Responsabilidade social corporativa pós Covid-19: Um sonho realizável
- Júlio César Vasconcelos (*)
- 23/06/2020 às 15h01
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“Uma organização que visa apenas o lucro é, não apenas falsa, mas também irrelevante. O lucro não é a causa da empresa, mas sua validação. Se quisermos saber o que é uma empresa, devemos partir de sua finalidade, que será encontrada fora da própria empresa”. (Peter Drucker)
“Nas organizações humanas não haverá mudanças se não houver quem advogue estas mudanças” (W. E. Deming)
A crise gerada pela pandemia do COVID19, além dos seríssimos problemas específicos na área da saúde, gerou também, da mesma forma, seríssimos problemas de ordem econômica, social, ambiental, educacional, cultural e comportamental, além de muitos outros e estes problemas gerados podem ser a porta para uma mudança profunda e radical nos meios organizacionais daqui para a frente.
Nos últimos tempos, felizmente, a mídia tem amplamente divulgado uma série de ações estratégicas de caráter social por parte de algumas grandes empresas como a Vale, Bradesco, Lojas Americanas, Banco Safra, Gerdau, Ambev, Petrobrás entre outras, ações estas que tem feito uma grande diferença e estão contribuindo de maneira significativa para o combate à crise.
Passada a crise, a grande expectativa é que estas ações passem a se incorporar de forma permanente e sustentável no sistema de gestão estratégica das empresas. O lado humano do capitalismo pode e deve ser concretizado, reforçando de forma profunda o conceito de Responsabilidade Social Corporativa.
Segundo o renomado Instituto Ethos, Responsabilidade Social Corporativa é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Ética, transparência, metas empresariais, desenvolvimento sustentável, preservação ambiental e cultural, respeito a diversidade e redução das desigualdades, todos estes pilares demonstram com clareza a importância e a amplitude deste conceito como fator de mudança radical para os nosso meios organizacionais. Tendo em vista este conceito, um dos pilares de extrema importância é o relacionado ao desenvolvimento sustentável.
Desenvolvimento Sustentável se baseia no Princípio do Triple Botton Line, divulgado pelo Consultor britânico John Elkington, que tem como base três grandes pilares fundamentais: o pilar econômico, o social e o ambiental. Na falta ou falha de qualquer um deles, não existe desenvolvimento sustentável e sim falência, degradação ambiental e miséria.
O foco no pilar econômico com o lucro obsessivo, a todo custo, característico do sistema capitalista selvagem, deixando em segundo, terceiro ou último plano os demais pilares, é a causa fundamental dos desastres sociais e ambientais traumaticamente ocorridos nos últimos tempos, levando-nos a refletir sobre a importância da grande virada do conceito de Responsabilidade Social do Modelo Clássico para o Modelo Socioeconômico e este é o momento.
O Modelo Clássico, que tem como base o Capitalismo Liberal ou Selvagem prega que a única responsabilidade social da empresa e de seus executivos é a de maximizar o lucro para seus acionistas. A solução de problemas sociais é de competência dos representantes da sociedade, escolhidos pelo povo, especifica e unicamente do poder público e não das empresas. O problema deste Modelo é que a maximização dos lucros para os acionistas exige que ele seja obtido a todo custo de forma maquiavélica: o fim justifica os meios e aí “as barragens se rompem”, o meio ambiente é destruído e vidas humanas são ceifadas de forma catastrófica…
Contrariamente ao Modelo Clássico, o enfoque Socioeconômico, que tem como base o Capitalismo Social, prega que os resultados financeiros, embora absolutamente necessários para a sobrevivência de qualquer negócio, são apenas uma consequência do objetivo principal que é criar benefícios para a sociedade, promovendo o bem-estar, a satisfação, a proteção e a melhoria da qualidade de vida das comunidades onde as organizações estão inseridas. Preconiza que os valores éticos absolutos nos negócios, como a honestidade, a transparência e a solidariedade devem ser respeitados mesmo que haja prejuízo financeiro e que Responsabilidade Social é uma obrigação ética, pois além de ser eticamente boa e correta em si mesma, é um dever da empresa para com a sociedade, graças à qual ela vive e da qual obtém seu retorno.
Este é o momento da grande virada! Se as grandes corporações continuarem investindo de forma estratégica e contínua seus lucros exorbitantes nas melhorias de ordem social como vem fazendo, a miséria, a pobreza, a gritante desigualdade social e a degradação ambiental em pouco tempo poderão ser reduzidos drasticamente ou mesmo desaparecer da face da terra, formando um verdadeiro círculo virtuoso onde todos os stakeholders seriam beneficiados: os próprios acionistas, os empregadores, os empregados, o Governo e a sociedade como um todo. Seria, com certeza, o início de uma nova era, com a construção de uma sociedade mais justa, humana e equalitária.
Quem tem ouvidos que ouça!
(*) Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
Contatos: caesarius@caesarius.com.br (31) 99345-0515
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