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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

Oficinas da Cia. Lamparina levam arte e cultura para crianças marianenses

Realizadas fora do centro histórico da cidade, as atividades atingiram um público jovem e em situação de vulnerabilidade socioeconômica

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Crianças vestem figurinos para a oficina de teatro no Espaço Prainha - Foto: Pedro Olavo/Agência Primaz
Parte da programação do Festival de Inverno – Mariana 326 anos, as oficinas da Cia. Lamparina levaram o universo do audiovisual e do teatro ao público infanto-juvenil no município. Realizadas ao longo desta semana, de 04 a 08 de julho, no Centro de Referência à Criança e ao Adolescente (Cria) e no Espaço Prainha, as oficinas despertaram o interesse de crianças em idade escolar, que revelaram habilidades técnicas maiores que as imaginadas pelos oficineiros, além de terem a oportunidade de compreender melhor os conceitos e as práticas das artes contempladas.

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O convite para a realização das duas oficinas como parte do Festival de Inverno ocorreu através da Secretaria de Cultura, que já possuía conhecimento das atividades promovidas pela companhia. O oficineiro Bruno Regenthal, graduado e mestre em Artes Cênicas pela UFOP, promoveu as aulas de audiovisual no Cria, e revela que o convite veio de forma tardia, sendo necessária a adaptação para o público que seria atendido. Enquanto isso, Yago Rufato, também graduado em Artes Cênicas na mesma universidade, promoveu um encontro descontraído entre as crianças que frequentam o Espaço, fruto de um projeto sociocultural no bairro Santo Antônio, também conhecido como Prainha.

A companhia, que teve início em 2012 e conta com captação de recursos para realizar suas atividades, já promovia oficinas para diversos públicos, inclusive com teatro infantil. A novidade foi a realização de uma oficina de audiovisual para um público tão jovem, o que desafiou e surpreendeu Bruno, que ainda não tinha tido tal experiência. Em ambas, as crianças mostraram-se interessadas, às vezes tímidas, ou bastante agitadas, mas sempre dispostas a participar das atividades e entrar em contato com um universo o qual muitas vezes não tem acesso.

Crianças e audiovisual

Segundo Bruno, usualmente profissionais da área de audiovisual evitam trabalhar com o público infantil, alegando dificuldade em lidar com crianças, pois elas ainda não teriam a maturidade necessária para o desenvolvimento de produções deste tipo. A turma atendida por ele era composta predominantemente por jovens entre 11 e 13 anos, mas na opinião do oficineiro, é possível trabalhar de forma adaptada. Ainda que atendo-se às limitações próprias da faixa etária, ele percebeu que os alunos já possuíam algum conhecimento adquirido pelo uso de aparelhos eletrônicos, onde não apenas consomem, como produzem seus próprios vídeos corriqueiramente. Muitos conhecem aplicativos de edição para smartphones (alguns dos quais eram novidade até para o professor) e, embora mostrando-se um pouco tímidos a princípio, logo começaram a se envolver, interagindo com o oficineiro.

A oficina de audiovisual, ofertada por Bruno Regenthal, começa com uma aula expositiva, onde as crianças aprendem conceitos importantes para a filmagem – Foto: Pedro Olavo/Agência Primaz

O coordenador do Cria, Wagner Filho, conta que a parceria com a companhia Lamparina foi recebida com muito entusiasmo por parte dos alunos. Segundo ele, a adesão à oficina foi alta, já que muitos jovens e adolescentes apresentaram grande interesse pela área do audiovisual, mostrando que os conhecimentos oferecidos agregaram muito às atividades já praticadas no Cria. Lais Oliveira, uma das alunas, conta que já se interessava pela área, principalmente devido a vídeos do YouTube e Instagram e que viu na oficina uma ótima oportunidade de aprender mais sobre os processos e os equipamentos utilizados na criação dos vídeos que ela tanto gosta.

Com o tempo disponível para as oficinas, e com algumas crianças frequentando o espaço apenas às segundas, quartas e sextas, o oficineiro decidiu realizar pequenos vídeos com seus alunos, de até 30 segundos, aplicando alguns conceitos vistos nas aulas expositivas. Na oficina realizada na terça-feira (05), foram abordados os diferentes tipos de planos de câmera utilizados no cinema e na televisão, e que poderiam ser úteis para pensar em formas de contar uma história através de imagens gravadas com um smarthphone. Havia também equipamentos de iluminação, como ring lights e bola chinesa, e foi utilizado um tripé para a filmagem de uma sequência.

Durante a parte prática da oficina, Bruno orienta a gravação de uma cena com uso do smarthphone no ginásio do Cria - Foto: Pedro Olavo/Agência Primaz

Atento ao repertório que os alunos apresentam nas aulas, muito voltados para o consumo de mídias sociais como Instagram e Tik-Tok, ele conta que, no primeiro experimento prático, quase 100% dos participantes optaram por gravar no sentido vertical. Ele também percebeu que, ainda que tenham algumas ideias já internalizadas sobre o que é e como fazer um vídeo, as crianças tinham uma dificuldade inicial para realizar uma produção audiovisual estruturada, levando em conta conceitos básicos, como “o quê”, “quando” e “onde gravar”.

Bruno considera que há diferenças entre as oficinas de audiovisual e teatro. “Eu considero que o pessoal é mais propenso ‘pro’ audiovisual que ‘pro’ teatro. […] Quando chega no lado mais interpretativo, em que você começa a assumir personagem, que a pessoa tem que improvisar, aí essa faixa etária costuma travar. A vergonha vai lá no limite, a pessoa fica com muita vergonha de fazer errado, e meio que se trava”, pontuou Bruno Regenthal.

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Teatro na Prainha

Contrariando a expectativa de Bruno, a experiência das oficinas realizadas no Espaço Prainha mostrou uma turma bastante animada e sem grandes inibições. Pouco após as 14h da quinta-feira (07), a turma da oficina de teatro ministrada por Yago Rufato já se mostrava empolgada para a atividade do dia. A princípio, o oficineiro propôs uma brincadeira com balões, para aquecer as crianças, moradoras do bairro Santo Antônio e alunas da Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira, onde o espaço Prainha funciona, no anexo anteriormente conhecido como Casa da Sopa. Após fazerem um lanche, as crianças já começaram a vestir os figurinos, criando seus personagens e exercitando sua imaginação.

O oficineiro conta que buscou deixar aberto às crianças o que fazer como produção final da atividade, sendo escolhida a realização de um “café de gala”, com todos vestidos como os personagens que criaram. “Não tem como a gente ficar tentando ser massivo e impondo muitas regras, porque não funciona muito bem na prática”, afirmou Yago, complementando que o comportamento das crianças é influenciado pela faixa etária de cada grupo, sobretudo ao levar em conta as diferenças entre elas – na oficina havia crianças de 6 anos e pré-adolescentes de 13 anos.

Yago defende a importância das oficinas como meio de garantir o acesso à arte e à cultura: “A gente vê que é preciso que cultura, arte e acesso ao conhecimento cheguem nesses lugares. Quanto mais tem, quanto mais é inclusivo, quanto mais pessoas tem interesse em fazer, é bom abraçá-las, é bom estimulá-las, porque elas merecem. É um direito delas ter essas experiências, assim como outras camadas da sociedade têm”.

Esse pensamento é compartilhado pelo coordenador do Espaço Prainha, Uilson Silva, que considera a inclusão da atividade, como parte da programação do Festival de Inverno, uma descentralização do evento, dando mais visibilidade às localidades periféricas. Ele também dá destaque à sua relação de amor e esperança com o bairro Santo Antônio e com o espaço cultural, que aos poucos vai se consolidando.

Yago Rufato inicia a oficina reunindo as crianças que frequentam o Espaço Prainha com uma brincadeira envolvendo balões - Foto: Pedro Olavo/Agência Primaz

Cia Lamparina

Fundada em 2012, a Companhia (antes chamada de Nau dos Sonhos), começou com uma caixa de lambe-lambe, com a apresentação de teatro em miniatura “Sonhos de Voar”. Já no ano seguinte, foi contratada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) para realizar um espetáculo sobre Dirceu e Marília, que conta a história de amor entre Maria Dorotéia Joaquina de Seixas e Tomaz Antônio Gonzaga, um inconfidente, que se passa no século XVIII e tem Vila Rica como cenário.

A partir de então, a companhia passa a focar na educação patrimonial. Em 2018, com o lançamento de sua sede, localizada no Largo de Marília de Dirceu, em Ouro Preto, cerca de 15 cursos começaram a ser oferecidos, incluindo palhaçaria, teatro, maquiagem e perna de pau, além de promover a mostra Teatro em Minas.

A companhia foi aprovada no edital Aldir Blanc após ser premiada pela Funarte e, assim, pôde realizar a II Mostra Teatro em Minas, com participação de mais de 60 artistas, produção de obras de nove dramaturgos e premiação de 18 cenas curtas dentro do festival.

A mostra Teatro e Pertencimento, também premiada pela Funarte, reuniu todas as obras produzidas pela companhia durante a pandemia. Bruno Regenthal explica que foi preciso recorrer ao audiovisual nesse período, como forma de manter as atividades da companhia. Ele conta também que, após a saída de alguns integrantes, o grupo busca refazer os espetáculos depois de dois anos de interrupção e reativar suas oficinas na sede, atualmente localizada no bairro São Cristóvão, em Ouro Preto.

Cria

O Centro de Referência à Criança e ao Adolescente (Cria) é um braço da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania, destinado ao atendimento de crianças e famílias em situação de vulnerabilidade. Para ter acesso às atividades disponíveis, realizadas no contraturno escolar, basta que os pais ou responsáveis pela criança se apresentem no Cria ou nas sedes dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) com a documentação necessária para fazer a matrícula.

Espaço Prainha

Funcionando em anexo à Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira, no bairro Santo Antônio, o espaço cedido pela Prefeitura de Mariana começou a ser idealizado em 2018, e teve apoio da Fundação Renova, do Instituto Elas, da escritora Andreia Donadon, do vereador Cristiano Vilas Boas e da vizinhança. Nele são realizadas atividades para preencher o tempo ocioso das crianças da localidade, além de servir como espaço para lanches e para a leitura. Podem participar das atividades crianças a partir dos sete anos, através de inscrição presencial aos domingos.

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