Até dezembro ele conseguia aplicar mesmo, mas em dezembro a B3 bloqueou ele por algum investimento errado, ele não investia mais, mas continuou recebendo o dinheiro das pessoas”.

Comunicado da B3 datado de 15 de Dezembro, mostra a inclusão de Jorge Moreira do Egito na lista de comitentes inadimplentes da bolsa de valores
Comunicado da B3 datado de 15 de Dezembro, mostra a inclusão de Jorge Moreira do Egito na lista de comitentes inadimplentes da bolsa de valores

Nossa reportagem questionou o entrevistado sobre a razão de ele ter declarado, anteriormente, que não havia feito nenhuma aplicação financeira com Jorge Egito. “Eu não queria dar visibilidade para esse assunto, mas quando eu percebi que o intuito dele era não pagar e ele passou a questionar a origem do meu dinheiro, dando a entender que era de origem ilícita, foi que isso ficou público”, respondeu. E ainda fez questão de reafirmar a natureza dos recursos que confiou a Jorge: “O que é importante deixar claro aqui, é a origem desse dinheiro e isso tá aqui, ele tem contrato, eu pedi esse dinheiro emprestado, tem contrato aqui assinado, tem bens em garantia, tem tudo. O dinheiro é totalmente legal e é meu, não tem nada de ilícito nisso”.

Outras vítimas

A reportagem da Agência Primaz teve acesso a uma lista com diversas pessoas que supostamente teriam perdido seus investimentos em aplicações semelhantes realizadas com Jorge Egito. Entramos em contato por telefone com dezenas delas, mas até o momento nenhuma delas se dispôs a conversar sobre o assunto com a nossa reportagem, mesmo sob condição de anonimato.

Entenda o Caso

Jorge Egito é um operador de investimentos, que, aparentemente, atraía pessoas interessadas em investir na bolsa de valores. Jorge convencia os interessados a transferir para ele valores em dinheiro, em aplicações supostamente seguras onde os investidores poderiam acompanhar seus lucros através de aplicativo. Em contato com a Agência Primaz, ele informou que nunca procurou ninguém para oferecer seus serviços. “Eu comecei fazendo isso com meu próprio dinheiro e ganhei bastante. Aí, a família vem e aplica. Um amigo fica sabendo que é bom negócio e me procura. E assim vai”. Os investidores acreditavam que o aplicativo mostrava os valores reais de ganhos, porém o aplicativo, segundo Duarte, tem outra finalidade: organizar e controlar os investimentos em um sistema de planilhas.

Jorge admite que houve perdas em aplicações no mês de dezembro, o que é comum em transações de risco, mas os investidores alegam que Egito se nega a devolver os valores investidos. Em comunicado encaminhado aos seus clientes, Jorge manifesta disposição de negociar formas de devolver o dinheiro: “Esclareço, ainda, que não me ausento da culpa pelas perdas financeiras. Mas ressalto o interesse, empenho e preocupação com todos os envolvidos. Quero ser transparente e honrar a confiança que foi depositada em mim, seguindo com as negociações para encontrar formas de realizar os pagamentos devidos. Tanto que em nenhum momento deixei de responder a todos e nem troquei o número do meu telefone”, disse o operador financeiro.

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