A minha experiência acadêmica e profissional me permite uma análise diferenciada do recente acirramento das críticas às universidades públicas. Fiz o ensino médio, graduação, especialização e mestrado em instituições particulares de ensino. Por outro lado, trabalho há 15 anos numa universidade federal onde já exerci cargos de alta gestão. Paralelamente me envolvi no movimento comunitário, em organizações não governamentais de educação e em movimentos sociais partidários. Também atuei em secretariado de prefeitura municipal por dois anos. Para completar, já advoguei para empresários e cidadãos de pensamento liberal. Ou seja, já ouvi os discursos de todos os lados. Já me envolvi nas mais diversas dificuldades de todas as partes.
Fato é que as universidades públicas são incontestavelmente um importante patrimônio da sociedade brasileira. Possuem uma atuação relevante no ensino, na pesquisa e na extensão. São responsáveis pelas inovações culturais, sociais e tecnológicas do país, estando na vanguarda do pensamento acadêmico nacional. Mas é preciso reconhecer que ainda estão distantes do dia-a-dia dos cidadãos. De fora dos seus muros a população não consegue entender com clareza o seu funcionamento, tempo e valor. Impera no imaginário popular que os campi são ilhas de privilégios acessíveis a poucos, onde tudo acontece sem regras. Contribuindo para isso, várias atividades acadêmicas promovem necessárias subversões e profundos incômodos, nem sempre bem compreendidos. Por pensar assim, às vezes sou chamado de esquerdista.
Já as instituições privadas de ensino superior, embora não consigam ter os mesmos números de publicações científicas, patentes e títulos acadêmicos, por exemplo, são responsáveis pela formação de um enorme contingente de pessoas. Segundo o último Censo da Educação Superior 87,7% dos alunos de graduação estão nas particulares. Seus alunos geralmente trabalham desde cedo, pagam prestações fixas cuidadosamente calculadas no orçamento doméstico e buscam cursos noturnos ou à distância com profissionalização mais rápida e pontual. Porém, tais instituições deixam de promover o ensino pelo pensamento mais crítico, optando pelo pragmatismo mercadológico. Ainda assim prestam à sociedade um importante papel na qualificação profissional dos trabalhadores que dão dinamismo e vigor à economia. Por pensar assim, às vezes sou chamado de mercantilista.
Mas na minha modesta opinião um modelo não exclui o outro. A sociedade brasileira precisa da desconfortante vanguarda das universidades públicas, onde a crítica, a subversão, a abstração, a cultura, o risco da pesquisa e o aprofundamento da formação técnica são importantíssimos para o desenvolvimento da nação. Por outro lado, precisa também do pragmatismo e da maior escala do ensino privado. Segundo estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 17% dos jovens adultos com idade entre 24 e 34 anos atingem o ensino superior no Brasil. Não há disputa por aluno, pelo contrário! Precisamos de mais e mais oportunidades, de todas as formas e objetivos. Assim, a resposta à pergunta que intitula esse texto é uma só: as duas! O país não pode abrir mão de uma educação ampla e sistêmica, como bem determina, a propósito, os artigos 205 e seguintes da Constituição Federal. Mas por pensar assim, talvez eu seja chamado pelos dois lados de ingênuo.