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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Festival de teatro de Ouro Preto abre portas da Casa da Ópera para a população

O evento é gratuito e vai trazer muitas atrações para a Cidade Patrimônio da Humanidade, neste final de semana

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A primeira edição do Festival de Popularização do Teatro, realizada em 2019, alcançou grande sucesso de público - Foto: Ane Souz
A segunda edição do Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto acontece neste final de semana, de sexta-feira (27) a domingo (29). A programação conta com espetáculos variados que vão abrilhantar um dos monumentos mais visitados do patrimônio cultural ouro-pretano, a Casa da Ópera. A abertura, sexta-feira, às 18h30, vai ser guiada pelo cortejo Barroco Jazz e, nos dias seguintes, os cortejos Tambor de Sambapreto e Zé Pereira Club dos Lacaios assumem as festividades. Visando a inclusão da população no festival de teatro, as jardineiras dos anos 1930 e 1970, que já exercem culturalmente o trabalho turístico na cidade, vão levar aproximadamente 180 alunos da rede municipal de ensino até a Casa da Ópera. Também haverá ônibus para buscar as crianças dos distritos de Santa Rita, Lavras Novas e Antônio Pereira. Outra ação inclusiva é a disponibilização de tradução em libras, em tempo real, e monitor para cegos também desfrutarem da experiência teatral.

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O Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto é coordenado pelo comediante Leandro Borba, junto com o gestor cultural, Gilson Fernandes, e conta com o patrocínio da J. Mendes, por meio do Ministério do Turismo.

Muitas pessoas da cidade nunca tiveram acesso ao teatro Casa da Ópera. Muitas das vezes por conta do valor do ingresso, por falta de informação ou mesmo pela falta de transporte. A minha ideia sempre foi produzir teatro para o povo. A ideia do festival ser gratuito é para despertar a atenção das comunidades, para elas redescobrirem a importância de uma apresentação cênica e estar na Casa da Ópera”, conta Leandro Borba à Agência Primaz.

A primeira edição do festival aconteceu em 2019, mas a ideia de fazê-lo é mais antiga. Em 2012, Leandro Borba buscava caminhos para trabalhar com comédia. Ele acabou tendo a oportunidade de receber o conselho do produtor do artista Nerso da Capetinga, que faria um show em Ouro Preto. Ele foi instruído a investir no teatro, pois poderia ser um bom caminho para engatar sua carreira como comediante.

Depois disso, trabalhando no meio cultural, principalmente voltado para a comédia, Leandro chegou a produzir o comediante Diogo Portugal, criador do festival “Risorama”. Durante uma conversa de camarim, Borba recebeu o conselho para fazer um evento parecido em Ouro Preto. Então, em 2019, com apoio de várias empresas e meios de comunicação da cidade, as atrações toparam participar. Custando R$10, os ingressos de todas as sessões foram esgotados. Na ocasião, o festival contou com espetáculos como “A Bela e a Fera” e artistas como Thiago Comédia, Glauber Cunha e Giovani Braz (A Praça é Nossa).

Segunda edição após dois anos de pandemia

Após o sucesso da estreia, Leandro Borba já planejava a segunda edição do Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto em 2020, cancelado devido à pandemia. Durante dois anos, o produtor ouro-pretano pensou em alguma forma de retornar com o festival depois que o tempo pandêmico passasse. A alternativa foi trabalhar em um projeto para captar recursos por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). “Quando coloquei ele para ser captado, já havia posto que seria um evento gratuito, como uma forma de compensar a galera que já veio nos meus espetáculos, para tentarmos fortalecer o festival também. Ajustamos o projeto junto ao Governo Federal, que nos liberou para podermos trabalhar no início deste ano. Fomos até a prefeitura para encontrar uma data no teatro, abrimos um edital que teve 381 espetáculos de todo o Brasil”, informa Leandro Borba.

Apesar da grande quantidade de espetáculos concorrendo ao edital, alguns vindos até do Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo, a curadoria do Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto teve que adotar dois critérios: facilidade em viajar até Ouro Preto e avaliar os instrumentos utilizados em cada espetáculo, como água e fogo, já que a Casa da Ópera, por ser um teatro de 1770 e patrimônio tombado, não permite o uso de alguns artefatos, ou mesmo se alimentar no local.

O Festival de Popularização do Teatro é gratuito e os ingressos serão distribuídos presencialmente, em frente à Casa da Ópera, uma hora e meia antes de cada espetáculo. Cada pessoa terá direito a um ingresso por show, utilizando o seu RG.

A primeira palavra é de agradecimento ao Gilson e ao Leandro pela iniciativa brilhante de um festival de popularização do teatro. Com isso, estamos abrindo as portas da Casa da Ópera para receber um público cada vez maior, em especial as crianças. O teatro infantil é decisivo nessa formação de público. Nós queremos Ouro Preto sempre envolvido com as artes cênicas e com o teatro. Daí a importância do festival, o apoio da prefeitura, parabéns à J. Mendes pelo patrocínio. O nosso palco está iluminado para um grande festival e contamos com a presença de todos”, destaca o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo (PV).

Casa da òpera

A Casa da Ópera de Vila Rica é o atual Teatro Municipal de Ouro Preto. Trata-se do mais antigo teatro em funcionamento das Américas, construído em 1769 por João de Souza Lisboa e inaugurado em 6 de junho de 1770, data do aniversário do Rei Dom José I. No período barroco, a teatralidade era muito presente no cotidiano do local.

Para Leandro Boba, além do valor histórico e cultural, o teatro municipal possui um valor sentimental, sendo um local de grande importância para o início de sua carreira como comediante. “Desde que comecei a produzir, a Casa da Ópera foi uma porta mágica para mim. Eu sentei lá para assistir o Nerso da Capitinga e ali vi que era o que queria para mim”, recorda.

Dessa forma, o comediante e produtor cultural mantém a ideia de trabalhar no sentido de proporcionar momentos em que as pessoas possam ir ao teatro para ver espetáculos e terem a experiência de ver um grande palco. “É o principal palco das Américas. Ouro Preto tem esse poder de acender pessoas através de sua própria história, basta as pessoas quererem se acender também”, complementa.

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Ser comediante e produtor de teatro em Ouro Preto

Leandro Borba, criador da página “Enquanto isso em Ouro Preto”, em apresentação na 1ª edição do Festival de Popularização do Teatro - Foto: Instagram/Festival do Teatro de Ouro Preto

Após o primeiro contato com o Nerso da Capetinga e da realização de seu primeiro show de stand-up em Belo Horizonte, Leandro Borba manteve o caminho de produtor cultural e já produziu nomes como Paulinho Gogó, Diogo Portugal, Thiago Carmona e Magela. Mas nem sempre a ideia de Leandro era permanecer em Ouro Preto, devido às dificuldades em encontrar oportunidades no interior para esse tipo de trabalho.

Formado na primeira turma de economia da Universidade Federal de Ouro Preto, Leandro Borba chegou a trabalhar com imitação na Rádio Real, mas o que fez seu trabalho “bombar” na cidade foi com a página de internet “Enquanto isso em Ouro Preto”.  “Quando saí da Rádio Real, comecei a produzir vídeos para o ‘Enquanto isso em Ouro Preto’. Depois voltei para a rádio, fiquei mais dois anos, mas aí veio um ‘boom’ do Instagram. As pessoas começaram a me procurar muito, a minha rede social tem muito engajamento, porque eu trabalho temas da cidade com humor”, relata Leandro.

“Enquanto isso em Ouro Preto” nasceu em 2012, e hoje conta com 40,9 mil seguidores no Instagram. Em 2015 Borba foi convidado para o maior congresso de mídias sociais da América Latina, o “São Paulo Media Week”, para falar sobre como fazer humor para a internet tendo como pano de fundo uma cidade. Hoje Leandro vive como influencer, fazendo propagandas para lojas e mantendo sua rede social ativa, fazendo piadas sobre o cotidiano da cidade. “É raro uma peça de teatro me dar uma grana, mas sempre fiz para me manter como produtor e comediante, ter a oportunidade de conhecer outros comediantes e tudo mais. Fiz o esse festival, também, no peito e na coragem”, finaliza.

Lei Rouanet

Em parceria com Leandro Borba, Gilson Fernandes, proprietário da empresa Holofote Comunicação e Cultura, que completará 10 anos de fundação neste ano, contribuiu para que o Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto fosse aprovado na Lei Rouanet e patrocinado pela J. Mendes. Gilson produz eventos desde 2005, começando com festivais de rock em Itabirito, eventos de música instrumental e de samba. Ao longo do tempo, ele foi mudando sua área de atuação para a gestão cultural, a partir de projetos de âmbito municipal, estadual e federal. “O primeiro passo da Lei de Incentivo é fazer um projeto. Qualquer pessoa pode fazer isso, é uma política pública de democratização da produção cultural. Existe um prazo de inscrição por meio de um sistema online. Daí, é preciso preencher toda a instrução normativa. O Conselho Nacional de Cultura fará a análise e, caso o projeto atenda todos os requisitos, como nome, objetivos, interesse de patrocínio, justificativa do patrocínio, planejamento e etapas de trabalho, equipe técnica e orçamento detalhado, ele é aprovado para conseguir um patrocínio dentro de 24 meses”, detalha Gilson Fernandes à Agência Primaz.

No entanto, a empresa também precisa estar dentro de uma série de normas para poder patrocinar, conforme explicou Gilson. É preciso ter, por exemplo, lucro real e imposto suficiente para ser um patrocinador. Se estiver tudo certo, a empresa deposita o recurso na conta do projeto, que é travada pelo Governo Federal e só é liberada depois que toda a documentação é verificada. De acordo com Fernandes, todo o pagamento é feito mediante transferência bancária e nota fiscal, para que seja feita uma prestação de contas ao Governo Federal.

Para Gilson Fernandes, a imagem negativa que a Lei Rouanet carrega em uma parcela da população brasileira, parte do desconhecimento popular do processo e do uso político para gerar discussões partidárias. “O mecanismo não mudou com a mudança do Governo Federal. O que mudou foi o aprimoramento das normativas da lei. Algumas pessoas falam que artistas da Globo ficam ricos com a Lei Rouanet, mas não é bem assim. A Lei Rouanet tem dois artigos: o 18 e o 26. No 18, é 100% de dedução fiscal. Então, o que a empresa patrocina, ela consegue retorno. Aí entram as peças de teatro, as orquestras e os corais. No 26, não é de 100% de dedução fiscal, que entra a música popular, como show de sertanejo”, complementa.

Programação completa do Festival de Popularização do Teatro de Ouro Preto

Sexta, 27 de maio

      • 18h30 – Cortejo Barroco Jazz
      • 19h00 – “Maio, antes que você me esqueça”, de Ilvio Amaral e Maurício Canguçu
      • 21h00 – “Como desencalhar depois dos 30”, de Breno Gagliardi, com Chris Geburah

Sábado, 28 de maio

    • 18h30 – Cortejo Tambor de Sambapreto
    • 19h00 – “Guara-pa-rir”, de Kayete e Guilherme Oliveira
    • 20h30 – “Pocket show Geraldo Pessoa”
    • 21h00 – “Comi uma Galinha e Tô Pagando o Pato”, de Carlos Nunes)

Domingo, 29 de maio

      • 15h30 – Cortejo Zé Pereira Club dos Lacaios
      • 16h00 – “Os Três Porquinhos”, da Associação Cultural Casa Laboratório
      • 18h00 – Desculpa Qualquer Coisa
      • 20h00 – “Irmã Selma”, de Octávio Mendes (ex-integrante da “Praça é Nossa”)

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