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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Prefeitura de Ouro Preto informa que hidrometração não chegou a 90%

O Município contesta relatório da Saneouro e tenta impedir cobrança de água pelo consumo em julho.

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Prefeitura de Ouro Preto informa que hidrometração não chegou a 90%
Foto: Divulgação/Saneouro
A Prefeitura de Ouro Preto emitiu um comunicado, na noite desta quarta-feira (15), informando que o percentual de hidrometração necessário para o início da cobrança de água pelo consumo na cidade não foi atingido.

Por meio do Parecer Jurídico 019/2022, a Procuradoria-Geral de Ouro Preto discorda do requerimento aprovado pela Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento Básico de Minas Gerais (ARISB-MG), em que a Saneouro alega ter chegado a 90% da hidrometração, levando em consideração que, em algumas localidades, a empresa foi impedida de instalar os hidrômetros. “A Arisb, ao analisar o requerimento da concessionária, avaliou que a empresa cumpriu a meta de hidrometração, mas a atual administração encontrou inconsistências quanto ao índice de hidrometração, levantando evidências de números conflitantes”, consta no comunicado.

Conforme a Agência Primaz noticiou no dia 7 de junho, a Saneouro entrou com uma ação contra a Prefeitura de Ouro Preto para poder iniciar a cobrança pelo consumo de água medido. A administração municipal, por sua vez, alega que vem acompanhando com muita atenção o assunto e conseguiu adiar pelo maior tempo possível a tarifa pelo valor real, exigindo da concessionária, item a item, o cumprimento das cláusulas do contrato firmado pela administração anterior. 

Uma situação semelhante aconteceu em dezembro de 2021, quando a Saneouro enviou para algumas casas a conta já com os valores por consumo. Entretanto, a Prefeitura de Ouro Preto conseguiu, junto do Procon, evitar a cobrança, comprovando que o cálculo da empresa estava errado, pois desconsiderava diversos usuários.

A prefeitura segue atuante para que os custos do serviço de água e esgoto no Município não sejam abusivos. Adiar o prazo da cobrança foi apenas uma ação emergencial realizada em defesa dos ouro-pretanos, mas a Procuradoria Municipal vem agindo diariamente, desde o início da atual gestão, na busca de soluções viáveis”, continua o comunicado do Município. 

Dentre as ações da Procuradoria Municipal, a Prefeitura de Ouro Preto destaca:

  • A extinção da antiga agência reguladora (a Arseop) e implantação de uma agência séria e eficiente, a Arisb; 
  • Instauração de Processo de Investigação Preliminar, que resultou na CPI da Saneouro, para averiguar possíveis irregularidades no processo licitatório. O relatório final foi encaminhado ao Ministério Público de Minas Gerais e ao Tribunal de Contas Estadual, onde segue em análise; 
  • Abertura de Processo Administrativo para que a empresa atendesse às regras atinentes à proteção do conjunto tombado do Município de Ouro Preto;
  • Criação de Grupo de Trabalho específico para estudar possíveis alternativas para a prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no Município, com base no relatório da CPI da Câmara Municipal e de outros já produzidos pelo Município;
  • Atuação nos autos de Ação Popular, apresentando argumentos que viabilizam a análise sobre a legalidade e os possíveis prejuízos ao Erário em razão da deficiência dos estudos apresentados na licitação; 
  • Construção de tese jurídica para que o Município de Ouro Preto seja considerado como atingido pelo acidente da Samarco em 2015. Decisão favorável proferida no final de 2021, pela 12ª Vara Federal de BH;
  • Construção de tese jurídica para inclusão de Ouro Preto no Eixo 2 – Meio Ambiente no Plano Pactuado para Recuperação da Bacia do Rio Doce, que poderá viabilizar o repasse de 89 Milhões a serem destinados ao tratamento de Esgoto de Ouro Preto, que é todo despejado nos afluentes do Rio Doce. Decisão favorável do Juiz da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte publicada em março de 2022, já determinando a inclusão de Ouro Preto no Programa de Coleta e Tratamento de Esgoto e Destinação de Resíduos de Sólidos da Fundação Renova.

Vai tirar a Saneouro da cidade?

De acordo com a Prefeitura de Ouro Preto, existe uma Ação Popular que discute a validade do contrato, requerendo a nulidade da licitação. Além disso, o Município atua para esclarecer e subsidiar o Judiciário no julgamento. 

Outra alternativa apontada pela administração municipal é a remunicipalização dos serviços de água e esgoto, o que exige um pagamento de indenização de forma antecipada. A cláusula 43 da concessão estabelece todos os deveres de indenização, que prevê um montante superior a R$ 150 milhões. 

Contando apenas os investimentos e custos de operação, a Saneouro já aplicou mais de R$ 86 milhões. O pagamento de multas contratuais, juros e lucros cessantes, conforme previsto em contrato, poderá majorar significativamente o valor da indenização, que deve ser feita de forma prévia. 

Além disso, após a encampação, o Município deverá desenvolver um planejamento para cumprir o Plano Municipal de Saneamento básico, bem como os prazos estabelecidos no Marco Civil do Saneamento, o que demandaria investimento de, pelo menos, R$ 150 milhões, considerando os valores previstos na licitação da concessão. 

O Município vem buscando fontes para captar os recursos suficientes simultaneamente para promover a encampação e prover o saneamento básico. Enquanto esse montante não está disponível, compete ao Município exigir da empresa o fiel cumprimento do contrato”, complementa o comunicado.

Novos prazos a serem cumpridos pela empresa

A empresa tem os seguintes prazos a cumprir, a contar de janeiro de 2020: 

a) Esgotamento Sanitário: 

    1. Cobertura da coleta de pelo menos 75% dos domicílios urbanos em até 84 meses (2027); 
    2. Cobertura de pelo menos 90% dos domicílios urbanos em até 180 meses (2035); 
    3. 100% de tratamento do esgoto coletado em até 60 meses, contados a partir da data de efetiva assunção dos serviços e seus correspondentes sistemas pela CONCESSIONÁRIA (2025). 

b) Abastecimento de Água: 

    1. Disponibilização de rede de água potável para 100% dos domicílios urbanos do MUNICÍPIO em até 60 meses (2025); 
    2. Redução do índice de perdas a 30% em até 180 meses (2035).

Tarifa Social

Confira quais são os requisitos para conseguir ser cadastrado dentro da Tarifa Social:

    • O solicitante deve ser o titular da conta e estar classificado na categoria residencial; 
    • Estar inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal; 
    • Renda familiar mensal per capita de até meio salário-mínimo nacional;
    • Consumo médio de energia elétrica até 100Kwh/ por mês; 
    • Consumo de até 20 (vinte)m³ de água por mês; 
    • Atualização anual dos dados cadastrais e não ter débitos com a Saneouro; 
    • O benefício será cancelado após falta de pagamento das faturas por três meses consecutivos. 

No dia 24 de junho, às 13h, haverá uma reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental de Ouro Preto (CODEMA/OP) e Conselho Municipal de Saneamento de Ouro Preto (COMUSA/OP) para tratar da nota técnica da Arisb relativa ao percentual de hidrometração no município e início das cobranças do serviço de água. 

Em virtude da pandemia, a reunião será realizada online e poderá ser acompanhada pelo YouTube, clicando aqui.

Referendo Popular

Prefeitura de Ouro Preto informa que hidrometração não chegou a 90%
Da esquerda para a direita: Guido Mattos, Du Evangelista e Luiz Carlos, que presidiram a reunião da Famop na segunda-feira (13) | Foto: Rômulo Soares/Agência Primaz

Na noite de segunda-feira (13), a Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto (Famop) promoveu uma assembleia popular, que contou com mais de 60 pessoas de diversos bairros da cidade, para discutir a criação de um Referendo Popular pela remunicipalização dos serviços de tratamento de água e esgoto na cidade. Nela, decidiu-se por dois encaminhamentos. O primeiro se trata de pedir aos vereadores para que assinam tal referendo — é necessário que, no mínimo, oito membros do poder Legislativo assinam o documento. O segundo é o recolhimento de aproximadamente 4.500 assinaturas para um outro Referendo Popular. 

Com todas as assinaturas necessárias, a Câmara é obrigada a comunicar a Justiça Eleitoral para que o referendo seja feito. Se conseguirmos aprovar a revogação do contrato, o prefeito é obrigado a fazer isso, porque é uma lei de incentivo popular, que demonstrou a soberania da vontade do povo de Ouro Preto. Isso (o referendo) respalda, inclusive, a indenização dos gastos da empresa com a hidrometração, porque a população prefere ter menos show na praça e ter uma água de qualidade, com um preço justo”, explica o advogado Guido Mattos, que esteve na reunião de moradores.

Ainda de acordo com Guido Mattos, a população de Ouro Preto deveria ter sido consultada se era de vontade dela que a água fosse privatizada e, diante de uma resposta positiva ou negativa, ter sido feita a licitação. Porém, foi feito o inverso na Cidade Patrimônio. O Plano Nacional de Saneamento, que foi revisado entre 2018 e 2020, dá preferência à privatização do abastecimento de água e tratamento de esgoto. Entretanto, desde 2021, grande parte da população ouro-pretana tem manifestado sua revolta contra a concessão dos serviços. 

Em nenhum momento a população foi ouvida nesse caso. A água não é mercadoria. Todo mundo sabe que sem água, a gente não vive. Entendo que a água não deve ser passada para uma empresa. A gente precisa ter voz num assunto tão importante. Não existe contrato que não seja revogado, o que temos que discutir é se o Município tem de indenizar a empresa pra ela poder sair daqui. Não existe a possibilidade da empresa ficar aqui até quando ela quiser. Se a gente quiser que ela saia, ela tem que sair”, posicionou o membro do Conselho Municipal de Saneamento de Ouro Preto (COMUSA), Du Evangelista.

O vereador Wanderley Kuruzu (PT) foi o único membro da Câmara Municipal a estar presente na reunião. Para ele, é possível tirar a Saneouro da cidade e a solução do problema com o saneamento é a remunicipalização do serviço. “Se o povo derruba presidente da República e ditadores no mundo inteiro, não consegue tirar a Saneouro de Ouro Preto? O povo conseguiu impedir a colocação dos hidrômetros e a cobrança desde julho do ano passado. O grupo de trabalho nomeado pelo prefeito se reuniu hoje e ele é amplamente favorável à remunicipalização do serviço. Vai sugerir ao prefeito para que se contrate uma consultoria para que se chegue aos valores”, declarou.

A reunião também contou com a presença do advogado Érick Carvalho, que veio de Contagem, gratuitamente, para apoiar os moradores na causa. Ele disse que tem experiência em ações populares, tendo maior destaque uma Ação Popular contra a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), quando houve o primeiro aumento da tarifa do metrô, por volta de 2018. Conseguiu-se uma liminar na época, mas o CBTU recorreu em segunda instância e conseguiu aplicar o reajuste tarifário. 

Érick está organizando uma Ação Popular para mostrar a indignação do cidadão ouro-pretano em relação às tarifas de água e, mais precisamente, com a Saneouro. A ideia é que o documento conte com, no mínimo, 100 pessoas. Atualmente, conseguiu-se apenas 20 assinaturas. “Se os cidadãos, individualmente, entrarem com essa Ação, eles serão cadastrados no processo e quando o juiz abri-lo, verá aquele tanto de autores no processo, vendo que a Saneouro está causando problemas para a comunidade. Nem que a gente consiga um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), em que a Saneouro e a prefeitura sejam intimadas, para que o clamor do povo seja considerado”, explicou.

Na noite de terça-feira (14), durante a 36ª reunião ordinária da Câmara Municipal, que contou com grande presença popular, o Referendo Popular recebeu a assinatura de 13 vereadores, ultrapassando a quantia necessária, de oito, e, agora, o documento será encaminhado para a Justiça Eleitoral. A iniciativa, elaborada pela Famop, é realizar um plebiscito para que o povo de Ouro Preto decida se quer continuar com a concessão dos serviços de água e esgoto na cidade.

Os únicos vereadores que não assinaram o Referendo Popular foram Vander Leitoa e Zé do Binga, que estavam ausentes do Plenário no momento das assinaturas. O primeiro passou mal e precisou ir para casa e o segundo disse que não se sentia confortável em permanecer na reunião com a presença de várias pessoas sem máscara. 

Eu, na condição de presidente da Comissão de Saúde, gostaria de pedir ao presidente e à Mesa Diretora que revisse as condições de uso de máscara, principalmente aqui dentro da Câmara. Em Belo Horizonte já é obrigatório, as UPAs estão cheias, temos problemas dentro da Câmara com isso. A questão é muito séria e temos que proteger as nossas famílias. Eu não me sinto confortável de ficar aqui, tenho minhas comorbidades também e gostaria que isso fosse revisto o mais rápido”, explicou Zé do Binga. 

Impeachment

Ao longo da reunião, o vereador Júlio Gori voltou a pedir o impeachment do prefeito pelo fato de Angelo não ter cumprido com sua promessa de campanha de retirar a Saneouro da cidade. “Nós vamos ter que fazer o impeachment do prefeito, porque, se ele não está cumprindo (com a promessa de campanha), ele tem que sair”. 

De acordo com Júlio Gori, o Semae não deu certo, porque virou cabide de emprego da Casas Legislativa e do prefeito da época, Júlio Pimenta, e a concessão da água e esgoto de Ouro Preto foi feita “cheia de malabarismos”. “Vocês vão ver o desdobramento, o que vai acontecer, a bandidagem que tem por trás dessa concessão. Isso não vai ficar assim”. 

No decorrer da reunião, quando o assunto era sobre obras (outro assunto polêmico na cidade), Júlio Gori foi ainda mais incisivo em solicitar o pedido de impeachment de Angelo Oswaldo por parte da Câmara Municipal. “Faltam seis meses para o presidente da Câmara dar tchau e voltar para cá e o seu nome pode ficar na história. Se ele quiser, ele vira prefeito de Ouro Preto. Hoje teve 13 votos (para o Referendo Popular), são 13 votos que a gente tira o Angelo Oswaldo. Tem improbabilidade administrativa, basta o presidente querer”, finalizou.

Em setembro de 2021, Júlio Gori falou sobre o impeachment do prefeito pela primeira vez na Câmara de Ouro Preto. Na ocasião, o vereador disse que se Angelo Oswaldo não quebrasse o contrato de concessão, depois que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saneouro entregasse seu relatório, ele seria o primeiro a pedir a derrubada do chefe do poder Executivo municipal do poder.

Prefeitura de Ouro Preto informa que hidrometração não chegou a 90%
Júlio Gori discursando ao lado de Angelo Oswaldo no dia da entrega do relatório da CPI da Saneouro (7 de outubro de 2021) | Foto: CMOP

Histórico

Em 2005, durante o seu segundo mandato, o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo (PV), criou o Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), Porém, com o passar dos anos, o Semae ficou sucateado, tendo sérios problemas financeiros para se sustentar e entregar um serviço de qualidade para a população. 

Em 2015, o prefeito da época, José Leandro, colocou na Câmara o Projeto de Lei, de Nº 148/2015, para operacionalizar o Semae, e em outubro de 2016, no ano eleitoral, o projeto não foi discutido. No dia 14 de dezembro de do mesmo ano, o projeto acabou sendo arquivado, após um dos vereadores da época pedir vista. Desde então, o plano de investimento no Semae não teve prosseguimento. 

Durante sua campanha eleitoral, em 2020, Angelo Oswaldo disse que, caso fosse eleito, tiraria a Saneouro da cidade e retornaria com o Semae, o que não foi feito até o momento, mesmo depois de um ano e meio de mandato. 

Para mim, isso foi o que fez Angelo Oswaldo ganhar a campanha. Chegou janeiro de 2021, ele mudou a conversa. Começou a falar que é difícil, que o contrato foi bem amarrado”, comentou Du Evangelista. O membro do Comusa também disse que ficou assustado com o fato da empresa ter focado na hidrometração da cidade e não realizou nenhum trabalho com rede de esgoto. De acordo com ele, no edital da licitação é possível ver um lucro de aproximadamente R$ 12 milhões por ano, a partir de 2023. “Privatizar a água é um erro”, finaliza.

A administração municipal chegou a contratar um escritório de advocacia, por R$ 140 mil, para analisar todo o procedimento licitatório da concessão dos serviços de saneamento básico, avaliando a viabilidade do contrato firmado entre a Saneouro e o Município, assim como a aferição da necessidade de repactuação, reequilíbrio, revisão ou rescisão da contratação. Na Câmara Municipal, durante a maior parte do segundo semestre, foi feita uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a concessão.

Quando a Saneouro assumiu, fizemos várias reuniões para conhecer as intenções da empresa, em nenhuma delas o gestor do contrato apareceu. Fizeram um grupo de trabalho para pensar em alternativas para o saneamento e este grupo demorou seis meses para marcar a primeira reunião. Não queremos mais participar desse grupo de trabalho, queremos discutir o que o povo quer realmente. Não queremos mais nenhuma tratativa com a concessionária, queremos chamar a responsabilidade para o governo, porque quem contratou foi ele e não nós”, manifestou o presidente da Famop, Luiz Carlos.

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