A história das Festas Juninas

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A Festa Junina é hoje uma das maiores manifestações culturais do Brasil. A tradição começou na Europa, segundo alguns historiadores, antes da Idade Média, com a celebração pagã do solstício de verão no hemisfério norte, que é celebrado na semana de 21 de junho. Uma outra versão são as comemorações Romanas, quando se prestava culto à deusa Juno da mitologia romana. Os festejos em homenagem a essa deusa eram denominados “junônias”. Daí temos uma das procedências do atual nome festas juninas. A Igreja Católica, no final da Idade Média, acabou incorporando às festas atribuindo-lhes um caráter religioso, uma vez que não conseguia acabar com a sua popularidade.

Na península ibérica passou-se a comemorar o São João, chamando-lhe de festas joaninas. Em Portugal, a Festa de São João na cidade do Porto é uma das mais antigas e atrai milhares de pessoas que todos os anos. A Festa do Fogo, na região dos Pireneus, entre Espanha e França, ocorre todos os anos durante a noite do solstício de verão. Quando a noite cai, os habitantes descem com tochas acesas dos cumes das montanhas para as cidades, incendiando uma série de fogueiras preparadas da maneira tradicional. Estas festividades são encontradas por toda a Europa e sempre ao ar livre, com fogueiras, muitas comida e bebida.

Os jesuítas portugueses trouxeram os festejos joaninos para o Brasil. As primeiras referências às festas de São João no Brasil datam de 1603 e foram registradas pelo religioso franciscano brasileiro, frade Vicente do Salvador. A princípio a festa era só em Homenagem a São João. As homenagens a Santo Antônio e São Pedro só começaram posteriormente, mas como também aconteciam em junho passaram a ser chamadas de festas juninas. O curioso é que antes da chegada dos colonizadores, os índios do Brasil realizavam festejos relacionados à agricultura no mesmo período. Os rituais tinham canto, dança e comida.

A tradição junina brasileira homenageia, influenciada pela Igreja Católica, os três Santos nascidos em junho. As festas juninas começam, “oficialmente”, no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio e se encerram no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Já nos dias 23 e 24 é celebrado o dia de São João. Em algumas partes dos Brasil, principalmente no Nordeste, as festas juninas são chamadas simplesmente de “São João”. Caso de Campina Grande na Paraíba e Caruaru em Pernambuco que disputam o título de “ Melhor São João do Brasil”.

A Festa Junina, sofreu influências das culturas africanas e indígenas e, por isso, possui características peculiares em cada parte do Brasil. Mas ao contrário do que ocorre no hemisfério norte, aqui ela passou a marcar o solstício de inverno, ou seja, a noite mais longa do ano. Esta mistura de religiosidade e festividade profana, moldou uma festa com peculiaridades regionais e com grande influência de outras culturas.

Dos salões refinados da França medieval, vieram as danças, principalmente, a “Quadrille“, dança feita por quatro casais, daí a expressão “ Dançar quadrilha”. Aqui no Brasil se transformou em uma bailada de casais caracterizados com vestimenta tipicamente caipira.

As comidas são outro diferencial por região. No Sudeste e Nordeste, as comemorações são marcadas por comidas à base de milho, influência pela colheita e pela origem indígena do uso do grão, numa recuperação da antiga festa do milho, de tradição tupi. Alguns nomes dos quitutes são também de origem tupi: a canjica (do guarani: kangy = mole + kaa = planta); o curau (kure = ralado + u = comida), creme de milho ralado; a pamonha (pomonga = pegajoso). Outros alimentos elaborados com milho também aparecem, como o bolo de fubá, a pipoca e o milho verde assado na brasa. No Nordeste, com a influência africana, a canjica passou a ser chamada de munguzá, termo de língua banto. Em Minas Gerais são acrescentados o famoso pé de moleque e a paçoca de amendoim, alimento indígena. No Sul, é agregado o pinhão, alimento básico do povo Kaingang

As bebidas por sua vez, são influência europeia: Quentão e Vinho Quente, também tem origem em bebidas tradicionais da Europa como o inglês “Mulled Wine”, o alemão Glühwein, o francês “ Vin Chaud “. São bebidas servidas quentes tendo como ingredientes vinho tinto, mel e especiarias como gengibre, canela, cravo e cardamomo, entre outras. Originária da Grécia Antiga e muito comum entre os soldados das Legiões Romanas é servida em toda Europa. Aqui no Brasil, a bebida foi desmembrada em duas: a primeira o “Vinho Quente”, seguindo a receita europeia, e outra, com a substituição do vinho tinto por cachaça e do mel por açúcar, fazendo tradicional “ Quentão”.

A decoração com bandeirinhas vem de um ritual católico. Era comum nas festas juninas do século XIX que as imagens de Santo Antônio, São João e São Pedro fossem pintadas em grandes bandeiras coloridas. Essas bandeiras eram colocadas em água em um evento conhecido como lavagem dos santos. A ideia era a purificação da água e de quem se banhasse com ela. Com o passar do tempo, as grandes bandeiras – ainda presentes em alguns lugares – deram vez às famosas bandeirinhas, em alusão a esse ritual.

As fogueiras presentes nas festas juninas foram uma adaptação católica das festas do solstício de verão. Para os cristãos, a fogueira representa o nascimento de São João Batista. Isso porque Santa Isabel teria usado o recurso para avisar a Maria que seu filho ia nascer e de que precisava de ajuda no parto. Alguns contam ainda que a fogueira protege dos maus espíritos.

Já os balões e fogos de artifício, de origem chinesa, foram colocados nas festas juninas e serviam como uma forma de comunicação. Alguns eram soltos com o objetivo de avisar parentes e vizinhos da região que a festança estava por começar.

O casamento caipira: é uma sátira aos casamentos tradicionais. Santo Antônio ficou conhecido como o santo casamenteiro. Essa “fama”, segundo alguns religiosos, veio de pedidos feitos por moças ao santo em busca de noivo e marido. E há várias simpatias para o Santo Casamenteiro.

 

O mastro com três bandeiras e fitas coloridas representa os santos populares da festa: Santo Antônio, São Pedro e São João. Já o Pau de Sebo é um mastro untado de sebo (gordura animal) que se presta a uma atividade recreativa típica das Festas Juninas. De origem Ibérica é tradição nas festas juninas. A brincadeira consiste em subir num alto mastro de madeira com o objetivo de alcançar um prêmio colocado no topo.

As músicas típicas das festas juninas podem ser apenas cantadas ou também dançadas. No início do Século XX com a disseminação do acordeom (sanfona) no Brasil, a música junina, que já tinha um batuque da percussão africana e a toada Ibérica do violão e viola, tornou-se o que é hoje, com um ritmo próprio e inconfundível.

Aqui em Mariana, a tradição da festas juninas remota ao final do século XIX, influenciada pelas festas populares dos santos, principalmente Santo Antônio.

Uma das mais tradicionais quadrilhas acontece no subdistrito da Barroca com a Festa de Santo Antônio, com uma particularidade: a apresentação do Congado de Nossa senhora do Rosário. A cidade já teve, no seu calendário oficial, festas juninas como “ Sanfonando o Barroco” e “Arraiá do Carmo”. Cada bairro e cada distrito tem suas festas com muita tradição e especifidades.

Assim, quando pensar ou participar de uma festa junina, lembre-se que este Patrimônio da Cultura Brasileira é um grande caldeirão de raças, credos, etnias, apropriação e mistura de tradições. Em um país tão multicultural como o nosso, a Festa Junina é um grande mosaico de nossa diversidade.

(*) Cristiano Casimiro dos Santos é professor e editor da Revista Mariana Histórica e Cultural

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