- Ouro Preto
Saiba quem é Antônio Clésio, ouro-pretano preso pela Polícia Federal
Professor aposentado da UFOP é acusado de participação nos atos antidemocráticos em Brasília, no início deste ano.
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Foi preso, nessa terça-feira (14), Antônio Clésio Ferreira, ouro-pretano acusado de ter participado dos atos antidemocráticos em Brasília, no dia 08 de janeiro deste ano. Clésio foi preso horas depois de ter sido dado como foragido, após a Polícia Federal não o ter encontrado em casa durante a execução da 6ª fase da Operação Lesa Pátria. Clésio usou as redes sociais no início do ano para mostrar que estava em Brasília no dia dos ataques à sede dos Três Poderes. No início da manhã, moradores avistaram viaturas da Polícia Federal circulando no município. Clésio chegou a ser considerado foragido no começo da tarde, por não se encontrar em casa no momento, mas foi preso horas depois. Segundo informações obtidas pela Agência Primaz, junto ao escritório Landulpho, Gallindo & Oliveira Advogados Associados, Clésio foi encaminhado à Uberlândia para prestar depoimento.
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A fase da Operação Lesa Pátria, realizada nessa terça-feira (14), cumpriu mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em cinco estados brasileiros – Minas Gerais, Goiás, Sergipe, São Paulo e Paraná. Dentre os oito mandados de prisão, três foram cumpridos em Minas, sendo um deles contra Antônio Clésio Ferreira. Além do ouro-pretano, Celso Teixeira de Jesus e Laudenir Vieira Rodrigues também foram presos.
Realizada pela Polícia Federal, a operação tem como objetivo responsabilizar indivíduos que tenham participado, financiado ou fomentado os atos golpistas, e ainda aqueles que se omitiram diante dos crimes cometidos em Brasília. De acordo com o último balanço divulgado pela Polícia Federal, em 14 de fevereiro foram cumpridos 23 mandados de prisão preventiva, 3 de prisão temporária e 50 mandados de busca e apreensão.
A defesa de Clésio é formada por integrantes de escritório com sede em Brasília, já haviam divulgado nota de esclarecimento, no qual era negada a participação de Antônio Clésio nos atos, defendendo, contudo, a livre manifestação da oposição.
“Malgrado o Sr. Antônio Clésio Ferreira estivesse em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023, não veio a participar da invasão aos prédios públicos, não sendo de sua natureza participar de ato que atentem contra o patrimônio público. Como todos sabem, o Sr. Antônio Clésio Ferreira acredita que a oposição é importante para todos os governos, em razão da divergência de ideias ser a peça fundamental para a construção de melhores projetos e caminhos a seguir. Todavia, entende que mesmo nas disputas político–eleitorais devem exigir maior deferência à liberdade de expressão e de pensamento”, diz um trecho da nota, assinada pelos advogados Venicius Landulpho Magalhães Neto, Juliana Torres Galindo Moura e João Paulo de Souza Oliveira.
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Posição dos municípios não foi respeitada na repactuação
No documento, Antônio Clésio é colocado como “alvo de ataques injustificados nas ruas de Ouro Preto/MG, em grupos de Whats App, Sindicatos, Associações” e, segundo seus representantes legais, “manifesta o seu repúdio pelos atos antidemocráticos de depredação da sede dos três poderes, em Brasília/DF, e pugna para que os fatos sejam apurados e os responsáveis punidos na forma da lei”.
A nota, divulgada ainda em janeiro, é finalizada com a informação que estão sendo tomadas as providências jurídicas “necessárias à reparação dos danos praticados por aqueles que, utilizando-se de simples denuncismo, tentam imputar-lhe o cometimento de crimes sem qualquer prova ou fundamento”.
Nota oficial divulgada após a prisão de Antônio Clésio
A Agência Primaz recebeu, nesta quarta-feira (15), de Landulpho, Gallindo & Oliveira Advogados Associados, uma nova nota, datada de 14 de fevereiro, em que é manifestado o veemente repúdio às “injustas acusações realizadas” contra Antônio Clésio Ferreira, afirmando que “apesar se encontrar em Brasília no dia 08/01/2023, [Clésio] não participou de qualquer ato ilícito. Não adentrou em prédios públicos, não depredou patrimônio ou enfrentou as forças de segurança”.
Landulpho, Gallindo e Oliveira informam, ao final da nota, que “a defesa já está tomando as medidas judiciais cabíveis para que o mesmo responda o processo em liberdade e, consequentemente, provar a inocência“.
Antônio Clésio
“Professor Clésio”, como se denomina nas redes, é caracterizado como professor da UFOP, casado, e “Criador do Projeto Natal pra Todos”, que o levou a receber o título de cidadão honorário de Ouro Preto.
Durante a 1ª sessão ordinária de 2023 da Câmara Municipal, o SINDSFOP pediu a revogação do Título de Cidadão Honorário de Clésio, por sua ligação com as ações golpistas. No dia 11 de janeiro o sindicato já havia se manifestado a favor da retirada do título, em nota de repúdio divulgada nas redes sociais.
“A diretoria do Sindsfop considera um escárnio inaceitável a toda sociedade ouro-pretana, a manutenção do título de Cidadão Honorário de Ouro Preto deste indivíduo. Diante deste fato, o Sindsfop também encaminhou à Câmara Municipal de Ouro Preto, um pedido de retirada desta honraria, já que entende que a intenção do Sr. Clésio ao participar de atos golpistas está em total desacordo ao que se pretende com tal título de honra, sobretudo quando lembramos que Ouro Preto é berço da Inconfidência Mineira, movimento que lutou contra a tirania e não a seu favor”.
Vereadores como Luiz Gonzaga (PL), que concedeu o título e Júlio Gori (PSC) foram contra a retirada, e argumentaram que Clésio deveria ser julgado pela justiça. O parlamentar Wanderley Kuruzu (PT) defendeu a suspensão do título e ainda acusou Clésio de “golpista” por ter feito “convocação” para que as pessoas fossem à Brasília no dia do ato.
Em consulta processual no portal Jus Brasil, o nome de Antônio Clésio Ferreira aparece vinculado a 10 processos em andamento. Dentre eles, processos de usucapião, prestação de contas anual e execução fiscal.
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Posicionamento da UFOP e da Adufop
No dia 08 de janeiro de 2023, a UFOP divulgou, em seu site oficial, duas publicações referentes ao ato golpistas. A primeira delas, em nome da Associação dos Reitores das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Universidade manifestou o repúdio da reitoria à invasão e depredação dos Três Poderes em Brasília, nomeando como “terrorista” qualquer pessoa que tenha participado, financiado ou articulado os “atos criminosos”.
A segunda, intitulada “Retrocesso, jamais!”, assinada pela reitora Cláudia Marliére e pelo vice-reitor, Hermínio Nalini Júnior, expressa o posicionamento da instituição frente aos atos. “A Universidade Federal de Ouro Preto, diante de tais absurdos e barbaridades, se manifesta com veemência, engrossando o coro democrático que pede uma apuração rigorosa dos fatos, com a responsabilização de todos os envolvidos”. A matéria ainda conta com uma entrevista do professor de Direito Constitucional, Alexandre Bahia, concedida à TV UFOP, que faz uma análise sobre os atos de vandalismo do dia 08.
Até o fechamento desta matéria, a Universidade não se posicionou sobre a prisão do seu ex-funcionário.
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Ouro Preto (Adufop), em postagem publicadas nas redes sociais, em 12 de janeiro, manifestou “seu repúdio absoluto aos atos golpistas, terroristas, violentos e, por consequência, antidemocráticos ocorridos no último domingo Brasília-DF”, posicionando-se em nome do “Comitê Central de Mobilização de Trabalhadores e Estudantes da Região dos Inconfidentes, formado por coletivos populares, sindicatos, movimentos estudantis, associações de bairro, movimentos de mulheres e sociedade civil organizada”.
Em um trecho da manifestação, a entidade faz específica menção a Antônio Clésio Ferreira: “Esta moção de repúdio se estende ao cidadão e ex-candidato à prefeitura de Ouro Preto, Antônio Clésio Ferreira, que participou ativamente das ações golpistas bolsonaristas que vandalizaram os prédios dos três poderes da República e conspiraram contra as Instituições, no último domingo (08). Vale ressaltar que o mesmo compartilhou vídeos durante o atentado que exigia a intervenção militar e, consequentemente, a derrubada da democracia brasileira. A imagem de Clésio nos atos circulou em diversos grupos, sites de notícias e páginas nas redes sociais com o objetivo de identificá-lo para, assim, responsabilizá-lo e denunciá-lo à Polícia Federal”.
Confira, abaixo, a reprodução do vídeo divulgado por Clésio Ferreira em suas redes sociais, na manhã de 08 de janeiro:
Candidatura de Antônio Clésio à Prefeitura Municipal de Ouro Preto
Concorrendo pela Democracia Cristã, na chapa “Verdade, Inovação, Participação e Transparência”, Antônio Clésio Ferreira obteve 806 votos (1,90%), tendo como vice Geraldo da Consolação Gomes, superando apenas a chapa encabeçada por Suely Xavier (PSOL).
Na série “Entrevista Primaz – Política”, a Agência Primaz entrevistou Antônio Clésio e Geraldo Gomes, em 08 de outubro de 2020, com transmissão ao vivo pelas redes sociais.
Na ocasião, falando sobre a não realização de coligação com outros partidos, Clésio afirmou que “Até tentamos coligações. Conversamos com outros grupos, mas o que nos entristeceu, e que nos fez ficar chapa pura, é que os projetos dos outros não contemplam a inovação”.
Referindo-se à situação da cidade, na condição de Patrimônio Histórico Mundial, Clésio criticou o descaso da administração municipal à época (prefeito Júlio Pimenta) e anteriores, prometendo uma atuação inovadora. “O turismo é a nossa identidade. Ouro Preto é Patrimônio Histórico Mundial. E eu sinto muita pena de como essas últimas gestões deixaram o Patrimônio ao Deus dará. Se for ‘pra’ fazer do mesmo jeito que está aí, eu não quero ser Prefeito de Ouro Preto. Eu quero ser um inovador”, afirmou.
Confira a matéria “Entrevista Primaz – Política: Antônio Clésio e Geraldo Gomes – “Verdade, Inovação, Participação e Transparência” – Ouro Preto”, relacionada à entrevista com Antônio Clésio e Geraldo Gomes e acesse os links para assistir à íntegra do vídeo ou apenas ouvir o áudio.