- Mariana
Por que Mariana não elegeu nenhuma mulher como vereadora?
A Agência Primaz conversou com candidatas da política marianense para entender a falta de representatividade no legislativo marianense.
Apesar da maioria do eleitorado ser feminino, a Região dos Inconfidentes elegeu somente duas mulheres enquanto legisladoras nas eleições municipais de 2024: Lílian França (PP), reeleita em Ouro Preto, e Rosilene Carmo Cardoso (PSB), eleita em Itabirito. Em Mariana, não haverá nenhuma mulher ocupando a cadeira da Câmara dos Vereadores pelos próximos quatro anos. A Agência Primaz conversou com três candidatas a vereadoras da última eleição: Aída Anacleto (PT), Fernanda Tonidandel (NOVO), Sudene Machado (Avante) e com a atual vereadora e futura vice-prefeita, Sônia Azzi (Republicanos), para entender por que Mariana não elegeu nenhuma mulher como vereadora.
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Por que nenhuma mulher foi eleita?
Apesar de ter 52,2% do eleitorado do gênero feminino, Mariana passará os próximos quatro anos sem nenhuma representante na casa legislativa. Aida Anacleto, líder do PT em Mariana e participante ativa do Movimento Negro na cidade, atribui à falta de distribuição igualitária de investimentos em campanhas eleitorais de homens e mulheres um fator importante para escassez de legislaturas femininas. “É necessário termos a consciência de que os recursos que são destinados à campanha eleitoral feminina, ele precisa chegar e ser entregue realmente pelos partidos às mulheres que estão concorrendo para que elas possam fazer a sua campanha de igual para igual e não é isso que a gente vê, né? Então, é necessário esse entendimento de que precisa do investimento para que nós possamos ser eleitas”, afirma Aida.
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Fernanda Tonidandel, líder do movimento “Mulheres pelo Novo” em Mariana, também acredita que a relação dos partidos com as mulheres candidatas deve ser modificada, de modo a garantir a participação e valorização efetiva de candidaturas e eleições femininas. “Eu queria chamar atenção dos partidos políticos que só valorizam as mulheres nessa época de eleição, isso precisa ser mudado. É necessário fazer um trabalho com as mulheres a longo prazo incentivando-as a participarem ativamente da política, seja dentro de associações comunitárias, projetos sociais e dentro das próprias secretarias municipais, por exemplo. Há outras ações também: workshops, cursos, encontros de mulheres e trazer experiências que deram certo de outras cidades para que essas mulheres criem esse sentimento político de que elas podem sim transformar a sociedade”, reitera Fernanda.
A dupla jornada como mães e donas de casa também são fatores que dificultam a presença ativa das mulheres na política, destaca Fernanda Tonidandel, acreditando que é preciso criar ambientes que acolham melhor essas particularidades, seja concebendo encontros políticos mais inclusivos, com monitores e espaço para as crianças, por exemplo.
De acordo com Sudene Machado, candidata à Câmara Municipal pela terceira vez, o discurso comum sobre uma necessidade de renovação na política não é feito na hora dos votos, resultando na repetição de nomes que se elegem por vários anos seguidos.
“Para incentivar a participação feminina na política, precisamos ir além dos discursos tradicionais e construir campanhas mais acolhedoras e inclusivas, que mostrem que a política é, sim, um espaço onde nós, mulheres, podemos atuar com protagonismo. No entanto, é importante destacar que as mulheres que aceitam ser candidatas apenas para cumprir a cota de 30% do partido acabam prejudicando a real mudança. Essas candidaturas, muitas vezes, se tornam um braço de apoio para outros homens, sendo utilizadas apenas para fortalecer suas campanhas, sem o compromisso genuíno de representar as pautas femininas”, destaca Sudene.
A futura representação no Executivo é importante para a representatividade da mulher na política?
Apesar de nenhuma representação feminina na Câmara nos próximos quatro anos, Sônia Azzi, atual vereadora, vai ocupar o cargo de vice-prefeita do município. Em respostas encaminhadas pela assessoria, a futura vice diz acreditar que sua participação no Executivo é uma oportunidade de representar uma liderança feminina. “Quando as mulheres veem outra mulher ocupando um espaço de decisão, elas se sentem motivadas a também buscar seu lugar. Espero que minha atuação ajude a pavimentar o caminho para mais mulheres entrarem na política com confiança e com a certeza de que suas vozes são fundamentais”, afirmou Sônia.
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Entretanto, Sônia Azzi também destacou que é preciso um movimento maior para assegurar candidaturas e eleições femininas, pautando-se na educação política desde cedo para que jovens meninas saibam da importância de se colocar enquanto instrumento político de seus municípios.
As candidatas consultadas também acreditam que uma mulher ocupando a posição de vice-prefeita é importante para pensar avanços na representatividade e educação política no município. Mas reafirmam que é uma perda grande para Mariana passar os próximos anos sem nenhuma mulher legisladora.
“É importante lembrar que, além de termos uma mulher no Executivo, é necessário fortalecer esse movimento em outras esferas de poder, como o Legislativo. A presença feminina no executivo pode inspirar, mas precisamos continuar trabalhando para que haja um apoio concreto às candidaturas femininas, desde a base, dentro dos partidos e nas ruas. Espero que a liderança de Sônia sirva como exemplo para que mais mulheres percebam que lugar de mulher é onde ela quiser, e que a política precisa de mais diversidade de gênero para refletir as reais necessidades da população”, enfatiza Sudene.
Para Aída, a presença da Sônia Azzi no Executivo tem grande potencial de promover mudanças maiores em relação à participação de mulheres na política. “Ela [Sônia] terá condições de, através do Conselho da Mulher e de outros conselhos existentes de direito, fortalecê-los e com isso aproveitar para fazer a formação política de grupos minoritários para que a gente possa contribuir inclusive na implementação das políticas públicas. Então, acho que Sônia estando neste lugar, ela poderá contribuir e muito com as companheiras e outros grupos que venham constituir a nossa sociedade”.
O que se perde sem nenhuma representação feminina na Câmara?
Fernanda Tonidandel destaca que, apesar da participação da Sônia Azzi ser um meio importante para pensar e discutir a eleição de mulheres na política, a falta de representatividade na Casa Legislativa é um dano muito grande para o município, opinião compartilhada por todas as representantes entrevistadas. Entre elas, Sônia Azzi destaca que a falta de uma mulher vereadora é uma perda para toda comunidade. “Sem mulheres no legislativo, Mariana perde uma perspectiva única e essencial para decisões mais equilibradas. As mulheres trazem um olhar diferenciado para temas como saúde, educação, e políticas sociais, focando mais no impacto humano das decisões. A falta dessa visão limita as soluções criativas e sensíveis que poderiam beneficiar toda a população”.
O que se pode fazer para avançar nas questões de representatividade da mulher na política marianense?
Também é consenso entre as mulheres entrevistadas a necessidade de movimentos suprapartidários que revejam e incentivem a participação e a eleição de mulheres. Sudene Machado acredita que é necessário um debate de ordem legislativa sobre o assunto. “Penso em uma legislação que garantisse que, se uma mulher conseguisse um determinado número de votos, ela teria uma vaga assegurada no legislativo. Isso seria um incentivo real para que mais mulheres se sintam confiantes e motivadas a participar da política. Ter somente a cota dentro dos partidos não é suficiente. Precisamos de algo maior, que realmente incentive as mulheres a entrar de cabeça na política e a sentir que podem ocupar esses espaços de poder com autoridade. Se houvesse uma lei que garantisse uma participação mínima de mulheres eleitas, baseada em votos, acredito que muitas mulheres se sentiriam mais encorajadas a se candidatar e a participar de forma mais ativa”.
Aída também acredita que as cotas partidárias, das formas como são apresentadas atualmente, funcionam mais como uma forma de eleger homens do que garantir de fato a participação de mulheres na política. “É opressor, é machista, e é por isso que nós não avançamos. Não podemos nos permitir ser usadas somente como 30% para que eles possam chegar ao poder, não. Temos que ter consciência de que esses 30% deveriam ser 50%, já que somos iguais perante a constituição, diferentes somente no gênero. Agora, deveria também ter uma legislação que garantisse cadeiras para as mulheres, não somente para estar sendo usadas nesse período eleitoral. Passou as eleições, eles não nos veem mais, porque não precisam mais de nós. Então, não propõem políticas públicas, não propõem legislação de maneira alguma que venha contribuir com as mulheres. Pode-se observar que são poucas as leis que os homens de nossa cidade apresentaram na Câmara de Mariana”, finalizou Aída, com a credencial de quem já ocupou uma cadeira na Câmara Municipal de Mariana.