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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Vereadores trocam farpas em reunião extraordinária da Câmara Municipal de Mariana

Projeto de crédito suplementar gera discussões e acusações entre componentes das bancadas de situação e oposição

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Reunião Extraordinária da Câmara de Mariana, realizada em 05/07/2021 - Foto: Reprodução Facebook
Convocada por solicitação do Prefeito Interino, Juliano Duarte, para apreciação de quatro projetos de lei, a reunião extraordinária da Câmara Municipal de Mariana, realizada no dia 05 de julho, durante o recesso parlamentar, transcorreu em clima tenso durante a discussão do projeto substitutivo nº 95/2021, que autoriza a abertura de crédito adicional especial e abertura de crédito adicional suplementar no orçamento vigente, no valor total de R$68.650.000,00, destinados a ações de diversas secretarias municipais, em função de excesso de arrecadação e de superávit financeiro apurado no Balanço Patrimonial relativo ao exercício de 2020. Durante a discussão, acusações de politicagem, de voto de cabresto e de falta de respeito às opiniões, elevaram a temperatura da reunião, culminando com uma emocionada manifestação da vereadora Sônia Azzi e aprovação do projeto 94 por 10 votos a favor e 4 contrários.

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A reunião já começou em clima tenso, quando o vereador Marcelo Macedo (MDB) questionou a legalidade da convocação, considerando que a republicação do edital, no início da tarde de sexta-feira (02), supostamente contrariando a antecedência prevista no Regimento Interno, tendo em vista que, entre a republicação e a realização da reunião, houve um sábado e um domingo, que não poderiam ser contados.

“No meu entendimento, Senhor Presidente, esta reunião é nula, torna-se nula. Por quê? Nós sabemos que tem um prazo de 24h pra marcar uma [reunião] extraordinária. Essas 24h contam sábado e domingo? Recebemos esse edital na sexta-feira, e entendo que, como não temos reunião nem sábado nem domingo, esse prazo se estende”, afirmou Marcelo Macedo.

Rebatendo o argumento, Ronaldo Bento (PSB), Presidente da Câmara, argumentou que a republicação foi feita apenas para incluir o projeto nº 98, e que considerando o horário de publicação na sexta-feira, até zero hora de sábado, acrescido ao período decorrido de zero hora de segunda até o momento do início da reunião, já configuraria a observância do prazo regimental de antecedência da convocação.

“Chegou um projeto de lei a esta Casa, mais precisamente na quinta-feira, onde solicitaram a inclusão desse projeto, na pauta da discussão da extraordinária de hoje. (…) Entendemos que, no cômputo do prazo, só houve a inclusão. Mas o prazo contar-se-á (sic) desde o dia 1º [até] a segunda-feira. Em que pese não entendimento e não acolhimento por parte do edil, vereador Marcelo Monteiro, que faz o seu explanamento de nulidade desta reunião, indefiro de plano. Até mesmo porque, fora protocolado, conforme palavra dita pelo próprio vereador, às 13:07 de sexta-feira. Às 13:07 de sexta-feira, se contarmos dias úteis, o que não pratica dentro de nosso Regimento Interno, que é omisso, daria hoje, às 13:07 da tarde, 24 horas, como comanda o nosso Regimento Interno. E como está acontecendo às 16, dá 27 horas”, defendeu Ronaldo Bento, indeferindo a solicitação de Marcelo Macedo de adiar a reunião para que os vereadores pudessem ter esclarecimentos sobre o projeto, lembrando que os vereadores tiveram acesso à documentação pertinente há 11 dias.

“Então, vereador Marcelo, está indeferido o pedido de Vossa Excelência, e vou solicitar a continuidade da reunião”, definiu o Presidente.

Marcelo Macedo, porém, insistiu na necessidade de maior discussão e esclarecimentos sobre a destinação dos recursos às secretarias. E questionou a razão dessa correria, sem que os secretários compareçam à Câmara para dar esclarecimentos, lembrando o caso da UPA São Pedro, cujo projeto de retomada foi votado em reunião extraordinária, no final de janeiro, mas a obra não recomeçou até esta data. “Dar esse voto [favorável ao projeto] é dar um cheque em branco. Fica aqui meu comprometimento de votar na quinta-feira. Mas acho que é obrigação do poder público. A população pede isso, que haja transparência”, argumentou o vereador.

Mesmo discordando da ilegalidade da convocação, Ronaldo Bento admitiu a possibilidade de submeter ao plenário o pedido de adiamento. Entretanto, depois de conceder a palavra ao vereador Fernando Sampaio, que se manifestou pela legalidade do edital de convocação, o Presidente perguntou ao plenário se haveria a necessidade da leitura da ata da reunião anterior e, em seguida, passou imediatamente à discussão e votação, considerando a ata aprovada por unanimidade, uma vez que nenhum vereador se manifestou de forma contrária.

Feita a leitura do edital de convocação da reunião extraordinária, com a pauta de discussão e votação, Fernando Sampaio pediu que fosse submetido ao plenário a consulta sobre a votação dos projetos de acordo com o edital de convocação, enquanto Marcelo Macedo solicitou que o plenário fosse consultado sobre o adiamento da reunião para quinta-feira. Colocando em votação, de forma única, essas duas solicitações, ou seja, manter a reunião na data do edital ou adiar para quinta-feira (08), a proposta de mudança de data foi derrotada, conseguindo apenas quatro votos.

Leitura dos Projetos de Lei

O primeiro dos quatro projetos lidos foi exatamente o de número 94/2021, com a previsão de abertura de créditos especiais adicionais, no valor total de R$22 milhões, sendo:

  • R$1,7 milhões para construção de pontes nos distritos e subdistritos de Barro Branco, Barroca, Constantino, Cláudio Manoel, Paracatu e Cuiabá;
  • R$400 mil para construção de UBS no subdistrito da Barroca;
  • R$16,5 milhões para pactuar um contrato de programa junto ao Consórcio CODAP, visando execução de recapeamento asfáltico nos bairros, distritos e subdistritos de Mariana, execução de drenagem profunda e bueiro celular em Constantino, bem como de gabiões em Furquim, Barroca e outras localidades;
  • R$3,4 milhões para a execução do novo acesso ao bairro Cabanas;

Já os créditos adicionais suplementares, com recursos originados em excesso de arrecadação, no valor total de R$46,65 milhões, são destinados a algumas secretarias municipais, para atendimento de despesas decorrentes de novas demandas, sendo:

  • R$8,2 milhões para a Secretaria de Obras (construção de contenções e drenagens diversas, incluindo um muro de gabião no Córrego de Padre Viegas; contenção e retaludamento de encostas; implantação de sistema de abastecimento de água em Cachoeira do Brumado; ampliação, reforma e manutenção em áreas e prédios públicos; elaboração de projetos arquitetônicos e de engenharia e realização de serviços de sondagem, dentre outras atividades de rotina do setor);
  • R$11,7 milhões para a Secretaria de Saúde (despesas diversas com exames laboratoriais, aquisição de materiais médico/odonto/hospitalar, combate à Covid, dentre outras);
  • R$3,3 milhões para a Secretaria de Ação Social e Cidadania (aquisição de cestas básicas e de material de construção para o Programa Arrumando a Casa);
  • R$11,15 milhões para a Secretaria de Educação (instalação e aquisição de playgrounds, reforma e revitalização de escolas e creches municipais), incluindo recursos a serem repassados pela Fundação Renova, no valor de R$6,7 milhões, além dos R$300 mil já constantes no Orçamento de 2021;
  • R$300 mil para a Controladoria Geral (complementação de dotações de pessoal);
  • R$2,1 milhões para a Secretaria de Defesa Social (terceirização de mão-de-obra e despesas com pessoal de vigilância patrimonial);
  • R$2,7 milhões para a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (recursos para compor o processo licitatório de coleta de resíduos sólidos);
  • R$1,7 milhões para a Secretaria de Administração (complementar recursos para instalação de torres de telefonia móvel em Campinas, Pedras, Goiabeiras, Paraíso, Vargem e Serra do Carmo;
  • R$1,5 milhões para a Secretaria de Esportes e Eventos (complementação de dotações de pessoal)

Mesmo ainda não tendo sido lidos os demais projetos e indicações constantes na pauta, Ronaldo Bento concedeu a palavra ao vereador Gilberto Mateus Pereira (Cidadania), conhecido como Tikim Mateus. Em sua fala, no estilo peculiar que vem demonstrando desde a posse, a fala do vereador foi em defesa do projeto, embora detendo-se somente na questão do recapeamento asfáltico.

“Senhor Presidente, com todo respeito, eu vou dar minha opinião aqui, e peço licença, não só a você, mas aos demais vereadores. (…) Até porque, nós tivemos sim, na Vargem, eu não tô falando politicagem não, tá? Doa a quem doer. Nós entendemos o sofrimento desse pessoal lá. Espero que, se nós votar esse projeto e ele passar, esse projeto saia da gaveta e saia do papel”, manifestou-se o vereador, aproveitando para anunciar seu propósito de cobrar a aplicação dos recursos: “É um projeto excelente, vai ser mandado pra Câmara aqui, já tá sendo mandado, então vai ser votado. (…) Uma dessas coisas que me chamou atenção aí, eu espero que esse dinheiro seja empregado mesmo no asfalto da Vargem e aonde for o distrito que não tenha asfalto. É o mínimo que que peço. Porque eu vou ser enjoado com isso aí. Vou pegar no pé, e com força”.

Em seguida foram lidos os demais projetos incluídos na pauta da reunião extraordinária.

Entre a leitura dos projetos 96 e 97, Fernando Sampaio (PSB) solicitou consulta ao plenário para a retirada de pauta das indicações. Marcelo Macedo discordou, alegando que o plenário havia votado pela manutenção do edital, do qual constavam, “mais de 300 indicações, se não estiver enganado”, nas palavras de Ronaldo Bento. Em novo aparte, Fernando rebateu Marcelo, dizendo que o plenário é soberano para mudar isso, podendo votar a qualquer momento essa retirada de pauta. Ronaldo Bento, então, decidiu sozinho que seriam lidas apenas duas indicações de cada vereador, a exemplo do que é feito nas reuniões ordinárias. Assim, foram lidas duas indicações de cada um dos seguintes vereadores: Gilberto Mateus Pereira, Manoel Douglas Soares Oliveira, José Antunes Vieira, José Sales de Souza, Ediraldo Arlindo de Freitas Ramos, Ronaldo Alves Bento, Sônia Azzi, Maurício Antônio Borges Andrade e Silva, Ricardo Miranda, Pedro Ulisses Coimbra Vieira, Fernando Sampaio de Castro e Marcelo Macedo. Fazendo a contagem das indicações, nossa reportagem chegou ao número de 294, incluídas na pauta da reunião extraordinária para “com intuito de aliviar a pauta das futuras Reuniões Ordinárias”, conforme publicado no site da Câmara.

Terminada a leitura, o presidente Ronaldo Bento concedeu um intervalo de cinco minutos para a elaboração dos pareceres, mas a reunião ficou suspensa por aproximadamente 15 minutos

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Discussão do PLS 94

Na retomada da reunião, foi lido o parecer conjunto das comissões de Finanças, Legislação e Justiça; de Educação, Saúde, Assistência Social, Esporte, Lazer e Turismo; e de Viação, Obras Públicas, Agricultura, Indústria, Comércio e Meio Ambiente, recomendando a aprovação do Projeto de Lei Substitutivo nº 94/2021 (PLS 94).

Ao colocar o assunto em única discussão e votação, como estabelecido no edital de convocação da reunião extraordinária, o Presidente da Câmara concedeu a palavra ao vereador Tikim Mateus, que defendeu o projeto, enfatizando aspectos positivos do mesmo para a população marianense. “Eu vou falar até menos [que os 5 minutos concedidos], vou falar pouco e acertado. Eu gosto de falar pouco e mostrar pro povo o que realmente espero que aconteça com esse projeto. É um projeto de grande valia, entendemos o sofrimento de várias comunidades onde a melhoria tá chegando, mesmo que devagar, mas tá chegando. Espero que esse projeto vá abranger a quase toda população de Mariana”, iniciou o vereador do Cidadania.

Em seguida, ainda defendendo a aprovação do projeto, estabeleceu comparações entre a situação vivida pelos políticos, em relação a uma parcela do povo. “Eu fico até feliz em saber que, aonde não tem torre de celular, aonde que o asfalto, que é o direito de qualquer cidadão marianense… Por que aonde que político pisa? Só em asfalto. Em frente ao asfalto, na casa dele, dificilmente vai ver um político sem esgoto na frente de sua casa e na porta de sua casa… Eu também não admito que isso aí possa acontecer com a população, em pleno século XXI. Espero que esse dinheiro seja aplicado mesmo para a população. E o político tem que entender. Se ele não pode passar por essa situação, por que o povo mais humilde tem que passar? E é por isso que eu tô votando [a favor] desse projeto”, declarou Tikim.

E fez um apelo aos colegas: “O projeto vai ser aprovado. Espero que todos colegas vereadores, que sabem que nós, na porta da nossa casa, temos luz, temos esgoto… E cada projeto desse que [for] ser votado, que pare de politicagem. Quem perde com isso é o povo lá fora. Se é dinheiro pra ser investido, vamos cobrar que seja investido. É muito fácil um político dar varada num projeto desses, enquanto a casa dele tem luz e energia. Passa a andar nas invasões, passa a andar aonde é bairro de gente humilde que vocês vão entender, beleza? Espero que não levem esse projeto pela politicagem. Tem que acabar com isso [de] quanto pior melhor, independente do prefeito que seja. Nós estamos com a carta na manga, nós estamos com a caneta na mão pra votar o projeto, e a obrigação nossa é votar. Quem não votar nesse projeto, ou outros de melhoria, passa a viver como a população vive, que vocês vão entender como é que é as coisas”, encerrou Tikim Mateus.

A utilização do termo “politicagem” gerou fortes reações de outros vereadores, estendendo a discussão do projeto por um longo tempo. O primeiro a se manifestar foi Ricardo Miranda (Republicanos) que, embora concordando com o colega quanto aos benefícios das obras contidas no projeto, criticou duramente a forma como o Poder Executivo estaria impondo o assunto à Câmara e também a fala de Tikim Mateus. “Não discordo do vereador Tikim. Mariana está carente mesmo, na verdade, de grandes obras, como é a questão do esgoto no Vale Verde. Isso é indiscutível! O que eu não concordo, de forma bem serena, é que quando a gente vota contra um projeto de uma magnitude dessa, não é pelo conteúdo dele, mas sim da forma que ele nos é apresentado. Que a população fique ciente aqui, que esse projeto está sendo votado numa reunião extraordinária, como da outra vez, da época da votação da UPA [São Pedro], a história se repete novamente. Vir aqui gritar, falar que os vereadores são contra o Executivo? De forma alguma! O que a gente quer aqui, é o que a gente tem sempre batido na tecla da transparência. É simplesmente isso. Fala-se muito em transparência, mas na hora de trazer o projeto, ele é enfiado na garganta da gente abaixo”, declarou Ricardo Miranda.

Continuando a usar a palavra, o vereador lembrou o empréstimo aprovado na gestão passada para execução de asfalto na cidade e distritos, comparando aquela situação com a pressão que estaria sendo imposta para a aprovação do projeto em discussão. “A gente viu na gestão passada a questão do empréstimo para o asfalto. Vereadores de oposição deram sua opinião, mas trouxeram pessoas pra fazer pressão naquele momento. Eu não participei, mas vereadores da época deram depoimento. Isso sim é politicagem. A gente viu que as pessoas que votaram contra aquele empréstimo, elas com certeza, naquele momento, estavam com a razão. E, mais uma vez, eu acho que é tirado um direito do vereador. Mais uma vez isso acontece. Eu acho que não pode ser tirado do vereador, aqui nesta Casa, o direito de opinar, e de esclarecer pra onde o recurso tá indo. A gente tá falando aqui de R$70 milhões. É muito dinheiro”.

Ricardo Miranda ainda criticou a ausência de obras de saneamento no projeto proposto pelo Executivo, bem como a demora para iniciar as obras de reforma das escolas municipais. “E a gente não viu aqui nesse projeto, a grande prioridade da cidade que é a questão da água e do esgoto. Devido a essas condições é que eu dou o meu parecer contrário, mas não tenho nada contra o governo. Eu deixo claro aqui que qualquer prefeito que se sentar nessa cadeira, o meu posicionamento aqui será sempre o mesmo. O que eu não admito aqui é que venha empurrar projeto numa correria, num desespero, num embate… E a gente vê muita pressa na votação, pra fazer o marketing, a propaganda. Mas cadê a execução, cadê a UPA. Já se passaram aí, já estamos no mês sete. Cadê as reformas das escolas que deixaram pra última hora?”, concluiu.

Na sequência, o vereador José Antunes Vieira (MDB) também se manifestou, ressaltando a complexidade do projeto, criticando a postura do Executivo e mencionando as irregularidades que estão sendo investigadas pela CPI das Obras. “Faço minhas as palavras do vereador Ricardo. Queria muito votar nesse projeto, mas queria que fossem desmembradas essas obras. Porque quando eu ouço na CPI, o responsável das obras falar que foi pago sem ter sido feita, e que vai devolver o dinheiro. Se não estivesse apurando, que dia que ele ia devolver esse dinheiro? Nunca! Por isso é que embola tudo para não saber. Nenhum dos vereadores sabia que aquela obra de Magalhães tinha sido paga sem ser construída. Através do responsável da obra é que nós ficamos sabendo. Fiquei muito triste de ouvir aquilo. Então eu acho que o dever dos vereadores é fiscalizar e trabalhar. Queria votar favorável, mas como tá muito embolado, eu não me sinto à vontade para votar não. Então meu voto é contrário”.

Outro a se manifestar foi Manoel Douglas (PV): “Eu queria ressaltar aqui essa questão do projeto, pra ficar bem claro, que aqui não tem politicagem. Às vezes as pessoas citam politicagem quando a gente discorda. Na verdade, parece que a gente tem que concordar com tudo que o Executivo fala aqui na Casa. E isso eu nunca vou aceitar. A gente vai estar favorável a qualquer projeto que venha da forma que a gente considere correta e nos trâmites que ache mais viáveis”, afirmou.

Fazendo menção a algumas das obras incluídas no PLS 94, Manoel Douglas afirmou não ter dificuldade em votar algumas das proposições, mas afirmou que existem sérios problemas em outros pontos, impedindo que ele possa votar o conjunto de ações. “Eu vou deixar bem claro aqui a forma que eu penso. Por exemplo, acesso ao bairro Cabanas. Se fosse desmembrado, com certeza eu votaria favorável. UBS Barroca, tranquilo, favorável. Construção de pontes, favorável. Mas quando o Zezinho fala daquela escola de Magalhães, constatado na CPI que a obra foi paga e não foi executada, se a gente continuar aceitando dessa forma, não sendo discutido, sem sair bem discutido e bem entendido pelos vereadores, vai ter essa dificuldade de fiscalização. E eu acredito que se a gente não batalhar em cima disso, vai acontecer novamente”, ressaltou Manoel Douglas, chamando a atenção dos colegas para itens que, a seu ver, são conflitantes e dificultadores da ação de fiscalização da Câmara. “Inclusive eu vejo alguns itens aqui, por exemplo, Secretaria Municipal de Obras, R$8,2 milhões, tá aqui muro gabião. Aí você pega aqui no CODAP, R$16,5 milhões, também tá citando muro gabião. E, inclusive, eu estava em uma reunião sobre o bairro Santo Antônio, que não tem contrato que possa fazer gabião, e o prazo eles falaram que é no mínimo 120 dias. E aí, eu quero dizer aos vereadores que a gente vem fiscalizando os contratos, do mesmo jeito também que teve essa escola, vai aparecer também muros gabiões que também foram pagos e não foram executados. Então, eu gostaria muito que desmembrasse [o projeto] pra gente votar os itens que a gente concorda. Inclusive tem aqui Educação, R$15,15 milhões, e R$7 milhões da Renova que ainda não foi disponibilizado ao município por falta de projeto. Então eu acho que isso precisava ser melhor esclarecido, e tem ainda a questão dos R$12 milhões, e a população tem que ter ciência que tá pagando juros por um empréstimo que praticamente não foi utilizado”.

Manoel Douglas rebateu a fala de Tikim Mateus, afirmando que o projeto seria aprovado, mesmo sem o seu voto e dos colegas que já haviam se manifestado contrários. “Quando o vereador Tikim fala em politicagem, aqui não tem politicagem. Alguém tem dúvida que o projeto vai passar? Ninguém tem dúvida que o projeto vai passar. A base do governo tem 10 votos, gente. Então a gente não precisa ser hipócrita pra ficar falando de politicagem, o projeto vai passar”.

Nesse ponto, solicitando novamente a palavra, o vereador Tikim Mateus se manifestou, retratando-se da fala anterior: “Pode ter certeza aí todos os vereadores, talvez eu falei no calor da emoção. É meu jeito de ser. Se tem uma coisa que ninguém var ver de mim é fake, esses tipos de sacanagem. E me desculpe aí o vereador que levou a mal esse meu comentário, por que eu sou assim muito sistemático, às vezes eu falo no calor da emoção mesmo. Mas eu prefiro falar na cara assim, rasgado do jeito que tem que ser falado, mas jamais pra denegrir a imagem de ninguém. Acredito que nossa obrigação é levar melhoria pro povo. Cada um do seu jeito, cada um atuando da sua forma. Então o negócio é o seguinte, eu respeito a todos, respeito o trabalho de todos. E caso alguém escolher que não deve votar, é lógico, é o direito de cada vereador. Ninguém é obrigado a pensar igual todo mundo não. Vai ter o respeito nosso do mesmo jeito”, declarou.

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Em longa manifestação, o vereador Marcelo Macedo (MDB) enfatizou aspectos já citados pelos colegas, principalmente a questão da não obtenção de informações mais detalhadas das ações contidas no projeto. “Nós já discutimos muito esse projeto nessa manhã [na reunião das comissões internas], mas só queira lembrar que dada a importância desse projeto, ele nos tira o direito de votar, porque cerceia o direito do vereador de pedir as informações. E só pra lembrar, só pra ler o projeto, a nossa Lorraine [secretária] aqui, demorou 30 minutos pra ler o projeto que está sendo votado agora. Então, veja bem, com quanto tempo nós poderíamos analisar esse projeto? E nós estamos falando aqui de dar um cheque em branco de R$68 milhões. E quando nós pedimos transparência, nós não conseguimos que os secretários venham à Câmara para esclarecer. Automaticamente eu não vou dar meu voto, em dúvida”.

Nesse ponto, o vereador Tikim Mateus fez uma tentativa de interrupção, sendo cortado por Marcelo: “Por favor, vereador. Na hora que eu concluir, Vossa Excelência fala. E eu vou falar na tora com o senhor também. Rasgado! Mas com todo respeito que eu tenho com Vossa Excelência, espero que Vossa Excelência nos ajude a fiscalizar esses recursos que nós estamos votando aí. E veja bem, o discurso muitas vezes não vai agradar, cada um vai fazer o seu discurso e as divergências tem que ser respeitadas”.

Marcelo citou cada um dos aportes de recursos, dizendo não saber se o novo acesso ao bairro Cabanas já tem projeto, se já foi licitado, ressaltando que a Câmara precisa de maior esclarecimento sobre os recursos para as secretarias de obras, de saúde, desenvolvimento social e de educação, questionando ainda a intenção do Executivo de utilizar patê do empréstimo contraído na gestão passada. “Pergunto aos senhores: E as informações que foram pedidas por esta Casa? Os projetos de reforma das escolas que não chegaram? Como que eu vou ter a tranquilidade de dar meu voto, no montante de 15 milhões de reais, se eu não sei o que vai ser feito? Na gestão passada foram apresentados projetos de 22 escolas pra serem reformadas, e o aporte era de sete milhões de reais, com a presença aqui do secretário de obras e sua equipe. Cadê? O que aconteceu? Não aconteceu nada? O recurso de sete milhões ainda tá com a Renova, porque não tem os projetos. E agora, na gestão da Carlene [atual Secretária de Educação], ela diz que vai fazer oito projetos, que vai reformar oito escolas, com recursos de sete milhões. Mas como o secretário anterior fazia milagres, com os sete milhões ele queria reformar 2 escolas. Eu não consigo entender isso. São coisas que eu gostaria que fossem esclarecidas nesta Casa. E ainda tem o valor de doze milhões de reais, que são de um empréstimo de quinze milhões que foi votado nesta Casa na gestão passada, e que foram gastos dois milhões e novecentos mil reais. Como que eu voto um projeto desse, sendo que nós estamos com um superávit de 70 milhões e pode chegar a cem milhões. Por quê que não liquida? Liquida o empréstimo. É muito fácil, é só quitar. São doze milhões de reais. Aí vem todos os projetos de todas as secretarias num projeto só, dificultando a análise do projeto. Dificultando ao vereador o acesso às informações necessárias, por secretaria”.

Marcelo ainda deu sua contribuição à exaltação de ânimos, ao sugerir que o posicionamento da bancada de situação é devido à pressão da administração municipal. “Sei que talvez muitos vereadores [da situação] gostariam de estar aqui também pedindo essa transparência. Mas eu sei como é o governo. Eu sei como funciona. Cuidado, olha que eu corto isso, olha que eu corto aquilo. Eu sei como que funciona, todos nós sabemos. Mas não recrimino ninguém. Respeito o voto. Mas veja bem, esta Casa precisa de ter atitude! Esta Casa precisa de repensar seus atos! Esteve aqui hoje de manhã o Marlon, mas ele veio falar de planejamento. E os outros secretários, por que será que não vieram? Eu encaminhei ofício, Senhor Presidente, para o líder de governo na semana passada. Poderíamos ter reunido na sexta ou quinta-feira com os secretários pra poder estar discutindo. Mas não. Tem que ser nessa reunião extraordinária. Volto a dizer, é um cheque em branco de 68 milhões e 650 mil reais”, encerrou o emedebista.

Nesse ponto, o tempo de reunião, incluído o intervalo, já havia ultrapassado duas horas e meia. Solicitando a palavra, o vereador João Bosco (PDT) questionou a Presidência quanto ao tempo de manifestação dos vereadores. “O senhor [Presidente] concede a palavra para uns por cinco minutos, mas para outros 20, 30 minutos. Tem que ter coerência, Senhor Presidente”, reclamou, referindo-se ao tempo de manifestação de Marcelo Macedo.

Nossa reportagem verificou que, realmente, o tempo da fala de Marcelo Macedo foi superior a 16 minutos, mas Ronaldo Bento defendeu-se, dizendo que não queria ser deselegante e cortar a palavra de um companheiro, solicitando a “cordialidade de todos os vereadores”.

Ainda antes de ser realizada a votação, a palavra foi concedida à vereadora Sônia Azzi (DEM), que reclamou da postura dos colegas. “Eu só quero falar que eu não me incluo nessa rede de corrupção que estão dizendo aí. Eu sou uma pessoa que eu voto por convicção, e tenho certeza que esses projetos aí vão ser [o] melhor para o povo. Eu estou aqui pelo bem do povo. E estou aqui porque eles me escolheram para estar aqui. E não admito que ninguém diga que eu sou posição [situação] ou oposição. Eu estou aqui para votar pelo povo. E não vou redimir o meu voto porque um edil quer ou outro quer. Cada um tem a sua posição, eu as respeito. Eu respeito [a posição] de todos os vereadores, eu não incluo [ninguém] aí nesse meio de corrupção”, afirmou a vereadora.

Em seguida, dirigindo-se ao Presidente da Casa, Sônia fez um emocionado desabafo, entremeado por uma repreensão a dois vereadores, em função das reações à sua palavra: “Essa reunião, Senhor Presidente, é uma vergonha! Vergonhoso! Porque cada um fala o que quer, ninguém respeita ninguém! Pelo amor de Deus, vamos pôr a mão na consciência, nós estamos no plenário, gente! E um falando do outro, um denegrindo a imagem do outro. Vamos pelo menos respeitar a opinião do outro, mas ninguém está respeitando ninguém! Um fala contra o senhor, outro fala contra o outro, pelo amor de Deus! O senhor tem a palavra, Senhor Presidente, corta o microfone, poxa! E não deixa ninguém aí se expor ao ridículo não. Nós estamos sendo chacota para o povo! Eu fico indignada, eu fico triste de ver isso aí. É o Marcelo falando a todo momento, ninguém fala mais. O senhor abre o microfone – não ria não, Pinico [Ediraldo], eu tô falando sério, não é pra rir não! Você também, Preto [Manoel], tá rindo por que? Porque você também não respeita não. Vocês têm que respeitar os outros. Nós estamos aqui num plenário, rapaz. Não estamos de brincadeira não. Se eu respeito seu voto, você tem que respeitar o meu. E nós não somos corruptos não. Nós somos unidos. E essa união, como você diz a base do governo, eu não sou base do governo não. Eu sou o que sou! Se eu tiver que votar contra o governo eu vou votar. Isso aí tá desrespeitoso. Isso não é uma Câmara. Isso não é um plenário. Eu fico indignada de ver o desrespeito de um ao outro, desabafou.

Sônia Azzi afirmou que, devido à situação, fica desiludida com à missão dos vereadores. “Infelizmente eu tô aqui, quase entregando os pontos mesmo, porque não pensei que ser edil fosse tão difícil como está sendo. Eu pensei que ser edil seria uma coisa bacana pro povo, lutar pelo ideal do povo. E a gente não tá fazendo isso, a gente tá discutindo. Fico entristecida, mas quero que todo mundo respeite meu voto. É isso que eu peço a vocês. Eu não voto por governo, eu voto por convicção e por honestidade. É como o senhor falou comigo, Senhor Presidente, o senhor me conhece e sabe quem eu sou. Eu não preciso de votar para agradar ninguém. Eu quero agradar somente ao povo”, finalizou Sônia.

Votação dos Projetos de Lei

Colocado em votação, o PLS 94 foi aprovado por 10 votos favoráveis e 4 contrários, dados por Marcelo Macedo, Manoel Douglas, Ricardo Miranda e José Antunes Vieira. Na sequência, por unanimidade, foram aprovados os seguintes PL’s:

  • Projeto de Lei nº 95/2021: “Autoriza o Município a conceder transferência de recursos na modalidade contribuição e firmar instrumento de parceria com a entidade AMARBANDAS e dá outras providencias”.
  • Projeto de Lei nº 96/2021: “Autoriza o Município de Mariana a celebrar termo de filiação a filiação a Associação das cidades Históricas de Minas Gerais e dá outras providencias”.
  • Projeto de Lei nº 98/2021: “Dá denominação oficial a prédios Públicos e dá outras providencias”.

Esclarecendo que, em reunião extraordinária não é cabível a “Palavra Livre”, Ronaldo Bento, mesmo mantendo a continuidade da transmissão, declarou o encerramento da reunião, concedendo a palavra aos vereadores Pedro Ulisses e José Antunes para comunicações, ressalvando que o teor das falas não seria registrado em ata. Também fizeram uso da palavra os vereadores Manoel Douglas e Marcelo Macedo, que negaram terem qualquer intenção de desrespeitar a vereadora Sônia Azzi, por palavras ou reações, seguindo-se manifestações que tiveram por objetivo desanuviar o clima criado durante a discussão do PLS 94.

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