- Ouro Preto
Moradores de Santa Rita impedem instalação de hidrômetros da Saneouro: “Não vamos aceitar”
Comunidade do distrito de Ouro Preto luta contra a cobrança de taxa pelo serviço de água que a empresa pretende implantar
- Lucas Barbosa
- Supervisão: Rômulo Soares
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Veja o vídeo da manifestação dos moradores de Santa Rita, publicado pelo Comitê Sanitário de Defesa Popular:
Desde a última semana, funcionários da Saneouro iniciaram os trabalhos de implantação de hidrômetros e canos mestres pelas ruas da comunidade. De acordo com a moradora Claudiana Rodrigues Jacinto, não houve reação imediata da população, o que, de certa forma, causou estranhamento. “A gente viu eles furando a rua para fazer a adutora e colocando os hidrômetros. Foi a semana inteira acontecendo isso e eu mesmo me perguntando o motivo do pessoal da Rua Dom Veloso estar deixando isso acontecer, porque eles estão esperando hidrometrar 90% do município para eles começarem a cobrar”, afirmou à Agência Primaz.
Ainda foram realizadas conversas entre os populares e representantes legais da Saneouro, acompanhadas pela Polícia Militar. “A gente começou a conversar e chegou a informação que eles poderiam fazer da forma que eles haviam tratado de fazer, que é o cano mestre sem colocar o hidrômetro. Mesmo assim, a população não queria. Nós queríamos que eles fossem embora de Santa Rita sem mexer em nada. Mas como teríamos que assinar uma ocorrência, ninguém se dispôs a isso, e a Polícia não quis fazer em nome da comunidade de Santa Rita”, contou.
Após as reivindicações, o grupo de moradores conseguiu que a Saneouro interrompesse as obras em Santa Rita. Desde então, os funcionários da empresa não retornaram ao local para dar sequência aos procedimentos que vinham sendo realizados. As atividades devem seguir paralisadas até um novo consenso, que pode ser atingido em reunião que acontece na noite desta quarta-feira (17), a partir das 19h, marcada para as proximidades da Capela Santo Antônio.
Desejo da população
Segundo Claudiana, a vontade da população de Santa Rita é simples: a saída da Saneouro de Ouro Preto. Ela conta que os moradores locais não têm condições de arcar com as taxas que a empresa deve cobrar, ainda mais por conta do ofício que sustenta a economia local. “A nossa proposta é que eles vão embora e que não coloquem mesmo os hidrômetros. Não queremos pagar água, não temos condições de pagar água, principalmente pelo preço das simulações. Aqui em Santa Rita, a maioria, quase 90% da população, é formada por artesãs que vivem da pedra sabão. Para ter uma pedra sabão bem polida, gasta bastante água para lixar a peça, que fica por volta de 40 minutos embaixo da água. Os artesãos não vão ter condições de pagar”, desabafou.
Além dos hidrômetros, a Saneouro está construindo um poço artesiano em Santa Rita. Claudiana informou que os moradores questionam a obra, já que ela está sendo realizada em uma quadra do distrito. “A gente quer saber deles a questão do poço artesiano que estão furando em via pública. Porque a quadra ‘Gonzagão’ [local em que o poço está sendo perfurado] é pública, e a gente quer deles os documentos de quem deixou eles furarem esse poço artesiano lá na quadra. Essa quadra fica na saída de Santa Rita para a localidade do Pasto Limpo. Esse poço artesiano está sendo furado próximo ao rio Cuiabá. Me parece que tem, do rio até onde o poço está sendo furado, uns 30 metros”.
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Luta solitária
A moradora ainda disse que a comunidade não tem apoio necessário dos membros do poder público de Ouro Preto. Para Claudiana Rodrigues Jacinto, que não poupou críticas ao prefeito Angelo Oswaldo (PV), Santa Rita é um distrito esquecido. “O prefeito veio, prometeu que iria chegar lá e tirar a Saneouro. Agora, a gente vê que o prefeito está praticamente junto com a Saneouro, só de ter liberado a quadra para fazer esse poço artesiano, a gente que não temos apoio nenhum (…) O Angelo, em vez de ajudar a gente, ele sumiu. Parece que ele morreu, que quem está exercendo a função é um irmão gêmeo dele. Ele não tem palavra, não tem diálogo com ninguém. Eu o conheço muito bem, sou amiga dele desde os meus 8 anos de idade. A gente não tem diálogo nenhum com ele”, afirmou.
O descaso, no entanto, não se limita ao poder executivo municipal ou apenas à gestão atual. Outras figuras ligadas a Santa Rita também foram citadas por Claudiana. “O apoio sempre falta. A gente já correu atrás dos nossos vereadores, representantes nossos, que são o Mercinho (MDB), o Zé do Binga (PV). Não posso falar do Reginaldo do Tavico porque, à época, ele não estava atuando quando veio a Saneouro. Mas eles se dizem do lado do povo, mas a gente vê que é um lado somente de palavras (…) Já tivemos o prefeito Zé Leandro, que era da cidade, não melhorou praticamente em nada nossa região”, relembrou.
Claudiana não abaixa a cabeça, mas admite que as dificuldades machucam quem mais precisa do amparo público. “Iremos lutar sozinhos. Se tivermos que vencer, vamos vencer sozinhos. Se perdermos, Deus abençoe que a gente consiga pagar essa bendita água”, finalizou.
A Agência Primaz entrou em contato com a Saneouro, mas não houve resposta até o momento desta publicação.