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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

Presépio Articulável: encantamento há 101 anos

Criado em 1920, o presépio articulável exposto na Rua Direita (Mariana/MG) é uma tradição que passou de avô para filho e neto

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Hélio Sacramento, desde 1968, dá continuidade ao trabalho do pai e do avô – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz
Estrategicamente em exposição no pavimento térreo de um casarão da Rua Direita, o presépio articulável de Hélio Sacramento encanta turistas e moradores de Mariana, por sua beleza e engenhosidade, fruto de uma tradição familiar surgida em 1920. A preocupação de Hélio é com a continuidade do presépio e com a possibilidade de contar com um espaço maior, já que a exposição este ano comporta apenas metade do tamanho real de sua obra de arte.

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Hélio Vitor Sacramento (71), aposentado, vem se dedicando ao presépio articulável desde 1968, em substituição a seu pai, Elói Sacramento. Este, por sua vez, deu continuidade, ainda em Ouro Preto, em 1940, ao trabalho do avô de Hélio, criador do presépio em 1920. Desde sua aposentadoria na Vale, Hélio divide seu tempo ao longo do ano, com a manutenção e aprimoramento do presépio e a criação de abelhas.

Utilizando madeira, madeirite, roldanas, polias, engrenagens, fios, tintas, areia e musgo, com acionamento por energia elétrica e pequenos motores, a obra de arte da família Sacramento vem sendo exposta em diversos locais, ao longo de 101 anos.

Esse presépio nasceu em Ouro Preto, em 1920. Tem um navio aí que é da época do meu avô ainda, e pai, Elói Sacramento, aprendeu com ele. Em 1940, ele montava esse presépio na casa dele mesmo, no [bairro] Antônio Dias. Era com água, um engenho colocado debaixo da torneira é que fazia o presépio funcionar”, conta Hélio, a respeito dos primeiros anos do presépio.

A história sofre uma mudança radical, pouco depois, com a transferência de Elói para Mariana, por motivos de trabalho, o nascimento de Hélio e a morte de seu pai. “Em seguida meu pai foi transferido para Mariana. Ele trabalhava de maquinista, na Central. Aí ele trouxe o presépio. Ele pegou a Igreja do Rosário, como zelador, e montou o presépio lá. Quando eu estava com uns 10 anos, comecei a ajudar. Em 68 ele morreu e eu continuei, ainda na Igreja do Rosário”.

Hélio lembra dos primeiros anos do presépio sob sua responsabilidade, e dos motivos que fizeram com que o presépio não continuasse sendo exposto na Igreja do Rosário. “Quando trocou o faxineiro, o presépio ficou sem ninguém ‘pra’ vigiar, e os meninos ficavam jogando areia e musgo no chão. Aí, reclamavam que o presépio sujava muito a igreja, e eu tirei ele de lá”.

Hélio diz que trabalha no presépio por satisfação pessoal, preenchendo seu tempo “pra não ficar doente”, e fala da ajuda que tem de amigos, dos diferentes lugares que já utilizou para expor o presépio e das perspectivas de continuidade do trabalho. “Hoje eu tenho ajuda de Jorge, ele faz as casas ‘pra’ mim. Depois disso já montei no Terminal Turístico, na Igreja de São Francisco, na Confraria e na Câmara. Quem me ajudava na montagem, fazendo as ruas, colocando os musgos, era minha esposa. Tem 3 anos que ela faleceu. De 9 meses pra cá eu conheci uma menina, a Adriana. Ela trabalha na creche [municipal]. Ela conversou com a diretora e ela conversou com o pessoal da Secretaria de Cultura, e foi imediato o convite para montar aqui [Rua Direita], ou no Terminal [Turístico]. Aí com 6 dias já ‘tava’ pronto aqui”, conta o artista.

Reafirmando sua satisfação pessoal com o trabalho, Hélio revela que utilizava seus próprios recursos para a manutenção e atualização do presépio, mas conta que a situação vem melhorando devido ao apoio da Secretaria de Cultura. “Eu ‘tava’ gastando do meu bolso. Hoje eu tenho isso aqui [apontando uma urna de coleta de donativos]. Isso aqui é para o presépio. Mas eu tive apoio da Secretaria de Cultura que me deu matérias [madeirite, lâmpadas] e o transporte [das peças] ‘pra’ eu montar aqui, e ainda trazem as refeições.

Em relação à continuidade da tradição, Hélio menciona a ajuda recebida dos filhos, mas ressalta que eles não se mostram capazes de assumir o presépio. “Dois [filhos] ainda me ajudam demais, o Douglas e a Rosária. Eles me ajudam a pegar e trazer a areia e o musgo. A gente anda 4 km com um carrinho ‘pra’ pegar esse musgo aqui. Mas eles falam que não sabem mexer com esse presépio não. Hoje eu ‘tô’ ensinando essa menina, a Adriana. O presépio tem 15 metros, aqui só tem 7. Ano que vem eles prometeram aumentar o espaço e, em julho eu já começo a organizar tudo”, declara Hélio.

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Confira nas imagens abaixo (fotos de Luiz Loureiro/Agência Primaz e Divulgação/Assessoria de Comunicação/Prefeitura de Mariana), alguns aspectos do Presépio Articulável de Hélio Sacramento:

Criatividade

Em suas andanças pelos arredores da cidade, Hélio diz que fica atento a tudo que vê. O resultado é percebido em algumas peças bem curiosas, compostas por partes de galhos e pedaços de madeira, ligeiramente adaptados por pintura ou incrustação de pedras ou outros materiais, de modo a representar morcegos, tamanduás, aves e outros animais.

Galhos e pedaços de tronco de árvores, transformam-se em animais no presépio de Hélio Sacramento – Fotomontagem: Luiz Loureiro/Agência Primaz

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