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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Semifinal do Festival Canta Mariana é marcada por questionamentos, críticas e ressalvas

Uso de “playback”, comportamento dos jurados e divulgação de última hora predominaram como pontos negativos da semifinal

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Apresentador Heberton Lopes, Bia Nogueira, Karen Ávila e Felipe Moreira, durante uma das transmissões da semifinal do Canta Mariana 2019 – Reprodução
Questionamentos divulgados como comentários da assistência, durante as transmissões da semifinal do Canta Mariana, levantaram dúvidas sobre o atendimento a critérios estabelecidos no edital, quanto ao ineditismo de algumas músicas selecionadas, relembrando polêmicas ocorridas em edições anteriores. Artistas entrevistados pela Agência Primaz falam sobre suas músicas e expectativas de premiação, comentando sobre a questão de ineditismo, uso de “playback, e comportamento dos jurados, além de apresentar suas ressalvas à edição atual e sugestões para os próximos festivais.

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Sem ter conseguido acesso à lista de contatos dos participantes da semifinal do Festival Canta Mariana, a Agência Primaz conseguiu conversar apenas com alguns dos artistas concorrentes, recorrendo a contatos obtidos nas redes sociais ou com o auxílio de conhecidos comuns.

Inicialmente, solicitamos que os artistas falassem sobre suas músicas e a respeito de suas expectativas antes da semifinal, bem como das futuras, no caso dos que conseguiram classificação para a final. As respostas foram obtidas por telefone e por meio de mensagens de áudio ou texto, encaminhadas à nossa redação.

Ganhador da edição 2021, Guto Rabello (nome artístico adotado por João Carlos Gonçalves, de Montes Claros/MG) ficou muito feliz pela nova classificação para a semifinal deste ano, com a música “Sentinela”, a primeira a se apresentar na sexta-feira (10). Devido ao compromisso de tocar na noite, não assistiu a semifinal do dia 11, e lamentou a falta de tempo “para caprichar mais no vídeo” de sua canção. Devido a compromissos com shows, John Mueller (Blumenau/SC) não conseguiu assistir às semifinais e lamenta não ter conseguido classificação em sua segunda participação no Canta Mariana (finalista em 2018, com a canção “Fronteiras”). “Eu fico triste porque acho que a canção [Coisa de Momento, em parceria com Gregory Haertel] tinha um peso e poderia ter passado. Essa canção já nos trouxe algumas alegrias. Quando a gente toca nos shows o público gosta demais. Mas faz parte [a não classificação]”, afirmou o compositor.

“Velho Rio”, canção de Daniel Guerra, Pedro Armond e Rubens Verona, não foi classificada para a final do Canta Mariana 2021 – Reprodução

Aos 26 anos, o marianense Rubens Verona, formado em História e compositor desde os 16 anos, participou do Canta Mariana com a música “Velho Rio”, tendo como parceiros Pedro Armond (finalista em 2020) e Daniel Guerra. Na definição de Rubens, a música “possui fortes influências de artistas da música mineira contemporânea, mais especificamente da obra do Lô Borges. Trata-se de um tema intimista, em que o ‘eu’ lírico navega pelo interior de si mesmo, em busca de resoluções sobre um antigo amor”.

Demonstrando uma certa frustração pela não classificação à final, Rubens revela que ele e seus parceiros receberam “com naturalidade o resultado final, visto que havia muita gente boa concorrendo, como os músicos marianenses Wandrey e Joseph, e alguns profissionais de outras localidades que vivem mesmo da música. Estar ao lado desses músicos incríveis já é motivo de bastante orgulho para a gente, estreantes de festivais”, afirma.

Bastante comunicativo Wandrey, ganhador do prêmio “Prata da Casa” em 2020, teceu comentários sobre o processo de criação de sua música, falou da nova classificação e relembrou alguns episódios da edição do ano passado, quando foram postados comentários desagradáveis depois de sua apresentação, do tipo “está no festival errado” e “não acredito que estou vendo isso”, reafirmando sua impressão que “as pessoas veem esses festivais como eventos elitistas”.

Lembra de mim com carinho foi uma música que me veio à mente assim que eu lancei o “Polyscium”, em 2019. Como não toco nenhum instrumento, cantarolei a ideia pra um amigo e ele me mandou o arranjo inicial no violão. Esse material ficou, por muito tempo, guardado, já que eu estava de ressaca do último EP e minha mente não colaborava na parte criativa”, revelou Wandrey. Ele conta que somente no ano passado, “depois de uma experiência pessoal”, teve inspiração suficiente para começar uma história na letra, finalizada este ano, mas que ainda não está em sua forma final. “A versão apresentada no Festival não é final. Em outubro eu vou disponibilizar a versão oficial nas plataformas digitais e espero que as pessoas gostem de todas as versões dessa música – a música enviada na primeira fase também é diferente da versão apresentada na semifinal. Ou seja, essa mesma música terá 3 versões diferentes”.

Sobre a classificação. O artista marianense lembra a entrevista concedida à Agência Primaz em 2020, quando declarou que sua expectativa, na ocasião, não era tão alta porque imaginava que, “nesse tipo de festival, eles valorizem mais as canções com ‘cara de música mineira’”. Ele ainda ressalta que, salvo engano, nenhum marianense levou algum dos prêmios principais. “Eu não sou daquele tipo de pessoa chata, que vê problema em tudo, sabe? É porque, veja bem: lá onde eu moro e nos meus círculos de amizade, pouquíssimas pessoas têm um gosto musical refinado, e não há problema nenhum nisso! A gente gosta de entender o que estamos ouvindo, a gente gosta de dançar, a gente gosta de sofrer com as músicas. E, querendo ou não, as músicas que geralmente vencem esses festivais vão dialogar com pessoas com um certo intelecto, sabe?”, enfatiza Wandrey. Acredita que ele e a banda fizeram um excelente trabalho, mas ressalta que não pode “ignorar o histórico de premiação do festival e isso me deixa um pouco apreensivo Se continuar assim, pode ser que criem uma nova categoria nas próximas edições: Melhor Música Urbana (e isso seria horrível)”.

“Ver a sua música indo para a final, é muito emocionante”, diz Valéria Velho, com participações anteriores no Canta Mariana, classificada em 3º lugar na edição do ano passado, com a música “Sabe-se lá”. Comentando sobre o processo de compor uma música que agrada a ela, decidir inscrevê-la no festival, receber a notícia da seleção e, em seguida, ver essa música classificada entre tantas músicas lindas de compositores empenhados em sua arte”, Valéria revela que “a vontade de chegar ao objetivo inicial é presente e irrecusável. E significa a realização completa desse sonho tornar-se vencedor”.

Autointitulado “rato de festivais”, Zebeto Correa classificou a música “Um lugar além de nós”, apresentada na companhia de Nilton (piano) e Dhouglas (violino) – Reprodução – Montagem: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Um lugar além de nós é uma reflexão sobre a missão dos artistas, uma reflexão sobre a importância da nossa arte dentro do contexto da vida das pessoas, aquela coisa do tudo vai passar, mas a arte fica”, declara o belo-horizontino Zebeto Corrêa, considerando que é trata-se de “uma canção bem bonita, com um arranjo bonito também, contando com dois amigos queridos: o Nilton no piano e o Dhouglas no violino”. Para o experiente músico, com mais de 800 participações em festivais e mais de 400 premiações, a expectativa é somente que as pessoas curtam e gostem, afirmando, em relação a prêmio, que “a gente nunca sabe, porque se você mudar os jurados, muda todo o resultado. Então, você manda a música e quer que as pessoas gostem, que curtam. Você nunca sabe o que vai acontecer em matéria de premiação. Mas eu senti uma recepção bacana pra música e pro arranjo”.

Convidados a opinar sobre o nível do festival, as opiniões de nossos entrevistados e entrevistadas não foi unânime, com a ressalva que John Mueller, por motivos profissionais, sequer assistiu às transmissões: “Infelizmente eu não pude assistir [as semifinais] porque eu estava com dois eventos nesses dias [sexta e sábado]. Eu estava fazendo shows e só fiquei sabendo que eu não fui pra final. Então não sei dizer como é que estava o nível [das canções semifinalistas], porque eu não consegui assistir”.

De um lado, Valério Velho diz que, “sem dúvida, o Canta Mariana traz ao palco, mesmo que virtual, um nível altíssimo de artistas maravilhosos e talentosos, que nos dão a honra de mostrar belas canções”. Zebeto Corrêa, apesar de considerar o nível “bastante forte” das que passaram para a final, fez ressalvas a algumas das não classificadas. “Mas, para a final, eu acho que o júri soube escolher legal”, declarou.

Algumas dessas críticas foram também mencionadas por um outro artista participante do Canta Mariana, que solicitou anonimato. “O que me chama atenção é que, no meio de quase 700 músicas do Brasil todo [excluídas as de artistas marianenses], algumas selecionadas eu achei muito medianas, com intérpretes não muito bons. Será que entre tantas músicas, isso era o que tinha de melhor?”, afirmou. E ainda estranhou que dentro das 15 da seleção de âmbito nacional, tenham sido escolhidas músicas de artistas que participaram no ano passado. “Isso eu acho que seria estranho pra qualquer pessoa, né?

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Questionamentos

Durante a transmissão da primeira semifinal, foram postados alguns comentários a respeito de uma das concorrentes, sendo questionado o seu caráter de ineditismo, uma vez que se tratava de um vídeo disponível no Youtube, com produção caprichada, com tomadas de vídeo ao ar livre. O apresentador Heberton Lopes, na transmissão de sábado (11), antes de anunciar as músicas classificadas, esclareceu que o conceito de ineditismo, previsto no edital (artigo 8), inclui a ausência de “plágios, adaptações ou versões de obras de outros autores e compositores”; a não premiação “em outros festivais de canção, até a data de inscrição neste festival”; “não terem sido gravadas para comercialização em larga escala”, e “não terem sido classificadas entre as 10 melhores canções no CANTA MARIANA – FESTIVAL DACANÇÃO DE MARIANA nas edições anteriores”, além da exigência de terem “letras predominantemente compostas na Língua Portuguesa do Brasil”, obrigatoriedade que, na opinião de alguns de nossos entrevistados, não tem relação com a questão de ineditismo e originalidade.

Submetida aos participantes com os quais nossa reportagem conseguiu fazer contato, a questão foi predominantemente considerada como normal, em termos da autonomia da organização de cada festival, com diferentes requisitos sendo impostos em eventos similares no país.

Definindo-se como um “rato de festivais”, Zebeto Corrêa diz que cada festival tem sua própria característica. “Tem alguns que a música pode estar no Spotfy, por exemplo, desde que ela não tenha sido distribuída nacionalmente por uma gravadora. Outros que a música não pode ter aparecido em lugar nenhum. Tem festival que quer que a música seja exclusiva pra aquele festival”. Em linhas gerais essa opinião também foi manifestada por Valéria Velho e Wandrey.

Para nosso entrevistado anônimo, inclusive, a disponibilização de músicas no Youtube ou plataformas de streaming não representa, necessariamente, uma questão comercial. “O fato da pessoa divulgar no Youtube, ou qualquer outro canal, eu acho que não tem nenhum problema. É questão da pessoa já estar nesse caminho, já estar fazendo vídeo. Melhor pra ela, né?”, declara.

Afirmando que, em sua opinião, essa questão não faz muita diferença, Zebeto ressalta que esse aspecto pode ser até mesmo considerado como um desafio e um incentivo para os participantes: “Eu até gosto quando o festival impõe alguns limites. Esse critério que foi adotado pelo Canta Mariana eu acho até legal, que a música não pode ser premiada. Isso te obriga a entrar com uma coisa nova. Porque aí você força um pouquinho o compositor a produzir mais. Existem alguns compositores que pegam uma música só e ficam rodando 20 festivais com ela”.

Mas ressalta que a questão mais importante no caso, é o desrespeito a outra disposição do edital (artigo 29), que não permite a utilização de “playback” na gravação dos vídeos. Foi esse o caso específico do vídeo citado por ele, no qual “os caras estavam dublando, uma coisa que não poderia acontecer, porque num festival você tem que fazer ao vivo, você tem que mostrar o instrumento que está tocando”. Também com a condição de não ter seu nome citado, um participante reforçou essa questão apontada por Zebeto Corrêa. Tinha que ser como a maioria das pessoas fez, quer dizer, gravando o vídeo no momento em que está gravando o áudio também. Só que teve pelo menos uma, com certeza, que ficou claro que ele fez um videoclipe. Ele não estava ali captando o áudio naquele momento. Ele não foi classificado [para a final], mas ele estava ali entre as 20 semifinalistas, tirando o lugar de uma outra pessoa. Ele, claramente, desrespeitou o regulamento e ninguém falou que aquilo era um playback. A gente está ali pela música, a premiação é coisa que pode vir ou não. Mas o importante é que não haja nenhuma sacanagem, que se respeite o regulamento”, desabafou.

Outro ponto destacado pelos participantes entrevistados, foi a não divulgação da ordem e do dia que as músicas seriam apresentadas na fase semifinal. Alguns concorrentes só conseguiram essa informação no final da tarde de sexta-feira (10) ou, até mesmo alguns minutos antes do horário previsto para o início da transmissão.

Comentando o fato, e referindo-se aos problemas que isso causou, Tony Primo afirmou que a divulgação não foi tratada de forma condizente com a importância do evento. “Mostrar que vai acontecer, que há uma vontade que isso aconteça da melhor forma possível, para mostrar que há credibilidade. Todo artista gosta de participar de algo que possa acrescentar ao seu trabalho, realizar seu sonho. Quando tudo funciona na devida forma, eu não tenho que ficar preocupando, que ficar ligando pra saber ‘E aí, vai acontecer mesmo, cadê a lista, que dia minha música vai ser exibida?’ Quando as coisas funcionam direitinho, eu não tenho que ligar pra perguntar nada. Os resultados chegam! Mas isso, infelizmente, acabou não acontecendo”.

Zebeto Correa tem opinião semelhante: “Acho que não foi boa [ a divulgação]. Eu mesmo não sabia se a minha música era no primeiro ou no segundo dia. E, por conta disso, eu acabei não divulgando nas minhas redes sociais. Como minha música foi [apresentada] no segundo dia, se eu tivesse feito a divulgação para os meus amigos no primeiro, eles iam falar: ‘Pô, fiquei assistindo lá e você não tocou’. Acho que seria interessante eles terem avisado pra gente, a ordem e o dia. Eu acho isso conveniente, porque você pode usar suas redes sociais pra divulgar isso”.

No início de cada transmissão, o apresentador Heberton Lopes anunciou que a ordem de apresentação havia sido definida por sorteio, mas o edital estabelecia que “as apresentações dos vídeos nas semifinais e final serão realizadas por ordem de sorteio a ser realizado nos canais oficiais da Prefeitura Municipal de Mariana (artigo 28). Segundo os participantes entrevistados, nenhum chegou a tomar conhecimento ou assistir ao sorteio, mas isso não foi considerado relevante por Valéria Velho. “Eu acredito que pode ter sido uma estratégia para que, dessa maneira, todos estivessem conectados assistindo o festival, independentemente de sua música ser naquele dia. Seria mais fácil se comentassem sobre a ordem e dia de apresentação, porém acredito que pode ter sido uma estratégia. Dessa forma, todos estariam ali coladinhos esperando o momento da apresentação da música, gerando maior número de ouvintes”.

Rubens Verona não concorda com essa avaliação, citando a baixa audiência da 2ª semifinal: “A divulgação oficial do festival deixou bastante a desejar. Basta perguntar aos seus amigos mais próximos se ficaram sabendo da realização deste festival… Presumo que a resposta será ‘não’” (…) Um festival como esse, do nível que está, merece ter uma divulgação mais sólida. Um exemplo disto foi o segundo dia da semifinal, em que cerca de cinquenta e nove pessoas estavam assistindo à live. Pouco, né?”, ressalta.

E ainda afirma que para saber o dia da apresentação de sua música, foi preciso ligar para a Secretária de Cultura, no dia da primeira semifinal, o que prejudicou a divulgação que ele e seus parceiros gostariam de fazer. “Tivemos menos de 12 horas para divulgarmos a nossa participação no evento. No mesmo dia, recebemos a arte de divulgação oficial com alguns equívocos no nome do grupo, na foto e no crédito dos membros. Solicitamos as devidas correções e fomos atendidos somente no que diz respeito aos créditos. Preferimos fazer nós mesmos a arte”, afirmou Rubens.

Material de divulgação encaminhado a Wandrey e Joseph, poucas horas antes do início da transmissão da primeira semifinal - Reprodução

Polêmicas

Tony Primo, de Mariana, concorreu novamente este ano, também em parceria com Getúlio Maia, com a música “Muita saudade” que não foi classificada para a final, feito conseguido no ano passado com a canção “Janelas abertas #3”. A respeito de ineditismo, Tony afirmou que “a forma como isso vem sendo tratado, desde a primeira edição do Canta Mariana, foge do conceito de novo, de nunca ter sido mostrado”, ressaltando que “em outros festivais, Brasil afora, isso vem sendo tratado e aceito, da mesma forma que aqui em Mariana”.

Lembrou também que inscreveu uma canção na primeira edição, totalmente inédita, mas que não foi aprovada. Depois de divulgada a lista, afirma Tony, “eu e alguns músicos verificamos que muitas classificadas não eram inéditas, algumas eu até já conhecia e já faziam parte de álbuns de alguns artistas. Nós forçamos um encontro com o Efraim [Rocha], ex-secretário de Cultura para obter esclarecimentos. Ele teve que recuar, porque nós levamos provas, inclusive que algumas já tinham vencido festivais, e essas canções foram eliminadas”.

Esse episódio provocou a desclassificação das músicas “Astronauta” e “Sorriso”, substituídas por “Invisível”, de Laís Garcia (Ouro Preto/MG) e “Um bucado de amor”, classificada também para a final, autoria de Emílio Sant’Anna Gomes (Belo Horizonte/MG), conforme comunicado da Comissão Organizadora, disponibilizado no site do Canta Mariana, em 07/07/2017.

No ano seguinte, a segunda edição do Canta Mariana teve seu resultado final alterado, devido a recurso apresentado por sete finalistas. Em comunicado divulgado no dia 27/0//2018, a Comissão Organizadora desclassificou a canção que havia sido escolhida pelo júri na final realizada seis dias antes, declarando vencedora a música “Flor de Cerejeira”, de Lohanye Samara Coelho Garcia (Belo Horizonte/MG), ficando em 2º lugar “Lamento para o Rio Doce”, de Dalmir Lott Glória (Belo Horizonte/MG), e em 3º “Canção”, de Marlon de Oiliveira Vieira (Franca/SP). Com isso, ficou também alterado o prêmio de melhor intérprete, concedido a Mariel Chiecco Blagitz, intérprete da música “Inspiração”, de Valéria Velho (Tietê/SP). Nesta edição, Gustavo Campelo recebeu o prêmio “Prata da Casa”, com a música “Mineiro Uai”, repetindo o feito do ano anterior, com a música “Mulher Maravilha”.

A edição de 2019 também teve seus problemas. Depois da divulgação das semifinalistas, no dia 08 de julho, ocorreram desistências, por impossibilidade de comparecimento de autores ou intérpretes, além de desclassificações decorrentes de recursos. A relação final, com as desclassificações e desistências, ainda está disponível no site do Festival Canta Mariana. Coincidentemente, uma das músicas que entraram na semifinal a partir da desclassificação de outras concorrentes, foi “Sincrética”, de Carlos Gomes (Manaus/AM), obtendo o 2º lugar na classificação final.

2ª colocada na edição 2019 do Canta Mariana, “Sincrética”, de Carlos Gomes (Manaus/AM), interpretada por Jéssica Stephens, não havia sido incluída na relação inicial das 20 semifinalistas – Foto: Uriel Silva/Agência Primaz

Mas houve contestação também da vencedora, “Teu sonho”, de Rodrigo Ferrero (Rio de Janeiro/RJ) foi acusada, pelas redes sociais, de já ter sido premiada no 14º Festival de Música Cepe-Fundão, no Rio de Janeiro. A premiação foi mantida e os detalhes do caso foram publicados na reportagem “Secretario de Cultura diz que medida administrativa não pode mudar resultado do Canta Mariana-2019”, publicada pela Agência Primaz no dia 18 de agosto.

Críticas, ressalvas e sugestões

Um de nossos entrevistados que solicitou para não ter seu nome citado, fez duras críticas ao comportamento dos jurados, especialmente em termos dos comentários feitos após a apresentação das músicas. “Eu nunca vi um festival onde os jurados ficam falando sobre as músicas. E o pior, falando sobre várias coisas que não tem nada a ver, com todo respeito a esses profissionais, que são capacitados e de alto nível. Não falo só por mim, mas por relato de amigos e familiares que também assistiram. ‘Como fica chato o tanto que os jurados ficaram falando’. E, às vezes, coisas que não tinham muita relação com a música. Eu acho que num festival de música, a prioridade tem que ser as canções. Ficou muito mais os jurados lá, às vezes, jogando conversa fora e parecendo um programa de auditório, um certo protagonismo dos jurados, falando sobre si, fazendo propaganda… E teve algumas coisas, ficando dentro do regulamento, era claro que não podia ser playback. Mas ninguém falou disso”, reclama, referindo-se ao vídeo já mencionado por Zebeto Corrêa, e também às observações feitas pelos jurados a respeito de qualidade artística dos vídeos e a respeito de captação de som, sem aprofundar em questões efetivas dos critérios de pontuação (letra, melodia, criatividade, originalidade, interpretação e arranjo) estabelecidas no edital. “O que interessa é o arranjo, a melodia, a criatividade da letra. O regulamento não fala nada sobre o vídeo. Porque se fala sobre o vídeo, se está claro que é um critério de pontuação, a gente vai atrás, vai contratar um profissional de vídeo… Eu participo do festival, pensando que eles vão analisar a música e a letra. Mas eles deram a entender, passando por cima do regulamento, que o vídeo também está tendo um peso no julgamento”, acrescentou.

Também manifestou sua ressalva à reserva de 5 vagas entre as 20 classificadas. “Pra mim isso representa um problema, porque são 25% das semifinalistas. Uma possível solução pra isso seria um festival aberto. Se o cara daqui de Mariana quiser se inscrever, ele não vai ter nenhum benefício por morar em Mariana, vai depender do mérito, da qualidade de sua música. E para incentivar o cenário musical local, a Prefeitura faria um festival local, fechado, só para Mariana. Quem sabe até com participantes de Ouro Preto ou em um formato regional. Esse é um ponto que devia ser discutido”, finaliza.

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Wandrey não só discorda parcialmente desse posicionamento, como reclama que a premiação da etapa local, em 2019, foi muito inferior à dos vencedores da etapa nacional. “Por um lado, é muito bom pro ego do vencedor marianense poder dizer que venceu um festival que teve concorrentes de todo o país [risos]. Mas eu não entendi ainda o motivo pelo qual não temos um festival com esse investimento restrito a artistas da cidade. Não faz muito sentido. Que façam então duas edições. De cara a gente pensa que é uma desvalorização, né? Por que o artista de outra região é melhor do que eu? Deveria ser ao contrário. Valorizar o santo de casa porque santo de casa faz milagre sim”, declara Wandrey, aproveitando para dizer que gostou bastante da presença de duas mulheres no júri.

Guto Rabello apresentou a ressalva do pouco tempo entre a divulgação das selecionadas e o prazo para a confecção do vídeo. Isso também foi apontado por Zebeto Corrêa e Rubens Verona, entre outros. “Para o envio do vídeo-performance da canção selecionada, tivemos um prazo de menos de duas semanas, prazo apertadíssimo, o que acabou nos comprometendo um pouco, visto que tivemos pouquíssimo tempo para ensaios, arranjos, gravações e etc. Ensaiamos a canção com os músicos convidados e gravamos o vídeo e o áudio em um dia somente”, declarou Rubens.

Misturando ressalva e sugestão, Tony Primo fala sobre o formato dos festivais. “Eu gostaria muito, bastante, de coração, que os festivais da canção, Brasil afora, adotassem um formato diferente, mais moderno. Saíssem do mesmo modelo de 40 anos atrás, ou mais. Os tempos são outros, as intenções dos artistas são outras. A sugestão é que os artistas não apresentassem somente uma canção. A pessoa que fosse classificada teria que levar mais uma ou duas canções, para o corpo de jurados ter uma visão melhor daquele artista que está sendo julgado. Não só o artista, mas o trabalho do artista também. E para o público ter uma noção melhor de que é aquele artista, qual é o seu trabalho. (…) Se a gente reparar bem, o festival é tratado da mesma forma que era nos anos 60, e o propósito daquela época era outro. Milton Nascimento, Caetano Veloso, Edu Lobo, e tantos outros, são fruto disso. Hoje, os festivais não têm esse mesmo glamour e nem esse poder mais!

Zebeto Corrêa declara não ter ressalvas, e elogia a organização do Canta Mariana, apresentando uma sugestão que, destaca, considera como uma opção da cada organização “Eu não tenho ressalvas, mas sim sugestão, que também é uma questão de opção de quem tá organizando. Organizar um festival já é uma dificuldade danada. Já é uma luta danada, então a gente tem que elogiar quem se dispõe a organizar (…) Para o meu gosto, eu acho que deveria haver uma melhor divisão dos prêmios. Eu acho que acumula muito você dar 12 mil pro 1º lugar, e dar prêmio até o 3º, e o 4º lugar que, às vezes, é uma música tão boa quanto o 1º, e perde por 2 pontos, por exemplo, não ganha nada, entendeu? Então, a minha sugestão que, como eu disse é uma questão de opção de quem tá organizando, concentrar mais dinheiro em quem tá em 1º lugar. Às vezes, dar um prêmio alto para o 1º lugar, ajuda a chamar a atenção pro festival. Eu prefiro fazer uma melhor distribuição. Quando eu organizo um festival, e já organizei alguns festivais, eu faço uma melhor distribuição, nem que seja pra dar 500 reais pro 10º lugar. Passou pra final, já recebe uma graninha. Porque tá todo mundo na dificuldade mesmo, tá todo mundo, os músicos todos na luta. Então, uma divisão melhor, eu acho que é mais justo“, finaliza.

Escolha da audiência

A partir da próxima segunda-feira (20), a Agência Primaz vai disponibilizar um link para votação popular entre as 10 finalistas do Canta Mariana, aberta à participação de qualquer pessoa, mas limitada a um único voto. A música mais votada, até as 12:00h de sábado (25), dia da final, vai receber uma placa, oferecida pela Agência Primaz, alusiva à “Audiência Primaz – Canta Mariana 2021”.

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