- Mariana e Ouro Preto
Negros e mulheres são maioria entre ingressantes na UFOP
Oriunda de escolas públicas, essa maioria é resultado de políticas públicas de democratização com inclusão social
- Matheus Camargos
- Supervisão: Luiz Loureiro
Em novembro do ano passado, a Coordenadoria de Processos Seletivos, da Pró-reitoria de Graduação (Prograd), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), divulgou dados referentes ao perfil dos novos alunos ingressantes na UFOP, no segundo semestre de 2023. As informações reveladas pelo levantamento mostram que 52,49% dos estudantes são negros (pretos e pardos), 52,9% são do sexo feminino e 72,44% concluíram o ensino médio exclusivamente em escola pública. Os dados ressaltam não apenas a diversidade étnica e cultural, mas também destacam a presença significativa de alunos que têm raízes nas comunidades onde a universidade está estabelecida – 40% dos matriculados são provenientes das cidades de Ouro Preto, Mariana e João Monlevade.
*** Continua depois da publicidade ***
***
Após finalizar as chamadas regulares do Sistema de Seleção Unificada (SiSU 2023/2), a UFOP realizou um processo seletivo emergencial, com uma única chamada, para ocupar as vagas remanescentes nos cursos. O processo possibilitou a inscrição de candidatos que realizaram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) a partir de 2009, ampliando o acesso à universidade para aqueles que não conseguiram participar das duas edições regulares do SiSU, em 2023, por não terem feito o ENEM no ano anterior. Nessa nova seleção foram realizadas 1.223 matrículas.
Ampliação do número de vagas
Desde a criação do programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) em 2007, a UFOP tem ampliado, significativamente, o número de vagas dos cursos oferecidos pela instituição. Para o Pró-reitor de Graduação, Adilson Pereira dos Santos, o que a UFOP está colhendo na atualidade “é resultado de um conjunto de políticas públicas e iniciativas nessa perspectiva da democratização com inclusão social”, que incluem o Reuni e o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).
Os recursos do Pnaes permitem que as universidades financiem projetos de assistência aos estudantes das universidades públicas, abrangendo áreas como saúde, moradia e alimentação. Essa iniciativa viabiliza a democratização das condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal, além de atenuar os efeitos das desigualdades sociais durante os anos de graduação.
Para este ano, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) prevê destinar R$1,27 bilhão para o Pnaes, em âmbito nacional, R$190 milhões a mais do que o previsto para 2023. Mesmo com a recomposição, o valor para 2024 está longe do que o programa já investiu em outras gestões. Em 2015, durante o governo de Dilma Rousseff, os recursos para a área chegaram a R$ ,48 bilhão.
Ver mais reportagens sobre Educação
Ouvidoria Feminina da UFOP lança livro em Mariana
Consulta paritária escolhe novos dirigentes da UFOP
Ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena é lei em Mariana
Inscreva-se nos grupos de WhatsApp para receber notificações de publicações da Agência Primaz.
Condições de permanência dos ingressantes na UFOP
Somente abrir as portas da universidade não é suficiente para garantir o direito à educação dos ingressantes na UFOP, sendo necessários investimentos para garantir a permanência dos alunos até a conclusão do curso. “Não adianta escancarar a porta dessa Universidade e dizer que ‘tá’ tudo mil maravilhas, se pessoas chegam aqui e não conseguem comer, não conseguem adquirir um equipamento adequado e decente para poder acompanhar as aulas. Por isso é preciso que haja condições para permanência. Essa condição para permanência não passa exclusivamente pelo suprimento das necessidades materiais, as pessoas também precisam se enxergar dentro dessa instituição”, acrescenta Adilson.
De acordo com o Pró-reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis da UFOP, Máximo Eleotério, os cortes no orçamento universitário afetam diretamente a capacidade da instituição implementar integralmente as políticas de assistência estudantil. “O Decreto nº 7.234, que regula o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), tem um orçamento insuficiente para abranger todas as demandas criadas pela UFOP. Como resultado, a universidade se vê compelida a realocar recursos necessários para o funcionamento institucional e dos cursos, comprometendo, em parte, a assistência estudantil”, afirma Máximo.
Estudante do curso de Serviço Social, Alê Gomes relata à Agência Primaz que se manter na universidade gera muitos gastos e isso dificulta a permanência de alguns alunos, já que a UFOP não consegue suprir todas as necessidades dos que necessitam de assistência financeira. “Um dos meus maiores desafios, ainda mais quando eu cheguei na UFOP, em 2022, foi a questão da renda. Os aluguéis em Mariana são absurdos, eu tinha gastos no mês em torno de R$1 mil. A gente não gasta só em aluguel. É comida, é um remédio, é um vale transporte. Sem contar que a gente não pode deixar de ter o lazer. São inúmeros gastos”, declara Alê.
De acordo com a aluna, mesmo com todos os programas assistenciais, existem aqueles que são obrigados a desistir. “Conheço muitas pessoas que não ficaram em Mariana por questões financeiras e isso é muito triste. Eu tive o privilégio, por um lado, de estar morando nas moradias da UFOP, mas em contrapartida, a gente paga com a alma, né? São diversos desafios que enfrentamos em uma moradia estudantil, o descaso e a dificuldade que é ter acesso a esses programas. A meu ver, deveria ter mais articulação dos psicólogos e assistentes sociais da instituição”, complementa a aluna do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA).
*** Continua depois da publicidade ***
***
Em resposta a questionamentos encaminhados pela Agência Primaz, a Pró-reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) declarou que “a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) reitera seu compromisso em promover a permanência estudantil por meio de um programa abrangente de assistência, especialmente direcionado aos alunos classificados nas faixas de vulnerabilidade socioeconômica. No tocante ao acompanhamento psicológico, a UFOP oferece atendimentos voltados para a orientação estudantil, considerando os aspectos pedagógicos, acadêmicos e psicossociais, visando contribuir para a permanência no curso e a conclusão deste”.
Para cumprir esses objetivos, segundo o responsável pela Prace, “a UFOP disponibiliza moradias estudantis gratuitas, oferecendo 1.332 vagas distribuídas nas cidades de Ouro Preto e Mariana”, além da “Bolsa Alimentação, garantindo que os alunos classificados nas faixas de vulnerabilidade socioeconômica tenham acesso a refeições gratuitas nos restaurantes universitários, abrangendo almoço e jantar”.
Em termos de atendimento psicológico, Máximo informou à reportagem da Agência Primaz, que “a UFOP proporciona consultas psicológicas como um espaço de escuta e acolhimento psicoterapêutico, conduzido por profissionais da Coordenadoria de Saúde. Adicionalmente, são promovidas rodas de conversas e grupos de apoio no âmbito de programas específicos, como o Programa de Incentivo à Diversidade e Convivência (PIDIC) e o Programa de Desenvolvimento Social e Acadêmico (PRODESA)”.
No aspecto econômico propriamente dito, “a UFOP disponibiliza diversas modalidades de apoio, como a Bolsa Permanência, Bolsa Maternidade e Auxílio Moradia, para alunos que residem em João Monlevade, com o objetivo de proporcionar suporte financeiro para a continuidade dos estudos”.
Ainda que reafirme o empenho da instituição, Máximo ressalta que a UFOP tem, nesse processo, uma posição de suplementação às iniciativas governamentais. “A universidade reitera seu comprometimento em assegurar um ambiente propício para o desenvolvimento acadêmico e pessoal de seus alunos, reconhecendo, no entanto, que o papel da universidade é complementar ao do Estado na garantia de condições mínimas de subsistência”, finaliza o Pró-reitor”.
Mudanças na Lei de Cotas
A Lei nº 14.723, de novembro de 2023, alterou a Lei de Cotas para o ingresso em instituições públicas de ensino superior e passou a incluir candidatos quilombolas e de famílias com renda familiar inferior a um salário mínimo per capita no direito às cotas. Outros públicos que se enquadram na política são egressos de escolas públicas, negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência.
A lei também define que os candidatos vão ter direito ao programa de cotas apenas se não atingirem as notas de corte da categoria “ampla concorrência”. Caso a nota seja inferior e o candidato se enquadre em algum dos critérios de etnia e renda, ele passa a concorrer às vagas reservadas.
Sisu 2024
A divulgação do resultado da chamada regular do Sisu 2024, referente ao Enem 2023, anunciado para essa terça-feira (30), no Portal do Sisu, foi adiada para a tarde desta quarta-feira (31), devido a problemas técnicos. As matrículas para o ingresso na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) acontecem entre 1º e 07 de fevereiro, e os documentos exigidos e cronograma podem ser conferidos no site da instituição.