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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Prefeitura faz auditoria em obras investigadas pela CPI

Empresa contratada está analisando se houve pagamento superior aos serviços prestados pela Israel e GMP, bem como a veracidade das planilhas de medição ainda não pagas

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Prefeitura de Mariana, seguindo recomendação da CPI das Obras, suspendeu obras e pagamentos às empresas envolvidas – Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Assinada no dia 26 de julho, a Portaria nº 020, instituiu um grupo de trabalho multiprofissional para analisar a execução dos contratos celebrados entre a Prefeitura de Mariana e as empresas GMP e Israel. Posteriormente, em 05 de agosto, a administração municipal suspendeu as frentes de serviço relacionadas a essas empresas, exceto a regularização de um talude na localidade de Constantino, considerada uma obra emergencial. Por recomendação do grupo de trabalho, foi feito um processo de compra direta de serviços de auditoria, resultando na contratação de uma empresa cujo relatório deverá apontar se foram feitos pagamentos superiores aos serviços executados, quais valores devem ser ressarcidos aos cofres públicos, e quais os pagamentos ainda são devidos às empresas.

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Em entrevista concedida à Agência Primaz, o Controlador Geral do Município de Mariana, Juliano Barbosa, afirmou que a ideia da portaria era instituir um grupo multidisciplinar que pudesse entender a situação das obras, tanto da GMP quanto da Israel, seguida pela interrupção de todas elas, assim como de pagamentos de medições a serem processadas ou em fase de empenho para quitação. Ressaltou, entretanto, que surgiu uma situação emergencial em Constantino, que não poderia ser postergada. “Quando a gente foi entender a situação das obras, a gente constatou uma situação de emergência em Constantino, que os técnicos identificaram como situação de risco”, afirmou Juliano Barbosa, acrescentando que, naquele momento, não era possível outra alternativa que não fosse a definição das intervenções necessárias devido à proximidade do período de chuvas.

Foi feito? Foi. O que foi feito é suficiente? Ainda não sabemos, estamos levantando. O que foi pago foi correto? Não sabemos. Isso vai ter que ser auditado. Mas, precisamos fazer um estudo, entender se, com [as próximas] chuvas, desce ou não desce [o barranco]. Então o que a gente chegou a deliberar? Vamos manter a paralisação dessa obra, mas assim que os técnicos entenderem o que é que tem que ser feito, e se tem que ser feito, aí a autonomia do Secretário de Obras, pela função que exerce, pode tomar uma decisão”, relembrou o Controlador Geral.

Em relação à auditoria propriamente dita, Juliano Barbosa diz que a dúvida era como auditar, inicialmente pensando em equipe própria da secretaria de obras, com pessoas que não tivessem envolvimento com as medições anteriores. “Chegou-se até a pensar nisso. Mas é uma situação muito complicada e a gente via que a turma ficava um pouco receosa. Porque, por exemplo, você foi lá e fez, atestou a medição. Agora eu, que sou seu colega, talvez tenha que apontar seu erro. Aí surgiu a ideia de a gente fazer a contratação de uma terceirizada”.

De acordo com Juliano, já na época em que André Belico era o secretário de obras, essa ideia havia sido ventilada, porque a opção de auditoria interna poderia causar uma perda de credibilidade, além de causar transtornos dentro da equipe. “Foi aí que a gente [Controladoria] fez um termo de referência e correu atrás de orçamentos. Levamos quase 30 dias pra conseguir os orçamentos, porque são muitas obras, mas obras pequenas. Então muitas empresas não demonstravam interesse”, declarou.

Os orçamentos de três empresas somente foram conseguidos em 28 de agosto, tomando-se a decisão de utilizar a modalidade de compra, ou contratação, direta, permitida pela nova lei das licitações por se tratar de auditoria de obras, com valor inferior a R$100 mil. “Custou um pouco mais de R$77 mil e a contratada foi a empresa Hect, de Belo Horizonte, que inclusive está aqui na área da Samarco, Vale, Renova, ela já atua em Mariana. Fizemos a devida publicação da intenção de contratação, como determina a nova Lei das Licitações, pra não gerar nenhum equívoco. Ficou três dias publicado e, caso alguma outra empresa tivesse interesse, ela nos mandaria [o orçamento] e a gente teria que analisar qual a de menor preço, desde que tivesse a documentação [exigida]”.

O contrato 195/2021 foi assinado em 31 de agosto de 2021, publicado na edição nº 1.816 do Diário Oficial do Município, em 14/09/2021, e a Ordem de Serviço foi dada no dia 09 de setembro, com prazo de 60 dias para a execução, prorrogáveis se necessário. “Na semana passada nós concluímos 52 obras e recebemos um relatório [parcial], que não é conclusivo, é só informativo”, ressalta Juliano Barbosa, esclarecendo que o trabalho da empresa de consultoria consiste, na prática, em refazer as medições e comparar com as feitas anteriormente, estejam elas já pagas ou ainda em processo de análise e processamento de empenho para pagamento.

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Com esse resultado em mãos, a gente tem que ver qual o instrumento jurídico a ser utilizado. Se a gente [Prefeitura] tiver só a pagar, a gente não está falando de ilegalidade das empresas. Mas, se a gente tiver a receber, beleza, a gente quer receber”, afirma Juliano, aventando a possibilidade de utilizar o instrumento chamado Tomada de Contas, embora não haja, nesse caso, a possibilidade de aplicação de penalidades. Juliano ressalta que, em tese, isso possa ser feito pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, assim como pelo Ministério Público. Alternativamente, ele também cita a possibilidade de ser instaurado algum procedimento a ser aberto pela Secretaria de Obras e pela Procuradoria Municipal, com base na Lei de Crimes de Responsabilidade.

Relativamente a eventuais investigações envolvendo funcionários efetivos, nomeados ou contratados, o Controlador Geral aponta a existência de dois dispositivos legais: a sindicância e o processo administrativo disciplinar. No primeiro, esclarece Juliano, são feitas apurações destinadas à identificação de materialidade (eventuais irregularidades) e autoria (quem são os supostos responsáveis). O segundo, identificadas essas questões, destina-se a apurar o grau de responsabilidade dos envolvidos e as punições eventualmente cabíveis, de acordo com a s irregularidades comprovadas.

 “Aí é a [ação] da Corregedoria, que eu já tenho instalada aqui, para analisar todos os processos contra servidores, efetivos, nomeados ou contratados, seja diretamente via Processo Administrativo Disciplinar, caso já seja conhecida a autoria e a materialidade, ou via Sindicância, caso esses elementos ainda não estejam plenamente definidos”, declara Juliano Barbosa.

Obra na localidade de Constantino

Com as chuvas de 2020, a Israel foi encarregada de fazer uma obra para proteger 6 casas que estão abaixo de um grande talude em Constantino. Segundo o Controlador Geral, Juliano Barbosa, “isso foi feito, em tese. A auditoria é que vai trazer a realidade, se o que foi feito e pago está correto. Só que os técnicos da secretaria [de obras] disseram que era necessária uma nova intervenção. Eles chegaram a um escopo e essa foi a única [obra] que foi retomada e, inclusive, está em vias de ser concluída”.

Devido ao risco de desmoronamento, a Construtora Israel foi encarregada de executar serviços de contenção de uma encosta no subdistrito de Constantino – Foto: Acervo/Vereador Manoel Douglas

A reportagem da Agência Primaz não conseguiu identificar a ordem de serviço emitida para a Israel, na página da Secretaria de Obras e Gestão Urbana da Prefeitura de Mariana. Mas teve acesso às duas medições pagas à empresa, relativas aos períodos de 09/10 a 08/11 e 09/11 a 08/12/2020, mediante as notas fiscais nº 2618 e nº 2697, emitidas respectivamente em 27/11 e 18/12/2020. Por esses documentos, o valor total pago pelo serviço atingiu R$948.849,34.

Nas planilhas de medição que acompanham as notas fiscais, entretanto, R$1.220.651,99 é o valor estimado na primeira planilha, reduzido para R$1.216.743,26 na segunda. Restaria, portanto, um saldo superior a R$267 mil, ressalvando-se que a CPI da Obras estimou que os serviços executados correspondem a aproximadamente R$300 mil e que, como informado pelo Controlador Geral, foi constatado que os serviços executados não solucionaram o problema que causava riscos aos moradores das proximidades.

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