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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Natal e Ano Novo dos invisíveis

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Foto: Chad Madden/Unsplash

Feliz 2024. Quantas pessoas aguardam a virada do ano, fazendo retrospectivas, planejamentos, viagens, compras, mudanças; com mesa farta, árvores robustas de Natal, luzes multicoloridas, enfeites, guirlandas, família e amigos? Eu queria falar que início de ano é mágico, que início de ano traz bons presságios, mas o ponderável e o imponderável vivem num mesmo espectro. A virada do ano não será feliz para muita gente. Visitei algumas casas no afã de presentear famílias; o que vi não foi mesa farta de comida, nem árvores rodeadas de bolas e luzes. O que vi foi uma tristeza severa… E não há nada que me faça escrever um texto pomposo, publicável, politicamente correto, para a virada do ano, repleto de palavras fartas e voos poéticos. Se vejo sofrimento no outro, escrevo sofrimento. O sofrimento do outro não pode ser problema só do outro. Comovo-me com o sofrimento alheio. Fartura é coisa de poucos no mundo. Se não há fartura para todos, meus olhos se curvam à tristeza, e minhas palavras são cruas e brutas. A tristeza do outro me toca, me comove e me incomoda. A morte de uma família e socorristas em acidente de carro na véspera do Natal aperta meu coração. A morte por envenenamento da mãe e do filho dilacera meu dia. A jovem que cometeu suicídio por fake news e ódio destilado na rede social choca minhas esperanças. A rede social é ambiente virulento, de vale-tudo, de ódio destilado sem medida, de ascensão de monstruosidades. Quantos conteúdos são disseminados diariamente, com discurso de ódio, destruição, inveja, negacionismo e polarização? Quantas pessoas foram e serão vítimas de disseminação massiva de fake News, de ataques horrendos de “tribos” e de perfis fakes, que sentem prazer em destruir a vida dos outros? Regulamentar as mídias sociais é ameaçar a democracia? Tudo é permitido na vida? Regras constitucionais e infraconstitucionais regulam os direitos e os deveres do Estado e do cidadão, o exercício e o controle do poder, as garantias fundamentais… Quem define o que circula nas redes sociais? As cinco Big Techs que controlam o mercado digital? A máquina? Os algoritmos? E o exercício legítimo da liberdade de expressão? Sou livre para expressar pensamentos e opiniões sem limites? Quem define limites na rede social? Quem está do outro lado? Não sei. Vivo instantes prolongados de sustos. Velocidade 2x tem sacudido famílias; ceifado vidas em estradas esburacadas, ceifadas vidas em assaltos, brigas, acertos de contas, discursos de ódio… Esperanças quitadas numa mesa em que falta comida, em rostos sem esperança, em lutas constantes sem resultados, em batalhas perdidas… Hoje não tem rasantes e voos poéticos! O protagonista do texto é o sofrimento do outro, é o sofrimento de quem escreve, é o sofrimento de quem vê o resultado do ódio destilado na mídia, nas políticas públicas que vendem ilusões, enquanto não há comida para todos, não há educação de qualidade para todos, não há emprego e oportunidades para todos. Ruas iluminadas, propagandas coloridas, corais vestidos de papais noéis vendem Ano Novo em que sonhos serão realizados… Cabisbaixa e sem tempo para apreciar o propagandístico apelo decorativo, a desesperança bate à porta de 2024. Meu discurso resignado grita, esperançando em meu peito: que os invisíveis e os que sofrem o ano inteiro – entra ano, sai ano – sejam reconhecidos!

Feliz 2024!

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros
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