O evento teve a participação de autoridades da área cultural federal e estadual
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A manhã dessa quinta-feira (28) foi marcada pela cerimônia de reabertura da Igreja de São Francisco e inauguração do Museu de Mariana. Depois de 14 anos fechada, quatro dos quais dedicados à restauração estrutural e de seus elementos artísticos, a igreja foi reaberta e volta a exercer sua função religiosa a partir de 04 de outubro. Já o Museu da Cidade, instalado no Casarão do Conde de Assumar, já está em pleno funcionamento, com promessa de várias atrações e previsão de utilização para o desenvolvimento de ações de educação patrimonial.
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Com atraso de mais de uma hora e problemas relacionados ao cerimonial, segundo informações a cargo do Instituto Pedra, a cerimônia de reabertura da Igreja de São Francisco e inauguração do Museu de Mariana teve a participação de autoridades da área cultural, entre elas a Ministra da Cultura, Margareth Menezes, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leandro Grass; o secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural, Henilton Parente de Menezes; o diretor de Economia Criativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Juca Ferreira, e o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis.
Além do prefeito Celso Cota (MDB), do vice-prefeito Cristiano Vilas Boas (PT) e do Arcebispo Dom Aírton José dos Santos, também marcaram presença deputados; vereadores de Mariana; prefeitos de cidades históricas; Jurema Machado, representante do Instituto Pedra, e Hugo Barreto, diretor presidente do Instituto Cultural Vale.
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Cerimônia de longa duração
A palavra foi concedida a todas as pessoas que ocuparam posição de destaque na cerimônia, constituído por cadeiras colocadas em frente ao altar principal da Igreja de São Francisco.
Primeira a discursar, Jurema Machado, do Instituto Pedra, entidade responsável pela captação dos recursos para as restaurações e implantação do Museu de Mariana, apresentou um retrospecto das ações realizadas desde 2016 e que culminaram com a concretização das restaurações e implantação do museu, ressaltando a participação da Prefeitura de Mariana e do BNDES. “Nós começamos a discutir esse projeto ainda no governo Dilma Rousseff, com o projeto PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] Cidades Históricas. E Mariana contratou os projetos ainda na gestão do Celso [Cota] (…) e nós buscamos o BNDES na expectativa de não interromper projetos importantes do PAC Cidades Históricas que estavam ‘pra’ acontecer. (…) E foi nesse momento, lá atrás, que entrou o BNDES com a decisão de apoiar o projeto e nos pediu ‘pra’ encontrar uma entidade da sociedade civil que apresentasse o projeto à Lei Rouanet”.
Comemorando o término das intervenções, a representante do Instituto Pedra, ressaltou a qualidade do trabalho desenvolvido na Igreja de São Francisco, a cargo da SEPRES Engenharia (intervenções estruturais e de instalações) e da Conservare (elementos artísticos). “Nós estamos vendo essa igreja em seu máximo esplendor, porque eu acho que ela nunca esteve restaurada de uma forma tão completa, envolvendo as questões estruturais, que eram problemáticas, mas toda a parte artística”.
Em relação à Casa do Conde de Assumar, ressaltou a importância da criação do museu e de sua ligação com a comunidade, que deve acontecer de uma forma ativa, diferente da que é estabelecida em outros tipos de museu. “O que é um museu da cidade? Não é um museu ‘pras’ pessoas se relacionarem com ele passivamente, como se aquilo fosse, uma representação de coisas das quais elas não fazem parte. É justo o contrário, é um museu ‘pra’ trazer os temas da cidade para o presente, ‘pra’ fazer com que a comunidade de Mariana se utilize cada vez mais dele, reveja, proponha, acrescente”, finalizou Jurema Machado.
Leandro Grass fez referência ao trabalho que o IPHAN vem desenvolvendo no Governo Lula, regatando obras, projetos e análises que se encontravam paradas na administração anterior e, assim como outros oradores, comemorou a recriação do Ministério da Cultura e a entrega dos bens tombados à população de Mariana. “Nós estamos hoje aqui fazendo história mais uma vez porque, ‘pra’ além dessa devolução que está sendo realizada de um bem cultural tão importante ‘pra’ cidade de Mariana, aqui também nós simbolizamos a retomada da cultura brasileira, da política cultural e da refundação do Ministério da Cultura e, também posso dizer, do IPHAN que embora não tenha sido extinto, migrou para o Ministério do Turismo e foi bastante enfraquecido”, declarou.
Também afirmou que, até 2026, um grande volume de recursos vai ser destinado à recuperação do patrimônio histórico e cultural brasileiro, com forte presença em projetos localizados em Minas Gerais. “A ministra Margareth participou, junto ao presidente Lula, do lançamento dos novos projetos do PAC, que nesta nova edição vem com uma visão da sustentabilidade, cultural, política e econômica. (…) Este novo programa trará para a cultura brasileira um aporte muito grande de recursos. Só para as ações de patrimônio cultural, de preservação, restauração, serão R$700 milhões nos próximos anos, até 2026. E aqui uma boa notícia pra Minas Gerais. Cinquenta obras das 140 que nós vamos realizar, 50 obras são de Minas Gerais”, anunciou.
Em seu pronunciamento, o prefeito Celso Cota agradeceu o apoio recebido do Governo Federal, via Ministério da Cultura, BNDES e Lei Rouanet, assim como do Instituto Cultural Vale, este último, em especial, com aporte de recursos para a restauração da Casa do Conde de Assumar e a implantação e viabilização do funcionamento do Museu de Mariana. Além disso, anunciou a implantação de disciplinas como educação patrimonial, afrobrasileira e ambiental em todas as escolas municipais, a partir do próximo ano, no âmbito do programa de ensino integral, ressaltando a importância do museu para o sucesso dessa iniciativa.
Última a discursar na cerimônia, Margareth Menezes retomou o tema da importânia do Ministério da Cultura. “Nós estamos fazendo uma reparação na questão do poder da cultura porque todas as cidades do Brasil, todas as regiões do Brasil tem as suas manifestações culturais, as cotas são importantes ‘pra’ gente fazer as reparações necessárias porque só assim a gente vai fortalecer toda a a identidade nacional, em todos os lugares”, afirmou.
A ministra ainda destacou a relevância da implantação do Museu de Mariana. “A importância de que é preciso valorizar as coisas que temos, e alimentar também as novas gerações para serem referenciadas pela história da sua cidade, do seu estado. Isso é muito importante ‘pra’ gente criar a nossa defesa em relação ao que somos, de onde viemos. Ssão coisas importantes na formação do nosso do nosso direcionamento como ser humano, como país, como cidadãos”, declarou Margareth Menezes.
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Políticas públicas
Entre os discursos do prefeito Celso Cota e da ministra Margareth Menezes, foram chancelados os seguintes documentos relacionados à cultura e à preservação do patrimônio material da cidade, com a participação do prefeito, vice-prefeito, ministra, arcebispo e presidente do IPHAN: Decreto de convocação da 3ª conferência de Cultura de Mariana, a ser realizada em 28 de outubro; Projeto de Lei que autoriza a aberura de crédito adicional especial para a execução das ações relacionadas à Lei Paulo Gustavo, no valor de R$555 mil reais; Termo de fomento para a restauração de 27 imagens que compõem os elementos artísticos da Catedral Metropolitana (Igreja da Sé), no valor de aproximadamente R$282 mil; Regulamentação da Lei Federal nº 10.639, incluindo a obrigatoriedade, no currículo oficial da rede municipal de ensino, da temática “História e Cultura afro-brasileira”; e Termo de compromisso entre o Iphan e a Prefeitura Municipal para restauração da Capela de Santana.
Em seguida ocorreu o descerramento das placas comemorativas da reabertura da Igreja de São Francisco e da inauguração do Museu de Mariana, sendo a ministra Margareth Menezes agraciada com esculturas do artista plástico marianense, César Augusto Guimarães.
Coletiva de imprensa
Depois da cerimônia realizada na Igreja de São Francisco, as autoridades presentes fizeram uma visita às instalações do Museu de Mariana e concederam entrevista coletiva à imprensa.
A reportagem da Agência Primaz questionou a ministra e o presidente do IPHAN a respeito de políticas públicas dedicadas à manutenção e conservação de monumentos históricos, de modo a impedir que cheguem ao estado de degradação observado anteriormente nos casos da Igreja de São Francisco e da Casa do Conde de Assumar.
“É uma satisfação de estar aqui nesse momento. Minas Gerais é um estado muito importante pra o Brasil, especialmente ‘pra’ nós, nessa nova gestão do Ministério da Cultura. E nesse momento, uma questão que nós conversamos, vamos pedir esse olhar também, além da restauração, vamos contar também com os entes para conseguirmos preservar, ‘pra’ que não se deixe deteriorizar. Então eu acho que isso é um compromisso que todos nós temos que também assumir”, respondeu Margareth Menezes.
Complementando a resposta, Leandro Grass ressaltou a importância de ações de preservação “Para nós, é muito mais interessante, até do ponto de vista econômico, do ponto de vista orçamentário, nós termos ações preventivas, ações de conservação, ações de educação patrimonial, do que fazemos até obras idênticas a cada ciclo de 10, 15 anos, nos mesmos bens culturais”.
De acordo com o presidente do IPHAN, cláusulas específicas estão sendo introduzidas nos novos contratos de recuperação e restauração de bens patrimoniais. “Então, o que a gente está conseguindo fazer nessa nova fase do PAC? Na contratualização dos municípios, ou das entidades que recebem os recursos ‘pra’ executar as obras, a gente tem inserido elementos de assistência técnica aos contratos, planos de gestão pra esses bens, principalmente quando nós temos elementos históricos muito sensíveis, em que a materialidade de de estrutura precisa ser cuidada de uma forma muito específica. Então, a gente tem articulado isso bastante, tanto quando a gente trata de bens culturais religiosos, em especial o patrimônio cultural católico”, declarou Leandro Grass.
Outro ponto abordado pela Agência Primaz na entrevista, foi a questão da sustentabilidade operacional do Museu de Mariana. Em resposta, Hugo Barreto, reforçou a missão da entidade a respeito do patrimônio cultural material e imaterial. “A visão do Instituto Cultural Vale, primeiro, é de apoiar a recuperação, revitalização e requalificação do patrimônio edificado, combinada com uma visão de patrimônio imaterial. E o nosso foco, prioritariamente, é tentar integrar isso, para que esse patrimônio edificado tenha vida e não tenha, daqui a cinco anos ter uma nova intervenção”.
Especificamente em relação à pergunta, o diretor presidente do Instituto Cultural Vale, esclareceu que a gestão será feita por uma entidade que também administra o Museu Boulieu, em Ouro Preto, informando que o instituto aportou recursos para manter vivo o museu. “O museu vai ser gerido por uma instituição local, o Instituto Aurum, que faz a gestão do Museu Boulieu, em que nós financiamos a obra de intervenção na edificação, e toda a operação do museu, inaugurado no ano passado, em Ouro Preto, tem sido feito com planos anuais em que o gestor é o Ministério da Cultura, e a gente vem apoiando. Nosso comprometimento é exatamente para que o museu siga vivo, e a gente, aqui em Minas Gerais, apoia onze museus. No caso de Mariana, nós aportamos R$2 milhões, exatamente ‘pra’ essa operação do museu, a partir da inauguração”, complementou Hugo Barreto.
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Museu de Mariana
Em entrevista concedida à Agência Primaz, Viviane Longo, museóloga contratada pelo Instituto Pedra para acompanhar a instalação do museu, explicou que a museografia foi desenvolvida pela empresa Expomus, de São Paulo, com acompanhamento e participação do Conselho Municipal de Patrimônio (Compat).
Ela também fez esclarecimentos sobre o conceito de “museu de cidade”, apontando as especificidades do equipamento, em comparação com os outros tipos de museus. “Existem várias tipologias de museu, A gente tem museus de arte, por exemplo, arte estática, arte contemporânea, arte moderna, e a gente tem também de história, museus de ciência e tecnologia, e aqui o Museu de Cidade. Ele se distingue dos demais porque ele traz uma proposta de participação pública maior, digamos assim, no sentido de que não é só a narrativa expositiva que fala sobre quem são as pessoas, qual a história desse lugar e desse território, mas que também seja um lugar que privilegie esses encontros e essa participação pública, se tornando um lugar de debate, um lugar de discussão, de construção mesmo, com essa possibilidade dos diversos grupos que compõem a cidade poderem participar e ocupar esse espaço para conversas, propor curadorias, propor pesquisas”, explicou Viviane Longo.
Responsável pelo Instituto Aurum, Edineia Barbosa falou como se deu o envolvimento da instituição na gestão do Museu de Mariana. “A prefeitura [de Mariana] precisava precisava de alguém, de um instituto, parceiro, que fizesse a sua gestão. Então, foi feito entre o Instituto Aurum e a Prefeitura de Mariana, um termo de cooperação técnica e nesse termo de cooperação técnica o Instituto teve a anuência da prefeitura ‘pra’ colocar o projeto em lei de incentivo, a gente aprovou o projeto na Lei Rouanet, e fizemos a captação [de recursos] com o Instituto Cultural Vale”, informou.
Em relação à programação, Edineia declarou que já estão agendados vários eventos, inclusive com a possibilidade de estender para Mariana, algumas das atrações que estão programadas para o Museu Boulieu, informando que a primeira delas, dentro do projeto “Sílabas e Sons”, é um bate-papo musical com a participação de Júlio Diniz e Zezé Motta, programado para o dia 10 de outubro, às 20h, com ingresso solidário (1kg de alimento não perecível).