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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Segundo levantamento divulgado pela Rede Globo, os atos aconteceram em mais de 220 cidades do país.


Yasmine Feital e Ingrid Achiever/Agência Primaz

Nesta quarta-feira, 15, a cidade de Mariana realizou uma manifestação contra os cortes na educação, junto a várias outras cidades brasileiras. O ato também foi marcado pela luta contra a reforma da previdência, que ainda precisa ser aprovada no Congresso Nacional.

A manifestação teve início às 15h, com oficina de cartazes no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Icsa). Logo em seguida, às 16h, os manifestantes seguiram a caminho do Terminal Turístico da cidade, passando pela Rua Direita. No percurso, que foi acompanhado pela Guarda Municipal, estudantes, professores e algumas pessoas da comunidade protestavam através de palavras de ordem que diziam sobre as ações e identidades do governo atual, de forma a se oporem às mesmas.

Mesmo pacífica, a manifestação dificultou a passagem de motoristas que se deslocavam no centro da cidade naquele momento. Flávia Reis, profissional da área da saúde, que estava na fila do trânsito, disse que a manifestação é importante para afirmar a relevância das instituições. “Quisera eu poder descer e ajudá-los. Eu acho [a manifestação] muito válida (…) cortar na educação o valor que o governo propõe é inadmissível. Eu sei que, na minha área e em várias outras, precisamos de grandes pesquisas e que essas pesquisas vêm de instituições federais”, afirmou.

Everaldo Oliveira, que também estava aguardando no local, disse que “todo mundo tem direito de fazer manifestação, mas ao mesmo tempo as pessoas têm que ver que as outras pessoas têm compromisso, então isso acaba atrapalhando. Mas eu concordo com a manifestação porque o governo está errado em cortar na educação. É através dela que o país se desenvolve”. Logo em seguida, uma conversa entre organizadores e guardas estabeleceu que as ruas seriam ocupadas durante 5 minutos e liberadas para o tráfego pelo mesmo período, de modo alternado. Os manifestantes ficaram cerca de 1 hora no local, com as pessoas protestando contra o governo. Esta é a primeira grande manifestação que Jair Bolsonaro enfrenta desde que foi eleito em janeiro.

Do Terminal Turístico, a caminhada seguiu para a Praça da Sé, onde fez uma nova parada, sob início de chuva. Os estudantes, professores e membros da comunidade que acompanhavam o ato seguiram fazendo suas reivindicações. Osmar Vânio, estudante de pós-graduação, afirmou que esses cortes atingem toda a comunidade, não só os estudantes. “A partir do momento que você não tem investimento em educação, seja da educação básica até a universitária, atinge todo o Brasil. Acho que é hora de todo mundo se juntar para poder consertar essa bagunça.”

A Praça Gomes Freire, mais conhecida como Jardim, foi o destino da parada seguinte. O local é um dos principais pontos turísticos de Mariana e possui muitos bares e estabelecimentos. Por isso, os participantes do ato pararam e, por meio de palavras de ordem, fizeram um alerta aos trabalhadores do local. Bianca Verdibello, estudante de Serviço Social, destacou a unificação de alunos, professores e trabalhadores. “A gente não pode ficar apático nesse momento. Isso aqui [manifestação] é muito bom. É pequeno ainda perto do contingente que precisa alcançar, mas isso aqui é a gota do oceano, sem essa gota o oceano é menor. Cada um tá fazendo o seu papel.” O fim da caminhada foi no Instituto de Ciência Humanas e Sociais (ICHS), com a exibição do documentário “Igor Mendes, arcanjo de asas negras”. Com a presença de Nayara Mendes, irmã de Igor, foi realizada uma roda de conversa.

Entenda as manifestações

O movimento tomou forma depois que o Ministério da Educação (MEC) anunciou um bloqueio de 24,84% dos gastos das instituições federais. O congelamento da verba é direcionado às despesas “discricionárias”, como luz, água, bolsas de pesquisas, serviços terceirizados e materiais básicos. Depois da repercussão causada pelo pronunciamento, o ministro Abraham Weintraub disse que houve um mal-entendido e que, na verdade, os cortes seriam direcionados somente às áreas citadas acima, não atingindo outras despesas.

Valério Vieira, que participa do Sindicato Metabase Inconfidentes, falou sobre os impactos do congelamento de gastos na cidade. “Os cortes nas universidades podem gerar um desemprego imenso, atingindo pessoas que prestam serviços de limpeza e alimentação, por exemplo (….) vai prejudicar, e muito, a cidade de Mariana”.

Em nota, a reitoria da UFOP afirmou que a Universidade sofrerá uma “perda de R$ 20,8 milhões dos seus R$ 65,6 milhões disponíveis para despesas de manutenção e investimento”, afetando a “concessão de bolsas acadêmicas, a realização de trabalhos de campo e as excursões curriculares, comprometendo diretamente suas atividades fins relativas ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão”, além de impactar a assistência estudantil.

As críticas ao presidente do país se intensificaram, ontem, 15, após a declaração de que os manifestantes seriam “idiotas úteis” e “massa de manobra”. Jair Bolsonaro que no momento da fala chegava a Dallas, nos Estados Unidos, afirmou ainda que “agora… a maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada.” Diversas associações ligadas à educação reagiram negativamente ao comentário e desaprovaram a atitude do ex-militar.

Fábio Faversani, professor na UFOP e um dos organizadores das manifestações em Mariana, disse que o governo também ataca moralmente as Universidades quando diz que as mesmas não têm valor e que não realizam pesquisas. Ele ainda afirma que “a educação pública é fundamental para a qualidade de vida das pessoas”, e que esta manifestação é uma preparação para a Greve Geral dos Trabalhadores, prevista para o dia 14 de junho.