- Ouro Preto
Ranking coloca professores da UFOP entre os 30 melhores do Brasil
O Research.com classificou Fernando Alkmim, do Degeo, e Alexandre Reis, do Cbiol, entre os melhores do país em suas áreas de pesquisa
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A reitora da UFOP, Cláudia Marliére, por meio do departamento de comunicação da Universidade, comentou a boa colocação dos professores no ranking da plataforma Research.com. “É muito orgulho para a UFOP ter esses dois professores destacados como grandes pesquisadores do Brasil, o que reforça a competência de nosso quadro docente“, declarou.
O critério utilizado pela Research.com foi o “índice h”, que realiza um cálculo considerando a proporção das publicações na área de atuação e o número de citações. Fernando teve 34 pontos, com 88 artigos publicados e 5.462 citações, enquanto Alexandre contabilizou 42 pontos, tendo 118 artigos publicados e foi citado 5.462 vezes em outros trabalhos.
“Meus colegas me enviaram mensagens de congratulações e eu vejo que uma coisa como essa é importante para mim, mas principalmente para a Universidade. A satisfação que eu tenho é de que o que eu fiz está tendo serventia”, disse Fernando Alkmim à Agência Primaz. Já Alexandre contou que ficou surpreso com sua colocação no ranking e recebeu a notícia com muita felicidade. Porém, o professor também disse que mantém os pés no chão, principalmente pelo critério utilizado pelo Research.com. Para ele, um ponto importante que a lista não considerou foi a formação de novos pesquisadores pelos professores. “A metodologia avalia o impacto da produção científica ativa no mundo e eu fiquei muito satisfeito de estar entre os 30 do Brasil. É uma metodologia de análise que é muito respeitada. Porém, por outro lado, eu acho que não basta eu ser ‘o cara’ se eu não formo outros ‘caras’ como eu, ou muito melhores do que eu. O o mundo precisa girar”, declarou.
Conhecendo Fernando Alkmim
Fernando Flecha de Alkmim é graduado em Engenharia Geológica pela UFOP, com doutorado em Ciências Naturais na Universidade Técnica de Clausthal, da Alemanha. Ele foi professor do Departamento de Geologia (Degeo) de 1985 até 2016, atuando como professor, orientador e pesquisador na graduação e pós-graduação. Em 2021, o docente foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e atua como professor voluntário e pesquisador em seu departamento acadêmico de origem. “Eu escrevi trabalhos sobre regiões, a minha especialidade é geologia estrutural, que cuida da descrição da arquitetura dos grandes acidentes de relevo da terra. Escrevi algumas coisas que têm muita atenção dos pesquisadores pelos recursos minerais que elas contêm. Então, fiz trabalhos sobre a região do Quadrilátero Ferrífero, um distrito mineiro que é famoso no mundo inteiro. São áreas de interesse prospectivo, de extração mineral e isso faz com que muita gente use esses trabalhos. A mesma coisa aconteceu com a região do São Francisco, que passou por um interesse muito grande na exploração de óleo e gás”, contou o professor do Degeo.
Quem é Alexandre Reis
Alexandre Reis integra o corpo docente do Departamento de Análises Clínicas da Escola de Farmácia, é pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas (Nupeb) da UFOP e faz parte do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus. É graduado em Farmácia pela UFOP e possui doutorado em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Iniciou sua carreira acadêmica há 35 anos, como aluno de Farmácia na UFOP. Na época, o foco de sua pesquisa era todo voltado para a Leishmaniose canina, com alguns aspectos laboratoriais e imunológicos. Mais tarde, encaminhou sua trajetória rumo à UFMG, onde fez doutorado. “Eu sentia muita falta de metodologias de análise da resposta imune em cães, porque não faltavam informações importantes. Então, eu criei essas ferramentas para o modelo cão, isso se tornou minha tese de doutorado. Nós desenvolvemos uma série de técnicas para avaliação da resposta imune-celular em cães que hoje são utilizadas no mundo inteiro”, relatou.
Depois de concluir o doutorado, Alexandre começou a trabalhar efetivamente com o desenvolvimento de vacinas. Há 20 anos ele é professor na UFOP, onde montou, no laboratório, uma estrutura que seguia modelos experimentais com hamsters. Dessa forma, ele teve a oportunidade de manter ligações com empresas do ramo. Atualmente, há quatro companhias em diálogo com o departamento de imunologia da Universidade para discutir sobre novas vacinas e ferramentas tecnológicas.
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Desafios de produzir ciência no Brasil
Apesar da boa notícia, os professores acreditam que há pouco a se comemorar, tendo em vista os percalços que a comunidade acadêmica brasileira tem vivido nos últimos tempos. “É um paradoxo muito grande ser reconhecido como um dos melhores cientistas do país e, de repente, não ter recursos. Os nossos recursos, praticamente, zeraram nos últimos anos”, declarou Alexandre.
O professor da área de imunologia também contou que houve um problema com o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia recentemente. Ele disse que, se não fosse uma pressão da sociedade científica, da sociedade civil organizada, das Universidades, dos centros de pesquisas, da Academia brasileira de Ciência, entre outros órgãos, o fundo ficaria contingenciado por anos. “Nos últimos governos, com essa questão do contingenciamento de gastos, nós estávamos a ponto de gargalo. Agora, não que melhorou, mas pelo menos, nós conseguimos proibir que a presidência da República contingenciasse a verba do fundo. Então, começaram a aparecer os primeiros editais novamente, como se a ciência estivesse ressurgindo das cinzas. Então, eu não sabia se ficava feliz ou anestesiado (com o ranking). Eu fui reconhecido pelo meu trabalho, mas, ao mesmo tempo, tive a reflexão de ‘que reconhecimento é esse se nem recursos eu tenho para tocar o meu laboratório?’”, afirmou Alexandre Reis.
Para os que estão começando a carreira científica, Fernando Alkmim recomendou, além de paciência e dedicação, o uso de convênios com empresas para sustentar a viabilidade de execução do trabalho. No seu caso, a Petrobrás acompanhou a carreira do pesquisador desde o início. O docente emérito ainda fez uma crítica à UFOP, e às universidades em geral, por não ser uma facilitadora para manter a plena operação de laboratórios. “A Universidade não compreende o que é o fazer científico, por incrível que pareça. Então, aquele que está na linha de pesquisa, principalmente os que operam laboratórios com complexidade, precisa enfrentar uma burocracia colossal e a Universidade não é uma facilitadora, pelo contrário. Muitas das vezes, ela dificulta muita coisa, por conta do sistema universitário e como ele funciona”, declarou.
Baixa produção tecnológica brasileira
Fernando Alkmim trabalha com ciência básica. Mas, para ele, o que o Brasil mais precisa é produção de ciência aplicada, que seja conversível em tecnologia. Atualmente, de acordo com a pesquisa feita pela “Sondagem Especial Indústria 4.0: Cinco Anos Depois”, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), sete em cada dez empresas no Brasil fazem uso de tecnologias digitais diversas. Portanto, o baixo investimento em formação de profissionais capazes de produzir tecnologia no país reduz a capacidade de produção industrial em terras tupiniquins.
“Na pós-graduação, se beneficiassem o mérito, como um incentivo, e fizessem uma avaliação contínua de forma externa, já seria possível caminhar com suas próprias pernas. Por outro lado, nós perdemos grandes capacidades pela ineficiência do nosso ensino básico, pela bagunça que é, e pela qualidade muito baixa da formação básica. Isso passa pela má remuneração dos professores e pela falta de estrutura das escolas”, opinou Fernando Alkmim.
Alexandre Reis, por sua vez, revelou que existe um projeto para que novas medidas sejam tomadas, de modo que a pesquisa e a ciência sejam parte de uma política de Estado. No entanto, o professor destacou que o mérito de qualquer avanço nesse sentido é da comunidade acadêmica organizada. “Se a pesquisa fosse uma política de Estado, não haveria governo que conseguisse demolir a educação superior, a ciência, a tecnologia e a cultura desse país como esse atual governo tem feito. Chegou ao cúmulo do absurdo, ao máximo da possibilidade de demolição”, declarou.
Para Alexandre, o reflexo dessa postura não incentivadora na área de pesquisa, por parte do Governo Federal, é o grande negacionismo visto na pandemia em relação às vacinas, bem como em relação às mudanças climáticas. “Isso tudo é muito ruim, porque temos uma carga científica muito grande no país, com uma capacidade incrível de produzir ciência de qualidade”, finalizou.