- Mariana
Entrevista Primaz: Edson Agostinho
Prefeito interino de Mariana fala de seus planos e analisa a situação de instabilidade política do município
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Em entrevista exclusiva concedida à Agência Primaz, pouco dias após completar 100 dias de governo interino, o vereador Edson Agostinho (Cidadania) fala sobre as tratativas que o conduziram ao cargo; seu relacionamento com a Câmara, seus planos futuros e sobre as críticas feitas à sua forma de agir frente à Administração Municipal. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista realizada em 25 de abril de 2023.
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Como foram as conversas de bastidores da eleição de Edson Agostinho para presidente da Câmara, no final do ano passado?
Aquilo foi fruto de várias reuniões, sabe? Infelizmente, em novembro, eu perdi a minha querida mãe, e se ela estivesse viva, talvez eu não estaria hoje sentado nessa cadeira. Ela tinha pedido para eu não concorrer àquele cargo de Presidente de Câmara naquele momento, porque ela sabia que quem ganhasse, provavelmente tinha que assumir a cadeira do Executivo. Mas a gente está na vida pública há 22 anos, e a gente não pode se furtar nessas ocasiões da vida da gente. Então, como eu tive confiança daquelas pessoas, eu resolvi concorrer. Tanto que a gente tinha 8 votos, e acabou a gente tendo uma eleição [com o voto] dos 15 vereadores.
Foi um convite, ou o senhor colocou essa condição para integrar o grupo que se formava naquele momento?
Foi oferecido, eu não exigi. Foi me oferecido que, se eu fosse lá, eu seria o candidato, entendeu? Nunca cheguei impus, tipo “eu ‘tô’ vindo aqui, eu tenho que ser o candidato”. Não houve imposição.
Desde a eleição, o senhor caminhava junto com Juliano Duarte e Ronaldo Bento mas, ao longo desse tempo, houve um certo distanciamento deles em relação a você e a outros vereadores, como José Sales e Fernando Sampaio, por exemplo?
Não, em momento nenhum teve isso. Eu entendo que, desde 2014, sempre no segundo semestre do segundo biênio, [isso] sempre acontece. Em 2014 eu era oposição ao grupo que estava aqui [na Prefeitura]. E vieram quatro [vereadores] do grupo da situação, juntou com a posição, e nós ganhamos, onde fizemos presidente da Câmara o Tenente Freitas. Em 2018 houve o grupo de oposição, mais quatro da situação – eu, Juliano, o Admar, o Gerson Cunha e o Ronaldo -, com o grupo que era tinha Marcelo, o José Jarbas, Bruno e Daniele, e ganhamos a eleição.
Então, sempre no segundo biênio isso acontece. E, por incrível que pareça, em 2018 eu ganhei por unanimidade e em 2022 de novo. Política tem sempre tem essas composições, ‘né’? Agora, meu relacionamento com os vereadores é o mesmo. A gente vê que não é só aqui na esfera municipal, isso acontece também na esfera estadual e na esfera nacional.
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Olha, isso é um desafio, né? A gente não pode fugir da responsabilidade e nada acontece na vida da gente por acaso. Deus tem um propósito para cada um de nós, e eu estou aqui agora. Às vezes a gente sabe que pegar um governo em andamento, apesar que esse governo só foi isso, os dois antecessores também são vereadores, a gente está, como se diz, tocando o barco, né? Tentando fazer o melhor para nossa cidade, independente de grupo político, entendeu?
Acho que Mariana tem muita coisa ‘pra’ ser feita, e eu não vou resolver os problemas todos de Mariana. E quem passar aqui não resolve tudo não. Problema nós vamos ter sempre, e a gente tem que procurar soluções para alguns casos, né? E a gente já vai caminhando, fazendo as coisas aí dentro do possível, para dar uma resposta à sociedade. Às vezes a gente tem críticas, mas as críticas, desde que elas sejam construtivas, eu não tenho medo, porque as críticas, às vezes, te ajudam a caminhar, entendeu?
Eu acho que o vereador é livre, ele tem o seu direito de fazer o trabalho dele. Se quiser somar com a gente, nós estamos de braços abertos. Agora, ele é livre. Se ele não quer apoiar o governo mais, se ele é independente, eu respeito a opinião dele. Mas tem coisas que a gente tem que fazer tomar decisões. A gente está tomando decisões em prol do coletivo, a gente não está aqui fazendo aqui um trabalho ‘pra’ minoria não. A gente tem que agradar a maioria, esse é o propósito. Não sei por que teve disso isso, mas respeito a opinião dele.
Na entrevista que concedeu à Agência Primaz, ele fala em três situações - campo de Cachoeira do Brumado, reservatório de água do bairro Rosário e UPA’s em distritos -, dando a entender que deixaram de dar a ele o crédito devido por ações feitas no ano passado. O senhor acha que isso foi um lapso de sua administração, ou que é vaidade dele?
Não, não acho. Ronaldo é um cara muito tranquilo, e a gente conhece o trabalho dele, tem esse serviço prestado no setor privado e agora está aí no setor público. Na verdade, a obra do Campo de Cachoeira foi suspensa por causa das chuvas. Como é que você mexe com a obra na época de chuva, ainda mais de drenagem? A caixa d’água foi inaugurada, e hoje nós estamos fazendo o trabalho para colocar água lá, mas não teve nem inauguração, não teve nada. Nós fizemos lá um teste, hoje agora mesmo o SAAE está lá fazendo teste, fazendo a análise se realmente essa água já pode ser distribuída para a população. E se tiver que fazer algum evento lá, todos aqueles que contribuíram vão ser convidados.
Eu acho é um momento até muito importante, que deve sim fazer alguma coisa para se comemorar, já que essa falta de água no Rosário é uma coisa muito triste. Não quer dizer que nós estamos resolvendo 100% a situação, mas eu creio que vai amenizar bastante essa situação. Nós estamos chegando aí num período de seca e a gente já tem que estar trabalhando ‘pra’ evitar que chegue ao ponto que chegou em anos anteriores.
Não vou citar mais nomes, mas gostaria que o senhor fizesse considerações sobre atuação de alguns vereadores, inclusive do seu partido, que têm se mostrado bastante críticos às ações do atual governo. Inclusive porque quase 50% do seu secretariado é composto por pessoas que estão no cargo desde o início de 2021. Ou seja, passaram pelas administrações interinas anteriores. O senhor acha que a relação entre Legislativo e Executivo está ficando mais fraca?
Eu não vejo isso não, mas eu acho que agradar todo mundo é impossível, né? Eu fiz algumas trocas que eu achei que deveria fazer, alguns foram mantidos, e são pessoas que a gente conhece o currículo deles, sabe da competência de cada um. Às vezes, algumas decisões que a gente toma não agradam, mas são decisões que têm que ser tomadas.
Agora, em relação às críticas, outro dia eu falei numa reunião que eu aceito a crítica, a crítica é bem-vinda. Mas eu estou vendo críticas… Eu perguntei para um vereador se a falta de água em Mariana começou só em 2023, se só está faltando agora? Está faltando desde 2022, 2021, 2020, 2019… isso aí é longo! Os buracos na cidade de Mariana só apareceram agora em 2023? “Mas você, como vereador, nos dois primeiros anos, eu nunca vi você pegar o microfone ‘pra’ falar falta de água. Por quê só agora, no meu governo, você vem falar de falta de água, de buraco nas ruas?” Está tendo sim, uai! Mas, então por que só agora? Eu sou vereador, mas pergunta ao Ronaldo se algum dia eu peguei o microfone ‘pra’ criticar o governo dele. Primeiro eu vou chegar nele e dizer, “olha, ‘tá’ acontecendo isso, isso e isso. Isso aqui procede?”. O mesmo eu falo do Juliano.
Mas, talvez seja pelo fato de que estamos aí prestes a ter uma eleição extemporânea temporárias, ninguém sabe se vai ter, ou até uma eleição indireta na Câmara. O fato é que ninguém sabe o que vai acontecer com Mariana por esses dias, ou até no final de 2024. Talvez seja esse aquecimento, esse calor [de campanha), né? Eu aceito [as críticas], só que eu falo, eu falo uma coisa: Mariano não começou a faltar água no meu governo não. Essa falta de água, esses buracos nas ruas, isso sempre teve. Mas nós estamos fazendo a Operação Tapa-Buraco, gostaria até de parabenizar a empresa, porque está fazendo com qualidade. Está demorando, mas não está só chegando e jogando asfalto não, ‘tá’ preparando o terreno ‘pra’ depois colocar o asfalto. Nas estradas dos distritos não teve problema só no meu governo não, entendeu? Então, eu gostaria que isso aí fosse avaliado não só no meu governo, mas levado ao longo dos anos anteriores.
O senhor acha que esse seu estilo de conversar, de falar baixo, de não ficar aparecendo todos os dias nas redes sociais, talvez esteja passando uma certa imagem de falta de ação, de falta de comando? Como o senhor responde a esse tipo de opinião ou imagem transmitida?
Eu discordo! Tudo que vem aqui, tudo que passa aqui, sou eu que tomo todas as decisões. Mas eu gosto de ouvir o secretário da pasta, porque ele é quem está o dia a dia. Eu não posso chegar lá, talvez contestar a coisa que o cara está fazendo. Eu gosto de chegar lá e falar ‘procede isso aqui…, eu estou pensando em fazer isso aqui…’ Tem que ter algum diálogo, não é chegar e falar que é eu quero desse jeito, que tem que ser desse jeito não. De repente eu posso dar errado. Se não fosse se não fosse para eu ouvir o secretário, para o secretário gerir a pasta, não precisa de secretário, vou gerir sozinho entendeu?
Até porque nós temos muitos secretários experientes aqui, que não estão aí pela primeira vez. Nós temos secretários que estão aí há oito, dez anos, e conhecem sua pasta, entendeu?
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Qual é o lema de Edson Agostinho, qual é o norte de Edson Agostinho, seja para cento e vinte dias já decorridos, seja para mais cento e oitenta, seja até dezembro de 2024. Qual é a principal orientação que você passa para os seus secretários?
Eu penso o seguinte: se eu for sair amanhã, ou depois, o meu ritmo vai ser o mesmo, certo? Ah, vai ter eleição no mês de junho. Ah, vou começar a fazer correndo. Não, eu vou manter o meu ritmo de fazer, porque eu acho que a gente tem que ter compromisso de dar sequência ao que o outro iniciou. É o princípio da continuidade. O Ronaldo deixou o asfalto lá da Vargem iniciado, mas nós estamos lá mexendo. Está fazendo a drenagem, para depois começar a asfaltar. Nós estamos fazendo o campo de Cachoeira, a própria caixa d’água do Rosário já está cheia. Nós já estamos preparando a outra de um milhão de litros, também para ser abastecida. Então a gente tem que dar sequência naquilo.
Agora, se eu for sair amanhã ou depois, o meu ritmo vai ser o mesmo. Algumas pessoas falam: ‘ah, você vai sair em julho, faz isso, faz aquilo!’ Não, eu tenho que ter compromisso, entendeu? E nisso aí eu não vou ficar correndo, começar uma obra aqui e deixar tudo inacabado.
Entre essas ações que ainda não foram iniciadas na prática, mas que já há algum tempo vem sendo desenvolvidas no município, qual delas você gostaria muito que tivesse pelo menos um início de efetivação? Qual delas daria ao senhor um certo sentimento de orgulho, e de dever cumprido?
A obra da estação de tratamento de esgoto é uma obra importantíssima, que está para ser iniciada, e eu me sinto muito honrado, sabe? Mas o meu grande sonho mesmo, é a ver os seiscentos mil litros de água, lá do loteamento Vaguinho, serem bombeados para o alto do bairro Cabanas, porque a gente sabe o que aquela população passa.
Não só bairro Cabanas, mas nós temos esse problema urgente, e que está sendo resolvido. Já foi feito estudo lá, e dá entre seiscentos a setecentos mil litros de água por dia, a um preço de quinze mil de aluguel no terreno. Então, dentro desse tempo nós podemos estar tirando quatro ou cinco caminhões-pipa [do abastecimento], o que daria aí na faixa de duzentos mil mensais. Eu acho que todas as obras [em andamento] são importantes, mas o grande sonho meu, é com essa água usada para abastecer o bairro Cabanas. Sem contara que também vai, com isso, melhorar a qualidade do abastecimento para outros bairros.
O senhor mencionou a questão das eleições e, de forma bem direta, Edson Agostinho é candidato numa eleição extemporânea, ou em 2024?
A gente depende de grupo, de nome, de pesquisa, sabe? Não adianta eu falar que eu quero ser candidato se eu não tiver um grupo que me apoie, se eu não tiver uma aceitação. Não adianta eu querer só por querer. A gente tem que sentar e ver quais são os nomes que estão aí para compor, e não tenho vaidade. Eu estou aqui hoje, mas tiver falarem que fulano está com aceitação melhor, por que não caminhar junto? Nós temos que pensar muito, a gente não pode ter vaidade, entendeu? A gente tem que pensar na nossa cidade, para melhorar muita coisa para o nosso cidadão.
Mas se o seu nome for colocado, o senhor, digamos assim, desobedeceria a sua mãe de novo?
Infelizmente eu não tenho minha mãe hoje. Mas, se realmente mostrar que eu tenho chance, que eu tenho apoio, eu serei candidato sim, por que não? E tenho respeito por outros nomes também, lá na Câmara mesmo nós temos mais nomes. Nós temos bons nomes, como o Fernando [Sampaio], o Ronaldo [Bento] que já esteve aqui. Tem o Marcelo Macedo, tem o Preto [Manoel Douglas], que não sei se pretende. Mas, quero deixar claro aqui que nenhum desses me falou que é candidato, nós estamos citando nomes que poderiam ser considerados. Nós temos a Sônia Azzi, que já candidata a prefeito em 2008 ou 2012, foi até muito bem votada.
Temos bons nomes, nós temos aí, por exemplo, o Cristiano [Vilas Boas] que foi vice do Celso [Cota], mas não sei se ele pretende ser candidato. Nós temos o Bruno [Mol] que também foi candidato em 2020. Então, a gente tem que compor, que analisar bem para o bem de Mariana.
Prefeito, qual é a mensagem que você deixaria, nesse momento, para a população de Mariana, em termos do que Edson Agostinho está fazendo e pretende fazer?
A mensagem que eu deixo é que eu tenho eu tenho sonhos de fazer algo bom para a nossa cidade, e Mariana precisa que muita coisa seja feita. Às vezes o tempo que a gente está aqui não dá tempo de realizar tudo, mas queria dizer para a população de Mariana que a gente tem um compromisso. Às vezes a gente tem falha, a gente é ser humano, a gente erra. E naquilo que às vezes eu errei, eu tenho a humildade de pedir desculpa também. E aquele que tiver uma ideia boa, que pode ser uma solução para alguns problemas de Mariana, que nos procure, que dê sua opinião.
Às vezes o cidadão que está lá fora tem mais visão do que a gente. Que traga essas ideias ‘pra’ gente discutir, entendeu? ‘Pra’ gente tentar implementar, porque pode ser uma coisa que a gente não está enxergando.
Para finalizar, aproveitando o gancho do título desse livro que está aqui em cima de sua mesa, chamado “Lições que a vida me ensinou”, em termos políticos, qual foi a grande lição nesses seus 22 anos de vida pública?
Eu diria que a vida me ensinou que você não precisa de usar os seus companheiros como escada. Que você tem que ser humilde, que você não precisa mudar por ocupar cargos políticos, que você não precisa mudar as suas ações e suas atitudes, entendeu? Porque, às vezes o poder acaba subindo na cabeça. Nós políticos não precisamos disso não.
A gente tem que continuar sendo a mesma pessoa, sendo aquilo que a gente aprendeu com nossos pais.