Os desafios da educação durante a pandemia do Coronavírus em Mariana

Os primeiros 100 dias da Educação de Mariana durante a pandemia de Covid-19

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Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

A educação foi um dos primeiros setores a suspender as aulas presenciais e possivelmente será uma das últimas que conseguirá efetivamente retornar às atividades normais, isto porque estudantes e professores de escolas ou universidades permanecem boa parte do dia nos ambientes fechados da sala de aula com número elevado de pessoas. Apesar da Covid-19 não desenvolver suas formas mais graves com tanta frequência em jovens e crianças, muitos profissionais da educação são do grupo de risco e mesmo quem é assintomático para a doença pode ser um vetor de transmissão do vírus.

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Em Mariana, as aulas estão suspensas desde o anúncio dos primeiros casos de contaminação por Coronavírus na cidade. Rede municipal, estadual, escolas particulares, faculdades e universidades ainda buscam alternativas para o enfrentamento no período. Ao longo dos últimos três meses, a Agência Primaz acompanhou algumas iniciativas e debates sobre esse tema.

Ufop

Presente na cidade de Mariana, com sete cursos e dois campi, a Universidade Federal de Ouro Preto está com todas as aulas suspensas desde o dia 17 de março por tempo indeterminado. De lá pra cá, atividades como defesas de mestrado e doutorado continuaram a serem realizadas à distância. Alguns projetos de extensão e pesquisa também não pararam totalmente, como é o caso do “Show de Talentos” projeto de extensão desenvolvido pelo curso de Jornalismo da Universidade e que atualmente é transmitido por lives no Instagram.

Conforme publicamos no dia 12 de junho, a Ufop estuda oferecer ensino remoto aos universitários. A proposta seria a criação de um “período letivo especial na graduação por meio de tecnologias digitais de informação e comunicação no contexto da pandemia da Covid-19, no período de 17 de agosto a 25 de setembro de 2020”, de acordo com documento apresentado aos diretores das unidades acadêmicas.

A Ufop disponibilizou um formulário on-line para apurar as condições de acesso à internet dos estudantes, até aquela data, cerca de 40% dos graduandos não deram retorno à pesquisa. Na oportunidade questionamos o estudante Magno Guimarães, isolado na zona rural de Dionísio-MG e com acesso restrito à internet. O estudante, apesar de não ser contrário ao retorno das atividades preferiu não preencher o formulário, pois segundo ele “não tenho acesso à internet, o não preenchimento da pesquisa já dará esse recado à universidade, como posso preencher um formulário, sendo que estou off-line?”, questiona.

Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) - Foto:Lui Pereira/Agência Primaz

ENEM

O Exame Nacional do Ensino Médio foi outro assunto que gerou debate nos últimos 100 dias e repercutiu entre estudantes da cidade. No dia 14 de maio, o exame ainda não havia sido adiado. Nesta matéria mostramos as dificuldades enfrentadas por estudantes e professores da rede estadual de ensino; a ampliação das desigualdades entre os alunos das redes públicas e particulares de ensino; os tipos de equipamentos de comunicação disponíveis nas residências dos estudantes e professores e a qualidades das aulas à distância. Avaliando como a tecnologia reforça a desigualdade entre os públicos.

Para o professor de história da Escola Estadual Dom Silvério, Túlio Almeida “Os alunos de escola pública, de classes sociais mais baixas e desfavorecidas estão preocupados em se alimentar, em trabalhar. Quando não estão desempregados ou impedidos de trabalhar, famílias (ficam) desamparadas, (estão) totalmente expostas à Covid-19, sem acesso à internet e outras tecnologias modernas”, afirma.

Após o adiamento do Exame, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), colocou a responsabilidade da escolha das datas da prova sobre os candidatos. Através de enquete disponibilizada no portal do candidato, o órgão solicita que os inscritos escolham um período de aplicação de provas, as alternativas variam entre os meses de dezembro de 2020 e maio de 2021.

Não-adiamento do ENEM prejudica alunos da rede púbica de Mariana
Nao adiamento do Enem prejudica alunos da rede pública de Mariana

Rede municipal

Outro assunto acompanhado pela nossa equipe durante o período da pandemia da Covid-19 foi o projeto dos cadernos pedagógicos desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Educação de Mariana. No dia 10 de maio, entrevistamos a secretária Aline Oliveira e na oportunidade pudemos conhecer a iniciativa que contava com o lançamento dos cadernos e do portal da educação do município. O objetivo era de acordo com Aline “fortalecer os vínculos com a comunidade escolar e trazer conteúdos para auxiliar as famílias a prosseguir com a rotina de estudos”.

A previsão inicial era de entregar os cadernos no dia 15 de maio, mas devido aos atrasos, no dia 31 questionamos sobre os motivos da demora na entrega dos materiais. Na ocasião, o repentino aumento de casos de Covid-19 confirmados na cidade foi uma das justificativas. No dia 25 de maio a cidade confirmava 80 casos de contaminação, no dia 31 saltou para 239.

No último dia 19, publicamos mais uma data de previsão para a chegada dos materiais aos estudantes e familiares, a nova data prevista para o início das entregas é dia 24 de junho. Esperamos que o material tão importante finalmente possa chegar ao seu destino.

Futuro

A saída eficaz da atual crise depende totalmente da educação. Toda ciência e tecnologia produzida em universidades e centros de pesquisas são frutos do ensino, tanto para encontrar uma vacina e tratamento da doença, quanto para encontrar alternativas para a efetiva superação econômica e social pós-pandêmica. 

A fragilização da educação no momento atual é evidente e com diversos efeitos a longo prazo, e para José Garcez Ghirardi, professor associado e responsável pelo Programa de Formação Docente no Mestrado/Doutorado da Fundação Getúlio Vargas (FVG) Direito SP, em debate transmitido pelo portal da Fundação: “Essa crise parece que impulsionou, ao ponto de irreversibilidade, a necessidade de enfrentar o fato de que tivemos uma transformação profunda nos modos de produção e que nossos profissionais vão ter que aprender a atuar neste espaço” logo, para contornar um prejuízo dessa escala, será necessário repensar o setor de forma profunda, suas formas e seus conteúdos.

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