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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Risco de deslizamento em ocupação causa medo e revolta de moradores no Alto do Rosário

Mais de 60 pessoas residem na Travessa Tambu, local de difícil acesso e que teve obras descontinuadas

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Encosta sobre terreno com ocupação irregular, no Alto do Rosário
Sacos de cascalho e areia são utilizados para contenção do terreno - Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

A chegada da época das chuvas acende um sinal de perigo para os moradores de Mariana, em especial nos bairros mais altos, em que muitas pessoas ficam em estado de alerta por conta de riscos de deslizamentos e afundamento do asfalto. Esse é o caso da Travessa Tambu, uma rua localizada no bairro Alto Rosário, local onde residem mais de 60 pessoas e que apresenta um alto fluxo de água nos períodos de maior precipitação. Os moradores denunciam falta de cuidado do poder público e temem consequências graves causadas pela falta de um muro de contenção que não foi construído.

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Situação da contenção e risco de deslizamento da encosta

A grande preocupação de quem mora na Travessa Tambu é a falta de contenção entre a rua e um terreno que hoje é uma ocupação, localizada no nível mais baixo. Neste local, eles acreditam que uma chuva muito forte pode gerar deslizamento de terra, causando o afundamento do asfalto e, consequentemente, comprometendo a segurança de todos.

A moradora Elza Batista Da Silva acompanha a situação com muito medo. O problema mais urgente que ela aponta é a possível queda de um poste de energia que está alocado bem no meio do local onde deveria ser instalada a contenção. E, por isso, teme uma tragédia muito maior. “O perigo está aí. Fora o perigo de descarga elétrica, entendeu? Imagina uma casa energizada com os fios de alta tensão, é muito risco”, afirma.

Poste de energia com risco de queda por deslizamento da encosta - Fotos: Igor Varejano/Agência Primaz

A Agência Primaz consultou o engenheiro Leonardo Andrade de Souza, um dos autores do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR). Observando as fotos, ele afirmou que, apenas pelas imagens, a compreensão da situação não pode ser completa, sendo necessária uma vistoria técnica no local. Porém, explicou que o problema pode ter relação com o sistema de drenagem. Aparentemente, a via não tem nenhum dispositivo para captar o escoamento das águas superficiais, sendo este lançado de forma inadequada em um trecho da encosta. Com isso, a cada chuva mais intensa os problemas observados ao longo da lateral da rua aumentam. A evolução desse quadro pode gerar, inclusive, a instabilidade do poste de energia instalado no local, o que geraria risco para a residência em seu entorno.

Em contato por aplicativo de mensagem Newton Godoy, Secretário de Obras, afirmou que o órgão busca agir no “sentido de minimizar os impactos que possam ocorrer durante o período de chuva”. Seguimos providenciado levantamento, sondagens, topografia, projetos e a contratação dos serviços que possam ser feitos concomitantemente. Lembrando que as demandas crescem numa proporção maior do que a capacidade de atender”, completou.

Uma questão levantada pelas pessoas ouvidas na rua é a demora com que a Secretaria de Obras conduz a obra. De acordo com a presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Alto do Rosário, Kátia Maria dos Santos Quirino, 46, uma intervenção parecida foi realizada na mesma rua em 2014, em um trecho mais adiante. Desde então, os moradores esperam a construção do muro para impedir o escoamento descontrolado da água.

De acordo com a presidente da associação, a obra foi paralisada por uma decisão da secretaria. “Eles trouxeram os materiais, trouxeram tudo. Estava a firma toda aqui trabalhando. Aí na época entrou um secretário de obras, que era o Targino [Guido], falando que não era ‘pra’ fazer o muro que ali seria uma praça”.

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A Defesa Civil da cidade tem conhecimento desse problema na Travessa Tambu. Tanto Elza quanto Kátia já observaram, ou acompanharam, os profissionais em averiguações nos últimos anos. O diretor da Defesa Civil de Mariana, Welbert Stoppa, informou que o órgão “realizou o relatório de vistoria em que constatou o problema do deslizamento e encaminhou à Secretaria Municipal de Obras, que é responsável por definir as ações que serão executadas aí na Travessa Tambu”.

Newton Godoy, no entanto, atribui ao alto número de relatórios e demandas a demora da realização de todas as obras, além da ocupação. “A quantidade de demandas e de relatórios é muito grande. São mais de 300 em toda a cidade, sendo que muitas estão em condições de difícil atendimento por estarem em áreas invadidas e sem nenhuma condição de serem recuperadas com obra simples”, argumenta o secretário.

O próprio diretor da Defesa Civil ressalta que os problemas foram agravados por conta da ocupação irregular realizada no terreno. Para ele, “ao se escavar o terreno para a construção de um muro de arrimo e não terminar a sua execução, consequentemente nós cortamos um terreno assim bem a noventa graus. Por isso temos a grande chance de ocorrer deslizamentos”.

Encosta da Travessa Tambu, no Alto do Rosário
Vista da encosta da Travessa Tambu, a partir da parte do local onde seria uma praça - Foto: Igor Varejano/Agência Primaz

Os moradores da rua, porém, informaram que esta ocupação ocorreu após o início das obras em outros trechos da Travessa Tambu. Kátia, que acompanha a situação há muito tempo, disse que a praça que foi prometida ali jamais teve sua construção iniciada. “Aí a praça virou o quê? Deixou a obra e virou ocupação. Virou ocupação, porque se tem um lugar [sem utilização], o morador vem construir mesmo. Aí, como que vai construir praça ali agora? Não tem como construir. Então agora eles têm que construir o muro de arrimo”.

Sobre a situação das ocupações, o secretário diz haver um problema ainda mais grave que é maximizado pela não organização de programas sociais e de infraestrutura, causada pela sucessão de comandos interinos na cidade. Ele citou a descontinuidade do Reurb (Regularização Fundiária Urbana) como uma das causas para a perda de controle do poder público nessas áreas.

O processo natural, em caso de ocupação de área de risco, segundo Newton Godoy, é desenvolvido de forma conjunta por mais de uma secretaria municipal. “Algumas demandas são atendidas e providências de segurança dos moradores são solicitadas nos períodos de risco, para que as famílias não continuem nos locais. A Secretaria de Assistência Social atua de forma a propiciar a acomodação ou o pagamento de aluguéis sociais nesse período”, esclarece.

O medo e a preocupação das mais de 60 pessoas que moram na Travessa Tambu ainda estão longe de acabar. No entanto, houve mais uma movimentação da Secretaria de Obras no sentido de continuar a obra parada. O responsável pela pasta afirmou que, nessa terça-feira (22) foi realizada uma visita técnica ao local e que “estão sendo preparados relatórios para a retomada do serviço. Muitos projetos já foram iniciados com topografia e projeto de orçamentação e estão na fila para serem executados”.

A imprevisibilidade da natureza ainda segue causando muita preocupação a todos que constroem suas vidas na Travessa Tambu. Elza demonstra o medo de quem se prepara, todos os dias, para ir buscar sua filha pequena na escola, com uma hora de antecedência. Uma outra moradora, não identificada, segurava um bebê no colo e também reclamou da falta de atenção do poder público e do alto preço do IPTU da região. Por isso a líder da Associação dos Moradores, foi categórica ao vislumbrar o pior: “Se aquilo ali cair, vão ficar 60 pessoas sem sair daqui. ‘Pra’ nada, né? De carro nem a pé. A maioria aqui, praticamente, tem carro, moto e criança pequena. A média de 60, 65 pessoas aqui vão ficar sem acesso, e não tem outro caminho não, ‘tá’? ‘Pra’ cá não tem nada. Se cair ali, isso aqui fica tudo bloqueado”.

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