- Mariana
Jornalista formado pela UFOP vence prêmio nacional com TCC sobre LGBTfobia nas escolas
O 4º Edital de Jornalismo em Educação premiou a reportagem multimídia que aborda as vivências de estudantes e professores LGBTQIAP+
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Percebendo a escrita como mecanismo para compreender suas próprias angústias, o jornalista e atual mestrando, Carlos Augusto Júnior, encarou as violências que ele e demais pessoas sofreram no âmbito escolar para produzir uma reportagem que desse visibilidade para essas histórias. Apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o curso de Jornalismo da UFOP, a reportagem multimídia “(Re)existência LGBTQIAP+ na Escola” conquistou a terceira colocação do 4º Edital de Jornalismo em Educação – Categoria Estudante, competindo com outros 62 trabalhos inscritos. A Associação de Jornalistas em Educação (JEDUCA), idealizadora da iniciativa em parceria com o Itaú Social, busca reconhecer os melhores trabalhos voltados para esse nicho.
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Para Carlos Augusto, ser reconhecido pela JEDUCA vai além do mérito, pois também manifesta respeito às vidas LGBTQIAP+ e apoia a luta a favor dos Direitos Humanos. “Como a temática da minha reportagem ainda ganha pouca visibilidade na mídia tradicional, saber que eu consegui ‘furar essa bolha’, por meio de uma reportagem digital, me traz muito orgulho. Fiz jornalismo para isso mesmo. A partir da diferença, consegui pautar o que a grande mídia finge se esquecer”, afirmou
Diante da crescente onda de ataques nas escolas no Brasil, a cobertura jornalística também se tornou pauta. Abordada de forma inconsequente, a temática exige um cuidado que a mídia tradicional, muitas vezes, não consegue invocar. A orientadora, Dr.ª Marta Regina Maia pontua a competência e sensibilidade do trabalho de seu orientando que vai em contrapartida esse tipo de abordagem. “O cenário de violência que presenciamos deriva de discursos de ódio contra a educação, contra os professores e as professoras, que vêm sendo fomentado há muito tempo, em especial, pela extrema-direita em nosso país. Os meios de comunicação convencionais, em geral, não têm realizado uma cobertura cuidadosa como o tema da violência exige. Nesse sentido, quando temos a oportunidade de acessar uma reportagem com a qualidade técnica, ética e estética como essa que o Carlos Augusto realizou percebemos que ainda há sentido em nossa atividade comunicacional”, declarou a professora.
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A reportagem é o resultado de uma pesquisa, realizada durante a pandemia da Covid-19. Sobre a relação de pesquisador e repórter, Carlos Augusto comenta como ambos os papéis caminham lado a lado. “A pesquisa me exige um senso mais crítico de análise, compreendendo o mundo de forma mais abrangente. A reportagem já me traz para os detalhes, para os casos em específico, permite a minha imersão enquanto pessoa, permite a inserção de várias falas e o melhor: um texto mais narrativo, o que alguns chamariam de literário”, explicou.
Imersão na reportagem
Sendo questionado pelo seu modo de ser durante a infância e adolescência, Carlos Augusto se encontrou no relato de suas fontes. Neste processo, também observou que não estava sozinho e que o TCC era uma forma de defender as pessoas que partilhavam esse mesmo lugar. “Com a reportagem, passados anos das minhas vivências, eu compreendo que não era somente eu quem convivia com a violência de gênero e liberdade sexual na escola. Eram muitos e muitas de nós”, ressaltou o jornalista.
Sua conexão com as fontes foi um processo de construção de um diálogo seguro, visando deixar todas as pessoas confortáveis durante a entrevista. “Foi preciso explicar para cada fonte a relevância da reportagem, o porquê de suas vivências serem tão importantes para outras pessoas e a contribuição que a matéria poderia trazer para uma sociedade mais informada. E como sabemos, quanto melhor informada uma sociedade, de forma responsável, mais políticas públicas e debates teremos em torno de temas como esses”, acrescentou Carlos Augusto.
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Através dos testemunhos de estudantes e professores LGBTQIAP+, a reportagem percorre as práticas de violência e silenciamento dessas pessoas no ambiente escolar. Um dos intuitos do trabalho, além de trazer esses relatos, era pensar em um produto jornalístico comprometido com os Direitos Humanos. “O Brasil é um dos países que mais mata LGBTQIAP+ no mundo, e quase nunca falamos sobre isso. Tratamos como casos individuais, quando na verdade a reportagem demonstra o contrário. São diversas pessoas que convivem ou conviveram com a LGBTfobia em suas vidas, sobretudo na escola”, ressaltou o autor.
A LGBTfobia e a falta de políticas públicas que apoiem a diversidade é um mecanismo de apagamento dessas pessoas. Na própria reportagem, Carlos analisa como a agenda conservadora do Governo Bolsonaro contribuiu com as práticas desse tipo de violência. “Quando uma pessoa trans, por exemplo, não chega até o ensino médio, isso é pensado pelo sistema. Não há nenhum mecanismo que preocupe com sua permanência nesses ambientes. Quando saem, o mercado de trabalho é ainda mais cruel. Talvez a universidade pública, hoje, contribua para sua permanência, com a existência das cotas, mas ainda assim é uma realidade muito aquém do que o Brasil necessita”, finalizou Carlos.
A reportagem completa está disponível online e pode ser acessada neste link.