- Mariana
Atingidos pela barragem de Fundão fazem balanço dos 8 anos do rompimento
Coletiva de imprensa com os membros da CABF mostra a luta das comunidades por reparação integral nesses oito anos desde o crime ambiental.
Membros da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) concederam, nessa quarta-feira (1º), na Casa de Cultura de Mariana, coletiva de imprensa para fazer um balanço sobre a situação das pessoas que foram afetadas e ainda sofrem com os danos decorrentes da ruptura da barragem das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton. A coletiva faz parte da campanha “Mariana 8 anos: A reparação na balança das Geraes”, organizada pela CABF e pela Assessoria Técnica Cáritas, Regional Minas Gerais.
*** Continua depois da publicidade ***
***
Como estão os atingidos 8 anos depois?
No dia 5 de novembro de 2015 aconteceu o que é considerado o maior crime socioambiental do Brasil. O rompimento da Barragem de Fundão alterou a fauna, flora e a vida de centenas de milhares de pessoas. No balanço apresentado pelos membros da CABF, Anderson Jesus de Paula, Luzia Queiroz, Maria do Carmo, Marino D’Ângelo e Manuel Marcos Muniz, destacam-se a frustração e as incertezas quanto ao futuro, além das injustiças, falta de penalização judicial e descaso com os modos de vida que as comunidades levavam anteriormente, que não são consideradas nas construções dos reassentamentos.
Ver Mais
Consulta paritária escolhe novos dirigentes da UFOP
Câmara arquiva pedido de investigação contra Juliano Duarte
Apenas Bruno e Roberto participam de debate em Mariana
Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.
Os membros da Comissão foram questionados sobre a necessidade de recorrer a uma ação coletiva em Londres para tentar uma indenização, sob a responsabilidade da Pogust Goodhead, especializada em causas coletivas relacionadas a direitos humanos e ambientais que representa mais de 700 mil reclamantes. “Na realidade, eu cheguei a acreditar na justiça do nosso país. Eu tinha muita esperança que a nossa Justiça fosse justa, mas ao longo desses anos eu vi que a gente morre e não recebe, não tem a reparação devida, porque cabe muito recurso. (…) A ação de Londres, acho que ela veio para lavar minha alma, eu busquei conhecimento sobre a justiça em Londres e é a justiça que funciona, pode ter seus defeitos, pode ter lados negativos. Mas, a partir do momento que der uma decisão lá em Londres, ‘tá’ prevista para outubro do ano que vem, tem que ser cumprida”, afirmou Marino D´Ângelo, acrescentando que a perspectiva de uma data certa vai “me libertar dessa loucura que por ironia do destino eu fui envolvido”.
Luzia Queiroz também expôs as condições que viveu nos últimos oito anos e as expectativas para o futuro: “Hoje eu não posso mais voltar a vida que eu tinha, não tem tempo. Eu não tenho tempo, estão me devolvendo uma estrutura lá [no reassentamento de Paracatu] que eu não vou conseguir fazer o que eu fazia. Então, eu não sei o que que eu vou fazer da minha vida. Eu não sei como vou caminhar. A única coisa que eu tenho certeza é que eu tenho a minha família e meus amigos que sobraram. Hoje a gente fala que a gente tem irmãos na luta, os meus verdadeiros irmãos são esses que estão na luta”.
*** Continua depois da publicidade ***
Fim do contrato com a Assessoria Técnica Independente
A Cáritas foi a primeira Assessoria Técnica Independente (ATI) em Mariana, atuando desde 2016 com a função de assegurar a simetria técnica aos atingidos pela Barragem de Fundão, contando com uma rede de profissionais capacitados que fazem a leitura dos argumentos da Fundação Renova, promovendo orientação aos atingidos.
No primeiro acordo com a Renova, a Cáritas atuaria até 2019. Após essa data, foi feita uma nova negociação que ampliou o contrato até 2024 com repasse anual. Entretanto, em 2022, a Renova se recusou a repassar os recursos financeiros e, desde então, os processos passaram a ser analisados em audiências de conciliação e depois passaram para a esfera federal da Justiça, que concluiu que o acordo deveria ser feito somente entre as partes, Renova e ATI. “Quando era em Mariana, a Assessoria Técnica ‘tava’ garantida, depois que foi para a vara federal… a gente sabe né, gente? A Assessoria Técnica é uma coisa cara, a Assessoria Técnica, deixa a reparação muito mais cara, porque defende e garante os direitos atingidos e o que ‘tá’ por trás disso é o poder que as empresas têm, né? O governo de Minas ‘tá’ aí muito próximo das empresas mineradoras. E é isso que ‘tá’ por trás disso tudo, né?”, afirma Rodrigo Pires Vieira, Assessor Técnico da Cáritas e coordenador do Projeto Assessoria Técnica Independente aos atingidos pelo crime da Vale, Samarco e BHP em Mariana.
Campanha “Mariana 8 anos: A reparação na balança das Geraes”
De 1º a 9 de novembro estão sendo realizados momentos de escuta, diálogo e reflexão sobre os 8 anos do rompimento da Barragem de Fundão, com a seguinte programação:
5/11 – Domingo
9h – Missa em Bento Rodrigues de Origem e exibição do curta “Loucos por Bento”
Local: Ruínas da Igreja de São Bento
14h – Missa em Paracatu de Baixo e exibição dos curtas “Folia do Seu Zezinho” e “Leite Derramado”
Local: Igreja de Santo Antônio (Paracatu)
6/11 – Segunda-feira
18h – Exibição do curta “Para que nunca se esqueça” e roda de conversa com a Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão
Local: Casa de Cultura de Mariana
7/11 – Terça-Feira
18 – Exibição do curta “Garimpo” no 5º Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineral e 5º Jornada Universitária de Debate na Mineração
Local: Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)
09/11 – Quinta-Feira
18h – Exibição dos curtas “Quitanda” e “Ouvires”
Local: Feira Noturna de Mariana
***