- Mariana
Feiras livres movimentam economia, gastronomia e cultura de Mariana
Da Noturna, passando pela Feira de Sábado até a de Artesanato, opções não faltam para atender turistas e, é claro, a comunidade marianense
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A Feira Noturna acontece na Praça dos Ferroviários nas quintas-feiras à noite, das 17h às 23h. Ela busca restabelecer emocional e financeiramente os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, além de incluir sede e comunidade dos distritos nos impactos do desastre. “É uma feira consolidada, tem o apoio e a admiração da população. É totalmente direcionada à família marianense, tem diversão para todas as idades”, afirma Milton Manoel de Sena, 66, um dos fundadores e administradores do evento. Ele também dá um retorno sobre a quantidade de clientes: uma média de 2000 pessoas distribuídas entre os 25 feirantes.
As noites de quintas-feiras contam com uma grande variedade culinária, desde diferentes sabores de pastéis a hambúrgueres, caldos de cana e feijões tropeiros. Atrações musicais também marcam o evento; no dia 28 de abril – retorno oficial após a paralisação devido à pandemia – por exemplo, a cantora Érika Curtiss esteve presente com sua doce voz para encantar os amantes da Feira Noturna.
Além disso, o evento colabora para a integração dos cidadãos marianenses, principalmente da comunidade com os feirantes atingidos pelo rompimento da barragem. Joelma Aparecida de Souza, 31, uma das trabalhadoras atingidas, relata como a feira a ajudou a se reerguer após o desastre de Fundão. “Nos ajudou a animar, conhecer outras pessoas… Porque além do valor financeiro, tem o social e cultural, que nos possibilita fazer amizades e sair da depressão de só ficar em casa”, explica a vendedora de feijões tropeiros, caldos, pães com linguiça, hambúrgueres e caipifrutas.
Feira de Sábado
Também com o objetivo de favorecer a economia local e aproximar a comunidade, há a Feira de Sábado. Conhecida popularmente como feirinha, ela ocorre todos os sábados no estacionamento do Centro de Convenções, das 5h às 12h. Seu foco principal é a venda de alimentos orgânicos e, na maioria das vezes, sem agrotóxicos. Além de frutas, legumes e verduras; produtos característicos da área rural como queijos, requeijão, geleias, plantas, substratos e pimentas são facilmente encontrados na feira.
A jornalista Ana Ribeiro, 32, graduada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também é feirante e trabalha no local, conta as vantagens de se comprar na feirinha em relação ao supermercado. “É melhor comprar aqui porque incentiva a economia local, já que são muitas as famílias envolvidas na pequena produção. Além disso, a produção é mais orgânica e realizada com adubo orgânico, sem defensivos químicos”, ressalta. Para Ribeiro, se o consumidor deseja uma alimentação saudável, comprar na feirinha é um dos primeiros passos para uma vida mais natural.
Ela explica como a exposição de seus produtos na Feira de Sábado aumenta a visibilidade de seu negócio. “Tenho pessoas que compram sempre de mim aqui, tenho até meu cartãozinho de fidelidade, que a partir da acumulação de pontos, o cliente ganha um brinde. Com certeza vender neste local aumenta o alcance do meu comércio”, conta.
Uma das clientes assíduas da feira é Antonella Tonidandel Schettini, 44. Frequentadora há mais de 20 anos, ela e sua mãe enxergam o evento com um valor emocional, pois ir à feirinha juntas aos sábados é algo rotineiro e que as une. “Eu venho sempre com a minha mãe, ela chega aqui e conhece todo mundo. Aí já vai conversar e contar histórias…”
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Para quem quer economizar, a feira é uma ótima opção. Com valores mais baixos em relação ao supermercado, ela atende a diversos públicos. Estudantes universitários, que geralmente têm um orçamento apertado, representam uma parcela dos clientes desse evento, principalmente por ser uma alternativa de qualidade e favorável ao bolso.
A estudante do 7° período de Jornalismo Yasmim Paulino, 22, defende a compra na feirinha em razão do preço ser mais acessível a seu orçamento, que é limitado devido a outros gastos além da alimentação. Assim como Yasmim, muitos outros alunos na mesma situação precisam economizar.
Com muitas variedades de alimentos, o evento chama atenção por ter um cardápio que remete à “casa de vó”, com biscoitos e bolos caseiros, feitos até em fogão a lenha. Os pastéis também estão muito presentes, ofertados em diversos sabores pela manhã.
Os impactos da pandemia
No período em que o coronavírus estava no auge da taxa transmissão – 2020 a 2021 – diversos eventos foram paralisados devido à necessidade de proteger a população do contágio. Dentre eles, as feiras de Mariana.
Fernando do Carmo da Silva, 29, feirante que assumiu o posto por meio de um negócio familiar, enfatiza como a pandemia de covid-19 afetou drasticamente a feirinha. “Minha mãe é de idade, então era perigoso ela vir, por causa da saúde dela. Assim como ela, o público mais idoso, que era maioria na feira, não saía de casa e aí foi perdendo o movimento”, ressalta. Além disso, Fernando destaca que a paralisação da feira também gerou danos psicológicos aos trabalhadores e aos consumidores. “Vir para cá aos sábados é como uma terapia para nós, e perder isso repentinamente foi desolador tanto financeiro quanto emocionalmente”, conta.
Como alternativa para tentar restabelecer a feira no auge da pandemia, os clientes procuravam comprar dos mesmos feirantes por meio do sistema de entrega. Antonella, por exemplo, disse que entendia como essa paralisação prejudicava os trabalhadores e tentou sempre ajudar os produtores locais.
Feira de Gastronimia e Artesanato
Já a Feira de Gastronomia e Artesanato é mais voltada para a venda de produtos artesanais, como toalhas, enfeites, bolsas de crochê e tapetes. Nela, também há comidas típicas da região: quitandas, pães, bolos, salgados e cervejas. Antes de seu retorno no final de maio (21/05), no evento Mariana Viva, dona Raimunda Maria dos Anjos, 69, mais conhecida como dona Dica, contava com ansiedade para a volta da feira. “É ótimo porque a gente socializa com o pessoal de outros distritos que vem para vender e consumir, então a gente sentiu falta nesse período de pandemia”, afirma.
A feira também é importante para dar mais visibilidade aos produtos artesanais, que, segundo Maria do Carmo, 70 – dona da loja Feira Marte – são mais valorizados por turistas do que por moradores locais. Em entrevista, a artesã afirma que o período da pandemia da Covid-19 impactou negativamente as vendas, já que, por não acontecer a feira, o alcance da produção diminuiu e o movimento caiu bastante. Ela também relata que com o controle do coronavírus e o consequente retorno das atividades presenciais, seu comércio está se restabelecendo aos poucos.
A Feira de Gastronomia e Artesanato, por exemplo, voltará a acontecer com a mesma periodicidade de antes da pandemia, uma vez no mês, na Praça da Sé. Assim, dona Maria do Carmo e sua amiga e companheira de trabalho, Neusa da Silva Lemos, 58, tecem suas bolsas e agasalhos, como toucas e cachecóis, ansiando pela próxima exposição cultural.
A prefeitura também comemora o retorno das feiras marianenses. “Elas trazem muita cultura local, artesanato, música e culinária mineira. A comunidade tem a oportunidade de expor e vender os seus produtos, isso contribui para a geração de renda, além de fomentar o turismo na região! Todos estamos muito felizes que agora as feiras podem acontecer novamente”, conta Danielle Herculano, assessora de comunicação da Secretaria de Cultura.
Maria Clara Soares Rodrigues é estudante do 3º período do curso de Jornalismo (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Universidade Federal de Ouro Preto). Esta reportagem foi produzida durante a disciplina Apuração, Redação e Entrevista