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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Luz na escuridão: Reflexões sobre o significado da morte

“O contrário de nascer é morrer, mas o contrário de vida não é morte, por que, para nós crentes, a morte é simplesmente uma passagem; a vida continua em outra dimensão, de uma forma incomensuravelmente plena!” (Vasconcelos 2024)

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Reflexões sobre o significado da morte

Ouça o áudio de "Luz na escuridão: Reflexões sobre o significado da morte", de Júlio Vasconcelos:

Nos últimos 05 anos, passei por um processo de perdas irreparáveis, com a partida de pessoas extremamente queridas: perdi meu sogro, minha esposa, meu pai, minha mãe e, finalmente, minha sogra. Tudo isso, sem contar as perdas de outras pessoas bem próximas a mim!

Dizem que não é possível medir a intensidade da dor para se comparar perdas, mas confesso que a partida da minha esposa foi para mim a mais traumática e a mais difícil de todas elas, em função do tipo de convivência e do contexto da ocorrência: foram mais de 40 anos de uma convivência harmoniosa, repleta de boas lembranças e ocorreu em outubro de 2020, em plena pandemia de Covid! O isolamento levou-me a enfrentar um desafio enorme, que eu nunca poderia imaginar, agravado pelo fantasma do vírus: eu não podia visitar ninguém e ninguém podia me visitar e, às vezes, nem mesmo sair à rua! Fiquei isolado, sozinho, praticamente privado do contato de meus familiares, dos meus amigos e das pessoas em geral e tive que me contentar em simplesmente ouvir a voz e ver a imagem deles através de uma fria tela de celular.    

O turbilhão em que me vi envolvido, com uma sensação de solidão incomensurável, levou-me forçadamente a reaprender a viver em busca de novos significados. Nesse período, cheguei à conclusão que um dos caminhos mais seguros para atravessar o furacão seria partir do luto para a luta, investindo no entendimento do sentido da morte e da vida e no meu autoconhecimento. Arregacei as mangas e fui em frente! Nessa busca, descobri que a única forma de amenizar a minha dor seria descobrir ainda mais fundo quem era eu e encarar de frente as minhas perdas, por mais doloroso que fosse!

Senti-me na época, lembrando um conto da mitologia grega, como Édipo em frente à esfinge que ficava na entrada da cidade de Tebas, desafiando-o com a frase: “Decifra-me ou devoro-te”. Se ele não conseguisse decifrar o enigma a ele apresentado, a esfinge o devoraria. De forma similar, me vi nessa situação: ou eu partia para a luta em busca do autoconhecimento e da compreensão dos mistérios da morte e da vida ou eu morreria, mesmo em vida! Decidi partir para a luta! Foi então que, numa dessas iniciativas, dei início a um Curso de Formação em Psicanálise e de uma Especialização em Perdas e Luto, concluído recentemente e, com base nos conhecimentos adquiridos, pretendo colocar em prática, tanto em meu próprio proveito, quanto ajudando pessoas que estão passando por momentos difíceis com a perda de entes queridos.  

O aprendizado está sendo enorme! Senti na carne e aprofundei-me no entendimento a respeito da enorme fragilidade do ser humano! A proximidade e a convivência com a morte nos faz sentir o quanto é fugaz nossa permanência por aqui! Dezembro vai, janeiro vem e a vida passa rápido como um trem, já dizia o poeta. Cargos, poder, orgulho, beleza física, vaidade, bens, dinheiro nada disso conta no momento da passagem! Conta sim, e com força, o que e como você fez ou o que e como você deixou de fazer! Qual o legado você deixou!

Descobri que o contrário de nascer é morrer! Todos nós, seres humanos, por mais que relutemos, gostemos ou não e tenhamos medo de falar sobre isso, nascemos e morremos! Mas o contrário de vida não é morte, porque, para nós crentes, a morte é simplesmente uma passagem; a vida continua em outra dimensão, de uma forma incomensuravelmente plena! “Os olhos jamais contemplaram, ninguém sabe explicar o que Deus tem preparado para aqueles que em vida o amar”, diz o canto litúrgico. Como diz a psicóloga e escritora Ana Cláudia Quintana Arantes, a morte é um dia que vale a pena viver!

Descobri, de uma forma muito espiritualizada, que nossos entes queridos que se foram, onde quer que estejam, não querem que continuemos nossa missão por aqui isolados, fechados como um caracol dentro da sua casca, brigando com Deus e com o mundo, carregando o peso de uma infelicidade sem fim, deprimidos e caminhando para o abismo! Muito pelo contrário, querem que sejamos felizes!

Descobri que o mundo não pára para que a gente fique lamentando de forma interminável as nossas dores! A vida continua e precisamos ressignificá-la, espantando nossas dores e abrindo-se para novos amores e novos sabores!

Aprendi e senti na carne, como dizia Skakespeare, que as pessoas que mais amamos na nossa vida podem nos ser tomadas muito depressa, de forma inesperada e que, por isso sempre devemos deixá-las com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos! Confesso que esse pensamento me toca profundamente! Se me permitem, suplico-lhes: por favor, não deixe de refletir sobre isso, agora, já! Pense nas pessoas que você realmente ama, como foi a última vez que a deixou e corra atrás imediatamente, pois se você esperar, pode não dar mais tempo! …

Enfim, além de muitas outras coisas que aprendi, descobri que existe luz na escuridão, e para descobri-la é só aprender a enxergar de forma diferente e seguir em frente! Como dizia Luther King: se não puder voar, corra, se não puder correr, ande, se não puder andar, se arraste, mas continue em frente, de qualquer jeito!

Quem tem ouvidos, que ouça!

Picture of Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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