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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Rodrigo Fontenelle/Agência Primaz

Aconteceu nesta sexta-feira (17), no centro de Mariana um ato público pelo “Dia da Luta Antimanicomial”, comemorado nacionalmente no dia 18 de maio. O ato foi organizado dentro da programação microrregional do V Seminário de Saúde Mental, que compreende as cidades de Itabirito, Ouro Preto e Mariana. O tema do evento neste ano é “Direito às diversas gentes: de mãos dadas contracorrentes”. Este foi o segundo e último dia de atividades pelo V Seminário em Mariana, sendo que na última quinta (16) aconteceram apresentações e mesas redondas pelo evento no Teatro Municipal de Mariana, antigo SESI.

A concentração para o ato começou às 13h30, no Centro de Convenções, onde foi servido um lanche para todos os participantes do evento. A organização e os participantes se reuniram diante da prefeitura, marcando a abertura do ato com uma peça teatral que representou os objetivos da Luta Antimanicomial.

Maria Bonifácio, uma das atrizes da peça, faz tratamento há mais de 20 anos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). “Eu tenho certeza que a gente tem o direito de ir e vir. Que de doido e de louco, cada um tem um pouco. (…) Nós também temos o direito de sermos bem atendidos nos supermercados, nos hospitais, em qualquer lugar, o mesmo direito de uma pessoa normal”, declarou, revelando estar muito agradecida pelo tratamento oferecido a ela.

O prefeito Duarte Júnior, presente ao evento, também discursou para a população. “Chega de manicômio, agora existe um tratamento adequado, com respeito às pessoas que precisam desse tratamento. Essas pessoas têm todas as condições de viver ao nosso lado”, afirmou.

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O ato partiu em passeata para o Terminal Turístico, no centro, entoando palavras de ordem como “ei, você aí, me dá atenção aí!” e “bola fora do governo Bolsonaro, manicômio nunca mais!”. Às 16h30, então, houve o encerramento da passeata pelo Dia da Luta Antimanicomial.

A programação microrregional do V Seminário de Saúde Mental prosseguiu neste sábado, dia 18, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto e terá continuidade na terça, 21.

Sobre a Luta Antimanicomial

Andrea Simões, referência técnica do CAPS de Mariana explicou que durante 30 anos os trabalhadores da saúde mental lutam pelo fim dos manicômios e “essa luta continua a cada dia”, acrescentou. Ainda assimo cenário atual é de muitos retrocessos representados pela volta de atitudes manicomiais. Por exemplo, uma nota de técnica do governo Bolsonaro, divulgada no site do Ministério da Saúde em fevereiro, visou reorientar as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental.

As alterações pretendidas eram as de financiamento de máquinas de eletroconvulsoterapia (eletrochoque) pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a internação em hospitais e o fim da política de redução de danos para usuários de álcool e outras drogas. Devido às críticas de especialistas essa nota técnica, que representava um retrocesso para as políticas de Saúde Mental, foi retirada poucos dias depois do site do governo.

Karen Santos, coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) considera que o desafio pela luta antimanicomial é diário e nacional. “O ato realizado em Mariana é político e pela luta por direitos para as pessoas com sofrimento mental, além de ser contra os retrocessos que ameaçam as políticas nacionais de saúde mental. Políticas essas que proporcionaram a muitos pacientes serem reinseridos na sociedade e tratados fora dos muros dos manicômios”, afirmou. E complementa: “Essa é a nossa luta (…), que a loucura tenha uma outra forma de ser vista na sociedade. O sofrimento mental não precisa ser encarcerado. Que a sociedade possa entender: quem tem algum tipo de sofrimento tem direito à vida, a circular nas cidades, à educação, ao lazer. O hospício não é o único lugar que temos a oferecer”.

Fotos: Rodrigo Fontenelle/Agência Primaz