UFOP discute proposta de oferecimento de ensino remoto

Período Letivo Especial (PLE) pode ser implantado em agosto/setembro, com oferecimento de atividades curriculares online

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Portaria do Campus da UFOP em Ouro Preto - Fonte: Reprodução/Facebook

A proposta apresentada pela Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) foi discutida nas unidades acadêmicas dos campi de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade. A ideia é instituir um “Período Letivo Especial na Graduação por meio de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, no contexto da pandemia da Covid-19, no período de 17 de agosto a 25 de setembro de 2020”, conforme documento apresentado aos diretores das unidades acadêmicas, em reunião realizada no dia 22 de maio.

A iniciativa foi justificada como uma medida que poderia “diminuir o fluxo de pessoas em atividades presenciais futuras”, com caráter voluntário dos professores, em termos de oferecimento de disciplinas na modalidade chamada de ensino remoto, e dos alunos e alunas em relação à possibilidade de cursar até duas disciplinas no PLE. Para viabilização da oferta das disciplinas, além da adesão das unidades acadêmicas, a UFOP está levantando as condições dos discentes em termos de acesso à internet e deverá promover cursos de capacitação dos docentes. O prazo para a manifestação das unidades acadêmicas foi encerrado nesta quarta-feira (10).

Tânia Rossi Garbin, Pró-Reitora de Graduação, informou à Agência Primaz nesta sexta-feira (12) que “a maioria das unidades teve um posicionamento a favor da oferta [do PLE], só que de uma forma muito diferente umas das outras”, ressaltando que ainda não é possível ter um panorama global das respostas, inclusive por causa do feriado de Corpus Christi. “Na segunda feira [dia 15] é que vamos fazer uma análise mais detalhada desse material”, informou Tânia. Mas adiantou que foram apresentadas muitas sugestões para aprimoramento da proposta e que nenhuma das unidades acadêmicas se mostrou totalmente contrária à ideia, embora “algumas poucas unidades ainda não tenham se manifestado” ou não tenham encaminhado todas as informações solicitadas”.

A Pró-Reitora acrescentou que essa situação já era esperada, uma vez que a proposta inicial não estava totalmente fechada, sendo admitidos ajustes inclusive em relação à data de início do PLE e mesmo de sua duração.

Unidades Acadêmicas

A UFOP tem 11 unidades acadêmicas, sendo oito em Ouro Preto, uma em João Monlevade e duas em Mariana (Instituto de Ciências Humanas e Sociais – ICHS – e Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA). De acordo com o Prof. Luciano Campos da Silva, Diretor do ICHS, a proposta foi discutida e aprovada no Conselho Departamental, mas a posição final inclui uma série de sugestões apresentadas à administração da UFOP. Entre elas que o oferecimento das disciplinas não seja voluntário por parte do professor, mas de acordo com a decisão das assembleias departamentais, como previsto no Estatuto. “Não há que se falar em direito de escolha do professor, a assembleia departamental decide”, afirmou. Além disso, segundo Luciano, o ICHS sugere que os alunos possam cursar até três matérias e que disciplinas não previstas no regime presencial possam ser oferecidas no PLE, de modo a atender situações específicas de alunos que estejam dependendo de poucas matérias para conseguir finalizar o curso. Outra preocupação relatada pelo Diretor do ICHS é como resolver a questão do acesso de alguns alunos ao ensino remoto, em função da precária infraestrutura em alguns locais, principalmente dos discentes mais economicamente vulneráveis.

Situação semelhante foi colocada pelo Prof. Thiago Augusto de Oliveira Silva, Diretor do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas (ICEA), situado em João Monlevade, revelando que aproximadamente 20% das disciplinas oferecidas em regime presencial deverão integrar o elenco do PLE. “A comunidade de João Monlevade está bem favorável a essa proposta, inclusive à possibilidade de várias ofertas de PLE se as condições [do isolamento social] continuarem as mesmas”, declarou. E também enfatizou a necessidade de treinamento dos professores. “Pedagogicamente falando, o ensino à distância é bem diferente do presencial. Então a gente precisa sim de uma capacitação tanto em instrumentos quanto em metodologias pedagógicas”, afirmou.

Levantamento das condições de acesso à internet

Arte: Mariana Paes/Agência Primaz

No dia 29 de maio a UFOP disponibilizou um questionário para levantamento de informações relativas às condições de acesso às tecnologias digitais de cada aluno da Universidade. De acordo com a divulgação feita, as respostas seriam utilizadas para “subsidiar as instâncias institucionais no planejamento das atividades presenciais — quando forem retomadas, na medida em que houver segurança sanitária para o retorno — ou na proposição de atividades remotas, com auxílio das tecnologias disponíveis e ao alcance dos estudantes”. O fim do prazo de coleta dessas informações foi inicialmente marcado para o último domingo (7), mas foi prorrogado até o dia 14, uma vez que pouco menos de 40% dos estudantes ainda não tinham se manifestado.

A Agência Primaz apurou que, dos 51 cursos presenciais oferecidos pela UFOP, a maior incidência de respostas (87%) foi dos matriculados no Bacharelado de Matemática, com a menor (40,5%) sendo observada no Bacharelado em Filosofia. De acordo com informações não oficiais, 62,8% dos 11.253 matriculados nos cursos presenciais responderam ao questionário, com 98% de respostas positivas quanto ao acesso à internet. A prorrogação tem o objetivo de buscar aumentar o número de respostas e também estão sendo estudadas outras maneiras de contato com os não-respondentes, em esforço conjunto da PROGRAD e das coordenações dos cursos.

Reações ao PLE

Ainda no dia 28 de maio, em nota conjunta, a Associação de Docentes (ADUFOP) e o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos (ASSUFOP) da UFOP, juntamente com o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), manifestaram posição contrária à implantação de atividades remotas nas instituições públicas de ensino. “Em um momento de brutal crescimento do número de casos de COVID-19 é justo agravar ainda mais todo esse quadro com a continuidade de um calendário acadêmico de modo improvisado, sem garantia de qualquer vantagem para a formação de nossas e nossos estudantes?”, questionaram as signatárias. Ao final da nota as entidades reafirmaram sua preocupação central com “o combate ao COVID-19 e o cuidado com o conjunto da população, sem deixar de defender o caráter público das universidades e instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica”.

Em ofício encaminhado à Profª. Cláudia Marliére, Reitora da UFOP, no dia 3 de junho, o Prof. André Mayer, Presidente da ADUFOP, relaciona alguns pontos “para reflexão de toda a categoria docente e da comunidade acadêmica como um todo”, chamando a atenção para quatro pontos centrais envolvidos na proposta de oferecimento do PLI, com ênfase para a “ausência de condições objetivas isonômicas” e a “contribuição para aumento do número de casos do coronavírus nas cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade”.

O documento afirma que a “Administração da UFOP não possui um diagnóstico que explicita a real condição dos docentes e discentes que possuem fácil acesso à internet” e que ela “deve saber que grande parte de seus alunos é oriundo de famílias de baixa renda ou classe média baixa, implicando tal situação em grande probabilidade de dificuldade de acesso às tecnologias necessárias para o ensino à distância”, concluindo que, como consequência da implantação do PLE, “os discentes retornarão para Ouro Preto, Mariana e João Monlevade onde possuem melhores condições de acesso à internet, seja em Repúblicas ou moradias coletivas e individuais”.

Em nota pública, professoras, professores, alunas e alunos do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto também manifestaram posição contrária à implantação do PLE, enxergando na iniciativa a intenção de “abertura para a adoção crescente e generalizada de uma modalidade específica de ensino, o chamado Ensino à Distância”, além de apontar ausência de “qualquer oferta séria de preparação da comunidade acadêmica (..); condições materiais, objetivas e subjetivas, de oferta e de acesso ao PLE e (…) consideração do contexto e dos impactos múltiplos e diversos de uma pandemia em franca expansão, nas suas particularidades em uma região marcada pela mineração extrativista que impacta fortemente a classe trabalhadora e as cidades mineradoras, atividade esta, que continua em pleno funcionamento em meio a pandemia”.

Em contato telefônico com a Agência Primaz nesta sexta-feira (12), Sérgio Neves, Presidente da ASSUFOP enfatizou todos esses aspectos, reforçou a questão do efeito de retorno de alunos às cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade, e insistiu no aspecto das desigualdades. “Isso só vai aprofundar a questão das desigualdades sociais que a gente já tem. Aquele aluno que não tiver acesso a essas atividades vai ficar no prejuízo em relação aos outros. Vai ficar discriminado em relação aos privilegiados que têm acesso à internet. Ou vão voltar para a UFOP, porque vão querer também os benefícios do período letivo especial”, declarou Sérgio Neves.

Nossa reportagem não teve retorno dos contatos feitos com a coordenação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFOP. Mas, com muito esforço, conseguiu o depoimento de Magno Guimarães, matriculado no curso de Serviço Social, que está há mais de dois meses na zona rural de Dionísio, município mineiro situado na região do Vale do Rio Doce. Magno diz que, nas atuais condições, só consegue acesso a áudio e, no máximo, baixar arquivos em pdf. Mas para isso precisa andar 3 km para conseguir um sinal de internet muito fraco. “Eu não sou totalmente contra [o ensino remoto] porque acho que uma hora a realidade se impõe. Mas, tem que ser feito de forma a atender pessoas como eu que não tem acesso”, finalizou o estudante.

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